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Sujeito e corporeidade. A concepção de corpos

dóceis: da anulação para o retorno do sujeito

Sujeto y corporeidad. La concepción de cuerpos dóciles: de la anulación al retorno del sujeto

 

Mestranda em Educação pela Universidade Cidade de São Paulo

Professora do curso de Educação Física na Universidade Cidade de São Paulo

(Brasil)

Luciene Teixeira Diniz

lucienediniz@ig.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O retorno ao sujeito é imprescindível nos dias hoje, para que se reflita sobre o momento em que vivemos. A anulação do sujeito, que predomina em nossa sociedade, favorece a expansão da violência, das patologias psicológicas, da discriminação entre os sujeitos e a desigualdade social. Para o filosofo Michael Foucault a anulação do sujeito é influenciada pela construção histórica do saber e dos poderes disciplinares, que exercem em nosso corpo, e acabam por concebê-los como dóceis e submissos. Este trabalho propõe um dialogo entre a construção do sujeito e a interferência histórica que marcou nosso corpo e levou o homem a se afastar da sua condição de sujeito.

          Unitermos: Corpo. Sujeito. Michael Foucault.

 

Abstract

          The return to the individual is indispensable nowadays in order to reflect about the moment that we are living. The annulment of the individual, that prevails in our society, favours the spread of violence, psychological disorders, discrimination among individuals and the social inequality. To the Michael Foucault believes that the annulment of the individual happens when the historical construction of knowledge and disciplinary power that is executing in our body, is conceived as docile and submissive. Well then, this work proposes a dialogue between the construction of the individual and the historical interference that have marked our body and that have took the man to deviate from its condition as individual.

          Unitermos: Body. Subject. Michel Foucault.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 194 - Julio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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    O retorno ao sujeito é imprescindível nos dias de hoje, porque não se pode mais viver sem saber quem somos. O sujeito há que ser concebido de modo a refletir o momento em que vivemos e que não seja fragmentado e dicotomizado, para que se possa evitar, em nossa sociedade, o aumento assustador das patologias psicológicas, da expansão da violência, da desigualdade entre os indivíduos e da discriminação social (PEREIRA, 2008).

    Os trabalhos de Michel Foucault revelam á importância do sujeito e quanto às questões que teriam contribuído para o desaparecimento da noção de sujeito na Modernidade. Os contextos históricos, com seus eventos e articulações, marcaram os corpos com estratégias de poderes, que podem de alguma maneira ter contribuído para o sujeito se afastar da sua liberdade e de ser autor da sua própria historia .

    Paul-Michel Foucault nasceu na França, em 1926. Formou-se em Filosofia e em Psicologia. Teve contato com nomes famosos, como o do filosofo Maurice Merleau-Ponty. Suas obras exploram os modelos de poder nas várias sociedades e como essas formas de poder impactaram a maneira de ser do homem na sociedade. Dentre suas principais obras estão a História da Loucura na Idade Clássica, História da Sexualidade, O Nascimento da Clínica e Vigiar e Punir.

    Em Vigiar e Punir, Foucault observa questões importantes, de como os contextos históricos, com seus eventos e articulações, marcaram os corpos por conta das estratégias de poder e o quanto podem ter contribuído para o afastamento da noção de sujeito.

    Para Foucault, o cuidar de si é o traço que caracteriza sua concepção de sujeito. Só vai existir liberdade quando esta é construída pelo próprio sujeito, que ao cuidar de si mesmo criará seu próprio caminho. Essa construção do sujeito estará pautada na sua própria liberdade, construída num processo que é singular e intransferível. Essa liberdade está nos pensamentos, nos movimentos, está vinculada aos exercícios de critica da formação do poder e da sua subjetivação (FILHO, 2007).

    Neste cuidar de si, o sujeito se ocupa de si mesmo e esse cuidado não se manifesta só na forma de conhecimento, mas em uma atitude vigilante e aplicada. Afinal, essa liberdade é construída continuamente e é vivenciada nas relações com o outro.

    O que chama a atenção é como, ao longo da história, estamos nos desconectando do nosso corpo e como isto tem afetado a anulação do sujeito. O sujeito se expressa pelo seu corpo. Uma expressão construída pelas suas experiências, pelos resultados de formações históricas, regras, condutas mentais e corporais. Ao longo da nossa própria história nossas experiências criam memórias que ficam marcadas em nosso corpo. Vou chamar essas memórias corporais de “esquemas corporais”, referência aos diversos esquemas de experiências que estão em nosso corpo. Esses esquemas são constituídos por todas as experiências do sujeito, com uma inter-relação que envolve sua interioridade (aspectos psíquicos, relacionados ao conhecer, sentir, agir, etc.) e exterioridade (corpo, social, ambiente, etc.)

    È pelo seu corpo que o sujeito vive a sua realidade. O corpo que nos permite experimentar diferentes sensações e, portanto,perceber o mundo, os objetos, as pessoas; que nos permite pensar, desejar, escolher e conhecer.

    O filosofo detalha uma construção de esquemas corporais passivos em que submetemos a nós mesmos e a todos os sistemas da sociedade, com uma história de submissão retida em corpos dóceis, contidos, disciplinados, obedientes e reprimidos, que podem ter contribuído para a anulação do sujeito.

    São esses esquemas corporais passivos que podem ser responsáveis pelo afastamento do cuidar de si, do conhecer-se a si mesmo. São camadas antigas criadas por esta submissão, que tornam ainda difícil compreender o que significa colocar em prática a concepção de que podemos nos construir e nos reconhecer sujeitos.

    É possível reconhecer, na obra do filósofo, a relação entre a instabilidade do corpo e os eventos históricos. O contexto histórico reflete no corpo mudanças com a encarnação de hábitos, comportamentos e atitudes.

    Em Vigiar e Punir, o corpo é retratado como objeto e alvo de poder. Para Foucault (1987) existem dois registros distintos deste corpo, como analisável e manipulável. O corpo analisável compreende o funcionamento, com uma visão anatômica, fisiológica, uma concepção física. O corpo manipulável é constituído por um conjunto de regulamentos que são retidos nas operações do corpo com o intuito de controlar, corrigir, manipular, modelar; é uma visão de um corpo submisso, que o filosofo menciona como concepção tecno-política. O corpo analisável e manipulável se interpenetra em suas constantes mudanças: um corpo preso e submisso (manipulável) vai afetar o desempenho e funcionamento do corpo físico (analisável).

    Historicamente, em cada sociedade, o corpo sempre esteve preso em hábitos e condutas estabelecidas, mas Foucault adverte que desde o século XVIII, as técnicas para controlar esse corpo passam a ser mais rígidas, sem folga, com uma construção que envolve os movimentos, os gestos, as atitudes, a organização, que concebem uma forma de controlar todas as operações do corpo.

    ...não se trata de cuidar do corpo, em massa, grosso modo, como se fosse uma unidade indissociável, mas de trabalhá-lo detalhadamente; de exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-lo ao nível mesmo da mecânica — movimentos, gestos, atitude, rapidez: poder infinitesimal sobre o corpo ativo... (FOUCAULT, 1987, p. 164)

    Percebe-se que é meticulosa e cheia de detalhes essa construção de um corpo apertado, preso a padrões de subordinação, alienação, com gestos e movimentos determinados. Os sistemas de poderes que determinaram as culturas também se utilizaram de técnicas para a modelagem destes padrões corporais, que indicam uma docilidade para reproduzir sem questionamento as características de comportamentos sociais, emocionais, que determinam quem somos hoje nos diversos espaços de nossa sociedade.

    Foucault apresenta nesta obra um caminho para pensarmos em quem somos hoje, mas isto só é possível quando nos conhecemos a nós mesmos. Conhecer a nós mesmos, é conhecer a nossa historia e como todos os processos históricos afetaram nosso corpo, nossos gestos e nossas operações.

    Historicamente, sempre existiram métodos para controlar as operações do corpo, que funcionam de forma constante e estreitam todas as suas possibilidades, no espaço, no tempo e nos movimentos. Para o filósofo, estes métodos se encontram nos processos disciplinares, uma forma de ordem, de controle, que o autor observou nos conventos, nas prisões, nos hospitais, nos setores militares e educacionais. Nas suas palavras “[...] a disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis” [...]” (FOUCAULT, 1987, p. 165).

    A constituição metodológica foucaultiana salienta-se pela disposição interdisciplinar dos saberes. O filosofo considera o indivíduo como um efeito do poder. “O indivíduo é um efeito do poder e simultaneamente, ou pelo próprio fato de ser um efeito, é seu centro de transmissão. O poder passa através do indivíduo que ele constituiu” (Foucault, 1982, pp. 183-184). Nesse sentido os métodos de dominação (métodos de observação, técnicas de registro, procedimentos de inquérito, etc.) são instrumentos de saber e não ideologias.

    Para Foucault, o nascimento da disciplina é o surgimento da relação de poder sobre o corpo; a disciplina permite a manipulação do gesto, do comportamento; ela permite o domínio sobre o corpo do outro, o acesso à manipulação da concepção tecno-política.

    Os métodos disciplinares constroem esquemas corporais no corpo e estão ligadas a um contexto histórico. Para Silveira e Furlan (2001), Foucault fala da efemeridade e do desequilíbrio de uma história em constante mudança, onde surgem diferentes formas de articulações (sociais, políticas, comportamentais, econômicas), que estão intimamente ligadas com os microfenômenos físicos. Assim, para que um evento histórico-social se consolide, há que existir uma confrontação dessas forças históricas e de sua confirmação, verificada quando o corpo estabelece tais fenômenos em seus hábitos, no seu modo de atuar no mundo, que os autores chamam de uma interpenetração física que é acompanhada de uma interpenetração histórica.

    Para entender essa construção, menciono a forma do homem lidar com o corpo, com seus regulamentos, comportamentos e controles, que não são universais e inconstantes. Há uma construção social vinculada a um contexto histórico vigente; o homem atua de forma dinâmica neste contexto; essa construção passa por mudanças em uma simbiose constante com o contexto histórico vigente; somos sistemas dinâmicos em constante adaptação. Para Pereira (2007), o sujeito deve saber da sua condição de impermanência, apesar do homem não ter o monopólio da aprendizagem, sua capacidade para aprender é a maior entre os seres vivos e quando ele se restringe em comportamentos submissos e passivos reforça a condição que levou o homem não se construir e não se reconhecer sujeito.

    O sujeito, que pertence a uma cultura, traz em seu corpo as semelhanças do grupo e, ao mesmo tempo, a sua singularidade. No decorrer da história humana, cada contexto social irá apresentar inúmeras manifestações nas relações corporais, que vão refletir nos movimentos, nos gestos, na ética corporal, nas necessidades e impulsos, que ainda serão diferenciados pelo sexo, idade, religião, profissão e classe social, um mecanismo natural e uma riqueza do ser humano. Mas, historicamente, o desenvolvimento social trouxe um distanciamento da participação consciente do homem, do seu corpo e da sua atuação no mundo.

    O desenvolvimento da cultura é um aspecto importante neste processo de construção de corpos dóceis e disciplinados. O desenvolvimento industrial trouxe uma organização produtiva, que expõe uma rede complexa de integração, com setores sociais e com o modo de viver. Esse avanço na área de produção atinge ápices com o desenvolvimento tecnocientífico. Neste momento, existe a exigência de um corpo que produza de forma eficiente e, assim, o inicio da construção de um corpo disciplinado. Para Foucault (1987), essa mesma disciplina passa a organizar o corpo em suas demais relações, de trabalho, produção, nas relações sociais, nas relações conjugais, no estilo de vida. O padrão de eficiência para o corpo gerou gestos e comportamentos que organizaram a sociedade inteira em função do sistema de produção.

    A disciplina neste sistema de produção aumenta as forças do corpo em termos de utilidade, ao desempenhar um movimento físico com eficiência, com uma técnica perfeita de execução. Existe uma economia de energia, que se refere ao funcionamento fisiológico do corpo, mas existe também uma diminuição da força em termos políticos. Começa a se construir a sujeição estreita do corpo obediente.

    Esse corpo “obediente” acata ordens e comandos, cria dependência de referências para “o que fazer”, passa a não ser sujeito de suas ações, de seus sentimentos, valores e posicionamentos, não se percebe na sua totalidade.

    Os estudos de Foucault mostram conseqüências que os processos de industrialização trouxeram para a corporeidade. Valho-me do termo ”descorporalização”, que significa que o homem no decorrer da evolução da civilização e com o desenvolvimento industrial foi provocando um afastamento da comunicação do seu corpo com o mundo, reduzindo sua capacidade de se perceber, sua espontaneidade para expressar seus impulsos e sentimentos, construindo gestos formalizados que fortaleceram a construção de um corpo aprisionado.

    As necessidades da sociedade industrial fazem surgir um padrão de funcionamento corporal, no qual todos os sujeitos se adaptam para não se sentirem ameaçados em sua existência social. Passam a agir com um corpo controlado para satisfazer as necessidades deste contexto histórico; logo, aprende a reprimir suas sensações, desejos e espontaneidades, e o corpo passa a ser manipulado para produzir. A dependência de um comando e a expectativa de um corpo manipulado para produzir resultados nos afastou da atitude de buscar nossas próprias soluções e de aprendermos com nossos erros.

    Se em determinada época, o homem precisou se defender de ameaças físicas, com guerras e lutas para demarcar e conquistar seu território se depara hoje com ameaças de regras e pressões que, para Foucault, são construídas por formas especificas de poder, que passam do setor de produção para as diversas instituições sociais e agem nos corpos oprimindo-os – os poderes disciplinares. Essa forma de poder acabou por restringir cada vez mais o homem.

    Foucault faz uma descrição minuciosa da construção do corpo oprimido e aprisionado, que contribuiu para a restrição do sujeito. São observações detalhadas, afinal, essa construção não acontece de forma súbita e sim sobre uma multiplicidade de processos, de diferentes localizações, às vezes, pequenos e sutis, mas que se repetem e se apóiam um no outro. São fortalecidos em diversos setores sociais e, aos poucos, esboçam um método geral, que pode ser descrito no desenvolvimento industrial, com o setor de produção, e se alastram para as fábricas, quartéis, hospitais, prisões e as escolas.

    Uma observação minuciosa do detalhe, e ao mesmo tempo um enfoque político dessas pequenas coisas, para controle e utilização dos homens, sobem através da era clássica, levando consigo todo um conjunto de técnicas, todo um corpo de processos e de saber, de descrições, de receitas e dados. E desses esmiuçamentos, sem dúvida, nasceu o homem do humanismo moderno (FOUCAULT, 1987, p. 167).

    Os poderes disciplinares se apropriam de diversas técnicas para a construção desse corpo. A distribuição no espaço é uma destas técnicas. Foucault (1987) assinala o que chama de a arte de distribuição, que começa com a cerca; especificação de um local fechado em si. Em seguida, o quadriculamento; cada sujeito em seu lugar, o que facilita o controle de aproximações perigosas, comunicações inadequadas, aglomerações; facilita o estabelecimento da presença ou ausência; o saber onde o sujeito se encontra o que facilita a possibilidade de vigiar.

    Na seqüência, nascem os espaços funcionais, com as repartições de espaços, onde cada demarcação tem uma função especifica e limitada. Finaliza com a forma de ordem que surge com as filas, que individualiza o corpo por localização. Para controlar as atividades, o horário, que disciplina todas as instituições sociais, controla e determina o tempo das ocupações, sugerindo modelos de ciclos, de rotinas, de condutas corporais (FOUCAULT, 1987).

    Dentre outros detalhes, para controlar as atividades, Foucault (1987) define elaboração temporal do ato, isto é, a elaboração de gestos e movimentos num tempo dado, que elimina o ritmo individual de cada sujeito, para impor um ritmo coletivo, o que define um esquema de comportamento, de gestual.

    Essa elaboração é descrita em detalhes por diversos elementos; num tempo estabelecido, o gesto do corpo obedece a uma posição, uma amplitude, sem exceder uma duração, com uma ordem, sem alterações das suas sucessões e, tudo isso, com eficácia e rapidez, afinal, um corpo disciplinado faz bom uso do seu tempo, sem ficar ocioso, parado, sem parar de produzir.

    A questão do tempo, fator importante na sociedade atual, é definida pelo filósofo. Historicamente, foram atribuídos valores ao tempo, que foram associados ao corpo. Foucault dá a esse processo o nome de utilização exaustiva e detalha a construção do tempo sobre o corpo. O princípio deste processo é o da não ociosidade. É proibido não perder tempo; cada instante disponível tem de ser utilizado de forma útil; o corpo tem de se encaixar numa concepção de tempo inesgotável e sempre buscando a rapidez e a eficiência. Não existe um espaço de tempo para o sujeito se aproximar de si mesmo; um tempo para sua exploração, para o seu autoconhecimento.

    Até as relações de manipulações entre o corpo e os objetos são construídas por modelos, o que afasta do sujeito a possibilidade de resolver problemas com diferentes habilidades corporais, de experimentar diferentes processos para atingir um resultado.

    Essas formas de controle podem ser pensadas em todos os setores sociais e estão intimamente ligadas a mecanismos de estruturas de poder. As escolas, que são vistas como espaços de transformação social, são também reprodutoras destes métodos de dominação.

    Todas as descrições mencionadas para controlar a distribuição de espaços e atividades são observadas nas escolas, que procuram eliminar dos corpos os movimentos involuntários, para disciplinar um modelo corporal de manipulação, que perpetua assim o controle.

    A distribuição na sala de aula, os sinais, a organização do tempo, as posturas corporais, os comportamentos dos alunos e professores, facilitam a repressão do sentir, da espontaneidade, das idéias; reforçam as atitudes e posturas de poder e submissão.

    Outro aspecto que interfere na construção dos corpos são suas considerações sobre as relações de saber e poder, pois, Foucault considera que não existe a constituição de poder sem uma ligação com um campo de saber e nem saber que não suponha uma relação de poder. Quando o filósofo reconhece esta relação estreita de saber e poder, compreende que a ciência e todos os seus saberes formam uma relação de suporte de múltiplos interesses nos arranjos das construções de poderes em cada instante histórico da sociedade. Os saberes científicos, historicamente, configuram uma microfísica do poder, que construiu, no corpo de cada sujeito, hábitos, pulsões, emoções, comportamentos, interpretações. Toda essa complexidade participa nos processos de poder e podem ser percebidas nas diversidades do campo de saber como a Medicina, a Psicologia, o Direito, a Sociologia, a Pedagogia dentre outras (SILVEIRA e FURLAN, 2001).

    Os pressupostos apresentados fazem uma construção de um corpo dócil, dominado por poderes disciplinares que, historicamente, ajudaram a afastar a noção de sujeito. Algumas considerações alarmantes desta construção devem ser mencionadas, como o fato de o homem moderno acreditar que sua verdadeira condição é a que vive; por conseqüência, se afasta cada vez mais de quem é, e cria uma resistência à liberdade e se nega a sair desta condição passiva.

    O autocontrole para se adequar a padrões corporais e comportamentais gera uma tensão interna constante, que hoje aparece na forma de ansiedades, insatisfações e doenças psicossomáticas e psicológicas diversas.

    Pois bem, para Foucault, o sujeito tem que encontrar a liberdade em espaços de sujeição; transformar um corpo construído nos desejos, que são os efeitos do poder, em um corpo em busca de caminhos de liberdade.

    Quando reivindicamos quem somos, temos mais intimidade com nossos esquemas corporais e as nossas condutas, sejam elas geradas pelo instinto ou pela aprendizagem, já que ambos surgem como conseqüência da história de interações entre o sujeito e o ambiente. Isso só pode acontecer de forma livre quando estamos atentos da nossa experiência, na condição de sujeito.

    Há em cada um de nós informações para reconhecer e investigar; é, neste momento, que começamos a ser livres e autônomos – o que chamo de caminho de volta a si. No mergulho em si mesmo o sujeito conhece a sua interioridade e a sua exterioridade e pode organizar as suas experiências sem que seja passivo às determinações externas e coletivas que regem a nossa história. O primeiro passo deste caminho é a consciência de que somos sujeito e devemos ocupar a nossa posição de “eu” no mundo.

Referências

  • FILHO, A.S. Foucault. O cuidado de si e a liberdade, ou a liberdade é uma agonística. Natal: 2007. Trabalho apresentado no IV Colóquio Internacional Michel Foucault.

  • FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. Nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987.

  • FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1982.

  • PEREIRA, P.A. In: FURLANETTO, E.C.; MENESES, J.G.C. (orgs.). A Escola e o Aluno: relações entre o sujeito-aluno e sujeito-professor. São Paulo: Avercamp, 2007.

  • _____ Trajetória de uma construção teórica. Revista@ambienteeducação. São Paulo, v.1,n.1, jan/jul. 2008.

  • SILVEIRA, F.A. e FURLAN, R. Michel Foucault e a constituição do corpo e da alma do sujeito moderno. Ribeirão Preto. 220p. (Tese). Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, 2001.

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