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Ser ‘bom’ professor pelos olhos dos alunos

Ser ‘buen’ profesor según los alumnos

 

Professor de Educação Física

na escola EB 2,3 Mestre Domingos Saraiva, Sintra

(Portugal)

Rui Carvalho

rui.carvalho.info@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Durante o ano letivo, o professor de educação física desenvolve a sua atividade letiva, aplicando as metas de aprendizagem nos seus vários domínios de forma consensual. Desenvolve a aptidão física, o conhecimento e a atividade física dos estudantes. Transversalmente a estes domínios valoriza as atitudes sociais e pessoais do aluno. Segundo o Programa Nacional de Educação Física de Portugal - PNEF (2001) o professor tem a responsabilidade de escolher e aplicar as soluções pedagógicas e metodológicas mais adequadas, investindo as competências profissionais desenvolvidas na sua formação nesta especialidade, para que os efeitos da atividade do aluno correspondam aos objetivos dos programas. De uma forma consensual, na classe profissional consegue-se abranger o desenvolvimento harmonioso do estudante centrando-se no valor educativo da atividade física orientada. Este estudo de caso (aplicado no ano 2008/2009) deseja ir para além de toda as práticas comuns, com bases empíricas e bases práticas. O questionário aplicado pretende acrescentar de forma simples e conciliadora, uma prática pedagógica que todos os profissionais de educação física devem preocupar-se em aplicar. Pois acrescenta mais qualidade à relação professor/aluno e ao processo ensino/aprendizagem. De forma genérica, em Portugal, os professores elaboram o planeamento, a avaliação diagnóstica, criam e operacionalizam os objetivos, avaliam o trabalho desenvolvido pelos estudantes, aplicam questionários de autoavaliação dos alunos entre outras práticas correntes, mas não é usual aplicar um questionário para saber a opinião do aluno sobre o seu “mestre”. É neste preciosismo de ser professor que entra este questionário. Mostra o desejo de fazer a sua autorreflexão sobre o trabalho desenvolvido durante um ano escolar, com análise de dados, de forma simples, utilizando um programa estatístico básico (EXCEL), com validação e sustentabilidade científica. A amostra do estudo é de 65 estudantes com idades compreendidas entre 10 a 13 anos (5º e 6º ano de escolaridade) com 20 perguntas, numa escala de 1 a 10, é possível recolher valores de média, de moda e de forma percentual. Verificou-se um professor, salientado pela negativa no indicador (pontualidade) e pela positiva (confere responsabilidades aos alunos).

          Unitermos: Inquérito. Aluno. Professor. Avaliação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), atividade física pode ser definida com qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que implica gasto de energia.

    A Escola, é o meio privilegiado para promover de forma organizada e com orientações, atividades dinamizadas por profissionais especializados para o efeito. É sem dúvida um veículo privilegiado e fundamental para a atividade física e a adoção de estilos de vida saudável da formação humana. Estes professores são promotores da qualidade de saúde pública.

    Ser bom professor? Foi, é e será sempre uma questão que vai desenvolver contributos de enumeras perspetivas.

    Durante o ano letivo, o professor de educação física desenvolve a sua atividade letiva, aplicando as metas de aprendizagem nos seus vários domínios de forma consensual. Desenvolve a aptidão física, o conhecimento e a atividade física dos estudantes. Transversalmente a estes domínios valoriza as atitudes sociais e pessoais do aluno. (Rocha, 2010)

    Mas neste processo “de rotinas” verifica-se a ausência, por parte do professor, em saber a opinião do aluno em relação ao trabalho desenvolvido pelo próprio. É como ir ao hospital e estes não desejarem saber o que o utente pensa sobre a qualidade do serviço prestado…

    Não desejando ser tão minimalista, mas este estudo apresenta uma ferramenta de trabalho simples e útil para o próprio aplicar na sua prática profissional e compreender a perceção dos alunos em relação ao trabalho desenvolvido ao longo do ano escolar.

    O estudo incide nesta “falha” sistémica do autoconhecimento do professor. Realça o desejo de saber mais, faz aprender mais e por consequência direta torna o processo ensino/aprendizagem melhor. Não é necessário ser um “expert” de estatística para conhecer-se um pouco mais. Basta um programa informático como o “Excel”, ferramenta utilizada rotineiramente no dia-a-dia da profissão docente, para melhorar, o ser “bom” professor.

    “Reconhece-se, assim, ao professor a responsabilidade de escolher e aplicar as soluções pedagógicas e metodologicamente mais adequadas, investindo as competências profissionais desenvolvidas na sua formação nesta especialidade, para que os efeitos da atividade do aluno correspondam aos objetivos dos programas, utilizando os meios que lhe são atribuídos para esse fim.” (Jacinto, 2001)

    De forma objetiva, definir “ser” bom professor é difícil de concretizar dada a existência de inúmeros fatores (humanos, pedagógicos, científicos, culturais, profissionais, etc.) que condiciona o perfil dos profissionais da educação física (Cunha, 2010).

    Na evolução da procura do conhecimento, do que é um bom professor e sobre a formação pré-inicial, inicial e continua dos mesmos. Realizou-se uma recolha bibliográfica sobre o perfil do professor, o que os alunos valorizavam nos treinadores e nos professores de educação física (Costa, 1979, 1988, 1996; Fernandes 1980; Book, 1983; Feimam-Nemser, 1983; Postic, 1984; Araújo, 1985; Coordenação da região norte, 1987; Cruz, 1988; Piéron 1999; López y Moreno, 2000; Sarmento, 2001; Amado, 2001) entre outros estudos.

    Também foi aplicado um questionário aos 65 alunos de um professor do 2º ciclo de escolaridade (5º e 6º ano). Eles têm a idade compreendida entre 10 a 13 anos. Utilizou-se uma escala (1 → 10, do péssimo ao excelente). Todo este processo foi elaborado com a validação do mesmo, que será explicada no decorrer deste estudo.

Enquadramento teórico

    Em Portugal, os pioneiros no reconhecimento da necessidade de formação de professores na educação física foram: o médico Costa Sacadura, que no início do séc. XX chamava a atenção para a necessidade da preparação urgente de professores especializados em educação física; o ministro da instrução pública José Camoesas através da apresentação de uma proposta de lei consagrada à formação de professores onde se referia a ausência de uma verdadeira cultura física, e onde se propunha a criação de uma escola de formação de médicos escolares, professores de educação física e instrutores militares de ginástica e jogos. Pela primeira vez incluía-se a formação de professores de educação física no meio universitário com formação comum a outros professores. Este Decreto-Lei não foi promulgado; o doutor António Leal de Oliveira, docente da escola superior de educação física da sociedade de geografia de Lisboa que foi responsável pela seleção do corpo docente desta escola. Esta foi a primeira criada para a formação exclusiva de professores de educação física. (Moreira, 2011)

    Na necessidade de encontrar o modelo ideal do bom professor a investigação pedagógica percorreu três fases distintas:

  • A primeira incide nas características intrínsecas do bom professor;

  • A segunda distingue-se pela procura do melhor método de ensino;

  • A terceira valoriza a análise do ensino no contacto real da sala de aula, baseado no processo ensino/aprendizagem (quais as variáveis que influenciam a conduta e os progressos nas aulas). (Nóvoa, 1992 in Cunha 2010)

    Tendo em conta a importância da educação da criança, no meio onde se desenrola e verificando as alterações/evoluções que existiu ao longo destas últimas décadas. O ensino da educação física em Portugal, que durante anos, esteve centrado no professor evoluiu para estar centrado no aluno.

    Em 1975, Hannoun escreveu que educar uma criança é ter em conta simultaneamente os seus dados biográficos e psicológicos, é portanto ter em conta a sua natureza, para a levar a um estado considerado como mais adaptado às exigências do seu meio, ou seja a um dado estado cultural, num certo momento e num certo lugar.

    “Desde sempre houve a preocupação de identificar o perfil do professor ideal, ou seja, do “bom” professor, e de descobrir as técnicas e os métodos de intervenção pedagógica mais eficazes” (Cunha, 2010).

    Bento (1989) valoriza a importância da defesa de um professor com conhecimento cientifico-pedagógico mas este tem de ser escolhida, preparada, ordenada, estruturada e transmitida ao serviço do processo de desenvolvimento dos alunos.

    “O Desempenho da função docente exige que se entenda o professor como um profissional, isto é, uma pessoa portadora de um profundo conhecimento científico e pedagógico e com capacidade de exercer as suas tarefas profissionais com autonomia e responsabilidade."...“A investigação/ação, a análise do ensino, a autoanálise, as histórias de vida, os estudos de casos, a técnica dos incidentes críticos, formação recíproca, etc., são estratégias e procedimentos que os professores devem conhecer e saber utilizar para adquirirem os conhecimentos, habilidades e confiança para continuarem o seu desenvolvimento pessoal.” (Costa, 1996). 

    Mas nos dias de hoje, é exigido ao professor/treinador ter uma exata perceção do trabalho que realiza e das suas competências. Levanta-se cada vez mais a importância de ser criativo (Woods, 2001) ou mesmo, o ser bom ou mau professor/treinador, isso é percetível pelos alunos (Amado, 2001).

    A qualidade da classe de educação física expressa-se em indicadores que permitem avaliar na medida da satisfação das necessidades e interesses dos alunos, privilegia-se um desenvolvimento integral da atividade física do aluno (López y Moreno, 2000).

    Pode-se assim falar… A observação da realidade da turma num ponto de partida, tornou-se para o professor, para os seus comportamentos e intervenções frente aos alunos. Desde há alguns anos, o centro de interesse de vários investigadores em educação foi-se desenvolvendo progressivamente face ao aluno. Através do aluno e dos seus comportamentos, atitude, valores, trocas e alterações dos processos cognitivos, querer-se compreender melhor os resultados da ação educativa do professor (Bennett, 1978; Berliner, 1979; Rosenshire, 1980). Temos passado de uma preocupação essencial do comportamento do professor, aos poucos, prevista na perspetiva da sua turma aos comportamentos dos alunos, igualmente considerados dentro do mesmo contexto global, ainda que com frequência a nível individual (Piéron, 1999).

    Na realidade de hoje em dia verifica-se que um professor tem de atingir um nível de excelência na sua performance diária. Nós, os professores, vemo-nos obrigados a realizar numerosas tarefas e funções, que vão muito mais longe do que é, simples na função de docentes. Se nos pedem para educar, ensinar, administrar, organizar, motivar, gesticular, animar e agora ainda planear, é lógico que face a esta inúmera lista de missões tenhamos receio em admitir, que mais obrigações com que nos deparamos escapem de uma das coisas que nos mais satisfaz, a de sermos críticos da nossa própria vontade (Castañer e Camerino, 2001).

    Os professores de Educação Física, preocupam-se com o bom funcionamento das suas aulas, sendo as aulas o melhor meio para mudar padrões e hábitos pré-estabelecidos de forma a aprender os conteúdos que nos impõem (McCulloch, 2007). Os alunos na atualidade encontram-se com inquietudes que o ensino básico não é capaz de resolver e é devido a este que aumenta o insucesso escolar, para estes o professor deve afastar-se e trabalhar com os alunos de forma a solucionar as suas impaciências. Se o aluno sabe de maneira antecipada qualquer fator tanto físico como psicológico provenientes do professor, como a voz, a altura e a beleza, etc., isto irá influenciado na altura de transmitir os conhecimentos dos alunos (Sinclair, 2005). Os professores de Educação Física utilizam uma série de ferramentas, é a forma que o professor tem para transmitir os conhecimentos à turma, esta terminologia é conhecida por estilos de ensino, oferecendo ao professor um conjunto de opções de ensino que promovem o bom funcionamento das aulas e podem ser utilizadas como padrões para a reflexão, melhoramento e revitalização (Mosston, 1990).

    Independente dos modelos de formação existentes, como por exemplo, o categorizado por (Zeichner, 1983 in Vieira, 2007). Desta forma bastante operacional observa-se os quatro paradigmas dominantes na formação de professores.

    Ou mesmo das fases de formação de professores (Feimam-Nemser, 1983 in Marcelo 1999) define quatro fases no aprender a ensinar: Fase de pré-treino; Fase de formação inicial; Fase de iniciação e Fase de formação permanente.

    Com estudantes ou praticantes de uma modalidade desportiva acreditamos que a aplicação do inquérito promove no estudante uma relação pedagógica mais completa.

    Na formação inicial de professores promover a importância deste meio de autoanálise garante no futuro a aplicação no processo “de rotinas” da prática docente.

    Nos estudos relatados em Pascual (2008), estimular a formação nos professores de educação física e criar um plano é de vital importância para o sucesso do ensino.

    Nos primeiros anos de profissional, o professor/treinador centra-se mais no desenvolvimento da prática docente, este desenvolve e consolida estratégias pessoais de forma a garantir a sobrevivência dentro do sistema educativo. A aplicação do inquérito proposto neste estudo dará certamente mais confiança e motivação para superar esta fase.

    De forma permanente, ao longo da carreira profissional deve-se centrar o trabalho desenvolvido nos alunos e diversificar as atividades. A criatividade de utilizar várias metodologias e estilos de ensino é verdadeiramente a diferenciação do ensino/aprendizagem deste novo século. Na qualidade de professor de educação física vai-se “atacar” em todas as frentes, isto é, tem-se de chegar ao aluno através de diferentes ferramentas para além da aula convencional. A autoanálise é uma “gota no oceano” do processo de ser bom professor, mas é sem dúvida uma gota determinante para melhorar e criar inúmeras estratégias para chegar ao aluno de forma a obter sucesso educativo. Desta forma os estudantes devem emitir a sua opinião ao professor sobre a qualidade do seu trabalho.

Validação do inquérito

    Iniciou-se com uma tradução de um inquérito de satisfação do atleta “Introduction to Coaching Theory” (IAAF, 2001). Com a validação de 3 linguistas. Este foi aplicado de forma a obter alguns primeiros resultados (Carvalho, 2009). Sempre com a mesma problemática como ponto fundamental da discursão.

    Na sequência destas leituras, já referenciadas no texto, elaborou-se uma lista de 40 tópicos referenciados em vários estudos/autores que apresentavam indicadores comuns. Depois propôs-se as 10 pessoas para valorizarem por ordem crescente de importância dos 40 indicadores e com possibilidade poderem fazer observações por escrito.

    O trabalho foi individual para cada uma das 10 pessoas:

  • 4 Alunos que eram da faixa etária do público-alvo e não fizeram parte da amostra final;

  • 2 Técnicas operacionais de apoio às atividades da educação física, com mais de 15 anos de trabalho nas instalações, que traçavam um duplo perfil de forma empírica (observadoras durante anos de dezenas de professores, inerente à sua atividade profissional e de encarregadas de educação, visto terem vários filhos de idades diferentes e em idades escolares – 5 filhos no total);

  • 4 Professores que lecionam no ensino básico e secundário (do 5º ao 12ºano de escolaridade) com mais de 20 anos de docência e com atividade de relevância em clubes de modalidades díspares e gestão desportiva/pedagógica.

    É de salientar que os professores/treinadores são considerados ”experts” não só pelo mérito reconhecido dos currículos profissionais ao nível individual, mas também utilizou-se a categorização de Berliner para os enquadrar na validação do inquérito.

    “A noção de expertise - introduzida no domínio das atividades físicas e desportivas em 1986 por Berliner (in Piéron, 1993) - e os estudos utilizando este paradigma, constituem uma referência decisiva no estudo da supervisão pedagógica. No domínio do ensino em geral e no das atividades físicas e desportivas em particular, também existem sujeitos com elevados índices de experiência pelo que, o confronto de “experts” face a principiantes tem sido tema de muitos estudos.

    Nelson (1988, in Piéron, 1988) verificou que os “experts” apresentavam respostas de um detalhe maior face a principiantes. Da mesma forma, Armstrong e Hoffman (1979, in Piéron, 1993), verificaram que professores de ténis com experiência evidenciavam uma precisão maior na identificação de erros face a professores de ténis menos experientes, tal como Skrinar e Hoffman (1979) admitem que professores experientes fornecem informação mais precisa. Bard et all (1980) efetuaram um estudo onde colocaram em confronto juizes de ginástica com experiência e juízes sem experiência, verificando a existência de uma tendência para diferentes padrões de pesquisa visual.

    Por outro lado, Pauwels (1979) refere que um “expert” distingue mais rapidamente os aspetos fundamentais da execução do que um principiante. Januário (1992) refere que os experts utilizam e seu “know how” sobretudo aquando da tomada de decisões ditas pré-interativas, enquanto que os principiantes utilizam predominantemente documentos de organização, como sejam os planos de unidade didáctica. Sendo assim, admitimos que a experiência se constitui como um possível fator da eficácia pedagógica. É de admitir que os professores experientes evidenciam níveis de eficácia superiores aos dos principiantes. (Sarmento et al, 1999).” (Albuquerque, 2003)

    Desta forma pouco usual mas inovadora recolheu-se a opinião de todos atingiu-se um inquérito final de 20 questões.

Análise de resultados

    A amostra deste estudo foi constituída por 65 alunos de escolas de 3 grupo/turma do 2º ciclo (5º e 6º ano de escolaridade) tendo idades compreendidas entre os 10 e os 13 anos de idade no ano letivo 2008/2009.

    Elaborou-se uma escala de 10 pontos de avaliação:

1 – Péssimo; 2 – Muito mau; 3 – Mau; 4 – Insatisfaz; 5 – Satisfaz pouco; 6 – Satisfaz; 7 – Satisfaz bem; 8 – Bom; 9 – Muito bom; 10 – Excelente.

    Como se pode verificar, no gráfico acima a média final é de 9,4 e valor de moda é de 10.

    Salienta-se pela negativa no indicador, Pontualidade e pela positiva no indicador, Confere responsabilidades aos alunos.

    Percentualmente verifica-se um valor de 94% de satisfação por parte dos alunos em relação ao trabalho do professor realizado no ano escolar 2008/2009.

    Pode-se concluir, que o professor avaliado pelos alunos qualitativamente foi de muito bom.

Considerações finais

    Partindo da palavra epidemiologia (EPI – acontecimento; DEMIO – população; LOGIA – estudo) verificamos o estudo de um acontecimento numa dada população.

    A população-alvo, é o professor, mas foram os alunos, no final do ano letivo, que reponderam a um inquérito sobre a qualidade do seu próprio professor de educação física.

    Na abordagem apresentada neste estudo muito simplista na sua conceção, mas utilizando o pensamento epidemiológico, ou seja, aplicando o método científico, mesurável. A análise científica utilizada é um estudo de caso, centrado na opinião do aluno mas com o objetivo de o professor retirar proveitos para a sua atividade profissional. Segundo Carlos Marcelo Garcia (1999), a inter-relação entre as pessoas promove contextos de aprendizagem que vão facilitando o complexo desenvolvimento dos indivíduos que formam e que se formam.

    Durante o ano letivo, o professor de educação física desenvolve a sua atividade letiva, aplicando as metas de aprendizagem nos seus vários domínios de forma consensual. Desenvolve a aptidão física, o conhecimento e a atividade física dos estudantes. Transversalmente a estes domínios valoriza as atitudes sociais e pessoais do aluno.

    No processo de análise do estudo apresentado, verificou-se a média por questão. E a média final e moda final do professor. Finalmente a percentagem a que corresponde os valores do trabalho desenvolvido pelo docente de educação física no ano escolar 2008/2009, segundo a opinião dos alunos.

    Deseja-se explorar neste estudo de caso, várias vertentes:

  1. A importância de se tornar uma “rotina” pedagógica no processo ensino/aprendizagem. A aplicação de um inquérito com o objetivo de saber a opinião dos estudantes sobre o trabalho desenvolvido do profissional da educação física durante um ano escolar. É fundamental para fechar um ciclo anual.

  2. Ser uma ferramenta, talvez mesmo, uma solução útil e de fácil aplicação utilizando um programa de estatística comum e simples na ótica do utilizador (Excel), independentemente da versão escolhida (ex: Office 2010). Poderá retirar-se muitos dados mas neste estudo apresentou-se o que se poderá considerar “a análise estatística mais elementar” Média, Moda e Percentagem. Assim, verifica-se que a ciência ao nível corrente do dia-a-dia é possível e de enorme utilidade para ser um “bom” professor. Promove a autoanálise e as consequências positivas que isso trás.

  3. O modelo de validação do inquérito foi trabalhoso mas reuniu o consenso de verificações de professores “experts”, alunos representativos da amostra utilizada e as funcionárias que acompanham o dia-a-dia do professor nas instalações desportivas.

    Interessante e inovador, saber a opinião de duas pessoas que não são estudantes, nem são profissionais do ensino mas aqui reside, a vontade do perfecionismo. Um professor deve ver “para além do muro”, pois estas pessoas são quase invisíveis no sistema educativo, mas são as que vêm mais professores/treinadores a trabalhar e são próximas dos estudantes. Afinal, aqueles para quem todo o sistema educativo trabalha.

    Igualmente de salientar o facto de serem mães atentas que acompanham os seus educandos, valorizam a educação em geral e em especial a educação física.

    Uma outra perspetiva importante, é recolher o maior número de sensibilidades da comunidade educativa.

    Pode-se concluir, que não é um tema novo, mas sim o contributo prático para quem operacionaliza o PNEF de Portugal, vive e deseja saber mais sobre o que é ser Bom Professor.

Investigações futuras

  • Fazer um trabalho longitudinal do mesmo professor para verificar consistência do ensino em diferentes realidades/escolas.

  • Fazer em dois momentos (fim do 1º período e fim do 3º período escolar).

  • Fazer análise dos dados também por género sexual.

  • Nas melhorias e perdas, verificar relacionamento dos métodos e estratégias aplicados com os resultados obtidos.

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