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Percepção dos alunos sobre espectro do 

autismo e Educação Física: um estudo de caso

La percepción de los alumnos sobre el espectro autista y la Educación Física: un estudio de caso

 

*UEL/PR

**PR

(Brasil)

Prof. Dr. Nilton Munhoz Gomes*

Prof. Esp. Eduardo Augusto de Melo Gonçalves**

niltonmg@sercomtel.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Os indivíduos acometidos pela Síndrome de Asperger (SA), para alguns pesquisadores, são pessoas com espectro do autismo, tendo algum deles níveis intelectuais e linguísticos elevados, porém, não existe uma diferença qualitativa em relação aos mais atrasados ou graves. Para outros, a SA deve ser distinguida qualitativamente do transtorno autista. Para esses autores, apresentam algumas insuficiências sérias, porque “existe um atraso no desenvolvimento da linguagem”. No entanto, se há desenvolvimento, essa linguagem é sempre adquirida de forma tardia e anômala, sendo formalmente correta ou até mesmo “correta e formal demais”. O presente estudo teve como objetivo verificar, por meio da aplicação do instrumento entrevista, o conhecimento que alunos sem necessidades especiais têm sobre a temática do espectro do autismo: como eles percebem a importância das aulas de Educação Física para o aluno com SA e como eles se relacionam com esse aluno nessa disciplina. Para tal, utilizou-se a pesquisa descritiva. Fizeram parte desse estudo quinze alunos, matriculados em uma turma do 6°ano do ensino Fundamental II, tendo uma aluna com SA em processo de inclusão. O critério para a escolha da escola e da turma foi proposital. Os resultados mostraram que os alunos, principalmente dessa turma, pouco sabem o que é SA e a minoria percebe diferenças físicas ou intelectuais entre eles, principalmente na aluna com SA. Portanto, sob o ponto de vista desses alunos, é importante a prática de Educação Física para uma melhor interação social. Com isso, conclui-se que é de suma importância conhecer as características da SA, para que a inclusão desse aluno nas aulas de Educação Física aconteça, possibilitando ao professor a realização de adaptações durante as aulas e em todo o ambiente escolar.

          Unitermos: Espectro Autista. Inclusão escolar. Educação Física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Klin (2006) destaca que o espectro do autismo refere-se à condição que varia quanto à apresentação clínica do quadro e a forma como ele se apresenta em cada criança, variando de caso para caso. A terminologia espectro sugere que as causas podem ser as mais variadas possíveis, fato esse que faz com que pesquisadores do mundo todo ainda busquem identificar a etiologia precisa do autismo.

    Esse espectro refere-se a sujeitos que podem variar em grau de inteligência até altas habilidades em diferentes áreas, podendo ir desde um comprometimento na fala: leve, fazendo com que indivíduos falem demais; e um comprometimento profundo: o indivíduo não fala.

    No Brasil, utiliza-se com mais frequência a Classificação Internacional de Doenças (CID-10). Pessoas com espectro do autismo são classificadas com o código F84-0:

    Um transtorno invasivo do desenvolvimento, definido pela presença de desenvolvimento anormal e/ou comprometimento que se manifesta antes da idade de 3 anos e pelo tipo característico de funcionamento anormal em todas as três áreas: de interação social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo. O transtorno ocorre três a quatro vezes mais frequentemente em garotos do que em meninas. (SILVA, 2003).

    Fazem parte desse grupo pessoas com autismo atípico, Síndrome de Rett, outro transtorno desintegrativo da infância, transtorno com hipercinesia associada ao retardo mental e aos movimentos estereotipados, Síndrome de Asperger, outros transtornos globais do desenvolvimento e transtornos globais não especificados do desenvolvimento.

    A Política Nacional de Educação Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), destaca que

    Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil.

    Na Lei nº 12.764 – Direitos da Pessoa com Autismo – de 27 de dezembro de 2012 (Anexo 01), em seu artigo terceiro – direitos da pessoa com transtorno do espectro autista – no item IV, quanto ao acesso, destaca-se o direito à educação e ao ensino profissionalizante. Educação esta que deve ser oferecida na rede regular de ensino, no processo de inclusão escolar.

    Entende-se por inclusão a garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum da vida em sociedade, sociedade essa que deve estar orientada por relações de acolhimento a diversidade humana, de aceitação das diferenças individuais, de esforço coletivo na equiparação de oportunidade de desenvolvimento, com qualidade, em todas as dimensões da vida. (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2001, p. 8).

    Ravazzi e Gomes (2009) destacam que na sociedade atual o termo inclusão tem sido muito utilizado, evidenciado na mídia, em projetos sócios educacionais. Sabe-se que independente de qual inclusão estiver falando, essa não depende exclusivamente de leis, mas de atitudes onde realmente se deseja incluir algo ou alguém.

    Um aluno, independente da sua necessidade educacional especial, quando incluído na rede regular de ensino, passa por adaptações emocionais, que muitas vezes não são percebidas pelos demais. Esse aluno está começando a fazer parte de um mundo antes desconhecido, com pessoas diferentes e que muitas vezes encontram nele certa estranheza e que, involuntariamente, demonstram atitudes discriminatórias, pela simples falta de conhecimento sobre como agir com uma pessoa deficiente ou, para ela, “diferente”.

    Ravazzi e Gomes (2010) dizem que se não houver informação e um processo educativo eficaz, nos quais as atitudes relacionadas ao preconceito e à discriminação sejam dissipadas, fica difícil visualizar o processo de inclusão. Esse passa, antes de tudo, por mudanças de atitudes que não são determinadas por decretos ou leis, mas por um processo de conscientização e aceitação das diferenças.

    Para Soler (2006) a inclusão dos alunos autistas fica muito mais visível nas aulas de Educação Física, pois os alunos ficam mais expostos à cobrança de movimentos perfeitos e à execução de movimentos previamente determinados.

    O autor ainda comenta que:

    O principal objetivo que a Educação Física tenta obter no trabalho com pessoas com necessidades especiais é sua total reintegração à sociedade, com autonomia, liberdade, criatividade e alegria. Outros objetivos complementares também são almejados, como melhora da condição motora, domínio do corpo para um desempenho de atividades biopsicossociais e um desenvolvimento sociocultural. (SOLER, 2006, p. 12).

    Ao considerarmos o principal objetivo destacado pelo autor, o de proporcionar possibilidades para total reintegração deste aluno à sociedade, sabe-se que essa, entre outros espaços, acontece na escola. Assim, surgem alguns questionamentos acerca da inclusão do aluno com espectro do autismo na escola regular:

    Para a inclusão acontecer de maneira efetiva há outro elemento essencial além do professor que é o aluno sem necessidade educacional especial. É ele quem vai, ou não, se relacionar com esse aluno no dia a dia da escola. Com isso, o presente trabalho se justifica, pois buscará apontar como o aluno sem necessidade educacional especial percebe a presença do aluno com SA nas aulas de Educação Física.

    Esse trabalho tem como objetivo verificar, por meio da aplicação de instrumento entrevista, o conhecimento que alunos sem necessidade especial têm sobre a temática do espectro do autismo. Além disso, espera-se descobrir como eles percebem a importância das aulas de Educação Física para o aluno com SA e como ele se relaciona com esse aluno nesta aula.

2.     Metodologia, resultado e discussão

    Esse estudo caracteriza-se como sendo descritivo. Cervo e Bervian (2002) afirmam que a pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos e fenômenos sem manipulá-los, procurando descobrir, com a precisão possível, a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características. Dentro do método escolhido, o estudo de Survey é aquele que mais se enquadra em nossa proposta, pois é uma técnica de pesquisa que procura determinar práticas presentes ou opiniões de uma população específica (THOMAS e NELSON, 2002).

    Fizeram parte deste estudo 15 alunos, matriculados no 6°ano do ensino Fundamental II, de uma escola da rede privada. A turma é composta por 25 alunos, incluindo a aluna com espectro de autismo “Síndrome de Asperger”, mas apenas15 alunos retornaram o termo de consentimento livre e esclarecido, que foi enviado aos pais, para devida autorização da pesquisa.

    A escolha da escola e da turma foi proposital, tendo em vista que o pesquisador é professor de Educação Física na mesma escola e leciona na turma escolhida, na qual está matriculada a aluna “R”, como será identificada a partir daqui.

    Para a coleta de dados foi utilizada uma entrevista semiestruturada, contendo dez questões que versam sobre a percepção dos alunos sobre o espectro do autismo, a opinião sobre a participação dessa aluna nas aulas de Educação Física e sua relação com esses alunos.

    Os dados foram coletados em dia e horário previamente agendados com a coordenação da escola, para que não prejudicasse o andamento das aulas. Essa entrevista aconteceu individualmente em uma sala de aula previamente preparada. Utiliizou-se uma câmera ES-80 Samsung e um tripé para sua fixação, sempre tendo a preocupação de filmar o entrevistado de costas, para preservação de sua imagem, atentando-se sempre à voz, para a coleta dos dados.

    Foram analisados de forma quantitativa e qualitativa. Para a análise qualitativa utilizou-se o procedimento de análise de conteúdo (BARDIN, 2002), agrupando as respostas em categorias. Com a análise quantitativa verificou-se a frequência das respostas, para analisar a incidência das mesmas.

    As perguntas foram divididas em quantitativas e qualitativas, onde se pôde definir e fundamentar. As questões quantitativas são as de número 1 e 2 e serão analisadas em uma tabela abaixo e transcritas em seguida.

    Antes de iniciarmos a apresentação e discussão dos resultados vale destacar que ora utilizaremos o termo Síndrome de Asperger (SA), ora Espectro de Autismo, neste estudo, estaremos utilizando ambos os termos para nos referirmos a pessoas com características de Síndrome de Asperger.

Tabela 1. Identificação da aluna com Espectro de Autismo

1. Nas aulas de Educação Física que você participa, algum aluno apresenta comportamento diferente da maioria dos alunos?

( 3 ) Sim

(11) Não

( 1 ) Outra resposta

2. O que você acredita que um ou mais alunos possam ter?

( 7 ) Não sei

( 6 ) Autismo

( 4 ) Deficiência visual

    Quando questionados se percebiam algum aluno com comportamento diferente nas aulas de Educação Física dos quinze alunos, onze responderam que não notaram nenhum comportamento diferente nos alunos.

    Três alunos identificaram comportamentos diferentes em uma aluna, e um aluno identificou que um deles usa óculos, portanto apresentou uma resposta fora do contexto ao qual se buscam os resultados.

    Na sequência, foi entregue aos alunos uma pequena lista impressa com alguns tipos de deficiências e síndromes para que pudessem tentar identificar se, dentre eles, algum aluno apresentava ter características da lista visualizada, pois só assim é que poderíamos continuar nossa pesquisa devido ao pouco conhecimento dentre os pesquisados.

    Dos quinze alunos, sete responderam que não saberiam identificar nenhum amigo que as tivessem, quatro responderam deficiência visual, pois um amigo usa lentes de grau elevado e seis alunos conseguiram identificar que dentre eles havia uma aluna com espectro de autista. Vale ressaltar que 15 alunos participaram desta pesquisa, portanto 7 não identificaram, e 6 identificaram um aluno e dentre estes 6, 4 identificaram também um com deficiência visual.

    Sendo assim, as questões de 3 a 10 foram perguntadas somente para esses seis alunos. Com isso, cai o número de participantes para seis.

    Obtendo o resultado que era esperado, partiu-se, então, para a pesquisa qualitativa. Na tabela a seguir serão expostas as perguntas e respostas. Posteriormente, os alunos serão enumerados de 1 a 6 para a transcrição das respostas.

Tabela 2. Espectro do Autismo – Opinião dos alunos

3. Você sabe o que é o espectro do autismo?

( 2 ) Sim

( 4 ) Não

( 0 ) Às vezes

4. Você conhece algum autista?

( 4 ) Sim

( 0 ) Não

( 2 ) Às vezes

5. Você acha que as aulas de Educação Física são importantes para a “R”?

( 6 ) Sim

( 0 ) Não

( 0 ) ÁS VEZES

6. Durante as aulas de Educação Física, você ajuda a “R” quando precisa?

( 2 ) Sim

( 3 ) Não

( 1 ) Às vezes

7. Você gosta de participar das aulas de Educação Física com a “R”?

( 6 ) Sim

( 0 ) Não

( 0 ) Às vezes

8. Os alunos como a “R” devem participar das aulas de Educação Física?

( 6 ) Sim

( 0 ) Não

( 0 ) Às vezes

9. O professor precisa fazer alguma adaptação nas aulas de Educação Física, para que a “R” participe?

( 0 ) Sim

( 6 ) Não

( 0 ) Às vezes

10. Imagine que você seja a “R”, você gostaria de participar das aulas de Educação Física com os demais alunos?

( 6 ) Sim

( 0 ) Não

( 0 ) Às vezes

    Quando questionados se sabem o que é o espectro do autismo, apenas dois alunos, os de número 1 e 2, que conseguiram associar o autismo à “R”.

    O aluno número 1 diz que “o autista tem raciocínio rápido, é focado em alguma coisa”. Essa informação foi obtida por meio de outro professor da escola, que, em determinado momento e anteriormente a essa pesquisa, fez menção ao jogador de futebol Messi, alegando ter lido uma reportagem que destacava que esse jogador apresenta traços do espectro do autismo. O jogador tem raciocínio rápido durante as partidas de futebol e seu olhar parece estar distante das pessoas. Com essas informações o aluno associou o jogador de futebol à aluna “R”.

    A aluna número 2 é a mais próxima da aluna “R” em sala de aula e elas sentam uma ao lado da outra. A aluna 2 destaca que “ela é muito agitada, sente fortes dores de cabeça, falta muito às aulas por ir com frequência ao médico”. Nota-se que a aluna 2 percebe tudo, muito mais que seus amigos de sala.

    Os alunos números 3, 4, 5 e 6 não conseguiram identificar o que é o espectro do autismo e também não associaram “R” a esse caso.

    Uma reformulação da pergunta foi feita a estes alunos na tentativa de elucidar o espectro do autismo o que facilitou o entendimento apresentando as respostas a seguir.

    A aluna número 3 possui parentesco com um autista ela destaca que “o autista necessita de ajuda nos afazeres escolares em sala de aula e em casa. O autista não gosta de barulhos excessivos, não faz muitos amigos. A “R” tem poucos amigos na sala devido ao seu problema”. O aluno número 4 percebe que “a “R” fala sozinha, tem dificuldades na escrita e não se comunica com os outros amigos. Não entendo nada do que ela fala em certos momentos”. O aluno destaca as dificuldades que muitos professores enfrentam diante casos como o da “R”.

    O aluno número 5 disse que não percebe “atitudes diferentes dos outros na “R”, afirma que percebe que a “R” “é um pouco desligada”. A aluna número 6 comenta que não tem certeza “sobre o que a “R” tem”. Em contrapartida, a aluna afirma perceber “que ela tem um comportamento diferente dos outros”. Essa aluna não consegue visualizar que “R” é autista.

    Quanto a importância das aulas de Educação Física para “R”, todos alunos julgam como importante e destacam “é necessária a participação da aluna nas aulas de Educação Física, pois é preciso que ela interaja mais” (alunos 1 e 4). Os alunos 3, 5 e 6 dizem que a Educação Física “desenvolve o corpo e ajuda a aprender a matéria”. E a aluna 2 diz que “a maioria dos alunos da escola moram em prédios e, com isso, necessitam fazer atividades físicas”.

    Para Tomé (2007) o profissional deve utilizar atividades coerentes com a realidade da criança em função da tríade autística, caso contrário pode dificultar a aprendizagem e até mesmo causar frustração. É necessário usar um local que não tenha muito estímulo visual e aditivo, pois o aluno pode se distrair e perder o interesse na atividade.

    López et al. (2007) apontam o circuito motor com uma excelente estratégia para aulas de educação física com autistas, atividades com obstáculos, transposição, mudanças de direção, equilíbrio dinâmico e estático, saltos, lançamentos e jogos de bola entre outras. A rotina facilita a participam desses alunos nas atividades.

    França, Zuchetto e Nasser (2003) e Gonzaga et al. (2005), relatam experiências positivas quanto ao desenvolvimento de alunos com espectro do autismo em suas aulas, e destacam um grande progresso no que tange a interação social.

    A sexta pergunta do questionário, indaga os alunos na cooperação com a aluna “R” nos momentos em que a mesma sente dificuldades na prática da Educação Física.

    Os alunos números 1 e 2 afirmam que ajudam “sempre”, pois eles costumam apoiá-la nos afazeres de sala e, com isso, vão para a quadra juntos, tentam auxiliá-la repetindo devagar o que o professor pede para ser feito e, com isso, buscam a participação dela nas aulas.

    O aluno número 3 diz que tenta ajudar em alguns momentos, mas percebe que “nem sempre ela está ligada”. A aluna número 4 compreende a necessidade de ajudar “R”, mas por não ter muito contato com ela, não a ajuda durante as aulas de Educação Física.

    O aluno número 5 acredita que “ela não necessita de ajuda para a prática da Educação Física, pois as atividades são fáceis de serem entendidas, então basta interagir”. A aluna número 6 afirma que não tem muito contato com a “R” e que, por isso, a incentiva pouco, preferindo ficar com outros amigos.

    É importante ressaltar que as crianças com espectro do autismo se cansam logo, tanto física como mentalmente. Com isso, o professor deve estar sempre atento, pois muitas vezes elas não têm consciência desse cansaço, também são insensíveis a níveis baixos de dor, têm a propriocepção alterada, podem ser incapazes de perceberem os estímulos do seu próprio corpo e responder a esses sentimentos de mal estar com condutas inapropriadas. (ATTWOOD, 2002).

    Na sétima pergunta, os alunos foram questionados se gostam de participar das aulas de Educação Física com a “R”. De maneira contundente, todos, sem exceção, dizem “não haver problema algum em participar juntamente com ela nas aulas”. É importante observar que, nesta idade, todos gostam de participar de atividades. No caso de alunos autistas para participarem efetivamente das atividades é necessário que elas tenham um início e um fim, o que justifica o circuito como sendo a melhor maneira de se obter resultados.

    A participação desses alunos é facilitada quando eles possam visualizar a atividade antes de executar, além da explicação verbal é claro, e quando necessário, retomar o assunto para uma boa compreensão. O detalhe fundamental é que isso deve ser feito em todas as aulas de Educação Física para que haja uma rotina e, consequentemente, a realização das atividades com maior clareza.

    O problema maior é fazer com que os outros alunos compreendam e executem as atividades sempre. Todos sabem que o “sempre” e a “rotina”, para esses alunos sem necessidades especiais, não são vistos com bons olhos, pois a busca por algo novo é muito maior, é uma busca incessante e uma energia fora do normal, na qual os hormônios estão a todo vapor.

    Quanto à participação de alunos com autismo nas aulas de Educação Física os alunos são favoráveis. Os alunos números 1, 2, 3, 5 e 6 dizem que “é bom fazer aula de Educação Física, porque ajuda a desenvolver o corpo e ajuda a fazer mais amigos”. O aluno número 4 disse também que além de praticar esportes, a Educação Física colabora no “desenvolvimento do corpo e ajuda a desenvolver o cérebro”.

    Rosadas e Magro (2005) afirmam que as aulas de Educação Física podem trazer inúmeros benefícios, tanto no âmbito psicomotor, como no social e afetivo. Ravazzi e Gomes (2010) alertam para que os professores de Educação Física sigam rotinas e critérios em suas aulas quando existir alunos com Espectro de Austimo, proporcionando, assim, uma aula inclusiva. É preciso pensar na Educação Física como uma disciplina que propicie reflexões aos alunos, contribuindo para uma possível mudança de conceitos acerca de alunos com necessidades especiais.

    Quanto a necessidade do professor fazer adaptações nas aulas de Educação Física, para que a aluna “R” participe, todos os alunos julgam desnecessários, destacam que a “R” está apta para as aulas por “não ter nenhuma deficiência motora”. A aluna número 2 chama a atenção para um elemento que não tem relação com a condição do espectro de autismo da amiga e destaca “ela é um pouco gordinha, mas isso não impede de fazer aula, pois o aluno “C” também é e faz normalmente”.

    Acreditamos que as adaptações necessárias sejam quanto a instrução e a rotina, como já destacado, a exemplo o circuito motor. É sempre importante observar que este aluno, com espectro de autismo, apresenta dificuldade em diferenciar a direita da esquerda, em orientar-se no espaço, em fazer discriminações auditivas e em elaborar sínteses auditivas. Apresenta, também, alterações de memórias visual e auditiva, além da má estruturação do esquema corporal (GOLFETO, 1993).

    Em um estudo, Biasatti (2003) observou que alunos autistas apresentam dificuldades de adaptação em aulas de educação física em escolas regulares devido a estrutura e organização que elas precisam nas atividades, as aulas não apresentam organizações suficientes. O autor deixa claro que não é contra a inclusão escolar e aponta os benefícios da socialização para todos os alunos.

    A última pergunta tenta fazer com que os alunos se coloquem no lugar da aluna “R”, e questiona se eles gostariam de participar das aulas de Educação Física com os demais alunos se tivem o espectro do autismo. As respostas foram unânimes: sim. O aluno número 4 afirma que “é necessário participar das aulas de Educação Física”, o aluno número 5 apresenta sua justificativa alegando que “não conseguiria vir para a escola se soubesse que não iria participar das aulas de Educação Física”.

    É evidente que todos parecem gostar das aulas de Educação Física, e que independente da condição que se tenha, todos devem fazer essas aulas.

    Entende-se que para a inclusão de alunos com Síndrome de Asperger, no ensino regular, é necessário um trabalho em torno da comunidade, dos pais, da coordenação, dos professores e, principalmente, dos alunos, para que esses possam compreender o significado de inclusão e consigam entender que é necessário o comprometimento deles junto ao aluno de inclusão.

3.     Considerações finais

    Ao final deste trabalho, podemos concluir que o conhecimento dos alunos entrevistados, sem necessidades especiais, sobre o espectro do autismo é baixo. Em relação à aluna autista, em especial, não há discriminação por parte desses alunos, pois eles não a veem como uma pessoa que atrapalha as aulas de Educação Física. Esses alunos não entendem o problema da aluna “R”, portanto, é necessário que participem de aulas ou palestras sobre o tema, para que possam tentar interagir com a aluna e, assim, conseguirem enxergá-la com um novo olhar.

    O estudo mostrou que os alunos percebem a importância das aulas de Educação Física para o aluno com Espectro de Autismo quando percebem que a aluna autista é um pouco desligada, mas que com a prática de exercícios ela pode ficar mais atenta.

    Entende-se que para a inclusão de alunos com Síndrome de Asperger, no ensino regular, é necessário um trabalho em torno da comunidade, dos pais, da coordenação, dos professores e, principalmente, dos alunos, para que esses possam compreender o significado de inclusão e consigam entender que é necessário o comprometimento deles junto ao aluno de inclusão.

    Assim, conclui-se que os benefícios que a inclusão traz para o convívio escolar, a visão que esses alunos têm sobre o espectro do autismo, neste caso, Sindrome de Asperger e esse convívio contribuem para que o processo de inclusão aconteça de forma natural.

    Esse estudo limita-se a uma turma de 6° ano, em uma escola privada de Londrina. Sugere-se que outros estudos sejam feitos em diferentes situações na tentativa de identificar como alunos com espectro de autismo são identificados e aceitos por alunos e professores.

Referências

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