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Efeito da idade sobre os níveis de força, agilidade e

equilíbrio entre idosos praticantes de hidroginástica

Efecto de la edad sobre los niveles de fuerza, agilidad y equilibrio en personas mayores practicantes de gimnasia acuática

 

*Mestrado em Educação Física pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Professor da Universidade do Estado da Bahia. Coordenador científico do Programa

Atividades Físicas e Recreativas para a Terceira Idade (AFRID)

**Graduação em Educação Física pela Universidade Federal

de Uberlândia (UFU). Colaborador do AFRID

***Graduação em andamento em Educação Física pela UFU

Colaboradora do Programa AFRID

****Doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Professora da UFU. Coordenadora geral do Programa AFRID

Rodney Coelho da Paixão*

Franciel José Arantes**

Ana Luiza Amaral Ribeiro***

Geni de Araujo Costa****

dneyudi@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O processo de envelhecimento caracteriza-se por alterações negativas sobre a aptidão física dos indivíduos. Por outro lado, a prática regular de exercícios físicos tem se mostrado eficiente no controle da saúde, mesmo entre indivíduos mais velhos. Nesse sentido, o objetivo desse estudo foi comparar os níveis de resistência de força (RESISFOR) e de agilidade e equilíbrio dinâmico (AGILEQ) entre idosos de diferentes faixas etárias praticantes de hidroginástica. A amostra foi composta por 41 idosos. Os indivíduos com idade entre 60 e 69 anos foram alocados no grupo 1 (G1) (n=15) e aqueles com idade entre 70 e 79 anos no grupo 2 (G2) (n=26). Os testes físicos de RESISFOR e AGILEQ seguiram as recomendações da American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance – AAHPERD. O teste Shapiro Wilk’s foi adotado para analisar a normalidade dos dados e o teste t Student para comparar o desempenho entre os grupos. Os dados encontrados indicaram diferenças significativas para RESISFOR (0,001) e AGILEQ (0,040) em favor do G1. Podemos concluir que os sujeitos de 70 a 79 anos apresentaram piores níveis de RESISFOR e AGILEQ do que os sujeitos de 60 a 69 anos. Isso sugere que o avançar da idade é um fator decisivo sobre a condição física dos idosos, mesmo entre aqueles que são praticantes de hidroginástica.

          Unitermos: Envelhecimento. Aptidão física. Exercício físico.

 

Abstract

          The aging process is characterized by negative changes on the physical fitness of the individuals. On the other hand, regular physical exercise has been shown effective in controlling health, even among older individuals. In this sense, the aim of this study was to compare the levels of strength endurance (RESISFOR) and agility and dynamic balance (AGILEQ) among elderly of different ages involved in water gymnastics. The sample consisted of 41 elderly. Individuals aged between 60 and 69 years were allocated to group 1 (G1) (n=15) and those aged between 70 and 79 years in group 2 (G2) (n =26). RESISFOR and AGILEQ tests followed recommendations of the American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance - AAHPERD. Shapiro Wilk's test was adopted to analyze the data normality and t-Student test to compare the performance between groups. The results indicated significant differences for RESISFOR (0.001) and AGILEQ (0.040). We concluded that subjects 70-79 years had worst levels of RESISFOR and AGILEQ than subjects 60-69 years. This suggests that advancing age is a decisive factor on the physical condition of elderly people, even among those who are involved in water gymnastics.

          Keywords: Aging. Physical fitness. Exercise.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Ao longo das últimas décadas, a estrutura etária populacional tem demonstrado alterações importantes, sendo que o número de idosos tem aumentado consideravelmente tanto em valores absolutos quanto relativos (CARVALHO; RODRÍGUEZ-WONG, 2008; MANINI; CLARK, 2012). Dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a quantidade de brasileiros com 60 anos ou mais cresceu 55% entre 2001 e 2011, desta forma a terceira idade passa a configurar 12% da população brasileira (IBGE, 2012). Com esse novo cenário, há uma preocupação crescente sobre a elevação nos gastos públicos de saúde, uma vez que os idosos estão entre àqueles que mais utilizam os serviços de internação hospitalar (BERENSTEIN; WAJNMAN, 2008).

    O avançar da idade pode-se destacar também pelo comprometimento sobre a capacidade de realização das atividades da vida diária (AVD's) levando a restrições na capacidade funcional (CARVALHO, J.; SOARES, 2004; MATSUDO; MATSUDO; BARROS NETO, 2001). Assim, os idosos passam a apresentar dificuldades para completar tarefas que anteriormente (juventude) ofereciam baixo grau de dificuldade, como lavar louças, subir escadas, carregar sacolas, amarrar os calçados, caminhar, etc.

    Por outro lado, um estilo de vida fisicamente ativa parece ser decisivo para a promoção da saúde, inclusive entre os sujeitos mais velhos. Estudos prévios indicam que programas de treinamento físico regular podem colaborar para com a realização das AVD’s e com a manutenção da independência funcional (CARMO; MENDES; BRITO, 2008; CHODZKO-ZAJKO et al., 2009).

    Ainda assim, há a necessidade em se investigar se a prática regular de exercícios físicos, considerando-se a especificidade de cada modalidade, é capaz de preservar ou mesmo controlar os efeitos negativos verificados entre nível de aptidão física e avançar da idade. Assim, o objetivo desse estudo foi comparar os níveis de resistência de força (RESISFOR) e de agilidade e equilíbrio dinâmico (AGILEQ) entre idosos de diferentes faixas etárias praticantes de hidroginástica.

Métodos

Sujeitos

    A amostra do presente estudo foi composta por 41 idosos (15 homens e 26 mulheres) participantes do “Programa Atividades Físicas e Recreativas para a Terceira Idade” - AFRID da Universidade Federal de Uberlândia. Todos os voluntários eram praticantes de hidroginástica e mantinham uma frequência de três aulas por semana, com duração média de 50 minutos.

    Esses sujeitos foram alocados em diferentes grupos, de acordo com a faixa etária. Assim, o Grupo 1 (G1) (n=15) foi composto por sujeitos de 60 a 69 anos e o Grupo 2 (G2) (n=26) por sujeitos de 70 a 79 anos (ver Tabela 1).

    A coleta de dados respeitou os cuidados éticos necessários de acordo com a resolução vigente do Conselho Nacional de Saúde (Brasil).

Tabela 1. Características gerais da amostra (média ± desvio padrão)

Antropometria e testes físicos

    A massa corporal e a estatura dos participantes foram medidas em uma balança com estadiômetro (Filizola®, Brasil).

    Foram propostos os testes: “agilidade e equilíbrio dinâmico” - AGILEQ e “resistência de força para membros superiores” - RESISFOR. Ambos foram realizados no mesmo dia, respeitando-se a ordem AGILEQ e RESISFOR. O local escolhido para a realização dos testes foi um ginásio coberto, bem iluminado e com piso não escorregadio. Foi adotado o protocolo da “American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance” – AAHPERD (OSNESS et al., 1990). A escolha por esses testes ocorreu em virtude da facilidade de interpretação, a especificidade para o público idoso e pela similaridade com as AVD's.

    O teste AGILEQ envolve movimentos para frente com rápidas mudanças de direção. O participante inicia o teste sentado numa cadeira com os calcanhares apoiados no solo. Ao sinal de “prepara, vai” ele deve se mover para a direita, circundar um cone posicionado a 1,50 m para trás e 1,80 m para o lado da cadeira, retornar para a cadeira e sentar-se. Imediatamente depois, o participante deve levantar-se, mover-se para a esquerda, circundar o segundo cone, retornar para a cadeira e sentar-se. Esse trajeto é equivalente a um circuito. Para o teste em si, o sujeito que está sendo avaliado deve concluir dois circuitos. Para chegar ao resultado final, duas tentativas (dois circuitos completos em cada situação) são permitidas e o melhor tempo é registrado (em segundos).

    Para o RESISFOR, conforme proposto pela AAHPERD, são utilizados halteres de 1,8 Kg para as mulheres e de 3,6 kg para os homens. De qualquer modo, Borges et al. (2008) demonstraram que halteres de 2 kg para as mulheres e de 4 kg para os homens também podem ser adotados sem que a desempenho do teste de resistência de força para membros superiores seja comprometido. O participante senta em uma cadeira sem braços, apoiando as costas no encosto da cadeira, com o tronco ereto, olhando diretamente para frente e com a planta dos pés completamente apoiadas no solo. O braço dominante deve permanecer relaxado e estendido ao longo do corpo enquanto a mão não dominante apoia-se sobre a coxa. O primeiro avaliador se posiciona ao lado do avaliado, colocando uma mão sobre o bíceps do mesmo e a outra suportando o halter que é colocado na mão dominante do participante. O halter deve estar paralelamente ao solo com uma de suas extremidades voltadas para frente. Quando o segundo avaliador, responsável pelo cronômetro, sinaliza com um “prepara, vai”, o participante deve contrair o bíceps, realizando uma flexão do cotovelo até que o antebraço toque a mão do primeiro avaliador, que está posicionada no bíceps do avaliado. Quando esta prática de tentativa é completada, o halter é colocado no chão e 1 minuto de descanso é permitido ao avaliado. Após este tempo, o teste é iniciado, repetindo-se o mesmo procedimento, mas desta vez o avaliado realiza o maior número de repetições no tempo de 30 segundos, sendo isso considerado como resultado final do teste.

Análise estatística

    Considerando que o teste de Shapiro-Wilk não rejeitou a hipótese de distribuição normal dos dados, foi empregado para comparar os resultados entre os grupos o teste t Student para amostras independentes. O nível de significância adotado foi de 5% e todos os dados foram processados utilizando o software Statistic 7.0.

Resultados

    A comparação dos resultados alcançados pelos grupos indicou diferenças significativas em ambos os testes. O G1, composto pelos sujeitos de 60 a 69 anos de idade, apresentou melhores resultados tanto para RESISFOR quanto para AGILEQ em comparação ao G2 (ver Gráfico 1).

Gráfico 1. Comparação dos testes RESISFOR e AGILEQ entre grupos

*: indica diferença significativa em comparação ao G1 (p<0,05). RESISFOR: resistência de força para membros superiores;

 AGILEQ: agilidade e equilíbrio dinâmico; G1: idosos de 60 a 69 anos idade; G2: idosos de 70 a 79 anos de idade

Discussão

    O corrente estudo fornece evidências adicionais à literatura científica a respeito do impacto do avançar da idade sobre os níveis de aptidão física. Nossos achados principais indicam que os sujeitos de 70 a 79 anos de idade apresentaram menores níveis de RESISFOR e AGILEQ em comparação àqueles de 60 a 69 anos. Isso ressalta que o processo de envelhecimento pode causar efeitos deletérios sobre a aptidão física, mesmo entre idosos praticantes de hidroginástica. Destacamos ainda o baixo custo dos procedimentos realizados e também a especificidade dos testes físicos com as atividades rotineiras desenvolvidas pelo público idoso.

    No teste RESISFOR, o G1 (60 a 69 anos) completou em média 21,56 ± 5,36 repetições enquanto o G2 (70 a 79 anos) alcançou 17,7 ± 3,09 repetições. No teste AGILEQ os idosos do G1 foram mais rápidos, realizando o trajeto proposto com a média de 24,37 ± 3,22 segundos, enquanto o G2 (70 a 79 anos) gastou 30,34 ± 10,9 segundos. Para além das diferenças estatisticamente significativas aqui encontradas (p < 0,05), tais resultados são de grande relevância também para situações do dia-a-dia. De fato, a manutenção de níveis satisfatórios de aptidão física tem relação direta com a independência funcional e a qualidade de vida dos idosos (CHODZKO-ZAJKO et al., 2009).

    Tendo em vista o caráter exploratório do presente estudo, não podemos confirmar os possíveis mecanismos envolvidos no comprometimento da resistência de força para membros superiores e da agilidade e equilíbrio dinâmico com o decorrer da idade. Entretanto, baseados na literatura científica prévia, podemos discutir alguns aspectos indubitavelmente pertinentes. Em relação ao efeito do processo de envelhecimento sobre o sistema músculo esquelético, sabe-se que com o decorrer da idade há uma tendência de diminuição da massa muscular (DESCHENES, 2004; MCARDLE; VASILAKI; JACKSON, 2002). Estudos prévios indicam que o pico de massa muscular ocorre durante a segunda década de vida, sofrendo poucas alterações até a quinta década (LEXELL; TAYLOR; SJOSTROM, 1988). No entanto, a partir desse período há uma redução significativa do volume muscular (DOHERTY, 2003). Balagopal et al. (1997) indicam que entre 50 e 75 anos de idade ocorre uma perda de aproximadamente 25% da massa muscular.

    Sendo a massa muscular um dos fatores que determinam a capacidade de produção de força (CLARK; MANINI, 2008; LEXELL et al., 1988), acreditamos que os idosos mais velhos (70 a 79 anos) tiveram maior dificuldade em realizar rápidas repetições com halteres (RESISFOR) e também o deslocamento com mudanças de direção no menor tempo possível (AGILEQ).

    Além disso, os resultados observados podem estar relacionados com a modalidade praticada por esses sujeitos. Embora o exercício físico seja uma medida reconhecidamente eficaz para a promoção da saúde do sistema muscular entre os idosos, deve-se considerar o tipo de atividade realizada (LANDI et al., 2014; MARCELL; HAWKINS; WISWELL, 2013).

    Nesse sentido, os ganhos de força muscular têm sido amplamente relacionados à prática regular de treinamento resistido. Esses benefícios têm sido inclusive evidenciados em programas com baixa frequência semanal e em períodos de tempo relativamente curtos (DIFRANCISCO-DONOGHUE; WERNER; DOURIS, 2007; TAAFFE et al., 1999; WATANABE et al., 2013). Logo, ainda que a prática regular de exercícios na água, como a hidroginástica, esteja positivamente associada com a aptidão física de idosos (ALVES et al., 2004; ASSIS; RABELO, 2006; NUNES; SANTOS, 2009), o treinamento resistido parece oferecer estímulos mais decisivos para o aumento da força muscular (FLECK; KRAEMER, 2006; SILVA; FARINATTI, 2007).

    Como limitação do corrente estudo, pode-se indicar a ausência de grupos controle formados por sujeitos das mesmas faixas etárias do G1 e do G2. De qualquer modo, apesar desse aspecto, acreditamos que o desenho experimental adotado (apenas com os grupos G1 e G2) não diminui a importância dos achados. Afinal, está bem esclarecido que a prática regular de exercícios físicos, inclusive de hidroginástica, promove benefícios à saúde. Logo, essa comparação possivelmente indicaria maiores níveis de aptidão física entre os idosos fisicamente ativos em comparação àqueles com comportamento sedentário.

Conclusão

    A partir dos resultados encontrados, podemos concluir que os sujeitos de 70 a 79 anos apresentaram piores níveis de RESISFOR e AGILEQ do que os sujeitos de 60 a 69 anos. Isso sugere que o avançar da idade é um fator decisivo sobre a condição física dos idosos, mesmo entre aqueles que são praticantes de hidroginástica.

    Vale destacar que a prática regular de exercícios físicos já apresenta benefícios largamente comprovados e que o planejamento das sessões de treino oferece diversas possibilidades (intensidade, volume, frequência, etc.) de organização. Assim, consideramos a necessidade de que novos estudos, transversais e longitudinais, sejam conduzidos a fim de ampliar a aplicação prática e o conhecimento científico do tema em questão.

Referências

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