efdeportes.com

As Cavalhadas de Cazuza Ferreira: resgate 

histórico, oportunidade de lazer e potencial turístico

Las Cabalgatas de Cazuza Ferreira: rescate histórico, oportunidad de recreación y potencial turístico

 

*Advogado (UPF), aluno do curso de especialização em Educação para

a Sustentabilidade da Uergs – Unidade em São Francisco de Paula

**Tecnólogo em Gestão Ambiental (Uergs), aluno do curso de Especialização

em Educação para a Sustentabilidade da Uergs – Unidade em São Francisco de Paula

***Tecnólogo em Desenvolvimento Rural (UFRGS), aluno do curso de Especialização

em Educação para a Sustentabilidade da Uergs – Unidade em São Francisco de Paula

****Mestre em Educação (Ulbra). Pós-Graduado em Administração e Marketing Esportivo (UGF)

Professor assistente da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs)

Heloison Guarezi*

Ismael Jesus Klein**

Vanderlei Elias Machado***

Ms. Rodrigo Koch****

koch.rodrigo@terra.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho tem por objetivo relacionar as Corridas de Cavalhadas do distrito de Cazuza Ferreira, no município de São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul com o lazer e o turismo através de práticas corporais e apresentações culturais resgatadas da história medieval. As Cavalhadas representam a luta entre mouros e cristãos, sendo amplamente divulgadas, por trovadores que viajavam por toda a Europa. A cavalhada é uma tradição dos torneios da Idade Média (476-1453), onde os aristocratas exibiam em espetáculos públicos sua destreza e valentia. Tornaram-se populares em Portugal e no Brasil através do romance “Carlos Magno e seus Doze Pares da França”, há muitos anos atrás, tendo chegado ao Rio Grande do Sul em meados do século XVII. Em Cazuza Ferreira as cavalhadas tiveram início no final do século XIX. O distrito de Cazuza Ferreira é uma das poucas localidades do Brasil que ainda realiza as Corridas de Cavalhadas há mais de 125 anos. O resgate histórico das corridas de cavalhadas de Cazuza Ferreira proporciona para esta comunidade uma oportunidade de lazer interativa onde todos os membros da família podem participar. As corridas de cavalhadas de Cazuza Ferreira, assim como outros movimentos culturais locais, precisam ser valorizados, divulgados e aproveitados pelos moradores daquela localidade como oportunidade de lazer, mas como também oportunidade de valorização turística através da proposta inovadora de turismo de base comunitária e de preservação do patrimônio cultural.

          Unitermos: Cavalhadas de Cazuza Ferreira. Lazer. Turismo comunitário.

 

Resumen

          El presente trabajo tiene como objetivo relacionar las carreras de las Cabalgatas en el distrito de Cazuza Ferreira, en el municipio de Sao Francisco de Paula, Río Grande do Sul con el ocio y el turismo a través de prácticas corporales y el rescate de espectáculos culturales de la historia medieval. Las Cabalgatas representan la lucha entre moros y cristianos, siendo ampliamente difundida por los trovadores que viajan a través de Europa. El torneo es una tradición de la Edad Media (476-1453), donde los aristócratas que se exhiben en público y demuestran su destreza y valentía. Se hizo popular en Portugal y en Brasil a través de la novela "Carlomagno y sus Doce Pares de Francia", hace muchos años, después de haber llegado a Río Grande do Sul, en la mitad del siglo XVII. Las Cabalgatas de Cazuza Ferreira comenzaron a finales del siglo XIX. El distrito Cazuza Ferreira es uno de los pocos lugares de Brasil que todavía realiza Cabalgatas por más de 125 años. El rescate histórico de las carreras de Cabalgatas de Cazuza Ferreira ofrece una oportunidad para esta comunidad de ocio interactivo en el que todos los miembros de la familia pueden participar. Las Cabalgatas de Cazuza Ferreira, así como otros movimientos culturales locales, necesitan ser valorizados, difundidos y aprovechados por los residentes de esa localidad no solo como una oportunidad de esparcimiento, sino también como una oportunidad para el desarrollo del turismo a través de una propuesta innovadora y la conservación del patrimonio cultural de la comunidad.

          Palabras clave: Cabalgatas de Cazuza Ferreira. Recreación. Turismo comunitario.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    O presente trabalho busca relacionar as Corridas de Cavalhadas do distrito de Cazuza Ferreira, no município de São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul com o lazer e o turismo através de práticas corporais e apresentações culturais resgatadas da história medieval. Entendemos as práticas corporais como manifestações da cultura corporal de cada indivíduo e/ou grupo, ainda que estas possam, inclusive, produzir –simultaneamente e paralelamente– hábitos considerados não saudáveis como fumar ou ingerir bebidas alcóolicas. As práticas corporais contrapõem a ideia limitadora de simples atividades físicas ou esportivas (KOCH, 2013). O distrito de Cazuza Ferreira, local de realização deste estudo, é um dos sete distritos que compõe o município de São Francisco de Paula. Está situado ao norte do território, distando cerca de 100 km da sede da cidade. Com uma extensão territorial de 564,7 km², este distrito é composto pelas comunidades de Fazenda Velha, Campestre do Tigre, Pedra Lisa, Capão Alto, além da sede de Cazuza Ferreira, na qual se concentra grande parte dos moradores.

    Segundo dados do Plano Ambiental Municipal de São Francisco de Paula (2008), o município está localizado na encosta inferior do Estado do Rio Grande do Sul, na zona fisiográfica denominada Campos de Cima da Serra e ocupa uma área de 3.274 km². Conforme os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (criados pela Lei Estadual n° 10.283 de 17.10.94) São Francisco de Paula pertence à Região das Hortênsias – Planalto das Araucárias. O Município se desenvolveu economicamente através da exploração dos seus recursos naturais, especialmente na atividade pecuária e na extração madeireira. Possui uma área territorial urbana de 190 Km², e uma área rural de 3.084 km².

    A sociedade de Cazuza Ferreira, segundo a entrevistada Célia Basso, possuiu ao longo de sua história espaços e manifestações culturais diferentes. Os salões de festas, por exemplo, eram divididos. Os aristocratas (brancos) ocupavam os melhores espaços, demostrando riqueza, poder e luxo, as famílias de origem alemã e italiana (amarelos) tinham seu próprio salão de festas, tratavam-se de construções mais rústicas em relação à alta sociedade. Os negros, se precisassem de um espaço maior para realizar suas festividades, pagavam aluguel. As danças eram diferenciadas também, com músicas tradicionais gauchescas. As vestimentas e comportamentos eram mais contidos nos espaços ocupados pelos “brancos”. Até mesmo os feriados e dias santos eram separados. Cada etnia fazia sua festa dedicada ao santo que tinha devoção. Até mesmo as encenações das corridas de cavalhadas eram diferenciadas. A etnia “branca” possuía livre escolha do local para suas festividades. Já aos “amarelos” e “negros” cabiam espaços reservados. Contudo, a convivência era pacífica entre os membros das etnias.

    Segundo Fonseca (2012), as Cavalhadas representam a luta entre mouros e cristãos, sendo amplamente divulgadas, com bravura e lealdade cristã, por trovadores que viajavam por toda a Europa. A cavalhada é uma tradição dos torneios da Idade Média (476-1453), onde os aristocratas exibiam em espetáculos públicos sua destreza e valentia. Tornaram-se populares em Portugal e no Brasil através do romance “Carlos Magno e seus Doze Pares da França”, há muitos anos, tendo chegado ao Rio Grande do Sul em meados do século XVII. Em Cazuza Ferreira as cavalhadas tiveram início no final do século XIX, no ano de 1885. Na contemporaneidade, o distrito de Cazuza Ferreira é uma das poucas localidades do Brasil que ainda realiza as Corridas de Cavalhadas, tradição mantida há mais de 120 anos.

    A importância deste evento cultural para a comunidade local pode ser atestado pela importância que seus moradores dão ao fato, justificado através do longo período de anos que esta comunidade tem-se mobilizado para a realização deste evento.

Origem e desenvolvimento das Cavalhadas no Brasil

    Historicamente o cavalo está presente nas práticas corporais e/ou esportivas desde a antiguidade clássica, quando nos Jogos de Olímpia já eram disputadas corridas de bigas e quadrigas, consagrando reis, rainhas, príncipes e princesas entre outras celebridades, como imperador Nero, que chegou a criar provas equestres específicas para que ele saísse vencedor e também fosse coroado como campeão olímpico (YALOURIS, 2004). Portanto, a utilização de animais (principalmente o cavalo) nas práticas esportivas já é verificada há muitos séculos na sociedade ocidental. As modalidades evoluíram e passaram por modificações ao longo dos tempos, dando origem a outras atividades não só de caráter social e esportivo como também de econômico, no caso do turfe. “As touradas realizavam-se no Brasil desde o século XVIII, comumente em conjunto com as cavalhadas, normalmente por ocasião de datas festivas” (MELO 2009, p.38). Esses eventos tinham uma origem rural sendo realizados eventualmente por ocasião de festas, mas na medida em que as cidades (Rio de Janeiro e demais localidades próximas à antiga capital federal) estavam crescendo ganhavam também espaço fixo e calendário. Após experiências pioneiras, a prática regular transfigurou a atividade, lançando assim as bases das corridas a cavalo (turfe). Porto Alegre, ao lado de outras metrópoles da época (Campos, Juiz de Fora, Petrópolis, Manaus, Sobral, Salvador e Recife) foi um dos primeiros municípios a contar com um hipódromo, em 1872.

    Segundo Fonseca (2012), no ano de 1584 o Padre Fernão Cardim assistiu, em Pernambuco, num casamento, jogos de canas, patos e argolinhas, sendo então através destes jogos que a cavalhada foi incorporada ao folclore brasileiro. Ao som de música que a banda executava para marcar o ritmo do galope dos cavalos, partiam duas alas de corredores sempre em pares, um da ala azul e outro da vermelha, e as suas lanças tentavam tirar uma das argolinhas que estavam penduradas à frente do pavilhão de autoridades, afastavam-se, circulavam o campo e novamente iam ao encontro das argolinhas até que não restasse nenhuma. De todos os jogos nestas celebrações, este era o preferido da plateia.

    Os vencedores ofereciam seus troféus às damas, esperando receber em troca alguma lembrança delas. Sempre que havia uma grande festa ou aclamação a reis, nobres, governadores e outras autoridades, o jogo de argolinhas era o principal evento por quase todo o Brasil colonial e imperial, mas após a república, aos poucos, foram se reduzindo os locais onde se realizava a cavalhada.

    De 1610 a 1768, os índios Guaranis, tendo os padres Jesuítas como seus tutores, representavam cenas de combate entre os cristãos e mouros ao ritmo da música executada por eles, além dos jogos de argolas. Em São Borja (RS), quando Carlos III tornou-se rei da Espanha e esperava-se que com isso fosse revogado o Tratado de 1750, foi feito uma encenação em sua homenagem. No entanto o Tratado continuou vigorando e as reduções jesuíticas nas missões foram dizimadas.

    No Rio Grande do Sul era raro, no final do século XIX, haver festas religiosas ou cívicas sem as cavalhadas, e delas participaram ilustres figuras da história gaúcha, como Bento Gonçalves, General Netto, Davi Canabarro, Gomes Jardim, General Osório, entre muitos outros. Em Porto Alegre, as últimas cavalhadas aconteceram em 1897, no prado do Menino Deus, conforme descreveu o tradicionalista Paixão Cortês que estudou as cavalhadas gaúchas auxiliado por muitos corredores, sendo que o resultado foi apresentado, entre 1969 a 1971, no jornal Correio do Povo e no XVII Congresso Tradicionalista do Rio Grande do Sul. Inédito é o regulamento do Piquete de Cavalhada de São Francisco de Paula, fundado em 2 de julho de 1968, que formulou alguns artigos, orientando e disciplinando os corredores.

Figura 1. Movimentos das Cavalhadas

    As corridas ocorrem em uma cancha aberta tendo inicio pelo período da manhã. Os cavaleiros que representam os cristãos vestem roupas azuis e os mouros vestem vermelho. Quando começa o enredo um espião mouro é infiltrado entre os cristãos. A descoberta do espião infiltrado acaba em sua morte dando inicio a batalha. A partir de então utilizam estratégias de guerras, chamadas escaramuças, evoluções e combates, utilizando três tipos de armas, lanças, pistolas e espadas. Os cristãos são representados pelos Doze pares de França, o guia – que é o comandante – contraguia, estandarte – encarregado de levar a bandeira –, e os soldados responsáveis pela ordem. Já os mouros têm como sua guia a Floripa, uma princesa moura que esta apaixonada por um cristão, além de contraguias, estandarte e soldados. No meio do campo é realizada uma reunião com diplomacia entre os membros dos grupos para discutir a paz através de seus guias. Na sequencia há novas evoluções de manobras a cavalo, até que os embaixadores levem a mensagem aos castelos, representada pelo empinar de dois cavalos. Logo após há o sequestro de Floripa que se converte ao cristianismo. Esta conversão leva a prisão e ao desarmamento dos mouros, culminando na sua conversão na fé cristã e sendo batizados na Igreja. No período da tarde os cristãos e mouros demostram as suas habilidades e peripécias. Entre as habilidades demonstradas estão as práticas de acertar o alvo com uma das três armas. O alvo pode ser uma lata, ou caixa de papelão que representa a cabeça do inimigo, por isso chamado de tiro das cabeças. Outra prática é chamada de argolinhas que consiste na tentativa de uma dupla azul e outra vermelha que procuram tirar com uma lança uma argola pendurada em uma trave no meio do campo de batalha. Os corredores ganham prêmios pela vitorias, sendo os prêmios argolinhas decoradas com fitas da cor do grupo vencedor, que depois são distribuídas entre amigos, esposas, namoradas e companheiras, sendo também um convite para o baile dos corredores que é realizado à noite iniciando com a música “polonese”. O baile tem como ponto alto o início feito pelos corredores, sendo que outras pessoas só poderão dançar depois de encerrada a polonese. Na parte final da corrida ocorre uma escaramuça com lança e o acenar de lenços brancos em sinal de paz.

Resgate histórico, opção de lazer e potencial turístico

    O resgate histórico das corridas de cavalhadas de Cazuza Ferreira há mais de 120 anos proporciona para esta comunidade uma oportunidade de lazer interativa onde todos os membros da família podem participar. Muitos participam como integrantes das equipes que encenam as corridas, sendo inclusive uma tradição passada de pai para filho, outros participam na organização geral do evento.

    Além disso, tal atividade pode colaborar como atrativo turístico tendo em vista que são poucas comunidades no Brasil e até mesmo pelo mundo que fazem este resgate da história medieval. Também pode ser destacado que para a realização do espetáculo em si, diversas práticas corporais são realizadas, tais como as corridas de cavalo, o tiro ao alvo, as lutas, entre outros. Embora estas práticas possam ter uma conotação religiosa também possuem característica de jogo, tendo em vista a divisão em duas equipes, uma de traje azul e outra de vermelho. Um jogo onde todos se divertem e todos ganham, além ser uma forma lúdica de recontar a história. A disputa e a premiação também fazem parte do espetáculo o que reforça a ideia de jogo. O esporte no Brasil tem fortes vínculos com o jogo, com aspectos sócio-culturais que envolvem sorte ou azar. A própria divisão em equipes de trajes azul e vermelho nos remete à rivalidade Gre-Nal (Grêmio X Internacional), observada de forma binária no futebol do Rio Grande do Sul e em tantos outros lugares do planeta – uma característica que reforça a relação entre esporte e jogo no Brasil.

    Segundo DaCosta (1987) durante os dez primeiros séculos da França medieval centenas de festividades, jogos e atividades físicas eram realizadas indicando uma variedade e crescimento de práticas corporais neste período e um posterior declínio nos estágios subsequentes. Obras desta época medieval apontam que as atividades de lazer estavam intimamente ligadas com a convivência comunitária, sendo retratadas diversas alternativas de movimentação, locais e numero de participantes e regramentos, permeados por um contexto de relacionamento grupal participativo de adultos, jovens e crianças. Portanto o que acontece em Cazuza Ferreira, além de ser um resgate histórico é também uma forma de colocar o lazer e as práticas corporais para além da faceta utilitária e de exploração comercial ou política como acontece com a maioria dos esportes espetacularizados e midiatizados, que são veiculados através dos meios de comunicação em massa.

    Dentro desta perspectiva de evento local encaixa-se perfeitamente também uma ideia a ser discutida no que se refere ao turismo. Esta região como um todo possui uma vocação turística, a qual deve ser dada a devida atenção. A realização de eventos e festas tradicionais comunitárias como as Cavalhadas de Cazuza Ferreira podem perfeitamente contribuir como atração para o desenvolvimento do turismo na região, além de muitos outros atrativos existentes neste espaço, principalmente no que se refere as belezas naturais. A proposta de um turismo de base comunitário pode estar adequado a esta situação local, visando afastar o turismo exploratório de massa. Segundo Fortes e Goulart (2006), o turismo de base comunitário pressupõe a participação da comunidade local e a oferta de condições que fomentem as atividades econômicas e que promova um desenvolvimento turístico sustentável, responsável pela preservação sociocultural comunitária e dos recursos naturais.

    Na Costa Rica, um dos principais destinos mundiais para a prática do ecoturismo, o turismo de base comunitário também vem ganhando espaço. Segundo

    o Consorcio Cooperativo Rede Ecoturística Nacional (COOPRENA), o Turismo Rural Comunitário:

    Se trata de una oferta de turismo alternativo en el medio rural, gestionado directamente por y para el beneficio de las comunidades organizadas, basado en la conservación y el aprovechamiento de los recursos locales, tanto naturales como culturales (COOPRENA, 2008).

    Podemos notar que o turismo de base comunitária propõe-se não somente a preservar os recursos naturais, mas também os recursos culturais desenvolvidos pela comunidade local. É importante dizer que embora as Cavalhadas não tenham tido origem no Brasil, a representação que é feita em cada localidade constitui-se como patrimônio cultural daquela comunidade, pois incorpora questões locais e a preservação das memórias, fazendo uma representação das lutas do passado muitas vezes esquecidas, como no caso de Cazuza Ferreira onde a segregação racial marcou de forma muito clara a história da comunidade além de apontar para as necessidades do presente.

    Além da Costa Rica, no Equador, a Federação Plurinacional de Turismo de Base Comunitária (FEPTCE) utiliza o conceito a seguir para delinear suas estratégias de ação:

    El turismo comunitario es una actividad económica solidaria que relaciona a la comunidad con los visitantes, desde una perspectiva intercultural, con participación consensuada de sus miembros, propendiendo al manejo adecuado de los recursos naturales y a valoración del patrimonio cultural, basados en un principio de equidad en la distribución de los beneficios generados (FEPTCE, 2008).

    O conceito destaca a questão da valoração do patrimônio cultural local que tem sido desvalorizado frequentemente, fruto muitas vezes do turismo exploratório de massa que visa apenas o lucro e de forma arbitrária procura padronizar todas as possibilidades de turismo, inclusive padronizando os eventos culturais sem deixar que os turistas possam mergulhar de verdade em uma nova experiência. Alertamos para o fato de que a padronização da cultura ameaça o desaparecimento do patrimônio cultural conforme descreve Souza Filho,

    A ameaça do desaparecimento do patrimônio cultural (conjunto de bens culturais) é assustadora, porque é ameaça de desaparecimento da própria sociedade. Enquanto o patrimônio natural é a garantia da sobrevivência física da humanidade, que necessita do ecossistema – ar, água e alimentos – para viver, o patrimônio cultural é garantia de sobrevivência social dos povos, porque é produto e testemunho de sua vida. (SOUZA FILHO, 2008, apud RAMOS; RAMOS, 2011, p.198)

    Portanto destacamos que as corridas de cavalhadas de Cazuza Ferreira, que ocorrem há mais de um século, assim como outros movimentos culturais locais precisam ser valorizados, divulgados e aproveitados pelos moradores daquela localidade não somente como oportunidade de lazer, mas também como oportunidade de valorização turística e de preservação do patrimônio cultural.

Considerações finais

    O presente trabalhou abordou de forma suscinta as práticas centenárias de corridas de cavalhadas do distrito de Cazuza Ferreira, em São Francisco de Paula (RS). Tal evento conhecido localmente é uma importante representação do que outrora era uma prática comum em boa parte do território brasileiro. O resgate destas práticas na comunidade enriquece o patrimônio cultural e cria opções de lazer para toda a família. Além disso, tal evento pode servir como um atrativo turístico, assim como tantos outros encontrados na localidade visando desenvolver economicamente esta região de forma sustentável através de estratégias baseadas no turismo comunitário como já ocorre em outras regiões do Brasil e até mesmo em outros países.

Referências

  • BASSO, Célia Pacheco Terres, Entrevista. (10 de dezembro, 2013). São Francisco de Paula-RS - Filha de Produtor Rural e Diretora da Escola de Ensino Fundamental do distrito de Cazuza Ferreira - São Francisco de Paula - RS - Entrevista concedida a Vanderlei Elias Machado.

  • COOPRENA. Consorcio Cooperativo Rede Ecoturística Nacional. Experiencias de turismo rural comunitario en Costa Rica. Presentation held at the II International Seminar on Sustainable Tourism. Fortaleza, 2008.

  • DACOSTA, Lamartine. Reinvenção da Educação Física e do Desporto segundo Paradigmas do Lazer e da Recreação. In DaCosta, Lamartine P.; Almeida, Cristina Pimentel Carneiro de. Meio Ambiente, Esporte, Lazer e Turismo: Estudos e Pesquisas no Brasil 1967– 2007: Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2007.

  • FEPTCE. Federação Plurinacional de Turismo de Base Comunitária. El turismo comunitário esta basado en la cosmovision andina de Sumak Kawsay. Presentation held at the II International Seminar on Sustainable Tourism. Fortaleza, 2008.

  • FONSECA, José Carlos Santos da. São Francisco de Paula - Rio Grande do Sul: história, encantos e mistérios resgatando o passado serrano. Porto Alegre: Evangraf, 2012.

  • FORTES, Lore; GOULART, Lenice Lins. Turismo Comunitário como Proposta de Resistência e em Defesa ao Meio Ambiente: cultura e tradição resgatadas pela memória das velhas mulheres da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual – Ponta do Tubarão – RDS. In DaCosta, Lamartine P.; Almeida, Cristina Pimentel Carneiro de. Meio Ambiente, Esporte, Lazer e Turismo: Estudos e Pesquisas no Brasil 1967– 2007: vol.3. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2007.

  • KOCH, Rodrigo. Estudos Olímpicos em práticas corporais e meio ambiente: estudos preliminares nos Campos de Cima da Serra 2011-2013. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), vol. 187. http://www.efdeportes.com/efd187/estudos-olimpicos-e-meio-ambiente.htm

  • MACHADO, Vanderlei Elias. A araucária na evolução dos sistemas agrários no distrito de Cazuza Ferreira - São Francisco de Paula/RS. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Curso Superior de Tecnologia em Desenvolvimento Rural – PLAGEDER). Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Polo São Francisco de Paula, 2011.

  • MELO, Victor Andrade de. Das touradas às corridas de cavalo e regatas: primeiros momentos da configuração do campo esportivo no Brasil. In: DEL PRIORE, Mary; MELO, Victor Andrade de (orgs.). História do Esporte no Brasil: do Império aos dias atuais. São Paulo: Editora UNESP, 2009.

  • PREFEITURA de São Francisco de Paula, Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente. Coordenação do Meio Ambiente. Plano Ambiental (2008). Disponível em: http://www.saofranciscodepaula.rs.gov.br/meioambiente/planoambiental.PDF. Acesso em: 11 dezembro de 2013.

  • RAMOS, Alice Maria Trindade; RAMOS, Anelise Trindade. Meio ambiente natural e cultural: impactos da proibição de queimadas controladas na região dos Campos de Cima da Serra. In BUTZKE, Alindo; ROSA, Mardióli Dalla (orgs). Queimadas dos campos: o homem e o campo: a natureza o fogo e a lei. Caxias do Sul, RS: Educs, 2011.

  • YALOURIS, Nicolaos (org.) et al. Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga – Olímpia Antiga e os Jogos Olímpicos. Tradução por Luiz Alberto Machado Cabral, do original Oi Olumpiakoi Agones stin Arxaia Ellada. São Paulo, Odysseus Editora, 2004.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 193 | Buenos Aires, Junio de 2014  
© 1997-2014 Derechos reservados