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Estudo comparativo da mobilidade funcional de portadores
de acidente vascular cerebral, hérnia discal, osteoartrite
versus indivíduos saudáveis

Comparative study of functional mobility in patients with stroke, disc herniation, osteoarthritis versus healthy subjects

Estudio comparativo de la movilidad funcional de portadores de accidente 

cerebrovascular, hernia de disco, osteoartritis versus personas saludables

 

Faculdade de Fisioterapia do UNASP

Centro Universitário Adventista de São Paulo

Mestrado em Promoção da Saúde, UNASP, São Paulo, SP

Fábio Marcon Alfieri

fabio.alfieri@unasp.edu.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Diversas situações clínicas podem comprometer a mobilidade funcional dos pacientes. O objetivo deste estudo foi verificar e comparar a mobilidade funcional de indivíduos portadores de acidente vascular cerebral (AVC), hérnia discal (HD), osteoartrite (AO) de joelho versus indivíduos saudáveis. Participaram do estudo 81 indivíduos. 30 considerados saudáveis, 19 portadores de osteoartrite de joelho, 20 com hérnia discal lombar e 12 com seqüela de acidente vascular cerebral (AVC). Os voluntários tiveram sua mobilidade funcional avaliada por meio do teste Time up and Go. Os dados foram comparados usando a análise de multivariância (ANOVA) (Tukey-Kramer Multiple Comparisons Test) com nível de significância de 5%, analisados no programa GraphPad InStat. Os resultados mostraram que os indivíduos com hérnia discal e acidente vascular cerebral apresentaram diminuição significativa da mobilidade funcional em relação a indivíduos saudáveis, no entanto, os indivíduos com AVC apresentaram mobilidade estatisticamente reduzida em relação aos demais grupos, mostrando assim que tal condição clínica traz prejuízo referente a esta função física.

          Unitermos: Limitação da mobilidade. Osteoartrite. Acidente vascular cerebral. Deslocamento do disco intervertebral.

 

Abstract

          Several clinical situations can compromise the functional mobility of patients. The purpose of this study is to verify and compare the functional mobility of patients with stroke, disc herniation, osteoarthritis knee versus healthy subjects. The study included 81 subjects. 30 considered healthy, 19 patients with knee osteoarthritis, 20 with lumbar disc herniation and 12 with sequelae of stroke. Volunteers had their functional mobility assessed by Time Up and Go test data were compared using analysis multivariance (ANOVA) Tukey-Kramer Multiple Comparisons Test) with a significance level of 5%, analyzed using GraphPad InStat. The results showed that individuals with a herniated disc and stroke were significantly decreased functional mobility compared to healthy subjects, however, individuals with stroke showed statistically reduced mobility compared to the other groups, thus showing that this clinical condition resulting losses regarding this physical function.

          Keywords: Limitation of mobility. Osteoarthritis. Stroke. Disc herniation.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A mobilidade funcional depende de estabilização postural, estímulos neuro-sensoriais associados a uma boa ação músculo-esquelética a fim de que possa permitir ao ser humano condições adequadas de realizar atividades simples como: caminhar, levantar-se e sentar-se de uma cadeira, deslocar-se de maneira segura e com o máximo de eficiência (ALFIERI et al, 2009).

    Se alguma parte dos sistemas que compõe o controle postural (vestibular, sômato-sensorial, visual e músculo-esquelético) não apresentar um funcionamento adequado por alguma condição patológica ou alguma outra situação como a senescência, a mobilidade funcional pode apresentar-se diminuída (SHUMWAY-COOK e WOOLLACOTT, 1995).

    Alguns estudos mostram a interferência que algumas situações podem gerar sobre a mobilidade funcional, como por exemplo: o envelhecimento associado ou não a institucionalização (ALFIERI et al, 2009, NASCIMENTO et al, 2008, FERRATINI et al, 2007), ou o envelhecimento associado à prática regular de atividade física (ALFIERI et al, 2004); indivíduos portadores de afecções neurológicas (TORRIANI et al, 2006) e em alterações traumato-ortopédicos (SILVA e ALFIERI, 2006).

    A osteoartrite que é uma doença que provoca a destruição da cartilagem articular levando ao quadro clínico de: diminuição de força e flexibilidade muscular, da acuidade proprioceptiva, além da dor, pode interferir na mobilidade funcional (MARQUES e KONDO, 1998). Seqüelas de acidente vascular cerebral que são resultados de uma restrição sanguínea em determinada área do encéfalo e que dentre outras sintomas traz dificuldades motoras (TORRIANI et al, 2006) e outras afecções como a hérnia discal que devido às alterações estruturais dos componentes da coluna vertebral (que provoca lombalgia e diminuição da força e flexibilidade muscular), também podem restringir a mobilidade funcional nos indivíduos afetados por tais situações clínicas (SAMBROOK et al, 2003).

    Conhecer o nível de mobilidade funcional apresentado por cada tipo de situação clínica é importante para saber o quanto cada enfermidade atinge esta capacidade física, bem como para melhor direcionar as ações de tratamento em casos de perdas desta importante função física.

    Desta forma, o objetivo deste estudo é o de verificar e comparar a mobilidade funcional de indivíduos portadores de doença neurológica (acidente vascular cerebral), doenças osteomusculares (hérnia discal e osteoartrite no joelho) versus indivíduos saudáveis.

Metodologia

    Participaram desta pesquisa de caráter transversal aqueles que deram por escrito sua autorização no termo de consentimento livre e esclarecido do estudo que foi desenvolvido de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do UNASP com o processo nº. 011/2008.

    Foram incluídos na pesquisa, indivíduos portadores de doença neurológica (acidente vascular cerebral), doenças osteomusculares (hérnia discal e osteoartrite no joelho) e indivíduos saudáveis.

    Desta forma, a pesquisa foi composta por 81 indivíduos divididos em quatro grupos:

    O primeiro grupo foi composto por 30 indivíduos chamados saudáveis, ou seja, que não possuíam queixas de dor. Não participaram da pesquisa, os que tivessem sofrido cirurgias de membros inferiores ou coluna, com queixas de tontura e que estivessem tomando medicamento sedativo ou relaxante muscular ou aqueles que realizassem exercícios físicos duas ou mais vezes por semana.

    O segundo grupo foi composto por 12 indivíduos portadores de desordens neurológicas: acidentes vasculares cerebrais (AVC). O terceiro grupo foi composto por 19 sujeitos portadores de osteoartrite no joelho e o quarto grupo composto por 20 indivíduos portadores de hérnia discal.

    Todos os indivíduos deveriam apresentar o aspecto cognitivo preservado, ou seja, entender o objetivo da pesquisa. Deveriam ser capazes de deambular de forma independente, apresentar capacidade de levantar-se e sentar-se de maneira independente, além do fato de que não poderiam ter se submetido a cirurgias de membros inferiores ou coluna, ou apresentar no momento da avaliação, queixas de tontura.

    Os voluntários destes 3 últimos grupos são pacientes que realizavam tratamento na Policlínica do UNASP, local em que foram realizadas as avaliações. Os sujeitos do grupo de indivíduos saudáveis foram recrutados a partir de convite verbal para indivíduos da comunidade.

    Após a coleta dos dados sobre peso, altura e idade, os voluntários da pesquisa realizaram o teste Timed Up & Go, que avalia o nível de mobilidade do indivíduo, mensurando em segundos o tempo gasto pelo voluntário para levantar-se de uma cadeira, sem ajuda dos braços, andar a uma distância de 3 metros, dar a volta e retornar. No início do teste, o voluntário estava com as costas apoiadas no encosto da cadeira e, ao final, encostou-as novamente. O voluntário recebeu a instrução “vá”, para realizar o teste e o tempo foi cronometrado a partir da voz de comando até o momento em que o voluntário apoiou novamente suas costas no encosto da cadeira. O teste foi realizado uma vez para familiarização e uma segunda vez para tomada do tempo (PODSIADLO e RICHARDSON 1991, FIGUEIREDO et al, 2007).

    Para a execução do teste foi utilizada uma cadeira sem braços, fita métrica e cronômetro.

Análise dos dados

    Foi usada estatística descritiva para determinar as médias e desvio padrão dos dados que passaram pelo teste de Kolmogorov-Sminorv para verificação da normalidade. Foi utilizado o teste de ANOVA (Tukey-Kramer Multiple Comparisons Test) para comparar os resultados dos grupos, sendo adotado nível de significância de 5%. Os dados foram analisados no programa GraphPad InStat.

Resultados

    Participaram do estudo, 81 indivíduos, divididos em quatro grupos. As características quanto à idade, distribuição quanto ao sexo, ao índice de massa corporal e o tempo de execução do teste timed up and estão demonstradas na tabela 1.

Tabela 1. Características dos grupos G1 (indivíduos saudáveis), G2 (indivíduos com osteoartrite - AO), G3 (indivíduos com hérnia discal – HD) e G4 (indivíduos com 

acidente vascular cerebral - AVC) quanto à média de idade, a distribuição por sexo, o índice de massa corporal e tempo de execução do teste timed up and Go (TUG)

Nota: a G1 ≠ G2, b G1 ≠ G3, c G1 ≠ G4, d G2 ≠ G3, e G2 ≠ G4, f G3 ≠ G4; utilizando o teste de ANOVA (p<0,05).

Discussão

    O objetivo deste estudo foi o de verificar e comparar a mobilidade funcional de indivíduos portadores de 3 tipos distintos de condições clínicas em relação a indivíduos saudáveis. Pelos resultados obtidos, foi verificado que indivíduos portadores de osteoartrite de joelho apresentam 20,36% menos de mobilidade em relação a indivíduos saudáveis, indivíduos com hérnia discal, 36,40% e aqueles com AVC, 64,70%. Ou seja, indivíduos com alguma alteração neurológica como sequela de acidente vascular encefálico são aqueles que apresentam pior desempenho quanto à mobilidade.

    Neste estudo, foi visto que quando há a presença de qualquer tipo de doença, a mobilidade funcional fica afetada. Todos os grupos apresentaram resultados piores quando comparados ao grupo de indivíduos saudáveis, porém um fato que chama a atenção é o de que indivíduos com osteoatrite deste estudo não apresentaram mobilidade estatisticamente inferior em relação a indivíduos saudáveis. Este resultado é até mesmo inesperado, uma vez que tal grupo apresentou índice de massa corporal estatisticamente superior aos indivíduos saudáveis e os portadores de AVC, além do fato de que esta patologia por produzir alguns sintomas e sinais como dor, fraqueza muscular, diminuição da propriocepção pode reduzir a funcionalidade (MARQUES e KONDO 1998). Uma provável explicação para tal resultado pode ser a não padronização dos graus e da intensidade da dor da osteoatrite dos indivíduos. Brown et al. (1987) reportam que 78% dos pacientes com OA entrevistados apresentaram a dor como o grande problema devido a AO, outros problemas comuns apontados foram a rigidez (59%) e a inabilidade nas atividades da vida diária (37%), ou seja, no presente estudo a habilidade de realizar o teste funcional não foi tão afetada, portanto assim como o estudo citado, não deve ser (pelo menos no momento da avaliação) o grande problema dos voluntários deste grupo. Contudo, não podemos esquecer que a dor e a rigidez levam a falta de mobilidade, com resultante perda da independência (COOPER 2003, MATSUDO e CALMORA 2009). Courtney et al (2012) ainda ressaltam que a dor é a principal causa de prejuízo na mobilidade em indivíduos idosos com osteoartrite de joelho.

    Quanto aos indivíduos portadores de hérnia discal, estes apresentaram diferença significante em relação ao grupo de indivíduos saudáveis. Esta condição clínica interfere negativamente na mobilidade funcional, pois indivíduos adultos independentes e sem alterações no equilíbrio realizam o teste em 10 segundos ou menos, os que são dependentes em transferências básicas realizam em 20 segundos ou menos (PODSIADLO e RICHARDSON 1991, FIGUEIREDO et al, 2007). Este resultado confirma o fato de que em indivíduos com dores lombares, geralmente há relato de dificuldade de deambulação e usualmente eles caminham mais vagarosamente do que indivíduos considerados sadios (HUANG et al, 2001).

    Em relação ao tempo de execução do teste pelos indivíduos acometidos por AVC, este foi estatisticamente superior a todos os outros grupos, mostrando que esta condição clínica afeta muito a capacidade de se deslocar, pois aqueles que realizam o teste em 20 segundos ou mais são dependentes em muitas atividades de vida diária e na mobilidade (PODSIADLO E RICHARDSON 1991). Este fato confirma que a disfunção motora é um dos problemas frequentes encontrado após o AVC, que influencia na marcha e equilíbrio que juntos fazem com que a mobilidade funcional esteja prejudicada nestes indivíduos (SANTOS et al, 2011). Torriani et al (2006) verificaram que os indivíduos com desordens neurológicas apresentam alteração da mobilidade, porém não verificaram diferenças significativas entre as 8 doenças neurológicas avaliadas. Os indivíduos que apresentavam AVC apresentaram valores médios de execução do TUG de 17,88 segundos, ou seja, 2,46 segundos mais rápidos do que os indivíduos do presente estudo.

    Quanto ao tempo de execução do teste TUG, Podsiadlo e Richardson (1991) classificaram os resultados em três grupos: menos de 20 segundos para realização, correspondendo a baixo risco para quedas, de 20 a 29 segundos, a médio risco para quedas e 30 segundos ou mais, a alto risco para quedas. Desta forma, embora por pouco, os voluntários do grupo de AVC do presente estudo apresentam um risco médio quanto à propensão às quedas, necessitando assim, dar continuidade ao programa de reabilitação a fim de melhorar os aspectos neuro-sensoriais e músculos-esqueléticos a fim de que tal risco possa diminuir.

    Em se tratando de condições patológicas, muitas vezes os profissionais de reabilitação, principalmente os que trabalham com doenças osteomusculares como osteoartrite e a hérnia discal, focalizam os objetivos de tratamento na questão da diminuição do quadro álgico, na melhora das funções músculo-esqueléticas e algumas vezes não levam em consideração de que pacientes com desordens musculoesqueléticas geralmente sofrem limitação quanto a habilidade de deambulação (WINTER et al, 2010). Desta forma, além de se trabalhar os aspectos do quadro clínico, o re-treinamento de gestos como levantar-se e sentar-se de uma cadeira, incentivo à prática de deambulação também dever ser incorporados nos programas de reabilitação destas doenças.

    A mobilidade funcional fica afetada quando alguma situação patológica é presente, no entanto indivíduos que sofreram de desordens neurológicas como o AVC apresentam piores resultados na avaliação da mobilidade, estando desta forma mais propensos a dificuldade de realização de atividades cotidianas, bem como a sofrerem quedas.

Referências

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