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Estratégias de seleção de parceiros de 

mulheres no climatério e pós-menopausa

Estrategias para la selección de parejas en mujeres menopáusicas y posmenopáusicas

Strategies for partner selection of women in menopause and post-menopause

 

*Mestre em Teoria e Pesquisa do Comportamento pela Universidade Federal do Pará – UFPA

Professora do Instituto Esperança de Ensino Superior - IESPES

*Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM

Pesquisador do Laboratório de Desenvolvimento Humano e Educação da FAPSI/UFAM

***Doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília – UNB

Professora Associado I da Faculdade de Psicologia-UFAM

Klaudia Yared Sadala*

klaudiaysadala@hotmail.com

André Luiz Machado das Neves**

Iolete Ribeiro da Silva***

andre_machadostm@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste artigo é discutir a partir da literatura as estratégias para seleção de parceria amorosa entre mulheres no climatério e pós-menopausa. Também busca gerar novas informações e discussões a respeito de outros aspectos da vida da mulher de meia idade, que não os relacionados aos sinais e sintomas decorrentes do processo natural de envelhecimento. O artigo privilegia aspectos da sexualidade feminina em uma leitura ampliada e de seus determinantes e condicionadores biológicos, sociais e culturais, proporcionando, assim, a socialização de informações que buscam responder alguns questionamentos e necessidades dessa população.

          Unitermos: Seleção de parceria amorosa. Sexualidade feminina. Psicologia Evolucionista.

 

Abstract

          The objective of this paper is to discuss the strategies from the literature for the selection of loving partnership between postmenopausal women and postmenopausal women. It also seeks to generate new information and discussions about other aspects of life of middle-aged woman, not related to the signs and symptoms resulting from the natural aging process. The article in its scope will focus aspects of female sexuality in an enlarged and its determinants and biological, social and cultural conditioners reading, thus providing socialization of information seeking to answer some questions and needs of this population. This study is anchored in the perspective of Evolutionary Psychology.
          Keywords: Selection partnership loving. Female sexuality. Evolutionary Psychology.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 - Nº 192 - Mayo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A origem do homem moderno continua sendo assunto de intensa discussão e polêmica, sobretudo quando se buscam explicações sobre o desenvolvimento de suas excepcionais características intelectuais, sociais, morais, espirituais e das interações mais complexas entre si e com o meio ambiente (LEWIN, 1999). Diante disto, por meio de pesquisa bibliográfica, esse artigo se propôs a investigar uma de suas mais interessantes e intrigantes características, a seleção de parceiros amorosos. Pois, estudos demonstram que as estratégias sexuais e de acasalamento desenvolvidas por nossos ancestrais, ainda influenciam fortemente o padrão de nossas escolhas atuais. (BUSS, 1994a; OTTA; QUEIROZ, 1998; PAWLOWSKI, 2003)

    Optou-se, assim, refletir estratégias de eleição de parceiros realizados por mulheres, já que elas têm funções basilares na reprodução da espécie. Contudo, o estudo se delimita com mulheres vivendo a fase do climatério e pós-menopausa. Isto se justifica por não se encontrar com tanta freqüência, trabalhos voltados para esta faixa etária na revisão da literatura da área. Os estudos enfocando a problemática da escolha de parceiros têm privilegiado pessoas ainda na sua fase reprodutiva. Por outro lado, as contingências sociais atuais têm aumentado a expectativa de vida das populações humanas e a das mulheres em particular, onde estas podem viver, atualmente, por mais um terço de suas vidas após o climatério e a menopausa (PAULA; LOPES; ABDO, 2003). Este período de sobrevivência pode ser acompanhado por uma grande produtividade como ser humano e mulher, principalmente se pensarmos em aspectos como realizações profissionais, familiares e amorosas.

    Torna-se, desta forma, relevante estudar como estas mulheres estão vivendo sua sexualidade na perspectiva da escolha de parceiros, durante este período não reprodutivo, onde os atributos juventude e fertilidade estão tendo uma diminuição progressiva, acompanhados de uma multiplicidade de estereótipos sociais negativos.

    O objetivo deste artigo é discutir a partir da literatura as estratégias para seleção de parceria amorosa entre mulheres de 40 a 60 anos e suas implicações para a sexualidade feminina. Com vista, a gerar novas informações e discussões a respeito de outros aspectos da vida da mulher de meia idade, que não os relacionados aos sinais e sintomas decorrentes do processo natural de envelhecimento.

2.     A escolha da parceria na contemporaneidade

    As estratégias sexuais e de acasalamento desenvolvidas por nossos ancestrais, estavam fortemente atreladas às condições de sobrevivência e conseqüente cuidado com a prole, e nesta perspectiva o padrão de investimento parental nos humanos, sem dúvida, foi determinante para a evolução de novos padrões de escolha de parceiros, ás quais ficaram sob controle de novas e determinantes variáveis (CAMPOS; OTTA; SIQUEIRA, 2002). A compreensão da sexualidade humana entrelaçada à escolha dos parceiros sexuais perpassa o imperativo biológico, as normas culturais e os costumes que cada sociedade julgou necessário ou importante para a manutenção de sua “ordem”.

    Com o tempo, portanto, a opção de acasalamento não era mais apenas uma questão de avaliar a aparência e padrões comportamentais hereditários de um possível parceiro. A cultura ofereceu à seleção sexual novas formas de avaliar um parceiro, agora homens e mulheres começam a criar outros tipos de necessidades ditadas pelo contexto social. O ser humano, por conta de sua adaptabilidade e flexibilidade de estratégias sexuais, evoluiu alternativas muito elaboradas que são sensíveis ao contexto. As estratégias sexuais evoluíram em determinados contextos da evolução da espécie, e as mudanças no contexto atual podem promover mudanças adaptáveis (BUSS, 1994b).

    Na sociedade ocidental e urbana, as grandes transformações geradas pelos avanços tecnológicos, e a conseqüente modificação nos padrões de interação entre as pessoas e destas com a natureza, têm trazido em seu bojo novas tensões, preocupações e exigências. Nestas formas de interação, tanto homens competem pelas mulheres quanto estas disputam no jogo da sedução e das estratégias sexuais para a obtenção de uma parceria. Nesta perspectiva, homens e mulheres têm enfrentado diferentes problemas no acasalamento além daqueles presentes no curso da evolução, e as conseqüências têm envolvido diferentes estratégias.

    Antropólogos e Psicólogos consideram que aspectos presentes na escolha da parceria estão relacionados às determinações de natureza evolucionista, a qual freqüentemente é esquecida e mesmo tida como uma motivação de caráter “inconsciente” (OTTA ; QUEIROZ, 1998).

    Alguns estudos (OTTA; QUEIROZ, 1998; BUSS; SCHMITT, 1993) sugerem modelos propostos pela Psicologia, para ampliar a compreensão dos padrões de interação observados atualmente na escolha de parceiros. Os modelos de seleção de parceiros elaborados pela mesma são os de equidade, similaridade e complementaridade.

    O modelo de equidade preconiza a existência de uma relação onde há uma forma de “troca econômica”, onde parceiros potenciais estariam procurando uma troca equitativa no “mercado da competição por parceiros”. Vários estudos têm indicado (OTTA; QUEIROZ, 1998) que parceiros heterossexuais tendem a ser de fato semelhantes em relação a características como: atratividade física, situação econômica, atitudes políticas, religião e personalidade. Otta e Queiroz em seus estudos levantam a hipótese de que os jovens são expostos seletivamente a outros portadores de atributos similares, a partir de mecanismos institucionais, que privilegiam a endogamia de classes, facilitando desta forma o encontro de parceiros com as mesmas características.

    O modelo de similaridade é uma construção freudiana, a qual propõe que a similaridade desejada no parceiro pode ser a similaridade com os pais, ou seja, a busca por características similares não às suas próprias, mas às de seus pais do sexo oposto. Os estudiosos evolucionistas questionam esta hipótese, pois ainda que haja indicações que as pessoas tendem a casar-se com outras que se assemelham a seus pais, não está bem demonstrado que esta similaridade vá além daquela esperada apenas com base na tendência a buscarem parceiros parecidos com elas próprias (BUSS; SCHMITT, 1993). O terceiro modelo psicológico proposto é o de complementaridade, onde as pessoas procurariam nos parceiros atributos que faltam a elas próprias, onde pode ser possível entender estes padrões de escolha sob a perspectiva do investimento parental, onde cada sexo tem sua contribuição no sucesso reprodutivo da espécie, investindo de forma diferenciada no cuidado com a prole.

    Diferentes estudos realizados à luz do referencial evolucionista tentam pesquisar a existência de padrões na escolha da parceria. Buss (1994a) e Buss e Schmitt (1993) afirmam na Teoria das Estratégias Sexuais que padrões no comportamento de acasalar-se existem atualmente porque foram vantajosos evolutivamente, e as estratégias para o acasalamento humano são inerentes, e existem porque foram eficazes na resolução de problemas evolucionários.

    Segundo Batten (1995), apesar de todas as leis, costumes, crenças religiosas e tabus que restringem a escolha individual, os seres humanos, ainda se acasalam segundo a lei da biologia reprodutiva, pois mulheres, homens e suas famílias tendem a escolher a parceria pautados no que esta tem a oferecer. Desta forma, as mulheres tendem a ser avaliadas em função de seu potencial reprodutivo, o qual pode ser medido através da aparência física e atratividade e os homens tendem a ser avaliados em função de seu status ocupacional e situação financeira, as quais podem dar indícios de um bom provedor para sua prole.

    Muitas teorias tendem a assumir que os processos que guiam as preferências para o acasalamento dos homens e das mulheres são idênticos. O contexto no qual ocorre o comportamento de acasalar-se é também freqüentemente ignorado, não levando em consideração as estratégias para os diferentes tipos de relacionamentos - relacionamentos curtos e relacionamentos longos (BUSS, 1994a).

    É nesta perspectiva que Buss e Schmitt (1993) acreditam que a escolha de parceiros pode ser feita de duas diferentes formas, ou até mesmo associadas. Descrevem as estratégias de “curto prazo” e a de “longo prazo” como sendo estratégias que variam de acordo com o contexto – um comportamento diferenciado para relacionamentos “longos” e para relacionamentos “curtos”. Desta forma, a estratégia de curto prazo privilegiaria relações eventuais com ênfase na relação sexual, sem investimento prolongado dos parceiro na relação. A estratégia de longo prazo, prioriza parceiros com características de bom provedor e protetor da prole, no caso dos homens, e características que indiquem saúde / fertilidade no caso das mulheres. Estes indícios podem, segundo os estudiosos, sugerir qual estratégia está mais indicada para cada tipo de parceria mantida, ou seja, como avaliar um possível parceiro de acordo com as características que estes apresentem.

    Neste caso a escolha de parceiros ainda teria arranjos diferenciados para relacionamentos eventuais e para relações duradouras com maior vinculação afetiva. Acreditam que o homem tende a seguir a estratégia de curta duração, pois é a menos onerosa para ele (apenas necessita da ejaculação), e já as mulheres teriam maior tendência a buscar a estratégia de longa duração, pois seu investimento é bastante oneroso - ovulação, gestação, lactação (SCHMITT et al., 2003)

    Este tipo de responsabilidade biológica obriga as fêmeas a serem mais seletivas no momento da escolha de seus parceiros tentando encontrar machos de maior valor genético. Já nos machos a empreitada resume-se a inseminar o máximo de fêmeas e assim tentar gerar o maior número de descendentes. Porém, os machos de nossa espécie, cuidam de seus filhotes e também seguem a estratégia de longo prazo. E as fêmeas humanas também buscam relacionamentos de curto prazo. Ou seja, de acordo com o contexto, machos e fêmeas podem utilizar diferentes estratégias (SCHMITT et al.. 2003).

    É sob o referencial evolucionista que estudos utilizando como fonte anúncios classificados de jornais para procura de parceiros e auto-relato têm sugerido que os homens preferem mulheres mais jovens como parceiras sexuais, enquanto as mulheres preferem homens mais velhos ou com idade próxima à sua - demonstrando que este padrão está de acordo com o modelo evolucionário – probabilidade de sucesso reprodutivo (OTTA; QUEIROZ, 1998; SCHMITT et al.. 2003).

    Outro estudo (CAMPOS; OTTA; SIQUEIRA, 2002) realizado com registros civis de casamentos buscou identificar também as preferências no momento da escolha da parceria. É importante ressaltar que este tipo de pesquisa não fica sob controle das idealizações e sim sob controle das variáveis reais presentes no momento da escolha da parceria, pois os dados foram coletados a partir de escolhas concretas. Os resultados apontaram que homens de forma geral, casaram-se com mulheres mais jovens que eles próprios. Quanto mais velho o homem mais jovem sua parceira. A exceção é que homens com menos de vinte anos buscaram parceiras um pouco mais velhas. As mulheres com menos de trinta anos casaram-se com homens mais velhos.

    A maior parte das pesquisas citadas tem como referência principal de sua amostra, indivíduos em idade reprodutiva. Ainda há escassez de pesquisa relacionada à escolha de parceiros em mulheres em idade não reprodutiva – mulheres vivendo a fase do climatério e pós-menopausa. Talvez por ser a sobrevivência nesta fase do desenvolvimento, um evento recente, as investigações têm sido direcionadas para aspectos relacionados à saúde destas mulheres, negligenciando aqueles ligados diretamente à sua satisfação sexual e afetiva.

3.     Considerações finais

    As alterações orgânicas, psicossociais e culturais irão determinar a sexualidade da mulher no climatério e na pós-menopausa. Até o início do século XX, as alterações provenientes desta fase de desenvolvimento não eram motivo de tantas preocupações, tendo menor influência na vida das mulheres de meia idade. Atualmente, de acordo com o censo de 2000 a expectativa de vida feminina que era de 45 anos em 1940, hoje é de aproximadamente 74 anos (PAULA; LOPES; ABDO, 2003). Esta informação nos remete as questões que propiciam não apenas viver mais, porém viver mais e melhor, podendo interagir com o meio e poder extrair o máximo que ele poder oferecer, ou seja, não basta viver mais se os últimos anos forem marcados por sinais e sintomas que os tornem pouco prazerosos (CAVALCANTE; FEGIES, 2003; PAULA; LOPES; ABDO, 2003). Um dado também interessante, de acordo com o setor de Climatério do departamento de ginecologia da Universidade de São Paulo 82,7% de 400 mulheres pesquisadas tinham vida sexual ativa (PAULA; LOPES; ABDO, 2003).

    Desta forma, de acordo com a literatura médica atual, por volta dos 40 anos, as mulheres já estão vivenciando um declínio de seu potencial reprodutivo, e a partir desta idade, aproximadamente, iniciam períodos de flutuações hormonais, com alterações nos ciclos menstruais, surgindo sintomas sugestivos da baixa dos níveis de estrogênio, ocasionada pela diminuição da função ovariana com a redução do suprimento de óvulos (PALÁCIOS, TOBAR; MENENDEZ, 2002; LOBO, 2003; LANDAU; CYR; MOULTON, 1998). Este período de transição entre a fase reprodutiva e a não-reprodutiva, é chamado de climatério. A menopausa- última menstruação espontânea- ocorre em média entre os 45 a 50 anos, e pode também ser induzida cirurgicamente, através da histerectomia e oforectomia (cirurgia para remoção do útero e dos ovários respectivamente, as quais trazem súbitas e dramáticas mudanças nos níveis hormonais (PINOHI; HALBE; HEGG, 1995; LANDAU; CYR; MOULTON, 1998).

    Existe uma infinidade de sintomas decorrentes da privação do estrogênio os quais afetam diretamente a qualidade de vida das mulheres, dentre eles: calores/rubores quentes, alteração no sono-vigília, fadiga, irritabilidade, alterações de humor, redução da capacidade de concentração, ressecamento e diminuição da elasticidade do epitélio vaginal e uretral, interferindo diretamente no conforto e no prazer sexual (CAVALCANTE; FEGIES, 2003; LOBO, 2003; PALÁCIOS, TOBAR; MENENDEZ, 2002). A questão do desconforto na relação sexual deve-se também a diminuição dos níveis de testosterona, a qual tem efeito vasodilatador, fundamental para o fluxo sanguíneo normal e para lubrificação vaginal, ocasionando desta forma uma diminuição na resposta sexual feminina (diminuição do desejo, da excitabilidade e da capacidade orgástica).

    A menopausa é um fenômeno universal característico do desenvolvimento feminino normal, mas existem alguns sintomas, que devem ser investigados para avaliar a possibilidade da ligação com outros aspectos da vida, como os emocionais, estereótipos sociais, estilo de vida e vivência amorosa / sexual saudável ou não. Alguns destes sintomas podem ser tratados com as atuais tecnologias medicamentosas - terapias de reposição hormonal (TRHs) - criadas para dar suporte a atual expectativa de vida prolongada e assim, proporcionar alívio de alguns sintomas e melhorar qualidade de vida. Segundo Penteado et al. (2004) o maior número de mulheres ativas sexualmente, entre as mulheres climatéricas, é encontrado entre as que realizam a TRH. O uso de lubrificantes vaginais também é um instrumento para melhora do desempenho sexual, e outros sintomas podem ser tratados através de mudanças no estilo de vida e maiores cuidados com a saúde de um modo geral. (LANDAU, CYR; MOULTON, 1998).

    Apesar dos desconfortos naturais desta fase da vida, a parada das menstruações e o conseqüente fim das restrições, constrangimentos, desconfortos e preocupações, principalmente com a possibilidade iminente de gravidez, poderia ser vista como de grande valia por estas mulheres. Elas poderiam usufruir uma vida mais plena se este período não significasse para uma grande parte delas a percepção de perda da feminilidade e de seu valor social (PENTEADO et al., 2004). Neste contexto diversos fatores psicossociais podem contribuir para o comprometimento da sexualidade neste período, pois o declínio e conseqüente perda da capacidade reprodutiva pode estar associado a estereótipos culturalmente construídos. Estes podem assumir diversos significados e influenciar a maneira como cada mulher irá vivenciar estas mudanças. Uma questão que merece destaque nesta discussão é a perda do valor reprodutivo freqüentemente associada ao declínio da juventude, atratividade, decadência e a chegada de doenças. É como se a capacidade reprodutiva, demarcasse seu desempenho e valor enquanto mulher no cenário social, mesmo após tantas conquistas e avanços.

    Por outro lado, para algumas mulheres, pode haver uma melhora na vivência da sexualidade, decorrente de suas experiências amorosas e a aquisição de auto-confiança conquistada através do amadurecimento pessoal. De acordo com Marsters; Johnson; Kolodny (1988), todo o organismo humano sofre alterações com o avançar da idade, e o mesmo acontece com a forma de expressão de sua sexualidade. Segundo Landau, Cyr; Moulton (1998), os anos do climatério podem proporcionar muitas escolhas e oportunidades, para mudar e melhorar a saúde da mulher.

    A vivência da sexualidade, pode variar de acordo com a qualidade da relação com o parceiro, do estresse em sua vida, e de suas atitudes em relação à sexualidade de maneira geral. Penteado et al. (2004) realizaram uma revisão na literatura no que diz respeito aos fatores situacionais que podem vir a influenciar a atividade sexual de mulheres nesta fase da vida. Um dos pontos analisados é que a atividade profissional é o fator que mais influencia positivamente na satisfação sexual; um outro ponto (avaliado através de estudos longitudinais) observou maior freqüência de desejo sexual em mulheres climatéricas de níveis sociais mais altos.

    Um outro aspecto relevante observado em estudos comparativos com mulheres climatéricas satisfeitas e insatisfeitas (PENTEADO et al, 2004), detectou que parceiro sexual com menor média etária e menor incidência de doenças físicas e alcoolismo, predominou no grupo das mulheres satisfeitas sexualmente.

    É neste contexto, envolto em determinações biológicas e sociais que mulheres entre 40 e 60 anos são selecionadas e selecionam seus parceiros. Neste momento de vida, estas mulheres já não dispõem do atrativo físico e reprodutivo da juventude como instrumentos de sedução, segundo a ótica evolucionista. E não necessitariam buscar (pelo menos sob o ponto de vista do investimento parental) homens com a função de provedor, pois se imagina que a esta altura, já tenham cumprido ou estejam no fim suas funções reprodutivas.

    As preocupações clássicas no que diz respeito à mulher de meia idade, estão constantemente atreladas às condições de saúde fisiológica, com o seu sistema reprodutivo, e com o fenômeno da menopausa, devido sua sintomatologia, necessidade de tratamento na maioria dos casos, e sua representação social. É como se o período reprodutivo demarcasse o grau de importância da mulher que diz respeito à vivência de sua sexualidade.

    Uma questão também a ser pensada, é que estas mulheres após seu período reprodutivo, ainda passam cerca de um terço de suas vidas lidando com todas as contingências já citadas (principalmente devido ao prolongamento na expectativa de vida da população), transformações tanto na saúde quanto em aspectos fundamentais de suas vidas como a vivência de sua sexualidade, e as trocas nos planos sociais e afetivos. É importante perceber que as atuais modificações no padrão de vida brasileiro e particularmente na família, modificaram em vários aspectos a divisão sexual do trabalho, colocando com muito mais freqüência às mulheres no competitivo mercado profissional e cada vez mais como chefes de família (FÉREZ-CARNEIRO, 2004). Atualmente, uma boa parte dos lares brasileiros são chefiados e “sustentados” por mulheres, o que indica sem dúvida o poder de influência que este sexo tem em vários aspectos da vida cotidiana. Isto também significa que esta parcela da população começa a criar outros tipos de necessidades e exigências ditadas pelo novo estilo de vida, mais agitado e muitas vezes com dupla jornada de trabalho.

    Outras pesquisas (CAMPOS; OTTA; SIQUEIRA, 2002) têm sugerido que homens mais jovens estão com alguma freqüência escolhendo mulheres nesta faixa etária (entre 40 e 60 anos como parceiras). Homens em idade mais jovem, ainda não têm a oferecer um status ocupacional que demonstre estabilidade financeira, ou seja, ainda não podem ser enquadrados como bons provedores. E talvez pudessem estar entrando com freqüência significativa, em contato com mulheres de outra faixa etária (entre 40 e 60 anos de idade), já que elas não estariam preocupadas com um perfil de provedor devido sua condição não reprodutiva. Eles não estariam aptos a serem bons provedores e assim com pouca probabilidade de serem escolhidos por mulheres reprodutivas da mesma faixa etária. No estudo de Otta e Queiroz (1998), há um indício de que mulheres nesta faixa etária estão buscando homens mais jovens.

    Pondera-se que seja importante a realização de estudos dos fatores ligados a saúde da mulher, desta faixa etária, em que as modificações em seu modo de vida nos âmbitos familiar, emocional e amoroso têm gerado diferentes preocupações além daquelas ligadas ao processo natural de envelhecimento. Para um melhor entendimento acerca da aplicabilidade da Teoria das Estratégias Sexuais, é necessária uma abordagem detalhada a respeito da influência do diferenciado padrão de investimento parental necessário aos humanos. Esta abordagem nos remete às pressões seletivas presentes ao longo da evolução humana, no qual eram importantes para a sobrevivência da espécie não apenas parceiros sexuais, mas agora, parceiros com atributos que permitissem a preservação da espécie, através de comportamentos capazes de garantir o sucesso reprodutivo.

Referências

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  • BUSS, D.; SCHMITT, D. Sexual Strategies Theory: an evolucionary perspective on human mating. Psychological Review, 1993b; 100,204-232.

  • CAMPOS, L.; OTTA, E.; SIQUEIRA, I. Sex differences in mate selection strategies: Content analyses and responses to personal advertisements in Brazil. Evolution and Human Behavior, 2002; 23, 83-89.

  • LANDAU, C.; CYR, M.; MOULTON, A. O livro completo da Menopausa: guia da boa saúde da mulher (H. Lanari, Trad.). Rio de Janeiro: José Olympio. 1998.

  • LEWIN, R. Evolução Humana (D. Munford, Trad.). São Paulo: Atheneu. 1999.

  • LOBO, R. Menopause Management for the Millennium. Disponível em: http://www.mescape.com/viewarticle/413064_1. Acesso em 11 de fev 2014.

  • MARSTERS, W.; JOHNSON, V.; KOLODNY, R. O relacionamento amoroso: segredos do amor e da intimidade sexual. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1998.

  • PALÁCIOS, S.; TOBAR, A.; MENÉNDEZ, C. Sexuality in the climacteric years. Maturitas, 43, 69-77. 2002.

  • PAULA, F.; LOPES, G & ABDO. Sexualidade no Climatério: Verdades e Mentiras. Disponível em: htm//www.usp.br/medicina/departamento/g_o/gineco/artigo.htm. Acesso em 11 fev 2014.

  • PAWLOWSKI, B. The biological meaning of preferences on the human mate market. Antropological Review, 2000; 63, 39-72.

  • PENTEADO et al. Sexualidade no Climatério e na Senilidade. Disponível em: htm//www.usp.br/medicina/departamento/g_o/gineco/artigo.rev3.htm. Acesso em 11 fev 2014.

  • PINOHI, J.; HALBE, H.; HEGG, R. Menopausa. São Paulo: Roca. 1995.

  • SCHMITT, D. et al. Universal sex differences in the desire for sexual variety. Journal of Personality and social psychology, 2003; 85, 85-184.

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