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O brinquedo terapêutico como prática de enfermagem pediátrica

El juego terapéutico como práctica de enfermería pediátrica

 

*Acadêmicos do curso de Graduação em Enfermagem

das Faculdades Unidas do Norte de Minas FUNORTE

**Professor de Saúde da Criança das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE)

e Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI)

***Farmacêutica. Atuação em Farmácia Clínica

(Brasil)

Renê Ferreira da Silva Júnior*

Juliana Andrade Pereira*

Tadeu Nunes Ferreira**

Carla Jeane Marinho de Caires Nunes***

tadeu-nunes@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O Brinquedo Terapêutico é um importante método de trabalho em pediatria para abordagem de crianças hospitalizadas. A participação desta intervenção na prática de Enfermagem deve ser estimulada e discutida em função de seus benefícios terapêuticos. O presente estudo é uma revisão de literatura de caráter integrativo realizada através da busca de artigos em periódicos especializados. Foram selecionados e analisados os principais trabalhos científicos publicados nos anos de 2001 a 2012, o que resultou em 22 artigos, sendo todos trabalhos que abordavam o lúdico na assistência a criança, o brinquedo e a Técnica de Brinquedo Terapêutico. Com este estudo observou-se a relevância do Enfermeiro ter conhecimento e aplicar nos serviços em que atua as práticas lúdicas/ brinquedo /Brinquedo Terapêutico e também é especialmente significativo aos futuros enfermeiros terem já graduação o contato com estas práticas, pois nelas estão embutidos, os preceitos do cuidado holístico da enfermagem. Por conseguinte, salienta-se que essa temática seja contemplada nas políticas publicas de atenção à saúde da criança.

          Unitermos: Práticas lúdicas. Brinquedo. Brinquedo terapêutico. Enfermagem.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A hospitalização pode trazer mudanças no desenvolvimento da criança e comprometer seu processo de interação com as pessoas e o meio em geral (MITRE e GOMES; 2007). Levando em consideração essas alterações, que sucedem repentinamente na vida da criança, observa-se a importância de projetos que englobem uma assistência apropriada e que visem, por meio de ações lúdicas, reduzir os efeitos de uma hospitalização e prevenir sofrimentos psicológicos (PEDROSA, MONTEIRO, LINS et al.; 2007). No que diz respeito ao contexto hospitalar, o brincar tem sido reconhecido pela sua finalidade na terapêutica, que age na transmutação do ambiente, do comportamento e, principalmente, da estrutura psicológica da criança, no decorrer de seu tratamento (CARVALHO e BEGNIS; 2006).

    Dentre as possíveis estratégias utilizadas pela criança para o enfretamento do processo da hospitalização, tem-se o brincar e a leitura, práticas peculiares da sua fase de vida, no qual ela descobre, experimenta, inventa, exercita e põe a prova suas habilidades, além de terem estimuladas a criatividade, a iniciativa e a autoconfiança (PEDROSA, MONTEIRO e LINS et al.; 2007).

    Haja vista a definição vigente de saúde proposto pela Organização Mundial da Saúde, bem como as políticas de saúde para atenção à criança, faz-se necessário proporcionar, no contexto hospitalar, um ambiente organizado para as atividades lúdicas, que possibilite uma continuidade satisfatória no transcurso do desenvolvimento infantil. Esse tipo de recurso pode ser eficaz como elemento de proteção, ao impulsar a resiliência da criança (CARVALHO e BEGNIS; 2006).

    No panorama nacional de atenção à criança hospitalizada, encontram-se algumas práticas que fazem do brincar uma estratégia de intervenção no campo da saúde da criança. Tais ações não seguem um padrão. Umas se ancoram unicamente na recreação, sem outras preocupações na reflexão que essas ações podem acarretar no estado geral da criança, e outras utilizam o brincar a partir de uma concepção terapêutica (MITRE e GOMES; 2007).

    Um instrumento que a Enfermagem pode utilizar para auxiliar a criança no processo de desenvolvimento é Brinquedo Terapêutico (BT) que possui como função liberar temores e ansiedades, permitindo a criança exteriorizar os seus sentimentos e pensamentos. Ele constitui um brinquedo estruturado que auxilia a criança no alívio da ansiedade, desencadeada por vivências atípicas para a idade e por serem ameaçadoras, requerem mais do que recreação. Pode ser utilizado sempre que a criança tiver dificuldade em entender ou lidar com uma experiência difícil ou precisar ser preparada para procedimentos (SIMÕES e COSTA; 2010).

    De acordo com os achados de Souza, Silva e Brito (2012) a aplicação das atividades lúdicas e do Brinquedo Terapêutico é bastante eficaz no tratamento da criança hospitalizada, tornando-o cuidado mais holístico e humano. Na ótica dos profissionais o brincar trabalha como um espaço de socialização e interação com outras crianças, permitindo a realização de uma nova rede social e a possibilidade de fuga do isolamento que a internação acarreta (MITRE e GOMES, 2003). Envolver-se com o Brinquedo Terapêutico (BT) é pensar um dispositivo marcado por uma lógica outra, é criar maneiras de viver o brincar da criança hospitalizada mais próxima à definição das práticas de liberdade. É possibilitar a ampliação de experiências de dissenso e desafio no âmbito dos sistemas de dominação e normalização que se faz presente nas práticas hospitalares (MEDRANO, PADILHA e VAGHETTI; 2008).

    A utilização do BT na abordagem com a criança pode ser percebida como um avanço na assistência de enfermagem, desta forma os pais e acompanhantes reconhecem que a criança esta sendo bem cuidada e tratada. O preparo por meio do BT gera aproximação e estabelecimento de confiança, proporcionando uma relação harmoniosa entre a equipe e a criança. Os pais e acompanhantes entrevistados nesse estudo afirmam que a utilização do BT é uma prova de amor; que a equipe de enfermagem está evoluindo rumo ao paciente, provando o amor que alguns enfermeiros têm a profissão (CONCEIÇÃO, RIBEIRO e BORBA et al.; 2011).

    A habilidade para brincar com a criança possui um caráter ascendente na prática da enfermagem, portanto, devendo todos os profissionais da equipe ter a disposição e a iniciativa de ter conhecimento e saber usar todos os elementos do brinquedo e suas características, assim o enfermeiro é o mentor que deverá favorecer sua inserção na realidade da assistência. A enfermagem gradualmente vem utilizando o brincar na prática da assistência, cumprindo sua função recreacional ou mesmo modalidade de Brinquedo Terapêutico (SOUZA, SILVA, BRITO et al.; 2012). Corroborando os autores anteriores Maia, Ribeiro e Borba (2011) declaram ser de responsabilidade de o enfermeiro instituir e ordenar os meios, para que o brinquedo/BT seja enraizado ao cuidado da enfermagem, no que tange à criança e sua família que precisam de cuidados de saúde, abrangendo a hospitalização, para que assim o processo de crescimento ocorra de maneira sadia, extraindo da experiência benefícios para seu amadurecimento.

    A prestação do cuidado da enfermagem, independente do contexto em que esteja ocorrendo deve ser algo abrangente. A execução adequada da técnica e o domínio do conhecimento da patologia exige que a criança e sua família sejam contempladas como um todo, atendendo as necessidades emocionais, sabendo compreender as necessidades do paciente, estabelecendo assim um vínculo com o cliente e sua família, isso facilitará o processo do cuidar quando se estiver vivenciando um processo de doença (CINTRA, SILVA e RIBEIRO; 2006).

    Visto que a assistência de enfermagem a qualquer indivíduo deve ser pautada na visão holística e humanizada do cuidado, e as práticas lúdicas e a técnica de Brinquedo Terapêutico (BT) vão ao encontro dessas premissas, justifica-se análise dos fatores envolvidos em sua aplicação e suas implicações para a assistência de enfermagem a família, a criança e consequentemente a comunidade, configurando um tema de grande relevância no âmbito das Ciências da Saúde. O objetivo deste estudo foi conhecer por meio da análise da literatura especializada, a visão do lúdico/Brinquedo Terapêutico (BT) como intervenção na Enfermagem Pediátrica.

Metodologia

    Foram selecionados e analisados os principais trabalhos científicos publicados nos anos de 2001 a 2012, o que resultou em 22 artigos, composto por texto completo, disponibilizado online e trabalhos que abordavam o lúdico na assistência a criança, o brinquedo e a Técnica de Brinquedo Terapêutico e por fim artigos redigidos em língua portuguesa nacional.

    A coleta dos dados procedeu-se no mês de agosto de 2013, em fontes secundárias de bancos de dados eletrônicos, a partir das bases de dados Base de Dados em Enfermagem (BDENF) Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) orientados pelos seguintes descritores: brinquedo, brinquedo terapêutico, lúdico e enfermagem.

A realidade prática do brinquedo/brinquedo terapêutico e das práticas lúdicas

    Não apenas sendo relevante, mas também necessário à incorporação do lúdico no processo de cuidar em Enfermagem Pediátrica; o uso deste recurso não se mostra efetivo nas instituições de saúde brasileiras. Alguns profissionais afirmam pouca motivação, falta de empenho e iniciativa e a impotência frente à falta de recursos para desenvolvimento das atividades lúdicas (BRITO, RESCK e MOREIRA; 2009)

    A utilização do Brinquedo Terapêutico (BT) ainda que fazendo parte da graduação acadêmica de alguns enfermeiros, é pouco utilizada na maioria dos hospitais, seja devido à falta de estrutura e recursos ou por ausência de profissionais capacitados para utilização da Técnica do Brinquedo Terapêutico (SOUSA, SILVA e BRITO; 2012).

    Segundo Souza, Silva e Brito et al. (2012) a técnica do Brinquedo Terapêutico (BT), ainda sendo componente da formação acadêmica de alguns enfermeiros, é pouco empregada em grande parte dos hospitais, seja por falta de estrutura e/ou recursos, seja pela escassez de profissionais capacitados para seu emprego. O uso dessa técnica proporciona, na maioria dos casos, uma melhora significativa no aspecto emocional além do aspecto clínico da criança, serve para promover um círculo de confiança entre familiares, criança e equipe de enfermagem.

O brinquedo/brinquedo terapêutico e práticas lúdicas como prática de enfermagem

    Conforme Maia, Ribeiro e Borba (2011) quando a enfermeira vivencia situações difíceis com as crianças que assiste, ela se depara com o Brinquedo Terapêutico, como possibilidade de intervenção de enfermagem. A brincadeira é cada vez mais compreendida com uma atividade que ocasiona o desenvolvimento global da criança e promove uma série de capacidades pessoais, sociais e cognitivas (BARROS e LUSTOSA; 2009).

    Em pesquisa Francishenelli, Almeida e Fernandes (2012) com 30 enfermeiros de um hospital geral privado de grande porte em São Paulo, a grande maioria dos entrevistados (97%) declararam ser favorável ao uso do BT na prática, considerando uma estratégia válida a ser instituída na assistência de enfermagem à criança e sua família.

    Face à dor e da possibilidade da morte devido ao quadro da criança, a promoção do brincar talvez proporcione aos profissionais viverem um acontecimento diferente com as crianças. Por conseguinte, ao invés de se lidar apenas com a incapacidade e limitações, os profissionais podem ter a possibilidade de formar outro tipo de relação com seus pacientes, em que através do processo lúdico se privilegie o saudável e o prazeroso. A escolha do lúdico como ferramenta de trabalho estaria ligada a definição que esses profissionais têm sobre tratamento e cura (MITRE e GOMES; 2004).

A redução das tensões da criança através do brinquedo/brinquedo terapêutico e a prática do lúdico

    A criança começa o seu sofrimento quando descobre que esta doente, e quando ela sabe que terá que ficar internada em um hospital este sofrimento cresce. No contexto hospitalar a criança pode se sentir invadida, reduzida, e com isso acaba deixando de ser ela mesma, podendo ocorrer um processo de despersonalização, sendo de grande relevância perceber que o sofrimento deste ser pequeno vai além dos aspectos físicos (BARROS e LUSTOSA; 2009).

    Com o uso do Brinquedo Terapêutico é possível à criação de um meio mais humanizado, distanciando-se do estereotipo de medo e de ansiedade presentes frequentemente na criança hospitalizada, onde este pequeno ser é submetido a procedimentos considerados dolorosos e angustiantes (FRANCISCHINELLI, ALMEIDA e FERNANDES; 2012). Jansen, Souza e Favero (2010) afirmam através de analise do discurso com três crianças e sete adultos em um hospital de grande porte em Curitiba que o uso da técnica de Brinquedo Terapêutico possui efeitos satisfatórios na minimização do estresse da hospitalização.

    Segundo Favero, Dybiewicz e Spiller et al. (2007) alguns profissionais de enfermagem fazem uso de bonecas para facilitar a realização de procedimentos clínicos em crianças que passam por cirurgias ou tratamentos contínuos. No uso deste recurso simples; que é a boneca; a equipe de enfermagem consegue explicar para a criança o que será realizado e pede a mesma para fazer o procedimento no brinquedo. É mostrado que o boneco sofre pequenas intervenções para exemplificar para a criança como é feito o procedimento como a colocação de sondas, drenos, cateteres e bolsas coletoras. Assim as crianças perdem ou diminuem o medo do tratamento e a resistência ao serem submetidos aos procedimentos da enfermagem.

Brinquedo terapêutico e as práticas lúdicas na construção da relação de confiança com a criança

    De acordo com análise de Maia, Ribeiro e Borba (2011) o Brinquedo Terapêutico (TB) é uma estratégia adequada para que o enfermeiro possa se aproximar da criança, formando um vínculo, empatia e uma relação de confiança. Além disso, a enfermeira ao ter compreensão do significado que algumas vivências têm para a criança por através do brinquedo, amplia e qualifica a assistência em qualquer contexto que a criança seja assistida.

    Souza, Silva e Brito et al. (2012) afirmam de acordo com seus estudos que com o emprego do brinquedo terapêutico instrucional a equipe relata uma resposta positiva da criança frente aos procedimentos e a própria equipe. A criança torna-se mais colaborativa e o procedimento ainda sendo de doloroso deixa de ser traumático.

    A utilização dessa técnica favorece na maioria dos casos, um bem-estar significativo tanto no âmbito emocional como também no quadro clinico da criança, além de contribuir para a promoção de confiança entre os familiares, criança e equipe de enfermagem (SOUSA, SILVA E BRITO; 2012).

    Ribeiro, Sabatés e Ribeiro (2001) concluíram a partir de seus estudos com 21 crianças de grupo controle e 21 crianças do grupo experimental que o uso do brinquedo terapêutico, no preparo da criança submetida à coleta de sangue, é um instrumento eficaz, que favorece a compreensão e o controle das reações da criança que decorrem desse procedimento. Dados semelhantes aos encontrados por Ribeiro, Borba e Maia (2006) que por meio de entrevista com quatro pais onde os mesmos foram questionados sobre o significado atribuído por eles a respeito da utilização do Brinquedo Terapêutico na assistência de enfermagem foi afirmado que o Brinquedo Terapêutico favorece a compreensão e aceitação do procedimento pela criança.

Considerações finais

    Os trabalhos aqui analisados foram unânimes em afirmar que as práticas lúdicas, brinquedo, e a utilização da Técnica de Brinquedo Terapêutico trazem resultados positivos na assistência a criança, pois propicia uma visão cuidadora da mesma. O Enfermeiro deve gerar, organizar e otimizar meios para que o desenvolvimento da criança seja atingido por completo, assim estimular em qualquer ambiente, as práticas do brincar, pois é sabido, que esse processo é inerente a criança em todas suas fases de desenvolvimento. Percebe-se com este estudo que a utilização do lúdico/brinquedo/brinquedo terapêutico enquanto intervenção de enfermagem pediátrica é uma prática eficaz para o cuidado, pois traz resultados mensuráveis na terapêutica da criança, tais como a criação de vínculos com humanização e empatia, a maior colaboração da criança nos procedimentos invasivos, a diminuição do medo, da ansiedade e do sofrimento desses pequenos pacientes.

Referências

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