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A perspectiva da libras na formação do professor: 

um caminho para a inclusão escolar

La posibilidad del lenguaje de señas en la formación del profesor: un camino para la inclusión escolar

 

*Doutor em Comunicação – UFRJ

** Pós-Doutoranda em Cognição e Linguagem – UENF

*** Graduada em Educação Física – FAMESC

**** Doutora em Genética – UENF

(Brasil)

Carlos Henrique Medeiros de Souza*

Fernanda Castro Manhães**

Cláudia Márcia Alves Batista***

Fernanda de Oliveira Pinto****

castromanhaes@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho teve como proposta investigar a inclusão da disciplina de libras nos cursos de formação de professores de uma Instituição de Ensino Superior privada no município de Quissamã, RJ. Como pergunta norteadora destaca-se: Os formandos que estão cursando a disciplina de libras se sentem preparados para atuarem na educação básica com a libras? Nesse sentido, levantou-se a hipótese inicial que, em função da nova demanda e o mercado de trabalho, é recomendado que os docentes em sua formação tenham contato com os conteúdos da libras em seus aspectos conceituais e procedimentais, propiciando assim um melhor desenvolvimento de sua futura atividade acadêmica. Quanto aos aspectos metodológicos, tratou-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória, sendo realizada com discentes dos cursos de Educação Física e Ciências Biológicas, da única Instituição de Ensino Superior em Quissamã, RJ. Como parte dos resultados destaca-se que, os alunos dos dois cursos de licenciaturas existentes na Instituição pesquisada evidenciaram a importância do domínio do conteúdo de libras para uma melhor formação docente.

          Unitermos: Libras. Formação de professor. Inclusão escolar.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A sociedade ao longo da história tratou o deficiente com desprezo e indiferença. Discutir a educação de surdos implica abordar também o tema inclusão escolar, tratado mundialmente. Nessa perspectiva, pesquisas realizadas, no exterior e no Brasil, demonstram que crianças com deficiência auditiva submetidas há vários anos na educação regular sem as condições adequadas de inclusão apresentam um desempenho inferior daquele das crianças ouvintes, apesar do desenvolvimento cognitivo ser semelhante.

    Nesse sentido, o tema inclusão é importante, pois, relata cada vez mais que, os deficientes auditivos estão presentes na sociedade e no âmbito educacional. Logo, observa-se na formação de professores que a libras está inserida como componente curricular, pois hoje é obrigatório para os profissionais de licenciatura o conhecimento sobre libras e é mais importante ainda que esse profissional dê continuidade em um curso especializado em libras, e facilite a comunicação e o aprendizado do aluno.

    Nesse sentido pretendemos aprofundar essa temática desenvolvendo uma pesquisa de natureza qualitativa com o objetivo de analisar a inclusão da disciplina de libras nos cursos de formação de professores de uma Instituição de Ensino Superior privada no município de Quissamã/RJ, identificando as dificuldades e as estratégias utilizadas pelos educadores/as para promover a inclusão destas pessoas.

A deficiência auditiva

    Durante anos e até recentemente, quando se falava em surdez, logo se pensava em um quadro clínico ou patológico. Ainda há quem reduza a pessoa com surdez ou tente definir a pessoa surda a partir da sua disfunção auditiva, supondo-a uma limitação permanente e irreversível que impede seu desenvolvimento intelectual, profissional e sua capacidade de atuação social. A discussão sobre surdez, educação e libras vem sendo ampliada nos últimos anos por profissionais envolvidos com a educação, assim como também pela própria comunidade surda. A oficialização da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), em abril de 2002 (Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002), sinalizou polêmicas por profissionais que trabalham com surdos e por surdos oralizados, que não se sentem parte de uma comunidade surda e não vêem mérito nessa vitória para a comunidade surda.

    Os surdos vêem a Libras como uma forma de comunicação necessária com os ouvintes, pois eles precisarão da comunidade ouvinte para lhe dar informação no caso de seguir viagem ou informações básicas que todos os seres humanos precisam para se locomover em determinadas localidades na qual ira visitar ou morar. Para esses deficientes auditivos a Libras é a sua comunicação na qual ele sempre utilizará seja para a sociedade que terá que se adaptar a nova língua para haver comunicação quanto na escola na qual freqüentará.

    As Línguas de Sinais (LS) são as línguas naturais das comunidades surdas. Atribui-se às Línguas de Sinais o status de línguas porque elas também são compostas pelos níveis lingüísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. O que diferencia as Línguas de Sinais das demais línguas é a sua modalidade visual-espacial. A Língua Brasileira de Sinais foi desenvolvida a partir da Língua de Sinais Francesa. As línguas de sinais não são universais, cada país possui a sua. A Libras possui estrutura gramatical própria e os sinais são formados por meio da combinação de formas e de movimentos das mãos e de pontos de referência no corpo ou no espaço. (OLIVEIRA, 2010, p.8).

    O papel do professor tem sido enfatizado no que envolve a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular. Alguns autores se referem a esse profissional como fundamental na chamada educação inclusiva. Outros estudiosos enfatizam que entre as atribuições dos professores está a de criar situações para que os alunos com deficiência possam contribuir nesse novo contexto educacional em sala de aula, de maneira que suas limitações não se evidenciem.

    Se de um lado a lei indica a obrigatoriedade das instituições a oferecerem o ensino de Libras como disciplina curricular em todos os cursos de licenciatura nas diferentes áreas do conhecimento, por outro cria uma situação um tanto quanto conflitante: a falta de profissionais devidamente capacitados para atuarem na docência superior para o ensino de Libras. (MELO, 2012, p.3)

    De acordo com Melo (2012) a Língua brasileira de sinais é uma disciplina curricular obrigatória e percebe que é a língua mais utilizada pelos deficientes auditivos e ainda ressalta que por mais que ela seja uma disciplina obrigatória, muitas das vezes não encontramos profissionais preparados para atuar com os alunos que tem a deficiência.

    Compreende-se que, os profissionais atualmente têm de buscar se especializar cada vez mais e de se adequar as novas normais da educação, eles tem de buscar abrir um leque de informações para que consiga realizar todas as necessidades existentes em suas instituições, com isso ele garantira um futuro melhor para ambos que ali esta freqüentando.

Metodologia

    Nesta etapa, são apresentados os procedimentos referentes ao tipo de estudo e aos métodos utilizados, partindo da identificação e do tipo de pesquisa adotado.

    O universo da pesquisa constitui-se por todos os discentes dos dois cursos de licenciatura do período noturno da Faculdade Metropolitana São Carlos - FAMESC, sendo o total de 44 alunos respondentes. A escolha da totalidade se deu pelo interesse desta pesquisa em selecionar todos os cursos e seus alunos matriculados e freqüentes.

    A FAMESC é uma instituição privada, que iniciou suas atividades em março de 2010. Com apenas três anos de existência, oferta 4 cursos presenciais, sendo eles: Bacharelado em Administração, Licenciatura em Ciências Biológicas, Licenciatura em Educação Física e Graduação Tecnológica em Petróleo e Gás. No momento desta pesquisa, a FAMESC apresentava um total de 51 alunos matriculados, nas licenciaturas, número este que compôs a população deste estudo. Portanto, não houve a necessidade de aplicação de regras estatísticas para cálculo de amostras e outros dados.

    Em relação à natureza deste estudo, sua metodologia caracteriza-se dentro das pesquisas aplicadas, com abordagem do problema de forma qualitativa e, em relação aos objetivos, descritiva e exploratória. De acordo com a fundamentação proposta por Kauark, Manhães e Medeiros (2010), os procedimentos técnicos de pesquisa serão realizados por pesquisa bibliográfica principalmente por livros e artigos científicos sobre a temática abordada.

    Em uma segunda etapa, foi preparado e aplicado um questionário do tipo estruturado com perguntas fechadas e abertas, ou seja, com perguntas objetivas e discursivas. O questionário contendo 9 perguntas foi aplicado aos alunos licenciados de uma faculdade privada localizada no município de Quissamã/RJ, que estão se preparando para atender a essa demanda de alunos portadores da deficiência auditiva.

    Os questionários foram aplicados na própria faculdade em que visava observar se os alunos que estão prestes a atuar no campo da educação se sentem preparados a acompanhar e desenvolver atividades com alunos deficientes auditivos.

Resultados e discussão

    A partir da análise das respostas obtidas nos questionários aplicados a pessoas que poderão trabalhar com o deficiente auditivo no decorrer da sua trajetória profissional, compreende-se que obtivemos respostas de dois cursos de licenciatura: Licenciatura em Educação Física onde 16 alunos puderam participar da pesquisa e da turma de licenciatura em Ciência Biológicas contamos com as respostas de 28 de seus alunos. Em seguida ressaltam-se os seguintes resultados:

    A Tabela 1 apresenta as características sociodemográficas da amostra estudada.

Tabela 1. Características sociodemográficas da amostra total da pesquisa (N = 44)

    No tocante às características sociodemográficas, Mazo (2003) afirma que as informações obtidas por meio deste levantamento fornecem informações relevantes que contribuem para a realização de confrontamentos entre o sujeito e o ambiente em que está inserido, promovendo a comparação de outras variáveis possíveis de investigação.

    Em relação ao sexo, a maioria é do sexo feminino (68%), seguindo de 32% de sujeitos do sexo masculino. Os resultados encontrados com relação ao predomínio do sexo feminino entre os licenciandos, corroboram os estudos de Rêses (2008) apontando que a feminização do magistério já é algo que vem sendo discutido há bastante tempo. Conforme o autor, nas “profissões historicamente destinadas ao ‘gênero’ feminino, a função de professor é a que mais envolve um direcionamento histórico”. (RÊSES, 2008, p. 32). Quando questionados sobre como se deu a escolha pelo curso, 29 alunos (66%) apontaram que foi por oportunidade em cursar o ensino superior e apenas 15 (34%) pelo mercado de trabalho, observa-se que, os alunos estão preocupados com sua formação para a área profissional e isso faz com que a educação no Brasil cresça cada vez mais.

    As próximas características dos estudantes dos cursos de licenciatura da Faculdade Metropolitana São Carlos que podemos elencar referem-se à situação civil e ao número de filhos. Segundo os dados da pesquisa, registrados na tabela 1, a maioria dos estudantes são solteiros (57%) e não têm filhos (65%). Esses dados nos possibilitam pensar que os relacionamentos sociais acompanham irrestritamente às expectativas da mulher na sociedade contemporânea: adiamento da maternidade com vistas na construção de uma carreira profissional para melhor qualificação no mundo do trabalho. A média nacional de professores que se declaram solteiros é de 28,3% (UNESCO, 2004). No caso dos cursos de Ciências Biológicas e Educação Física da FAMESC, os dados estão num índice um pouco acima, o que pode estar relacionado com o perfil de acadêmicos mais jovens: 66% têm menos de 36 anos de idade (tabela 1). De acordo com a pesquisa das Estatísticas do Registro Civil realizada pelo IBGE em 2009, a idade média dos homens e das mulheres na data do casamento tem crescido progressivamente. Em 1999, a idade média no primeiro casamento era de 27 anos para os homens e 24 anos para as mulheres, já em 2009 a idade aumentou, passando a 29 anos para os homens e 26 anos para as mulheres.

Tabela 2. Dados referentes à disciplina de libras

Fonte: elaborado pelos autores

    Diante dos resultados apresentados acima, pode-se observar que (52%) dos formandos mostraram ter dificuldades em aprender a disciplina de libras. No que se refere a não apresentar dificuldades, (37%) responderam que não, porém (11%) julgaram-se indiferente em relação a esta afirmação.

    Quadros e Campello (2010) ressaltam que a proposta da disciplina de Libras é de oferecer conhecimentos básicos dessa Língua. Depreendemos que o nível de aquisição da língua de sinais esperado e trabalhado na disciplina de Libras dos cursos analisados, tenha sido o básico, tendo em vista o tempo da disciplina e os conteúdos teóricos abordados. Este, provavelmente tenha sido o motivo pelo qual 52% dos participantes relataram encontrar dificuldades, pois a aprendizagem de qualquer língua é complexa. Além do mais não se pode ignorar que boa parcela dos alunos, mesmo em relação aos conhecimentos básicos da língua de sinais, admitiu não encontrar dificuldades.

    Quando questionados sobre a preparação em atuar com a disciplina libras, um número significativo de formandos apontou não se sentirem preparados (77%), pois deveriam se especializar melhor na área para atuarem, devido ser um disciplina.

    Fonseca (1995) acredita que é preciso preparar todos os professores, com urgência, para se obter sucesso na inclusão, através de um processo de inserção progressiva. Assim, eles poderão aceitar e relacionar-se com seus diferentes alunos, e conseqüentemente, com suas diferenças e necessidades individuais.

    Por isso, torna-se urgente que os alunos dos cursos de licenciatura e demais profissionais que possivelmente terão contato com os alunos com deficiência auditiva, recebam em sua formação esse preparo.

    Ao se deparar com a pergunta em que eles sabem se comunicar em libras a minoria dos alunos apontou que sim (20%) e a maioria (32%) respondeu não, o que se observa é que os alunos não se sentem preparados para a nova proposta da educação superior e que repensar em estratégias para facilidade no aprendizado seja significativa.

Considerações finais

    Tendo em vista que a libras é uma das disciplinas que está presente em todas as matrizes curriculares de formação de professores no Brasil de forma obrigatória e optativa nos demais cursos, entende-se que a oportunidade para se trabalhar com deficientes está cada vez maior, número observado pela procura de cursos e a inserção de alunos nas licenciaturas em geral.

    Rediscutir o real papel da escola e a formação de professores são passos imprescindíveis para a construção de uma educação inclusiva de qualidade. A hipótese de que os professores não se sentiam preparados para os processos de inclusão de alunos com deficiência auditiva foi confirmada bem como a necessidade da elaboração de programas de formação continuada para discutir, de forma mais aprofundada, os temas aqui abordados.

    Tomando como base os resultados encontrados, avaliamos que esta questão pode ser melhor dimensionada no programa da disciplina, assim como contar com análises mais amplas, contemplando uma visão crítica aliada a conhecimentos teóricos e resultados de experiências bem e mal sucedidas.

    Destaca-se ainda que, os alunos dos dois cursos de licenciaturas existentes na Instituição pesquisada evidenciaram a importância do domínio do conteúdo de libras para uma melhor formação docente.

    Cabe aos profissionais da educação engajar-se em atividades e projetos que atendam a esta demanda tão vigente, no sentido de colaborar para o desenvolvimento da aprendizagem e da educação inclusiva, além de diminuir as barreiras geracionais causadas pelo estigma da deficiência auditiva.

Referências

  • ALMEIDA, Josiane Júnia Facundo de; VITALINO, Celia Regina. A disciplina de libras na formação inicial de pedagogos: Experiência dos graduandos. IX ANPED sul- Seminário de Pesquisa em educação da região Sul. P. 1-15. 2012.

  • DALLAN, Maria Salomé Soares; MASCIA Márcia A. A. A escrita de libras (SIGNWRITING): um olhar para o desenvolvimento lingüístico do aluno surdo e para a formação do professor de línguas. Universidade de Taubaté, São Paulo, Brasil, no período de 04 a 06 de novembro de 2010.

  • DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo; FERREIRA, Josimário de Paulo. Educação Escolar de pessoas com surdez: Atendimento educacional especializado em construção, revista da educação especial. Brasília, V.5 N°1, p.46-57 Jan/ Jul 2010.

  • FONSECA, V. Educação Especial. Porto Alegre: Artes Médicas. 1995.

  • KAUARK, F; MANHAES, F. C; SOUZA, C.H. M. Metodologia da Pesquisa: guia prático – Itabuna: Via Litterarum, 2010.

  • MELO, Geovana Ferreira; OLIVEIRA, Paulo Sérgio de Jesus, Ensino-aprendizagem de Libras: mais um desafio para a formação docente. B. Téc. Senac: a R. Educ. Prof., Rio de Janeiro, v. 38, nº 3,p. 1-10 set./dez. 2012.

  • OLIVEIRA, Maria Ângela de Oliveira; LIMA, Ricardo Franco de. A língua brasileira de sinais (LIBRAS) na formação de professores. Revista psicologia: o portal dos psicólogos, p.1-14, abril 2010.

  • QUADROS, R; CAMPELLO, Ana Regina e Souza. A constituição política, social e cultural da língua brasileira de sinais- Libras. In: VIEIRA-MACHADO, Lucyenne Matos da Costa; LOPES, Maura Corcini. Educação de Surdos: Políticas, Línguas de Sinais, Comunidade e Cultura Surda. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 2010.

  • RÊSES, Erlando da Silva. De vocação para profissão: organização sindical docente e identidade social do professor. 2008. 308 f. Tese de Doutorado, Departamento de Sociologia, Universidade de Brasília, Brasília.

  • ROSSI, Renata Aparecida. A libras como disciplina no ensino superior. Revista Educação, Anhanguera, vol.13, n°.15, p.71-85, ano 2010.

  • UNESCO. O perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam. São Paulo: Moderna, 2004.

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