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A teoria da autodeterminação em contextos
de exercício e/ou atividade física

La teoría de la autodeterminación en contexto de ejercicio y/o actividad física

 

Bacharel em Educação Física pela UNESP, Rio Claro

Especialista em Bioquímica, Fisiologia, Nutrição e Treinamento Esportivo

pela UNICAMP. Mestre em Atividade Física em Contexto Escolar pela Faculdade

de Ciências de Desporto e Educação Física da Universidade

de Coimbra – PT (FCDEF-UC). Docente do curso de Educação Física

na Universidade Federal do Amazonas, campus de Parintins

Michelli Luciana Massolini Laureano

mix_rc@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi entender o papel da TAD em contextos de exercício e como ela ajuda o profissional de educação física a compreender porque algumas pessoas se envolvem em atividades físicas enquanto outras mantêm um comportamento sedentário. Foram pesquisados textos de 2008 a 2012, que abordavam a temática da TAD e exercício e/ou atividade física. A produção sobre TAD no Brasil ainda é pequena e são poucos os instrumentos validados aqui que permitem avaliar o continuum motivacional e amotivação. Ficou evidente que a qualidade da motivação regula o comportamento, que a satisfação das necessidades psicológicas básicas leva a comportamentos motivados mais intrinsecamente, que as variáveis contextuais são importantes para criar um ambiente adaptativo para comportamentos saudáveis e que resultados advindos destes comportamentos merecem mais investigação, pois pode levar a modificações na postura do profissional de educação física em como motivar seu cliente/aluno para maior adesão aos exercícios.

          Unitermos: Teoria da autodeterminação. Motivação. Adesão.

 

Abstract

          The aim of this study was to understand the role of CAS in contexts of exercise and how it helps the physical education professional to understand why some people engage in physical activities while others maintain a sedentary behavior. Texts were searched from 2008 to 2012, which addressed the issue of TAD and exercise and/or physical activity. The production on TAD in Brazil is still small and there are few validated instruments here for assessing the motivational continuum and amotivation. It was evident that the quality of motivation regulates behavior, that the satisfaction of basic psychological needs leads to more intrinsically motivated behaviors, contextual variables that are important to create an adaptive environment for healthy behaviors, and that results from these behaviors deserve further investigation because can lead to changes in the posture of physical education teachers in how to motivate your client/student for greater adherence to exercise.

          Keywords: Self-determination theory. Motivation. Adhesion.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 19, Nº 191, Abril de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Vários estudos epidemiológicos têm demonstrado que indivíduos fisicamente ativos vivem mais e melhor que indivíduos sedentários e têm menor propensão a desenvolver vários tipos de comorbidades (Gonçalves e Alchieri, 2010a; Gonçalves e Alchieri, 2010b; Withall et al, 2011). Por esse motivo, uma série de modelos teóricos tem sido estudada na tentativa de explicar, prever e, finalmente, mudar comportamentos sedentários para estilos de vida mais fisicamente ativos, entre eles a Teoria do Comportamento Planeado (TCP), o Modelo Transteórico (MT) e a Teoria da Autodeterminação (TAD). Esta última tem sido utilizada por muitos profissionais da área da saúde que tentam buscar respostas para questões sobre a adoção, adesão, permanência e desistência em programas de promoção de exercícios. Por ter sido utilizada freqüentemente em pesquisas na área de atividade física (Ryan et al, 2009; Gonçalves e Alchieri, 2010a; Granero-Gallegos, 2011; De Long, 2006; entre outros) é que foi escolhida a TAD como base deste trabalho. Desta forma, para podermos utilizá-la com competência, precisamos entender o que é a TAD e todos os seus construtos.

    Segundo Hagger e Chatzisarantis (2008), as teorias de motivação e intenção estão na vanguarda das pesquisas que examinam os antecedentes psicológicos, os mecanismos e as bases para intervenções em contextos de exercício, mas o que vem ser motivação? Para Mears e Kilpatrick (2008), motivação é definida como o grau de determinação e desejo com o qual o individuo aborda ou evita um comportamento. Essa determinação pode vir de diferentes fontes e devemos nos atentar para a qualidade da motivação que é desencadeada e é aqui que entra a TAD, que tem como premissa básica a diferenciação na criação da motivação.

    Sendo assim, este artigo teve seu objetivo pautado no papel da TAD em contextos de exercício e/ou atividade física e como ela ajuda o profissional de educação física a compreender porque algumas pessoas se envolvem com fervor em atividades físicas enquanto outras preferem manter um comportamento sedentário.

Metodologia

    Esta é uma pesquisa teórica e exploratória, de revisão de literatura, já que busca ampliar o conhecimento da temática em questão, divulgando informações que possam chamar a atenção para desenvolvimento de mais trabalhos na área. Desta forma foram pesquisados textos de 2008 a 2012, que abordavam a temática da TAD e exercício e/ou atividade física, e foram executadas consultas ao site Self Determination Theory. Foram considerados os textos que discutiam a temática em questão com os descritores “teoria da autodeterminação” e “teoria da autodeterminação atividade física”.

Teoria da Autodeterminação (TAD) ou Self Determination Theory (SDT)

    A TAD é uma meta-teoria dialético-organística que representa os desafios atuais enfrentados pelos seres humanos em torno de assimilação e adaptação a ambientes sociais (Wilson, Mack e Grattan, 2008). Segundo o mesmo autor, o quadro atual da TAD evoluiu a partir de pesquisas iniciais para examinar os fatores que moldam a motivação intrínseca.

    Esta teoria é composta por subcomponentes que explicam os diferentes lados do crescimento humano e a assimilação e integração do ‘eu’ (self) com o mundo social – na literatura consultada, o termo “subcomponentes”, aparece com nomenclaturas variadas (miniteorias, minifases, subtópicos). Ressalta-se que, dependendo do autor consultado, o número de subcomponentes se altera, mas em todos os estudos pesquisados aqui se destacaram três subcomponentes: Cognitive Evaluation Theory (CET), Organismic Integrated Theory (OIT) e Basic Needs Theory (BNT). Os outros subcomponentes que aparecem nos demais textos são: Casuality Orientations Theory (COT) e Goal Contents Theory (GCT).

    Na fonte dos autores Hagger e Chatzisarantis (2008), a TAD tem três subtópicos (CET, OIT e BNT), enquanto que Wilson, Mack e Grattan (2008) adicionam o quarto subtópico (COT, que em seu artigo aparece como terceiro subtópico). Por último, fez parte deste trabalho à descrição do site www.selfdeterminationtheory.org/theory, que apresenta um quinto subtópico (GCT), mantém o COT como terceiro item e modifica o nome do subtópico BNT para BPNT.

    Para que a compreensão sobre a teoria seja a melhor possível, são explanados, resumidamente, todos os subcomponentes da TAD, seguindo das que receberam maior destaque pelos autores para as menos citadas.

    Cognitive Evaluation Theory (CET): Sabe-se que inicialmente, a TAD analisava os fatores da formação da motivação intrínseca (Deci, 1971 apud site Self Determination Theory), que basicamente é descrita hoje, após um período de evolução dessa teoria a Teoria da Avaliação Cognitiva, ou CET. Esse subcomponente descreve o impacto das necessidades psicológicas e as condições sociais sobre a propensão para regular o comportamento por razões intrínsecas (Deci, 1971 apud site Self Determination Theory). É baseada na satisfação em comportamentos “para seu próprio bem”. CET aponta especificamente os efeitos de contextos sociais na motivação intrínseca, ou a fatores como recompensas, controle interpessoal e o ego como impactantes na motivação intrínseca e interesse. A Teoria da Avaliação Cognitiva, como também é conhecida, destaca os papéis críticos pela competência e suporte a autonomia na promoção de motivação intrínseca, a qual é crítica em educação, artes, esportes e muitos outros domínios.

    Organismic Integration Theory (OIT): a Teoria da Integração Organística aborda o tema da motivação extrínseca nas suas diversas formas, com suas propriedades determinantes e conseqüências. De um modo geral, a motivação extrínseca é um comportamento instrumental, vai à busca de resultados externos ao comportamento. No entanto, existem formas distintas de instrumentalidade, que incluem: regulação externa (ganhar recompensas, evitar punições), introjetada (comportamento surge de contingencias administradas pelo ‘eu’, como autoestima, culpa, vergonha), identificada (comportamento é motivado por valores pessoais e não pelo comportamento em si), integrada (identificação com o comportamento) e intrínseca (satisfação interna do comportamento em si, sem contingencia externa) que formam um continuum graduado de estilos motivacionais diferente da distinção bipolar que CET oferece. Este continuum descreve o grau de interiorização que acompanha um comportamento e varia de altamente controlado para processos mais volitivamente aprovados (autodeterminados). OIT esta mais preocupada com os contextos sociais que melhoram ou evitam internalização, isto é com o que conduz as pessoas a serem persistentes, adotarem ou internalizarem profunda ou parcialmente metas, crenças, objetivos ou valores. OIT destaca suporte a autonomia e relacionamento como fundamental para a internalização.

    Basic Needs Theory (BNT) ou Basic Psycological Needs Theory (BPNT): este subcomponente preocupa-se com o papel das necessidades psicológicas básicas (competência, autonomia e relacionamento) em relação à motivação e bem estar. BPNT argumenta que o bem estar psicológico e funcional só é possível quando as três necessidades psicológicas básicas são suportadas ou satisfeitas – já que elas são complementares -, caso isso não aconteça ou alguma seja frustrada haverá distintos custos funcionais.

    Causality Orientations Theory (COT): delineia as diferenças individuais de personalidade com relação a como as pessoas são orientadas para o funcionamento autodeterminado ou controlado em vários domínios da vida. Esta teoria descreve e analisa três tipos de orientação de causalidade: 1) orientação autônoma (as pessoas agem por interesse e valorização do que está ocorrendo); 2) orientação controlada (o foco está sobre recompensas, ganhos, aprovações) e; 3) orientação impessoal ou desmotivada (caracterizado pela ansiedade quanto à competência).

    Goal Contents Theory (GCT): a Teoria do Objetivo Alcançado cresce fora das distinções entre objetivos intrínsecos e extrínsecos e seu impacto na motivação e bem estar. Os objetivos são vistos como diferencias para a satisfação das necessidades básicas e são, portanto, diferentemente associados ao bem estar. Seu princípio é que os fatores do contexto social (clima motivacional) tem efeito penetrante sobre a motivação e o comportamento. Um corpo crescente de literaturas no domínio do exercício apóiam essas ligações teóricas e parece que um clima motivacional para maestria promove adesão ao exercício que é atribuível a um contexto de reforço da motivação intrínseca e competência (este subcomponente é tratado por Hagger e Chatzisarantis (2008) como uma integração teórica para o desenvolvimento de pesquisas no campo do exercício e motivação, e não como um subcomponente da TAD).

    De acordo com a pesquisa realizada, os três subcomponentes, que foram explicados primeiramente, foram os mais citados e mais bem descritos pelos autores, o que sugere um grau maior de importância. Além disso, Wilson, Mack e Grattan (2008) afirmam em sua revisão que houve maior esforço empírico para descrever esses subtópicos em relação aos outros. Os mesmos autores afirmam que a literatura pesquisada por eles, em sua revisão, sugere que há um maior interesse focado inicialmente no CET, e mais recentemente no OIT e BNT, havendo menos esforço empírico para o COT. Nesse estudo não foi sequer citado o GCT.

    Edmunds, Ntoumanis e Duda (2009) apontam que muitos trabalhos que relacionam as necessidades psicológicas básicas com exercício utilizam CET como estrutura de organização e que para a utilização da BNT faltam pesquisas sistemáticas e instrumentos para avaliar as construções específicas que exerçam suas configurações.

    Tendo conhecimento sobre TAD, é importante compreendermos mais a fundo o que caracteriza a motivação autônoma e a motivação controlada, já que são esses os focos dentro das pesquisas motivacionais em contexto de exercício, o deslocamento no continuum motivacional.

Caracterização da motivação (regulação) autônoma e da motivação (regulação) controlada

    Pode-se dizer que são os extremos do continuum de motivação da TAD – sem a amotivação -, onde a motivação autônoma é regulada por fatores intrínsecos e a motivação controlada é regulada por fatores externos.

    A diferença entre motivação autônoma (autodeterminada) e motivação controlada (determinada por outros) pode ser bem sutil, mas as implicações são significativas tanto cognitivamente quanto em uma perspectiva comportamental. A TAD sugere que a principal diferença está relacionada à autonomia e que é o grau que se proporciona de autonomia ao sujeito que permitirá que este se mova ao longo do continuum de motivação.

    Pesquisas de Hagger e Chatzisarantis (2008) confirmam isso e trazem que formas de regulação autônomas estão positivamente relacionadas com resultados de adaptação comportamental e psicológica para o exercício físico.

    Isso é encontrado também no estudo de Rodgers e Loitz (2009), que consideram que quem se exercita relatando regulação identificada colhe benefícios tão bons quanto aqueles que relatam regulação autônoma em termos de bem estar e satisfação, o que pode levar pessoas que nunca apreciarão realmente o exercício a valorizá-lo. Em outras palavras, uma forma mais autodeterminada pode gerar comportamentos adaptativos e positivos assim como a autodeterminação em si.

    O quadro abaixo tenta sintetizar as diferenças entre os dois tipos de motivação trabalhada neste tópico.

Tabela 1. Quadro comparativo Motivação Autônoma e Motivação Controlada

Alguns dos instrumentos baseados na TAD

    As pesquisas sobre TAD incluem experimentos laboratoriais e estudos de campo em várias configurações diferentes. Assim, foram desenvolvidos muitos questionários para avaliar os diferentes construtos contidos na teoria.

    Os Sef-Regulation Questionnaires ou Questionários de Autorregulação (SRQs) são diferentes instrumentos que avaliam o grau em que a motivação de um individuo está para determinado comportamento ou domínio comportamental e a tendência a ser relativamente autônomo ou controlado.

    Cada questionário pergunta ao entrevistado o “por que” dele fazer determinado comportamento e fornece várias razões possíveis que foram pré-selecionadas para representar os diferentes estilos de motivação ou regulação.

    O tratamento dos SRQs tem sido muito utilizado em estudos de mudança de comportamento em ambientes de cuidados com a saúde, por isso, falaremos aqui do Treatment Self-Regulation Questionnaire (TSRQ).

TSRQ

    Esse questionário é derivado do TMQ (Treatment Motivation Questionnaire), foi utilizado pela primeira vez em 1998 por Williams et al em investigação com pacientes diabéticos e um artigo de validação desse instrumento foi publicado por Levesques et al em 2007, segundo site Self Determination Theory.

    Cada versão do TSRQ avalia o grau em que a motivação da pessoa é relativamente autônoma para os comportamentos de saúde.

    Na maioria das versões do TSRQ (o teor é diferente dependendo de quais comportamentos estão sendo avaliados) há duas subescalas: 1) regulação autônoma (motivação intrínseca e regulação por identificação) e, 2) regulação controlada (regulação externa e regulação por introjeção). Em alguns casos – dependendo do estudo – pode ser incluída uma terceira subescala, a amotivação. Dependendo da versão do TRSQ, haverá um numero de itens diferenciado (ex., TSRQ razões para iniciar um programa de controle de peso que apresenta 18 itens divididos em 4 grupos, sendo 6 para identificar a regulação autônoma e 12 para a regulação controlada; já o TSRQ razões para continuar em um programa de controle de peso tem 13 itens divididos em 2 grupos, onde 5 itens se referem a regulação autônoma e 8 à regulação controlada; e no TRSQ quanto a motivação para o comportamento saudável temos 15 itens que avaliam motivação autônoma (6), motivação controlada (6) e amotivação (3), divididos em 4 grupos), mas todos apresentam uma escala psicométrica de 01 a 07, para cada item, que é marcado pelo participante indicando o quanto verdadeiro é para si o motivo apresentado.

    Na pontuação geral do TRSQ, as médias das respostas para os itens autônomos formam a pontuação para regulação autônoma para o comportamento e, da mesma forma, se procede com os itens controlados, para regulação controlada do comportamento e, desmotivados, para a subescala amotivação quando houver.

    As subescalas são utilizadas separadamente, mas podem também serem combinadas em um Índice de Autonomia Relativa (RAI), que corresponde ao resultado da subtração da média da regulação controlada a partir da media da regulação autônoma.

    No TSRQ existem mais itens controlados que autônomos. Isso ocorre porque, como há muitos tipos diferentes de razões controladas para fazer um comportamento, mais itens são necessários para obter uma adequada confiabilidade.

    Vimos, também, no início deste trabalho que a TAD preconiza a qualidade do contexto social, podendo ser este mais controlado ou mais autônomo. Desta maneira se faz necessário avaliar o clima de intervenção e para isso utiliza-se o Health Care Climate Questionnaire (HCCQ) que descreveremos brevemente abaixo.

HCCQ

    É uma medida de 15 itens que avalia a percepção do individuo em relação aos seus profissionais de saúde, ou seja, em que medida estes os percebem como profissionais de saúde que dão apoio autônomo ou controlado, na intervenção em termos gerais ou específicos dos cuidados com a saúde.

    Os itens desse instrumento são redigidos de forma diferente, dependendo do fornecedor (medico, treinador, professores, gestores) ou contexto a ser avaliado (uma equipe de saúde ou um médico, por exemplo). Da mesma forma, também pode haver ajustes nos texto para questões de comportamento (dieta, exercício, consumir álcool).

    Além da versão com 15 itens, existe uma versão reduzida com 6 itens que apresenta, assim como a versão longa, alto índice de confiabilidade. O HCCQ utilizado no Health Care Self-Determination Theory Packet apresenta a versão reduzida.

    O HCCQ produz uma pontuação numa escala de 7 pontos, que indica o grau em que os fornecedores (medicos, cuidadores, professores) são percebidos como promotores de autonomia. As pontuações tanto na versão de 15 itens como na de 6 itens são calculadas pela média individual das pontuações nos itens. Escores mais altos indicam maior apoia a autonomia percebida.

    Estes dois instrumentos juntos somados ao PCS formam o Pacote de Autodeterminação para os cuidados com a saúde (HC-SDT ou Health Care SDT Packet) que foi desenvolvido para avaliar constructos no âmbito da Teoria da autodeterminação associados a comportamentos de saúde.

PCS

    O Perceived Competence Scale (PCS), também conhecido como Escala de Competência Percebida, é um instrumento de dimensão reduzida, composto por apenas 4 itens e que pretende avaliar o grau em que os participantes estão confiantes na sua capacidade de alterar ou de manter um comportamento tornando-o mais saudável, de participar num programa direcionado para a melhoria da saúde ou de realizar um determinado tratamento prescrito. O instrumento não possui subescalas sendo a sua cotação calculada com base na média dos valores dos quatro itens que o compõem. Ele é utilizado muito em conjunto com os SRQ (Self-Regulation Questionnaires) porque refere a determinados comportamentos ou domínios de comportamento, que pode ser facilmente adaptado para estudar comportamentos adicionais ou domínios comportamentais.

    Além dos descritos acima, a TAD trabalha com outros instrumentos que aparecem em trabalhos relacionados à prática de exercício e/ou atividade física, como o SDS e o Mpam-r.

SDS

    O Self-Determination Scale (SDS) ou Escala de Autodeterminação foi desenvolvida para avaliar diferenças individuais no modo como as pessoas tendem a funcionar de uma forma autodeterminada, que é considerado um aspecto relativamente duradouro da personalidade individual o qual reflete (1) estar mais consciente dos seus sentimentos e do modo como vê a si mesmo, e (2) possuir um sentimento de escolha face aos seus comportamentos. Este questionário apresenta uma escala pequena, com 10 itens, composto por duas subescalas de cinco itens. A primeira é o conhecimento de si próprio e a segunda é a percepção das escolhas nas próprias ações. As escalas podem ser utilizadas separadamente ou em conjunto utilizando-se para tal uma pontuação total do SDS.

Mpam-r

    A escala Motives for Physical Activity Measure-Revised (Mpam-r) desenvolvida por Ryan e cols. em 1997, é uma modificação da escala Motives for Physical Activity Measure desenvolvida por Frederyck e Ryan anteriormente, segundo o site self determination theory . A diferença da primeira versão para o Mpam-r, é que na primeira media-se a motivação para praticar atividade física ou desporto a partir de três subescalas, que segundo Gonçalves e Alchieri 2 (2010), são: 1) Interesse/Diversão: que se refere à motivação do interesse pela atividade em si mesma; 2) Competência: que diz respeito à busca por habilidade e competição; e 3) Motivos relacionados com o corpo: que se refere à busca por melhorar a aparência e a aptidão física. Já no Mpam-r usa-se cinco subescalas para esta mesma medida, sendo, de acordo com o site self determination theory, (1) Fitness, que se refere a ser fisicamente ativo fora do desejo de ser fisicamente saudável e ser mais forte e enérgica; (2) Aparência, que se refere a ser fisicamente ativo, a fim de se tornar fisicamente mais atraente, ter definido os músculos, para olhar melhor, e para conseguir ou manter o peso desejado, (3) Competência / Desafio, que se refere a ser fisicamente ativo por causa do desejo de melhorar a atividade, para enfrentar um desafio, e para adquirir novas competências; (4) social, que se refere a ser fisicamente ativo, a fim de estar com os amigos e conhecer pessoas novas, e (5) Prazer, que se refere a ser fisicamente ativo apenas porque é divertido, te faz feliz e é interessante, estimulante e agradável.

    O Mpam-r é uma escala que mede os motivos pelos quais as pessoas se engajam na prática de atividades físicas regulares através de 30 itens distribuídos em cinco subescalas já citadas anteriormente. Das cinco subescalas, tanto prazer como competência tem sido utilizadas para refletir uma orientação motivacional intrínseca, enquanto as outras três subescalas (fitness, aparência e social) são utilizadas para determinar os níveis de motivação extrínseca. As pontuações neste instrumento são avaliadas numa escala de Likert de sete pontos que vão desde um (nada verdadeiro para mim) a sete (totalmente verdadeiro para mim).

    Este questionário foi adaptado e validado em várias culturas, no Brasil foram os pesquisadores Gonçalves e Archieri (2010) que apresentaram a versão em Português com 5 subescalas e 26 itens e a nomearam como Escala de Motivação à Prática de Atividades Físicas – Revisada.

    Outros instrumentos que se baseiam na TAD, mas que não foram desenvolvidos pelos seus criadores e que são utilizados em pesquisas na área aqui delineada, são o BREQ-2 (Behavioral Regulation in Exercise Questionnaire-2) e o EMI-2 (Exercise Motivations Inventory-2). No Brasil também há instrumentos desenvolvidos para avaliar os construtos da TAD, dentre eles o IMPRAFE-126 (Inventário de Motivação para a Prática Regular de Atividade Física e/ou Esporte-126).

BREQ-2

    O Behavioral Regulation in Exercise Questionnaire-2 (BREQ-2), de acordo Markland (2011), o BREQ em sua primeira versão foi criado por Mullan, Markland & Ingledew em 1997 e mede os níveis de regulações motivacionais (intrínsecas e extrínsecas) do comportamento em relação ao exercício físico de acordo com a TAD e com as concepções da OIT para o continuum motivacional. No BREQ-2 além das medidas já existentes foi acrescentada a amotivação e após comprovações de sua validação e novas adaptações quanto às escalas avaliativas, por Markland e Tobin em 2004, foi colocado como mais um instrumento de pesquisa na área da psicologia da atividade física e exercício (Markland, 2011).

    Tal como acontece com outras medidas do continuum de autodeterminação, o BREQ e BREQ-2 podem ser utilizados tanto como um instrumento multidimensional dando resultados separados para cada subescala, ou como um índice unidimensional do grau de autodeterminação, conhecido como Índice Relativo de Autonomia (Ryan & Connell, 1989 apud Makland, 2011) ou Índice de Autodeterminação - IA (Viana, 2009). A escolha do método (multi ou unidimensional) vai depender do objetivo da pesquisa, das limitações impostas pelo tamanho da amostra e/ou as análises estatísticas pretendidas.

    Este questionário foi validado no Brasil por Viana (2009) e manteve a sua estrutura original, apenas foram feitas adaptações referentes a expressões de linguagens partindo da versão traduzida para o português europeu. Sendo assim, o BREQ-2, versão brasileira, é composto por 19 subescalas do tipo Likert com cinco opções de resposta, onde zero equivale a ‘não é verdade para mim’ e quatro a ‘muitas vezes é verdade para mim’, onde são avaliados os construtos: amotivação, regulação externa, introjetada e identificada e motivação intrínseca. Para o calculo do IA utiliza-se a seguinte fórmula: (3 x desmotivação) + (2 x regulação externa) + (1 x regulação introjetada) + (2 x regulação identificada) + (3 x regulação intrínseca). O índice pode variar de 24 (menor autodeterminação) a 20 (maior autodeterminação).

EMI-2

    O Exercise Motivation Inventory (EMI) mede o motivo específico para a participação no exercício – prazer, culpa, aptidão. Segundo Guedes, Legnani e Legnani (2012) por detrimento de algumas deficiências teóricas e metodológicas – tais como não contemplavam indivíduos sedentários nem em estágios iniciais da prática de exercícios, os aspectos motivacionais relacionados a saúde faziam referência apenas a aspectos clínicos –, apesar da sua validação, este foi melhorado e deu origem ao EMI-2. Os mesmos autores descrevem que o EMI-2 é constituído por 51 itens, agrupados em 14 fatores motivacionais onde o individuo se posiciona por meio de uma escala de Likert de seis pontos, onde zero refere-se a ‘nada verdadeiro’ e seis a ‘totalmente verdadeiro’. Este questionário permite avaliar os fatores motivacionais (intrínsecos e extrínsecos) para a prática de exercício físico de acordo com a TAD.

    Este questionário foi testado e validado no Brasil por Guedes, Legnani e Legnani em 2012 e sua versão traduzida apresenta 44 itens agrupados em 10 fatores. Não há no texto pesquisado destes autores o nome sugerido, no Brasil, para este questionário, mas a versão traduzida para o português europeu adota o enunciado ‘Questionário de Motivação para o Exercício’, que pode ser utilizado por nós.

IMPRAFE-126

    O Inventário de Motivação para a Prática Regular de Atividade Física e/ou Esporte (IMPRAFE-126) foi desenvolvido por Balbinotti em 2004 e constitui um instrumento que pretende medir seis das possíveis dimensões associadas à prática regular de atividade física e/ou esporte (Balbinotti e Barbosa, 2008).

    A sua criação surgiu da necessidade de adequação de escalas à cultura local, que tenham propriedades psicométricas que recomendem sua utilização e que não sejam simples traduções das escalas internacionais.

    Este inventário é constituído por 120 itens agrupados seis a seis, seguindo uma seqüência, de acordo com seu criador, das dimensões mais mencionadas nas literaturas da área (controle do stress, saúde, sociabilidade, competitividade, estética e prazer).

    As repostas são obtidas através de uma escala do tipo Likert de cinco pontos, onde 01 representa “isto me motiva pouquíssimo” a 05 “isto me motiva muitíssimo”. Este inventário também apresenta uma escala de verificação que permite a avaliação do nível de atenção do sujeito durante a aplicação do instrumento (Balbinotti e Barbosa, 2008).

Resultados de alguns estudos sobre TAD e exercício e/ou atividade física no Brasil

    Um estudo desenvolvido por Viana, Andrade e Matias (2010) que utilizou o BREQ-2 em estudantes do ensino médio, para coleta dos dados, demonstrou que adolescentes motivados mais intrinsecamente praticam mais exercícios físicos do que os que possuem uma maior regulação externa.

    Gonçalves e Archieri (2010a) realizaram uma pesquisa com praticantes de atividade física com idades entre 16 e 74 anos, aplicando o Mpam-r e verificaram que os participante deste estudo praticavam atividade física mais por motivos de saúde, diversão, aparência, competência e menos por motivos sociais. Além disso, constataram que os participantes do sexo feminino e os idosos indicaram praticar atividade física mais por motivos de saúde do que os homens e os participantes mais jovens.

    Em sua dissertação Liz (2011) investigou a motivação e a aderência à prática de musculação de clientes de academias através da aplicação de vários instrumentos entre eles o BREQ-2, onde pode concluir que os aderentes mostraram-se mais autodeterminados para a prática da musculação do que os desistentes e que os motivos de aderência relacionados à busca pela melhoria da saúde, estética corporal e lazer, estiveram associados às regulações mais internas.

    Balbinotti e colaboradores (2011) através da aplicação do Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física e Esportiva (IMPRAFE-126) encontraram diferenças significativas no tipo de motivação quando controlada a faixa etária, evidenciando que adolescentes são mais motivados intrinsecamente que adultos jovens e de meia-idade.

    Na pesquisa realizada com idosos por Maurer, Benedetti e Mazo (2011) aplicando o mesmo instrumento citado acima (IMPRAFE-126) e a Escala de Avaliação de Autoestima de Rosenberg (RSES), apesar de não se ter identificado associação entre os fatores de motivação e autoestima, foi encontrada uma tendência de associação positiva entre os fatores com regulação intrínseca e autoestima enquanto os fatores com regulação extrínseca tendiam a uma associação negativa. Isso fez com que as autoras sugerissem que a autoestima é uma das variáveis que sofre influencia das necessidades psicológicas básicas, que como vimos, é indispensável para desenvolvimento de comportamentos motivados mais intrinsecamente.

    Silva e colaboradores (2012) em seu estudo com adolescentes, utilizando o BREQ-2 como instrumento de coleta de dados, encontraram resultados que corroboram com a pesquisa desenvolvida por Viana, Andrade e Matias (2010) citada anteriormente e, foi além, apresentando dados consistentes que lhes permitiram concluir que meninos são mais autodeterminados para a prática de exercícios físicos e praticam mais tais atividades que as meninas e que faixa etária, sobrepeso e turno de estudo estão associados às regulações motivacionais. Este trabalho deixa claro que se devem diferenciar as populações (masculino e feminino) em estudos na área da motivação, pois em conjunto importantes diferenças poderão ser mascaradas.

    Na busca realizada encontraram-se outros artigos que utilizaram a TAD, mas estes não foram aproveitados nesta pesquisa por terem como foco as temáticas educacionais (ensino-aprendizagem).

Condições para promover o desenvolvimento da motivação autônoma

    A TAD está se tornando um ponto de vista teórico líder no campo do exercício, já que a teoria tem muito que oferecer em termos de prever comportamentos, compreender mecanismos comportamentais e modelos de intervenção (Hagger e Chatzisarantis, 2008). Isso é resultado de constantes questionamentos a cerca do valor da atividade física regular no combate ao início e progressões de doenças e a baixa freqüência, principalmente de adultos, em programas de promoção de exercício. Desta maneira, a TAD nos ajuda a compreender porque algumas pessoas se envolvem com fervor em atividades físicas enquanto outras preferem manter um comportamento sedentário.

    Nesta perspectiva, muitos pesquisadores têm integrado teorias para aumentar a compreensão a cerca da motivação em ambientes de exercício, o que é muito importante para o crescimento da área e o que contribuiu para o desenvolvimento de vários instrumentos que podem – e devem – ser utilizados por aqueles que buscam aprender mais sobre motivação para melhor orientar seus clientes/alunos. As sugestões de Means e Kilpatrick (2008) são: BREQ (Behavioral Regulation in Exercise Questionnaire), EMI (Exercise Motivation Inventory) – já descritos anteriormente – e entrevista motivacional.

    Mesmo diante de poucos estudos realizados no Brasil sobre a temática investigada, mas com apoio da literatura internacional, é possível verificar que comportamentos motivados autonomamente demonstram resultados mais positivos em relação a maior adesão às práticas de atividade e/ou exercício físico e que variáveis contextuais são fundamentais para criar ambientes adaptativos em busca de comportamentos mais ativos.

    Isto é confirmado por Edmunds, Ntoumanis e Duda (2009) que em seus estudos apontam que exercícios prescritos de forma a reforçar comportamentos mais autodeterminados terão maior probabilidade de desencadear resultados mais positivos em termos de adoção e adesão a exercícios físicos e promoção de bem-estar.

    Sendo assim, apresenta-se na seqüência uma tabela criada para facilitar o entendimento e aplicação de todos esses aspectos comprovadamente eficazes.

Figura 1. TAD e propostas para promoção de estilos de vida mais ativos

Considerações finais

    Ficou evidente que a qualidade da motivação regula o comportamento, que a satisfação das necessidades psicológicas básicas (competência, autonomia e relacionamento) leva a comportamentos motivados mais intrinsecamente e que as variáveis contextuais são importantes para criar um ambiente adaptativo para o comportamento saudável.

    Quanto à produção sobre a TAD no Brasil, ela ainda é pequena se comparada com as publicações na Europa e América do Norte, o que demonstra necessidade de mais estudos na área. Textos como o de Dumith (2008) e de Appel-Silva, Wendt e Argimon (2010) apontam para a importância de trabalhos desenvolvidos com a TAD e com outras teorias que investiguem o comportamento humano para a prática de atividade física ou para a saúde e trazem também um caráter de incentivo a esta prática investigativa.

    Além disso, são poucos os instrumentos validados no Brasil que são baseados na TAD e que permitem avaliar o continuum motivacional (diferentes tipos de regulação motivacional) e a amotivação, entre eles temos o BREQ-2 (Behavioral Regulation in Exercise Questionnaire-2) versão adaptada e validada por Vieira em 2009 conhecido como Questionário de Regulação de Comportamento no Exercício Físico-2, o EMI-2 (Exercise Motivation Inventory-2) testado e validado por Guedes, Legnani e Legnani em 2012 e o MPam-r (Motives for Physical Activity Measure – Revised) versão adaptada e validada por Gonçalves e Archieri em 2010 chamada de Escala de Motivação à Prática de Atividades Físicas - Revisada, sendo os dois primeiros os mais utilizados e os mais indicados para aplicação por profissionais da área da saúde, por ser de fácil e rápida aplicação e interpretação. Mesmo com o desenvolvimento de instrumentos próprios, como o IMPRAFE-126, a aplicação deste é recente e necessita de maior divulgação. Outros instrumentos citados neste trabalho também merecem atenção de pesquisadores e poderão ser traduzidos, adaptados e validados para nossa língua, servindo de instrumentos para pesquisas futuras.

    Quanto à utilização de tais instrumentos, faz-se a ressalva de que deve ser levado em consideração a faixa etária, o sexo e as condições socioeconômicas como fatores de confusão para conclusões mais assertivas ao se avaliar o continuum motivacional.

    Em síntese, as construções motivacionais implícitas que influenciam o comportamento e os resultados advindos destes comportamentos, independentes de orientações motivacionais explícitas, merecem atenção e mais investigação, uma vez que poderão complementar os estudos na área da psicologia da atividade física, principalmente no Brasil, podendo levar a modificações na postura do profissional de educação física em como agir para motivar seu cliente/aluno em busca de maior adesão e, conseqüentemente, adoção de estilos de vida mais saudáveis.

    Na produção deste artigo não se buscou esgotar todo o conteúdo sobre TAD, mas fazer uma introdução ao assunto; teve-se a ambição de ir além do seu objetivo principal – entender o papel da TAD em contextos de exercício e/ou atividade física –, com a pretensão de chamar a atenção para esta temática e tentar despertar interesse de pesquisadores em se embrenharem por este caminho.

    A TAD merece a atenção não só de profissionais da área de psicologia, mas também da educação física e da saúde devido a seu caráter multidisciplinar e orientador.

    Entender o ser humano em todas as suas nuances é algo complexo e devemos nos pautar em todos os conhecimentos existentes para buscar uma verdade útil e promissora para a promoção de estilos de vida ativa.

Referencias

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 19 · N° 191 | Buenos Aires, Abril de 2014
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