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Núcleos de apoio à saúde da família e as ações desenvolvidas

pelos profissionais de Educação Física: um estudo de caso

Núcleos de apoyo a salud de la familia y las acciones desarrolladas por los profesionales de Educación Física: un estudio de caso

Support nucleus family’s healthy and actions developed by the Physical Education professional: a case study

 

Universidade Federal de Alagoas

Campus A. C. Simões

Maceió, AL

Evaldo Fábio da Silva

professorfabioedf@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Em 24 de janeiro de 2008 foram criados os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), através da portaria154/MS, na qual foi incluído o profissional de Educação Física como um dos profissionais que podem compor as equipes dos NASF (ENASF). Desta forma, o estudo teve como objetivo verificar as ações desenvolvidas pelos profissionais de Educação Física dos NASF de Arapiraca - AL. Este estudo descritivo, de caráter qualitativo do tipo estudo de caso teve a participação de três voluntários. Foi utilizado o modelo de entrevista não estruturada. Após a coleta foi feita uma análise de discurso. O conteúdo foi dividido em quatro categorias temáticas, Identificação dos núcleos, Atividades desempenhadas, Resultados apontados e Avaliação dos núcleos. Foram citadas pelos profissionais atividades como, educação em saúde, visitas domiciliares e as atividades físicas orientadas. Dentre os resultados, os mais comuns, diminuição e/ou desaparecimento de dores crônicas, controle da pressão arterial, circunferência abdominal reduzida, controle da glicemia e socialização. Finalmente, este estudo constatou que além das atividades consideradas pelos profissionais como próprias da sua área, estes também desempenham outras em auxílio aos profissionais que compõem as ENASF.

          Unitermos: NASF. Atenção básica. Profissional de Educação Física.

 

Abstract

          On January 24, 2008 were created the Support Nucleus Family’s Healthy (NASF) by governmental decree 154/MS, when was included the Physical Education professional as one of the professional that can make staff the NASF (ENASF). Thus, the study aimed to verify the actions developed by physical education professionals of the NASF Arapiraca - AL. This descriptive, qualitative, study of the kind case study had participation by three volunteers. Was used the model of an unstructured interview. After collecting data was making an analysis of discourse. The content was divided into four thematic categories, identification of the nucleus, activities performed, results indicated, evaluation of the nucleus. Were cited for professionals activities such as health education, home visits and guided physical activities. Among the results, the most common, reduction and/or disappearance of chronic pain, blood pressure control, reduced waist circumference, glycemic control and socialization. Finally, this study found that in addition to the activities considered by professionals as appropriate to their area, they also give assistance to professionals who make up the ENASF.

          Keywords: NASF. Primary care. Professional Physical Education.

 

          O artigo foi apresentado no VIII SIEFLAS, Seminário Internacional de Educação Física, Lazer e Saúde e publicado nos anais do evento (ISBN 978-989-8537-00-3 / 978-989-8537-01-0). O evento foi realizado em São Luiz, Maranhão, de 31 de julho a 03 de agosto de 2012.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O Programa Saúde da Família (PSF), iniciado em 1994, foi estabelecido em consonância com os princípios do SUS com a comunidade, centrado na proteção e promoção da saúde dos indivíduos e da família (CICONI, VENANCIO e ESCUDER, 2004). Mais de uma década depois, em 2006, foi aprovado no Conselho Nacional de Saúde o documento das diretrizes operacionais dos pactos pela vida, em defesa do SUS e de gestão, o chamado pacto pela saúde. Este documento reafirmou o fortalecimento da atenção básica em saúde e passou a tratar o PSF não mais como programa, mas como estratégia prioritária para este fortalecimento. (BRASIL, 2006b).

    Ainda em 2006, entrou em vigor a portaria 687/MS que criou a Política Nacional de Promoção da Saúde com o objetivo de “Promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes.” (BRASIL, 2006ª, p. 17).

    Em meio a este contexto nascem os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), através da portaria 154/MS de 24 de janeiro de 2008, com o objetivo de “ampliar a abrangência e o escopo das ações da atenção básica, bem como sua resolubilidade, apoiando a inserção da estratégia de Saúde da Família na rede de serviços e o processo de territorialização e regionalização a partir da atenção básica.” (BRASIL, 2008, p.38). Porém, os critérios para implantação destes núcleos não eram tão simples. Mas, a partir da publicação da portaria 2.488/MS de 21 de outubro de 2011, Política Nacional de Atenção Básica, qualquer município com mais de duas equipes de saúde da família (ESF) pode implantar o NASF, podendo implantar as duas modalidades, respeitando critérios, NASF 1 e NASF 2, concomitantemente, sem aumento de incentivos financeiros federais. (BRASIL, 2011a)

    Os valores repassados do Fundo Nacional de Saúde aos Fundos Municipais de Saúde para implantação e custeio continuam sendo de R$20.000,00 (vinte mil reais) para o NASF1 e de R$6.000,00 (seis mil reais) para o NASF2 (BRASIL, 2011b). Todavia, cabe aos gestores municipais a composição do(s) NASF, segundo critérios de prioridade e necessidades locais. (BRASIL, 2011a).

    As atividades físicas e práticas corporais como uma das nove áreas estratégicas do NASF e o incentivo às práticas corporais/atividade física, como um dos sete eixos temáticos de atuação da Política Nacional de Promoção da Saúde (BRASIL, 2009), contribuíram para que o profissional de Educação Física fosse incluído como um dos profissionais que podem compor as equipes dos NASF (ENASF).

    Neste sentido, o estudo teve como objetivo principal, verificar quais as ações que estão sendo desenvolvidas pelos profissionais de Educação Física dos NASF do município de Arapiraca, estado de Alagoas.

2.     Materiais e métodos

    Estudo descritivo de caráter qualitativo do tipo estudo de caso, cujo grupo pesquisado foi formado por três profissionais de Educação Física dos NASF do Município de Arapiraca.

    Para inclusão no processo os voluntários tinham que ser profissionais de Educação Física e estar atuando num dos quatro NASF do município. Desistir de participar e o desligamento de forma permanente do NASF antes da coleta dos dados foram estabelecidos como critérios excludentes.

    Para a coleta de dados foi utilizado o modelo de entrevista não-estruturada, um gravador de voz digital Panasonic RR-US450 e um roteiro para as entrevistas.

    Os voluntários aceitaram participar do estudo mediante assinatura no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e, em horário e local escolhido por eles, um a um, foram entrevistados.

    Após a realização das entrevistas foi feita uma análise de discurso que, segundo Chizzotti (2006), é a análise de idéias, conhecimentos e expressões que podem ser identificadas num texto ou fala.

    O projeto deste estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Alagoas (CEP/UFAL) protocolo 023566/2010-31, e o sigilo das identidades e o direito de desistir, sem prejuízos, foram garantidos.

3.     Resultados e discussão

    Após a análise dos dados, o conteúdo foi dividido em quatro categorias temáticas, Identificação dos núcleos, Atividades desempenhadas, Resultados apontados e Avaliação do núcleo.

    Os entrevistados receberam os seguintes códigos: E1, E2 e E3, garantindo assim, o sigilo de suas identidades.

3.1.     Identificação dos Núcleos

    Nesta categoria temática os profissionais falaram sobre assuntos como formação acadêmica, o NASF em que atuam, caracterização da região e população atendida.

    Todos possuem Licenciatura Plena em Educação Física, formados a partir e posteriormente a 2003. Além disso, E2 é pós-graduado, Especialista em Fisiologia do Exercício.

    Os NASF I, II e IV do município de Arapiraca cobrem sete regiões/unidades básicas de saúde (áreas cobertas), e os grupos de atividade física são formados, em sua maioria, por idosos, hipertensos e diabéticos que fazem as atividades em um ritmo considerado leve, pelos entrevistados. Sharkey (2006) aponta parâmetros para uma atividade leve como a caminhada, freqüência cardíaca abaixo de 120bpm, respiração fácil e equivalente metabólico (MET) não superior a 4,0.

    Foram descritos, pelos profissionais, diversos espaços onde são realizadas as atividades, inclusive, as próprias unidades básicas de saúde, ruas, praças, ginásios de esporte e outros.

3.2.     Atividades desempenhadas

    Os entrevistados falaram sobre todas as ações que desenvolvem nos NASF, citando, educação em saúde, orientação para grupos já existentes na comunidade, visitas domiciliares e as atividades físicas orientadas.

    Nos trechos abaixo ficam evidentes, principalmente, a educação em saúde e as atividades físicas.

E1: A gente entra com essa parte de palestras, de educação em saúde [...] entra também com essa parte de atividade física [...]

E2: O professor de Educação Física ele trabalha bastante com educação em saúde na atenção básica [...] bem como logicamente a parte de atividade física [...]

    Educação em saúde, para Machado, Leandro e Michaliszyn (2006), deve ser entendido como aprendizado e otimização de um conjunto de ações voluntárias que induzam o indivíduo a adotar um comportamento desejável para a promoção da saúde.

    Em seguida eles falaram sobre as atividades que consideravam próprias do profissional de Educação Física, citando, as desenvolvidas com os grupos de atividade física como, caminhadas, ginástica localizada, brincadeiras e avaliações. Tritschler (2003) afirma que para se tomar decisões consistentes, com alto nível de qualidade e credibilidade as avaliações formais são essenciais.

    Também foram citados, educação em saúde e a promoção de eventos que incentivem a prática de atividades físicas e às transforme em um hábito.

    Os grupos de atividade física se reúnem duas vezes por semana para atividades que duram de vinte a sessenta minutos a depender do nível dos grupos. Powers e Howley (2005) citam que com o mínimo de duas sessões de exercícios por semana a aptidão cardiorrespiratória já apresenta melhorias e salientam que quanto maior a frequência semanal há a estabilização desses ganhos e que indivíduos sedentários conseguem fazer uma sessão de exercícios de longa duração e baixa intensidade muito mais facilmente que o contrário. Além disso, não existem grupos definidos por critérios, por exemplo, como doença. É o que podemos evidenciar no trecho:

E3: [...] no início a gente focou nos grupos, hipertensos, diabéticos [...] não existem grupos específicos, a gente junta o maior número de pessoas possível para fazer as atividades [...]

    Segundo os entrevistados os grupos diferentes dos de atividade física fazem, basicamente, educação em saúde e alongamentos para desenvolver flexibilidade; capacidade motora influenciada ambiental e geneticamente que pode ser mantida ou desenvolvida com o alongamento (JÚNIOR, 2009). Wilmore e Costill (2001) sugerem que os exercícios para desenvolver flexibilidade são úteis para indivíduos com problemas como lombalgia.

    Enfim, parece que a educação em saúde e os grupos de atividade física são os focos do profissional de Educação Física dos NASF.

3.3.     Resultados apontados

    Os entrevistados falaram sobre as avaliações realizadas e a dificuldade para fazer reavaliações devido à rotatividade dos grupos, como a seguir:

E3: [...] verificar pressão também é um fator muito importante, a gente tenta acompanhar a glicemia, tudo isso são coisas que tem na unidade e da pra acompanhar [...] a gente até faz avaliação, mas o grupo, às vezes, é tão mutável que, por exemplo, ficam 10 pessoas do grupo anterior e da pra avaliar, mas, às vezes, existem umas evasões assim que a gente não entende [...]

    Os resultados mais citados pelos entrevistados foram, a melhoria de disposição dos participantes, diminuição e/ou desaparecimento de dores crônicas, diminuição da quantidade de medicamentos ingeridos, sob orientação médica, socialização e a melhoria de quadros de cunho depressivo.

    Para Sharkey (2006), dores crônicas comuns como as das costas podem ser minimizadas e até desaparecer graças a exercícios abdominais e de flexibilidade dos músculos das costas e isquiotibiais. Além disso, o controle de outros problemas como a ansiedade e depressão também são influenciados pela atividade física regular.

    Em conformidade com este autor, estão os trechos a seguir:

E1: [...] pelos depoimentos que a gente recebe do tipo: “sentia dor na coluna hoje em dia não sinto mais”, “sentia dor nas pernas e a dor ta diminuindo” [...]

E2: [...] a gente ta tendo muitos bons resultados, principalmente, de controle de pressão arterial e diminuição da circunferência abdominal, a gente tava até tendo bons resultados com a psicóloga [...] ela disse que até os resultados de alguns pacientes que estavam tendo problemas de cunho depressivo melhoraram bastante com o advento da atividade física [...]

    Outros resultados importantes foram o controle da pressão arterial, da glicemia e diminuição da circunferência abdominal, pois, existe relação entre o surgimento de problemas como diabetes tipo II, obesidade e hipertensão. Shephard (2003) mostrou que no diabetes tipo II, a perda de sensibilidade à insulina, geralmente é maior nos músculos em relação ao tecido adiposo, favorecendo um acúmulo de gordura, que por sua vez, tende a aumentar o trabalho cardíaco, podendo provocar hipertensão.

    Para chegar a estes resultados todos os entrevistados disseram utilizar a observação dos grupos e os depoimentos dos indivíduos dos grupos como principal fonte. Apenas E2 alegou já ter dados sendo tabulados:

E2: [...] houve duas ou três avaliações físicas e a gente ta tendo muitos bons resultados [...] estes dados tão sendo tabulados ainda [...]

E3: [...] faço a avaliação visual, então quanto mais pessoas estiverem no grupo mais pessoas estão ativas na comunidade [...] resultados também das próprias falas dos pacientes [...]

    Os resultados apontados nesta categoria só ratificam a importância do profissional de Educação Física na atenção básica.

3.4.     Avaliação do Núcleo

    Todos os profissionais avaliaram positivamente os seus núcleos, comentaram a falta de melhor estrutura física para as atividades e, que o número de núcleos não é suficiente para atender a população do município, como pode ser observado a seguir:

E1: [...] na minha visão a gente ainda tem muito poucos NASF.

E3: [...] a falta de material de avaliação física, a gente faz com o que dá [...]

    O trabalho do profissional de Educação Física na atenção básica foi classificado como imprescindível e indispensável à prevenção, como no relato a seguir:

E2: [...] impossível falar de prevenção sem falar do profissional de Educação Física [...] nós somos profissional indispensável dentro da saúde pública deste país [...] esse espaço ainda é pequeno, mas depende da gente fazer esse espaço cada vez maior [...]

    São consideradas medidas preventivas todas as utilizadas para evitar ou diminuir as conseqüências das doenças, sendo classificadas como prevenções, primária, secundária e terciária (PEREIRA, 2008). O sedentarismo é o fator de risco mais freqüente para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares degenerativas (Weineck, 2005) e as atividades físicas aeróbias já eram prescritas, segundo, Pollock e Wilmore (1993), para indivíduos com sintomas de doença coronariana ou que já tinham tido um infarto do miocárdio colocando a atividade física no âmbito da prevenção secundária e sugerindo sua inclusão na prevenção terciária.

4.     Conclusão

    A criação dos NASF e a inclusão do profissional de Educação Física como profissional da atenção básica em saúde, ainda que modesta, é um passo importante para o serviço público de saúde, pois o sedentarismo tem sido amplamente divulgado como fator de risco para o surgimento de doenças crônicas não-transmissíveis.

    Diante disso, este estudo que teve como objetivo verificar as ações desenvolvidas pelos profissionais de Educação Física nos NASF de Arapiraca, constatou que além das atividades consideradas como próprias da sua área, estes também desempenham outras em auxílio aos profissionais das ENASF. Além disso, as melhorias apontadas no quadro geral de saúde dos indivíduos mostram a importância da atividade física para a saúde.

    Por outro lado, a escassez de bons espaços para os grupos de atividade física e a falta de alguns materiais dificulta o trabalho dos profissionais de Educação Física nos NASF de Arapiraca que, apesar disso, contempla as diretrizes do NASF. Porém, a falta de dados tabulados é o ponto negativo do trabalho dos profissionais neste estudo.

    Desta forma, apesar do número pequeno de profissionais entrevistados, esta pesquisa visou contribuir para o debate sobre o trabalho do profissional de Educação Física no âmbito da atenção básica e propõe que novos estudos sejam realizados neste sentido.

Referências

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