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Desempenho físico de atletas em região endêmica

Rendimiento físico de atletas en una región endémica

 

*Dr. em Biologia Experimental

Pós- Doutorando pela Fiocruz. Unidade de Rondônia

Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia

Integrante do Grupo de Estudos do Desenvolvimento e da Cultura Corporal

**Dr. em Bioquímica

Professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Rondônia

Vice- Presidente da Fundação Oswaldo Cruz

***Dr. em Parasitologia

Vice-Diretor de Pesquisa e Laboratório da Fundação Oswaldo

Cruz – Unidade de Rondônia

****Dr. em Biologia Experimental

Diretor técnico do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical/CEPEM

*****Dra. em Sociologia e professora de Educação Física

Professora do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia

Diretora do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia

Líder do Grupo de Estudos do Desenvolvimento e da Cultura Corporal

Ramón Núñez Cárdenas*

Rodrigo Guerino Stabeli**

Luiz Hildebrando Pereira da Silva***

Mauro Shugiro Tada****

Ivete de Aquino Freire*****

rnunezcardenas@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Considerando que o estado de Rondônia é vulnerável a endemicidade da malária e como localidade da região Amazônica, está entre as áreas consideradas holoendêmicas de anemia ferropriva, a pesquisa teve como objetivo avaliar o desempenho físico de atletas com história de anemia e infecção por Malária e atletas sadios da cidade de Porto Velho. Para avaliar o desempenho físico dos atletas foram aplicados os seguintes testes físicos: 1) o Protocolo de COOPER (1972) – Teste de 12min. O objetivo é Mesurar o VO2máx verificando a maior distância percorrida em 12 minutos; 2) Para a avaliação da força isotônica concêntrica dos indivíduos esportistas foi utilizado o Protocolo de Robertson - Teste de flexão do tronco (Robertson, 1993). O protocolo busca mensurar a força isotônica concêntrica repetitiva de abdômen, em sujeitos acima de 12 anos de idade, verificando o maior número de repetições do movimento de flexão total do tronco, executadas em 1 minuto; 3) Para avaliar a força isotônica repetitiva dos indivíduos esportistas foi utilizado o Protocolo de Welley & Sons - Teste de flexão de braços (Welley & Sons, 1978); 4) Para avaliar a flexibilidade foi utilizado o Protocolo de Golding & Miers - Teste de flexão do tronco (Golding & Miers, 1989); 5) Para avaliar a velocidade foi utilizado o teste de 50m (Johnson e Nelson (1979). Para a análise das variâncias das duas amostras utilizou-se o test-f e para as análises das médias de ambas as amostras foi utilizado o teste-t. Considerou-se o nível de significância de 5% (p<0,05). Os resultados apontaram para diferenças significativas entre o desempenho físico do grupo de atletas com histórico de anemia e infecção por malária e indivíduos sadios; os melhores resultados foram observados nos atletas sem história de anemia e infecção por malária.

          Unitermos: Desempenho físico. Atletas. Região endêmica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 190, Marzo de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Com o advento dos Jogos Olímpicos de 2016 a serem realizados no Brasil, o governo do país estabeleceu políticas no âmbito do esporte tendo como desafio projetar a nação como potência esportiva mundial. Tais políticas, em fase de organização, tiveram como ponto de partida a Conferência Nacional de Esportes e Lazer, que mobilizou todos os estados da Federação e Distrito Federal (MINISTÉRIO DO ESPORTE, 2010).

    Entretanto, as práticas esportivas, tanto do ponto de vista amador como profissional, com ou sem incentivo dos governos federal, estaduais e locais em alguma medida, são verificadas em todo o Brasil. No município de Porto Velho este fenômeno não ocorre de modo diferente. Se por um lado trata-se de uma região cuja população apresenta motivação para a prática esportiva; por outro lado é também uma localidade do Brasil onde as condições de moradia de grande parte da população, são propícias para o elevado risco de doenças infecto-contagiosas, por exemplo. Porto Velho é considerado uma cidade endêmica, com potencial impacto para a saúde pública.

    Atualmente, a transmissão da malária no Brasil está basicamente restrita a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins). Em 2006, os municípios de Cruzeiro do Sul (AC), Manaus (AM) e Porto Velho (RO) foram responsáveis por 22,59 % do total de casos de malária da Amazônia (VENTURA, 2010).

    A malária é uma doença infecciosa, aguda ou crônica causada por protozoários parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada do mosquito Anopheles. As manifestações iniciais desta doença são febre, sensação de mal estar, dor de cabeça, dor muscular, cansaço e calafrios. No homem, os esporozoítos infectantes se direcionam até o fígado, dando início a um ciclo de aproximadamente, seis dias para Plasmodium falciparum, oito dias para a Plasmodium vivax e 12 a 15 dias para a Plasmodium. malariae, reproduzindo-se assexuadamente até rebentarem as células deste local (no mosquito, a reprodução destes protozoários é sexuada). Após esses eventos, espalham-se pela corrente sanguínea e invadem hemácias, até essas terem o mesmo fim, causando anemia no indivíduo (DEANE, 1989).

    Diversos autores afirmam que qualquer episódio de malária leva a algum grau de anemia, em especial a anemia produzida pela hemólise intravascular. Tal relação é explicada pela ruptura das hemácias (provocada mais especificamente pelo protozoário Plamodium falciparum) bem como a dificuldade gerada na produção destas (VENTURA 1999). As hemólises intravasculares são definidas como patologias nas quais ocorre destruição precoce das hemácias mediada por auto-anticorpos fixados a antígenos da membrana eritrocitária. Essa fixação imune desencadeia uma série de reações em cascata que termina na hemólise dessas células (PINTO, 2001).

    Relacionando ao tema desta pesquisa, a hemólise intravascular entre outros aspectos também ocorre em diversos esportes como corridas, ginástica aeróbica, lutas, levantamento de pesos e mesmo na natação. Se dá pelos traumas característicos do esporte (EICHNER, 2001). A hemólise esportiva é normalmente suave. Assim, comparados a população em geral, os atletas, principalmente os que participam de provas de resistência, tendem a apresentar concentrações de hemoglobina levemente inferiores. Esta condição é conhecida como “Pseudoanemia dilucional”, “anemia do desportista” ou “falsa anemia”. Esta alteração se dá porque as práticas de exercícios regulares, com características aeróbicas provocam um aumento no volume de plasma sanguíneo que dilui as hemácias e baixa a concentração de hemoglobina (SELBY, EICHNER, 1986). Entretanto, estudos indicam que esta concentração mais baixa de hemoglobina por unidade de sangue não prejudica o desempenho físico máximo, uma vez que essa desvantagem potencial pode ser completamente compensada pelo aumento do volume sistólico cardíaco causado pelo aumento do volume sanguíneo (EICHNER, 1986).

    Anemia é a quantidade insuficiente de hemoglobina para fornecer oxigênio aos tecidos. A principal função desta proteína nas hemácias é o transporte de oxigênio dos pulmões para os tecidos. Neste caso, havendo diminuição de hemoglobina, os níveis de oxigenação se encontraram prejudicados. Assim, de modo em geral, um indivíduo atleta com anemia que pratique exercícios agudos e vigorosos, tem reduzido o volume plasmático em 10 a 20% (NAGASHIMA, 2000; CLINE, 2000). Os sintomas da deficiência de hemoglobina pioram com a atividade física e aumentam quanto menor o nível de hemoglobina. Com níveis de hemoglobina entre 9 e 11 g∕dL estão presentes os sintomas como irritabilidade, indisposição e dor de cabeça, entre 6 e 9 há aceleração dos batimentos cardíacos, falta de ar e cansaço aos mínimos esforços; e quando a concentração de hemoglobina chega a valores abaixo 6g ∕dL ocorrem os sintomas acima mesmo em repouso (PANCORBO, 2008).

    A deficiência de ferro tem sido apontada como causa mais comum da verdadeira anemia em atletas. A ingestão insuficiente de ferro por parte dos atletas pode prejudicar a capacidade de transporte do oxigênio, interferindo no treinamento esportivo e diminuindo, por sua vez, o desempenho atlético (THOMPSON, 1998).

    Os estudos abordando a temática anemia no campo esportivo são limitados. Os descritos na literatura predominam a população não atleta; sobretudo investigações voltadas ao crescimento físico (SILVA, 1992), aos hábitos e às preferências alimentares (DOYLE E FELDMAN, 1997) e à ocorrência de anemia ferropriva (LIMA, 2002). Do mesmo modo, no campo esportivo, não foram localizados estudo que envolva a temática da malária e da anemia e suas correlações.

    Ora, se a literatura atual afirma que o estado de Rondônia é vulnerável a endemicidade da malária; está entre as áreas consideradas holoendêmicas de anemia ferropriva (CARDOSO, FERREIRA CAMARGO E SZARFAC, 1992); do mesmo modo qualquer episódio de malária leva a algum grau de anemia (DEANE, 1986); e por outro lado, a prática esportiva intensa contribui para a deficiência orgânica de ferro em atletas (EICHNER, 1986), é legítimo, portanto, interrogar-se quais o desempenho físico dos atletas com histórico de anemia e malária; aqueles considerados sadios.

Método

    Nesta pesquisa, intitulada “Desempenho Físico de atletas em Região Endêmica” realizou-se um estudo descritivo-comparativo. Fizeram parte do estudo um grupo de indivíduos atletas com história de anemia e infecção por malária e outro grupo de indivíduos atletas sadios do sexo masculino e feminino. Ambos os grupos foram submetidos à avaliação Física. Esta pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética em pesquisa do Núcleo de Saúde – CEP/NUSAU através da carta: 002/2011/CEP/NUSAU.

Tabela 1. Algumas características da amostra utilizada

Etapas do estudo

Etapa 1 (Seleção dos grupos de estudo)

a.     Desenho amostral

    O processo metodológico da pesquisa iniciou-se com a definição dos grupos de estudos, a partir das seguintes ações: a) levantamento dos atletas federados e confederados no município de Porto Velho e convite para participação na pesquisa. O contato com os atletas se deu através das federações esportivas. b) identificação dos indivíduos atletas que apresentaram histórico de Anemia e Malária, assim como do aqueles que não apresentaram histórico de Anemia e Malária. Os atletas que fizeram parte da amostra foram selecionados aleatoriamente.

b.     Coleta de dados

  • Equipe Técnica

    Para o processo de coleta de dados foi formada uma equipe Multidisciplinar, incluindo Médico e profissionais de Educação Física.

Instrumentos de Coleta de Dados

    Antes da coleta de qualquer informação, os indivíduos foram informados sobre os objetivos da pesquisa bem como de sua participação segundo a resolução CNS 196/96. Após as explicações, o entrevistador apresentou aos participantes o Termo de Consentimento livre e Esclarecido (TCLE). Um questionário foi também utilizado como instrumento de coleta de dados, objetivando resgatar um conjunto de dados e informações relativas à caracterização do grupo investigado. O questionário foi testado em um pequeno grupo para verificar as dificuldades de linguagem, entendimento das questões, tempo de aplicação, receptividade dos atletas, tempo necessário de treinamento.

    Outros instrumentos de coleta de dados foram utilizados conforme se descreve a continuação.

Etapa 2

a.     Avaliação Física

  • Para a avaliação da capacidade aeróbia dos esportistas foi utilizado o Protocolo de COOPER (1972) – Teste de 12 Min. O objetivo é Mesurar o VO2máx verificando a maior distância percorrida em 12 minutos.

  • Para levantar dados antropométricos, foram utilizados protocolos específicos para identificação do peso e da estatura.

  • Avaliação dos Parâmetros Neuromusculares. Foram utilizados os seguintes parâmetros:

    • Força- Contração muscular: É o parâmetro funcional neuromuscular, expresso pela capacidade de um músculo isolado ou grupo de músculos, em gerar uma determinada tensão contra uma resistência opositora qualquer (Sanpedro, 1997). Para a avaliação da força isotônica concêntrica dos indivíduos esportistas foi utilizado o Protocolo de Robertson- Teste de flexão do tronco (Robertson, 1993). O protocolo busca mensurar a força isotônica concêntrica repetitiva de abdômen, em sujeitos acima de 12 anos de idade, verificando o maior número de repetições do movimento de flexão total do tronco, executadas em 1 minuto.

    • Para avaliar a força isotônica repetitiva dos indivíduos esportistas foi utilizado o Protocolo de Welley & Sons - Teste de flexão de braços (Welley & Sons,1978).

    • Flexibilidade – Mobilidade Articular: É o parâmetro funcional neuromuscular, representado pelo raio da ação de uma articulação ou grupos de articulações num determinado sentido e além de seus limites fisiológicas funcionais, porém, sem causar lesão. Para avaliar a flexibilidade foi utilizado o Protocolo de Golding & Miers - Teste de flexão do tronco (Golding & Miers (1989).

    • Velocidade - Teste de velocidade de 50m dos autores (Johnson e Nelson (1979).

    • Estas avaliações físicas foram realizadas ao final do período de preparação especial (prévio à competição).

Análise estatística dos dados

    Para a análise das variâncias das duas amostras utilizou-se o test-f e para as análises das médias de ambas as amostras foi utilizado o teste-t. Considerou-se o nível de significância de 5% (p<0,05).

Resultados e discussão

Resultados do desempenho físico dos atletas com história de anemia e malária e atletas sadios (basquetebol, voleibol, artes marciais mistas e taekwondo) dos gêneros masculino

Tabela 2. Síntese dos resultados do desempenho físico dos atletas com história de anemia e malária e atletas sadios dos esportes coletivos e individuais do gênero Masculino

    Quando analisada as variâncias e média das qualidades físicas que foram avaliadas em ambos os grupos estudados do sexo masculino (atletas com história de anemia e malária e atletas sadios) através do teste f, se aceita a hipótese nula (p(f<=f) > 0,05), ou seja, a variância dos atletas com história de anemia e malária não é diferente as de atletas sadios.

    Analisada a variância para ambas as amostras (atletas com história de anemia e malária e atletas sadios), utilizou-se o teste-t para duas amostras presumindo variâncias equivalentes. Teve-se como resultado, que existe diferença significativa entre as médias em ambos os grupos nas avaliações físicas de resistência, força abdominal, força de braço, flexibilidade e velocidade com melhor desempenho físico dos atletas sadios (Figura 1).

Figura 1. Representação da análise comparativa do desempenho físico de atletas com história de anemia e malária e atletas sadios dos esportes individuais e coletivos do gênero masculino

    Os resultados apresentados mostram que os atletas do gênero masculino com histórico de anemia e malária tendem a apresentar maiores dificuldades no desempenho físico que os atletas sadios. Entretanto, ambos os grupos têm dificuldades expressivas na qualidade física “resistência”, considerada básica para o desempenho da prática esportiva. Para o ótimo desempenho da qualidade física resistência os atletas profissionais masculino deverão recorrer uma distância de 3.200 metros em 12 minutos (Cooper, 1968). Entretanto, os atletas com história de anemia e malária atingiram uma distância média de 1.754 metros, o que equivale a 54,81% do total da distância a ser percorrido de acordo com o que orienta a literatura. Os atletas sadios recorreram uma distância média de 2.489 metros, equivalente a 77,78% do que orienta Cooper. O deficiente desenvolvimento da resistência pode provocar o surgimento da fatiga precoce e com isto o aumento do risco de lesões esportivas.

    Também os resultados obtidos na “força de braço” em ambos os grupos não é favorável do ponto de vista do condicionamento físico, embora se aprecie melhor resultado no grupo de indivíduos sadios. A literatura indica que os atletas masculinos com idade de 20-29 anos para serem considerados com excelente preparação desta qualidade física, deverão atingir mais de 55 repetições na flexão e extensão de braço até interromper livremente o exercício (Welley e Sons, 1978). Os atletas com história de anemia e malária atingiram como média 37 repetições, correspondendo a 67,27% do recomendado pela literatura. Já os atletas sadios executaram 48 repetições, o que corresponde a 87,27% do total orientado na literatura mencionada anteriormente. A deficiência no desempenho desta qualidade física pode afetar a técnica individual de cada atleta. Por exemplo, no basquetebol pode afetar a eficiência nos arremessos de longa e média distância que é um fundamento essencial na obtenção de melhores resultados neste esporte.

    Os atletas com história de anemia e malária tiveram como média 68,25 repetições, correspondendo a 66,26% do recomendado como ideal (103-118); já os atletas sadios 92,75 repetições, equivalente a 90,04% do total recomendado na avaliação do teste. Os estudos afirmam que a avaliação ótima de um atleta na força abdominal é de 103-118 repetições para o sexo masculino (Robertson, 1993). A deficiência no desenvolvimento da força abdominal pode afetar a saúde do atleta através do esgotamento contínuo acumulativo durante treinamentos e competições. Ademais, tais deficiências, oferecem grandes possibilidades para o surgimento de lesões esportivas.

    Quanto à flexibilidade, os atletas do sexo masculino com idade de 18-25 anos para obter uma avaliação excelente nesta qualidade física deverão atingir uma amplitude articular de 22 centímetros (Golding e Miers, 1989). Os atletas com história de anemia e malária tiveram como média 26 centímetros; enquanto os atletas sadios atingiram 36 centímetros. Estes resultados mostram a eficiência atingida pelos atletas estudados na referida qualidade física, ultrapassado o número apontado como ideal em ambos os grupos. Entretanto, esta não é uma qualidade física que depende de fatores energéticos, diferente das outras qualidades físicas já mencionadas.

    Quanto à avaliação da velocidade dos atletas estudados, pode-se apreciar os seguintes resultados:

  • Os atletas com história de anemia e malária registraram como média de seus resultados 7 segundos e 84 centésimo (7,84),

  • Os chamados atletas sadios atingiram como média de seus resultados 6 segundos e 66 centésimos (6,66).

    Comparando a literatura com os resultados encontrados, verifica-se deficiência notável no desempenho da qualidade física em ambos os grupos de atletas, uma vez que deveriam atingir um tempo menor a 5 segundos e 8 centésimo (5,8) (Johnson e Nelson, 1979). A velocidade é uma qualidade física fundamental devido às diferentes ações técnico-táticas que são realizadas nas práticas esportivas com intensidades variadas.

Resultados do desempenho físico dos atletas com história de anemia e malária e atletas sadios dos esportes coletivos e individuais do gênero feminino

Tabela 3. Síntese dos resultados do desempenho físico dos atletas com história de anemia e malária e atletas sadios dos esportes coletivos e individuais do gênero Feminino

    Uma vez analisada as variâncias e média das qualidades físicas que foram avaliadas em ambos os grupos estudados do sexo feminino (atletas com história de anemia e malária e atletas sadios) através do teste f, se aceita a hipótese nula (p(f<=f) > 0,05), ou seja, a variância das atletas com história de anemia e malária não é diferente as de atletas sadias.

    Quando analisada a variância para ambas as amostras (atletas com história de anemia e malária e atletas sadias), utilizou-se o teste-t para duas amostras presumindo variâncias equivalentes. Teve-se como resultado, que existe diferença significativa entre as médias em ambos os grupos nas avaliações físicas de resistência, força abdominal, força de braço, flexibilidade e velocidade com melhor desempenho físico das atletas sadias.

Figura 2. Representação da análise comparativa do desempenho físico de atletas com história de anemia e malária e atletas sadias dos esportes individuais e coletivos

    Através destes resultados pode-se apreciar que as meninas com história de anemia e malária tendem a apresentar maiores dificuldades no desempenho físico que as atletas sadias. Entretanto, ambos os grupos têm dificuldades expressivas na qualidade física “resistência”, fundamental para o desempenho esportivo. As atletas não atingem o resultado considerado adequado para o bom desempenho desta qualidade física de acordo com o recomendado, que é de 3.000metros em 12 minutos (Cooper, 1968). As atletas com história de anemia e malária atingiram uma distância média de 1.417 metros, o que equivale a 47,23% do total da distância a ser percorrida segundo a literatura. As atletas sadias recorreram uma distância média de 1.606 metros, equivalente a 53,53% do recomendado por Cooper.

    Na força abdominal também pode ser apreciada a deficiência nesta qualidade física por parte de ambos os grupos. A avaliação ótima de um atleta do sexo feminino na força abdominal é de 98-115 repetições (Robertson, 1993). Entretanto, as atletas com história de anemia e malária tiveram como média 45,5 repetições, correspondendo a 46,42% do recomendado como ideal (98-115); as atletas sadias 62,75 repetições, equivalente a 64,03% do total recomendado na avaliação do teste.

    Os resultados obtidos na “força de braço” em ambos os grupos não é favorável do ponto de vista do condicionamento físico, embora se aprecie melhor resultado no grupo de atletas sadias. O recomendado para o bom desempenho físico desta qualidade física nas atletas profissionais do sexo feminino seria mais de 49 repetições (Welley e Sons, 1978). As atletas com história de anemia e malária tiveram como média 21,5 repetições, o que corresponde a 43,87% do recomendado; entretanto as atletas sadias atingiram como média 30 repetições, o que corresponde a 61,22% do indicado pela literatura.

    Na flexibilidade as atletas com história de anemia e malária tiveram como média 31 centímetros; enquanto as atletas sadias atingiram 38 centímetros. Estes resultados ultrapassam os números apontados como ideal, que indica que as atletas do sexo feminino com idade de 18-25 e 26 - 35 anos deverão atingir uma amplitude articular de 25 centímetros (18-25 anos) e 24 centímetros (26-35 anos) (Golding e Miers (1989).

    Quanto à velocidade as atletas com história de anemia e malária registraram como média de seus resultados 9 segundos e 9 centésimo (9,9); enquanto que as atletas sadias registraram como média 9 segundos. Ao comparar os resultados atingidos com aqueles considerados ideais, na distância de 50 metros (menor de 5 segundos e 8 centésimo) pode-se apreciar uma deficiência notável das atletas avaliadas nesta qualidade física, embora as atletas sadias tenham atingido maior desempenho físico.

Conclusões

    O presente estudo teve como objetivo Avaliar o perfil de desempenho físico de atletas com história de anemia e infecção por malária da cidade de Porto Velho. Participaram da pesquisa atletas do gênero masculino e feminino praticantes das modalidades de basquetebol, voleibol, taekwondo e Artes Marciais Mixtas/M.M.A. os resultados apontaram que:

  • Os atletas com histórico de Anemia e Malária apresentam deficiências no desempenho físico nas qualidades físicas de força, resistência e velocidade;

  • Os atletas sadios embora tenham mostrado um desempenho físico superior aos atletas com história de Anemia e Malária, também apresentam deficiências nas qualidades físicas avaliadas;

  • Ambos os grupos mostram eficiência na qualidade física “flexibilidade” ao ultrapassar os valores recomendados pelo o teste que avalia esta qualidade física;

  • Existem diferenças significativas entre o desempenho físico do grupo de atletas com histórico de anemia e infecção por malária e indivíduos sadios;

  • Os melhores resultados foram observados nos atletas sem história de anemia e infecção por malária.

    As deficiências no desempenho das qualidades físicas avaliadas podem afetar não somente os resultados esportivos; mas também a saúde dos atletas. Tais deficiências podem, por exemplo, levar o atleta a aumentar seus batimentos cardíacos durante a atividade esportiva, propiciando desta maneira o surgimento da fadiga precoce e junto com ela o risco de lesões esportivas.

Referências

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  • DEANE, L. M. A. Cronologia da descoberta dos transmissores de malária na Amazónia Brasileira. Mem. Inst. Oswaldo. Cruz, 84 (Supl. IV), 1989.

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  • EICHNER, E.R. Fatigue of anemia. Nutr.Rev, 2001.

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  • LIMA, M. Anemia ferropriva em adolescentes escolares de Manaus - AM. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, Amazonas, 2002.

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  • NAGASHIMA K, CLINE GW. Effects of blood donation on exercise performance in competitive cyclists. Am Heart J, 2000.

  • PANCORBO, A. Medicina del Deporte. Edit. Universidade de Caxias do Sul-Brasil. 2008.

  • PINTO AYN, VENTURA AMRS, SOUZA, JM. Resposta de anticorpos IgG anti-Plasmodium vivax em crianças expostas à malária, antes e após tratamento específico. JPediatr, 2001.

  • SELBY, G.B. EICHNER, E.R. Endurance swimming, intravascular hemolysis, anemia, and iron depletion. Am. J. Med, 1986.

  • VENTURA, A. S. Anemia da Malária por Plasmodium vivax: Estudo Clínico e Laboratorial em Crianças e Adolescentes. Instituto Oswaldo Cruz (FioCruz). Tese Doutorado em Medicina Tropical. Rio de Janeiro, 2010.

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