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Para além dos objetivos conservadores da globalização no 

ensino da Educação Física para a escola da cidade e do campo

Más allá de los objetivos conservadores de la globalización en la enseñanza
de la Educación Física para la escuela de la ciudad y del campo

 

*Acadêmico de Educação Física pela Faculdade Evolução do Vale do Acaraú

**Aluna do programa de pós-graduação em Educação e professora

da Faculdade Evolução do Vale do Acaraú

(Brasil)

Francisco de Assis do Nascimento de Paula*

franciscodeassis81@hotmail.com

Maria Erileuza do Nascimento de Paula**

m_erileuza@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho possui o objetivo de propor materializar elementos para a constituição de uma crítica, bem como norteamentos curriculares para a superação dos então assim denominados nesse trabalho os objetivos conservadores da globalização. Nessa acepção, buscaremos retratar e refletir acerca da formação de professores em Educação Física no atual modo de produção flexível; buscaremos também a partir de uma concepção de currículo crítico abordar as possibilidades para a superação dos então objetivos do capital por meio da Educação e da Educação Física.

          Unitermos: Educação Física. Objetivos conservadores. Globalização. Currículo.

 

Abstract

          This work has the objective of proposing materialized elements for the establishment of a review, and guid curriculum to overcome the then so-called conservatives in this work the goals of globalization. In this sense, we try to portray and reflect on teacher education in physical education in the current mode of production flexible; also seek from a critical design curriculum to address the possibilities for overcoming the then capital objectives through Education and Education physics.
          Keywords: Physical Education. Objectives conservatives. Globalization. Curriculum.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Educação ao longo da história sempre teve uma grande influência nas definições de que tipo de homem, esta por sua vez pretende formar para atuar na sociedade. Mas, a escola não trabalhava e ainda não trabalha isolada dos meios os quais compõem o país. A escola sempre esteve sendo influenciada por meio de teorias que emergiam com as crises surgidas quando aquele determinado modelo de educação já não convencia mais as camadas populares. Mesmo com o surgimento de teorias que influenciavam e reformulavam a Educação, podemos considerar que estas sempre possuíram denominados assim neste trabalho os ”objetivos conservadores da globalização1”.

    Deste modo, a Educação Física como componente curricular, passou por momentos em sua história que seu foco principal era constituir identidades fortes, saudáveis, hábeis para poderem atuar com maior eficiência nas propriedades privadas dos meios de produção capitalista. No entanto, atualmente ainda estes objetivos no ensino da Educação Física permeiam no ambiente escolar, os quais se encontram alocados no currículo. Mesmo com propostas de uma formação escolar para sociedade que possa levar os sujeitos das classes operárias a uma ascensão financeira, por meio de qualificação para o mundo do trabalho, todavia, a Educação era para estar contribuindo através da formação escolar para o enfrentamento do mundo do trabalho. Nesse sentido, os interesses neoliberais influenciam a escola, bem como outros setores sociais os quais mobilizam grandes massas da sociedade (religião, família, política, sindical, cultural, etc.), pois se trata de aparelhos ideológicos do estado burguês (ALTHUSSER, 1985).

    Para a efetivação da formação escolar do campo e da cidade, os objetivos em pauta só tomam forma quando o professor em sua formação já adere elementos os quais advogam esse intuito de reprodução de classes antagônicas, ou seja, passa a ter uma dominação do capital. Com isso, quais as influências neoliberais na formação de professores de Educação Física? Qual o modelo de currículo ideal para superação dos currículos e objetivos conservadores da globalização? Quais os métodos, bem como procedimentos didático-pedagógicos de ensino os quais possam contribuir na formação escolar do campo e da cidade?

    Portanto, organizamos o texto assim:

  • Abordamos inicialmente a formação de professores de Educação Física, identificando quais os dilemas que permeiam o processo de formação, bem como o campo de atuação.

  • Focalizamos depois em possibilidades de constituir elementos que possam contribuir para a materialização de um currículo crítico que possa superar os objetivos conservadores globalizantes que se alocam nos currículos da Educação Física.

  • Sugerimos, finalmente, caminhos os quais possam ser capazes de levar a superação dos objetivos globalizantes, no que diz respeito em materializar possibilidades que levem para além dos objetivos da problemática.

    Assim sendo, ao longo do texto estaremos abordando as problemáticas a cerca do tema em tela, a partir de um processo histórico, para que assim possamos materializar através da crítica, meios para a superação do problema em foco.

Os dilemas na formação de professores de Educação Física

    A formação de professores de Educação Física sofreu uma grande transição a partir da resolução 07 de 2004, que passa haver uma dominação do capital sobre o trabalho explícito na estrutura do sistema capitalista de produção, o qual é estabelecido sobre a lógica de reprodução de mercadoria e obtenção de mais-valia em conflito aos interesses coletivos de produção, circulação e consumo (SOUSA SOBRINHO, 2011). Esta resolução representa um retrocesso histórico na formação de professores em Educação Física, pois desconsidera toda a produção do conhecimento no campo. Compreendemos enquanto uma estratégia, a qual desqualifica o professor durante o processo de formação acadêmica, sobretudo com a fragmentação dos profissionais – Licenciatura e Bacharelado – ainda por cima ignorando proposições teóricas que superam as contradições mantidas pelas atuais Diretrizes Curriculares,

    [...] a exemplo da incoerência existente entre a formação omnilateral e a formação para competências específicas para o mercado de trabalho e não para o enfrentamento do mundo do trabalho, em franca “reestruturação produtiva”. Vale ressaltar que as principais forças que respondem as exigências da reestruturação produtiva, no marco das referências do modo de o capital gerenciar o trabalho e o trabalhador na área da Educação Física, são o Confef e sua consequente legislação, que regulamenta a profissão (9696/98) (TAFFAREL et al., 2007, p. 45).

    Não podemos analisar a Educação Física de modo isolado no contexto em que está inserida, isto é, a Educação Física padece as intervenções e o reordenamento do mundo do trabalho que a sociedade vivencia. Com isso, a regulamentação da profissão se torna indispensável nessa reestruturação produtiva como um aparelho para gerir a crise do capital. Isso se dá a partir das ofensivas políticas neoliberais, as quais representam o abandono do estado no asseguramento dos direitos trabalhistas, bem como das conquistas sociais, da saúde, educação e outros.

    Nessa perspectiva, portanto, currículos foram e continuarão sendo reformulados sempre com a expectativa para a formação profissional técnica, a qual o mundo do trabalho determina, desprezando a formação com outros conhecimentos.

    Em verdade, a regulamentação da profissão em Educação Física vem para desregularizar, para coadunar com a precarização. Ou seja, a regulamentação defende aqueles que anseiam gerar benefícios – lucro próprio – e que possui uma imagem retrógrada de Educação Física. Outrora o Conselho desfrutava do pretexto de querer preservar a sociedade dos leigos, todavia, hoje, em uma clara contradição, este filia a qualquer que encontrar-se interessado em pagar sua anuidade tendo em troca um curso de nivelamento. A fase atual de desenvolvimento do modo de produção capitalista, determinada em volta de arranjos e rearranjos no procedimento de acumulação do capital, das alternâncias na base técnica das forças produtivas, da ascensão e consubstanciação do neoliberalismo, da precarização do trabalho, entre outros, ressoa de forma determinante sobre os meios de formação humana, apresentando-os às suas demandas (TAFFAREL; SANTOS JÚNIOR, 2010).

    Dentro da resolução 07/04, identificamos a divisão dos profissionais. Todavia, para onde vão? Qual o campo de atuação específico destes profissionais? A fragmentação na formação de professores de Educação Física representa uma limitação no campo profissional destes, que delimita o campo de atuação do Graduado em Educação Física, ou seja, quem tem formação em Bacharelado ou Tecnólogo de Educação Física, poderá apenas atuar em áreas não escolares. Todavia, aquele que possuir formação em Licenciatura Plena poderá atuar em áreas escolares.

    Consoante o CONFEF:

    A LICENCIATURA: a formação de professores que atuarão nas diferentes etapas e modalidades da educação básica, portanto, para atuação específica e especializada com a componente curricular Educação Física.

    O BACHARELADO (oficialmente designado de graduação) qualificado para analisar criticamente a realidade social, para nela intervir por meio das diferentes manifestações da atividade física e esportiva, tendo por finalidade aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e saudável, estando impedido de atuar na educação básica. (CONFEF, 2006, p. 20).

    A partir do enunciado, percebe-se que com o apoio de políticas formativas frente ao CONFEF, os cursos de formação de professores propiciam saberes específicos de uma formação, deixando de abordar determinado conhecimento dentro da perspectiva da realidade social inerente de um determinado campo o qual não se encontra no corpo curricular de seu curso de formação. Tratamos então de uma formação baseada na pedagogia das competências. Para Hirata (1994), a pedagogia das competências funciona como um mecanismo empregado pelo capital para a cooptação psíquica dos trabalhadores. De acordo com Holanda, Freres e Gonçalves (2009),

    Em verdade, a Pedagogia das Competências é um termo surgido no contexto da crise estrutural desse sistema, em decorrência de formação de um “novo” trabalhador que precisava adequar-se às exigências da produção, substituindo, por esse motivo, o termo qualificação (p. 124).

    Sendo assim, a formação de professores em Educação Física a partir da resolução 07/04 e do sistema CONFEF, visa apenas adequar os professores às exigências do modo de produção capitalista, abandonando a qualificação do professor, no que tange o domínio teórico, a articulação dos procedimentos didático-pedagógicos, reflexões críticas em face às mazelas do capitalismo.

    A realidade da sociedade e suas contradições assinalam para pro­jetos de sociedade que se confrontam. Um fundamentado na exploração das forças produtivas e, outro, relacionado na justiça social, na organizada para além do capital. Implícito a cada, um projeto histórico – de sociedade – portanto, projetos educacionais determinados. Desse modo, a formação de professores, em especial, de Educação Física, é engenhoso para o povo brasileiro do campo e da cidade, e seu amparo, perante base de uma teoria crítica do conhecimento e do currículo, é imprescindível neste enfrentamento (TAFFAREL, et al., 2006).

    Os estabelecimentos de ensino básico do campo e da cidade, como elemento deste arcabouço e como instituição formadora, deve ser ambiente de debate e investigação das problemáticas sociais e de busca de superação. Assim sendo, a educação do campo e da cidade busca esse entendimento de escola: local de formação para um procedimento de transformação social.

    A educação e a educação física, o esporte e o lazer são formas de ação político-social que dão rumo à formação de um povo e, portanto, formar professores voltados exclu­sivamente para mercados de trabalho ligados à indústria da beleza, do culto ao corpo – a corpolatria – voltados ao esporte de espetáculo, ao esporte de alto rendimento e “lucros”, compromete o desenvolvimento de um dado projeto histórico (Idem, p. 158).

    Sendo assim, é imprescindível uma articulação para os enfrentamentos frente ao CONFEF a na articulação para a superação das DCN a partir de uma analise crítica de seus eixos técnicos os quais representam não somente a precarização do trabalho, como também a alienação a partir da formação e do trabalho do professor em face aos campos de atuação, em especial a escola, local onde se dá a formação dos cidadãos, que a partir de um ensino baseado na pedagogia das competências estará contribuindo com o que ne­cessita o capital e seus aliados para manter a sociedade de classes.

Elementos para a materialização de um currículo crítico

    São grandes às discussões sobre o currículo educacional no Brasil, muitas são as propostas, algumas teorias, entretanto o firmamento da teoria curricular não entra em consenso. O currículo constitui na contemporaneidade, tema de relevância fundamental para professores, gestores, pesquisadores e políticos. Nos sistemas educacio­nais e nas escolas, diversos têm sido os interesses por materializar propostas curriculares que venham a beneficiar a elaboração de uma escola de qua­lidade no país.

    Muito embora, esses interesses se façam presentes, na realidade quais são os reais interesses com a Educação? Estariam utilizando a Educação para apenas reproduzir a sociedade de classes? Ou a Educação está sendo o veículo para um aperfeiçoamento polivalente que o futuro cidadão venha a ser apto para as demandas do modo de produção capitalista? Em verdade, há uma forte tendência histórica da concepção técnica inserida no currículo escolar, o qual permeou décadas em busca da profissionalização precoce de alunos a partir da escolarização. As ideias de um currículo técnico/profissionalizante surgem a partir de Bobbitt (1918), que para este autor o currículo é visto como um procedimento de controle de resultados educacionais, cuidadosa e severamente determinados e medidos. A base teórica desta teoria curricular é baseada na “administração científica” de Taylor. Neste modelo curricular, portanto, os alunos devem ser desenvolvidos como um produto fabril. Sendo assim, para Silva (1999) quando comenta sobre o discurso de Bobbitt, menciona que,

    No discurso curricular de Bobbit, pois, o currículo é supostamente isso: a especificação precisa de objetivos, procedimentos e métodos para a obtenção de resultados que possa ser precisamente mensurados [...] (p. 12).

    Essa concepção de currículo propiciava apenas respostas conservadoras frente às problemáticas educacionais, embora sua intervenção procurasse transformar radicalmente o sistema educacional. Todavia, ela propunha que a instituição de ensino funcionasse nos mesmos moldes das empresas industriais e comerciais. Este modelo de currículo era totalmente voltado para economia. Sua palavra-chave era “eficiência2”.

    O que permeia muito no âmbito educacional é a questão da eficiência que está alocada nos contornos das indagações: como alcançar determinado objetivo? Como fazer? A partir desses problemas deixam-se de lado as questões de o quê? Para quê? Não estamos aqui nos referindo a questão dos procedimentos a serem tomados para alcançarem determinado objetivo sejam desconsiderados, pois, seu problema é de crucial importância, mas, entretanto, a eficiência leva o ensino a uma formação alienada, a qual pode se tornar um veículo para a reprodução de classes, beneficiando apenas um dos polos, a burguesia.

    No âmbito da Educação Física as teorias de currículo as quais estiveram alocadas no período tradicional e técnico caracterizamos enquanto modelos de currículos globalizantes. A Educação nestes modelos curriculares representava um modelo conservador reacionário o qual estaria a partir da disciplina curricular Educação Física perpetuando a formação dos estudantes induzindo-os a atuarem no mundo do trabalha com qualificação inerente deste setor, reproduzindo assim as classes sociais e apenas fazendo manutenção no status quo da hegemonia burguesa.

    Para isso, a Educação Física possuiu seu currículo ginástico, o qual sua composição foi fortemente inspirada, primeiramente, pela instituição militar e, desde a segunda metade do século XIX, pela medicina, embasou-se nos princípios filosóficos positivistas (BRACHT, 1999). Por conseguinte, no período após a segunda guerra mundial (1945). O Brasil buscou uma rápida industrialização seguindo de uma grande expansão urbana, ocasionando o aumento de escolas públicas, assim sendo:

    A educação estava situada em um momento de pressão das camadas populares por condições de ascensão social. Diante destas condições, os governos populistas (Vargas e Juscelino) obrigaram-se a ampliar a rede pública de ensino. Nessa perspectiva, o ensino direcionou-se para a capacitação técnica efetuada anteriormente pelo ensino profissionalizante (NUNES; RÚBIO, 2008, p.?).

    Neste período identifica-se como sendo o currículo esportivo da Educação Física, este currículo até os dias atuais possuem grande influencia no campo educacional, nessa época o binômio era de professor/técnico e aluno/atleta, assim induzindo a interpretação da Educação Física na escola como sendo a iniciação esportiva, valorizando a aquisição dos aspectos físicos e motores. O que acontece que ainda existem aulas de Educação Física na escola sendo abordado sempre modalidades esportivas, tratadas por uma concepção técnica. Sendo assim, identificamos enquanto modelo de currículo globalizante.

    Os currículos globalizantes aparecem no cenário da Educação Física com intuito de apenas ajustarem os alunos a ponto de qualificá-los, no que diz respeito a estarem aptos para somente vender sua força de trabalho às indústrias e outros centros de trabalho. Nesse modelo de currículo, surgiram algumas teoria pedagógica para a Educação Física, a Psicomotricidade mostrava-se ligada aos aspectos cognitivos, afetivo, e motores, buscando a formação dos alunos a partir da “educação pelo movimento”. No final dos anos 1980, inicia-se uma teoria a qual valoriza os aspectos biológicos e psicológicos, buscando a formação fisiológica dos alunos, essa denomina-se Desenvolvimentista. Esta ultima com seu caráter biológico, poderia se adequar a uma tendência do currículo esportivo. Este breve resgate está diretamente ligado ao modelo de currículo mencionado anteriormente idealizado por Bobbitt (1918). Nessa perspectiva, que vimos foi à continuação da comprovação da circunstância branca realçada por McLaren (2000), presente nos currículos ginásticos e técnico-esportivo, reforçada com o discurso eficientista das competências.

    Por tanto, propomos um currículo, o qual esteja diretamente ligado ao materialismo histórico, que valorize os conhecimentos os quais os alunos trazem de seus meio sociais e culturais, não deixando nada a ser descartado. Um currículo que não esteja somente dentro dos moldes das ciências biológicas, mas também que faça vinculo de forma multidisciplinar com as ciências humanas e sociais. Este currículo deverá possuir como foco a transformação social, utilizando meios que levem à reflexão sobre a realidade da sociedade capitalista, dos elementos que compõem a Cultura Corporal em suas formas institucionalizadas.

    Nesse projeto a função social do currículo é ordenar a reflexão pedagógica do aluno de forma a pensar a realidade social desenvolvendo determinada lógica. Para desenvolvê-la, apropria-se do conhecimento científico, confrontando-o com o saber que o aluno traz do seu cotidiano e de outras referências do pensamento humano: a ideologia, as atividades dos alunos, as relações sociais, entre outras [...] Numa outra aproximação pode-se dizer que o objeto do currículo é a reflexão do aluno. E a escola não desenvolve o conhecimento científico. Ela se apropria dele, dando-lhe um tratamento metodológico de modo a facilitar a sua apreensão pelo aluno. O que a escola desenvolve é a reflexão do aluno sobre esse conhecimento, sua capacidade intelectual [...] A amplitude e a qualidade dessa reflexão é determinada pela natureza do conhecimento selecionado e apresentado pela escola, bem como pela perspectiva epistemológica, filosófica e ideológica adotada. À ordenação desta amplitude e qualidade denominamos de eixo curricular: princípio norteador e referência básica do currículo que está diretamente vinculado aos seus fundamentos sociológicos, filosóficos, antropológicos, psicológicos, biológicos (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 16).

    Com isso, propomos um currículo crítico que venha a intervir o modelo atual do modo de produção capitalista, que supere sociedade de classes, buscando por uma sociedade mais justa. Para isso, elencamos elementos para se tornar possível essa intervenção curricular: Denunciar as maquetes reprodutoras do sistema que conservam a estrutura social de maneira injusta e que intensifica as relações de dominação de uma classe sobre outra; uso de uma pedagogia crítica que advogue uma proposta de conteúdos do ponto de vista das camadas populares; que propague que a relação educação-sociedade é incentivada dialeticamente, ou seja, a escola é incentivada pela sociedade como esta por sua vez pode ser incentivada pela escola. Portanto, o trabalho dos professores críticos não é a transformação social por intermédio da escolarização, todavia propiciar a democratização dos conhecimentos universais e realizar a compreensão do papel que as escolas representam inseridas em uma sociedade estigmatizada por relações de poder.

Para além dos objetivos globalizantes

    Com os debates de formação e currículo enunciados anteriormente neste trabalho, podemos identificar a forte influência de teorias globalizantes, contudo, no tocante das teorias, objetivos vão se estabelecendo e se firmando, a ponto de se tornarem paradigmas a serem superados, ou então, propostas curriculares estariam permeando o campo educacional da cidade e do campo, com perspectiva de transformação, entretanto, mas, o método o qual as teorias idealista/conservadoras utilizavam para alcançar seus objetivos estariam impedindo a efetivação de novos enfoques. O que se deve considerar é a influência dos objetivos os quais implicam a uma alienação a serviço da reprodução social.

    A despeito da história da Educação, encontram-se determinados objetivos que se enquadravam na esfera globalizante que se alocavam dentro do ambiente escolar, sendo desenvolvidos pelos professores que seguiam as diretrizes das teorias, as quais Althusser (1985) identificara: a escola enquanto aparelho ideológico do estado. Portanto, com essa perspectiva, métodos foram postos em ação, exercendo fortes tradições, que podemos identificar semelhanças nos dias de hoje com os métodos que professores usavam para exercer o trabalho didático-pedagógico.

    Sendo assim, a escola estaria para somente a reprodução das condições de produção que provoca a reprodução das forças produtivas e das relações de produção existente (SAVIANI, 2008). A escola é o instrumento mais acabado e principal veículo para reprodução das relações de exploração capitalista. Assim sendo, ela toma a si todas as crianças de todas as classes sociais e orienta-lhes durante anos a fio de “saberes práticos” envolvidos na ideologia dominante (ALTHUSSER, 1985, p. 64).

    A Educação Física no currículo escolar possui sua influência, tornando-se decisiva na formação dos alunos. Todavia, quais os procedimentos didático-pedagógicos que professor usufrui para orientar os educandos a partir de objetivos que buscam apenas o controle social a partir da formação escolar? Esta problemática, surgi no tocante das ideias idealistas de cunho conservador, as quais visualizam apenas a constituição de um ser apto para atuar e fortalecer os meios de produção capitalista. Contudo, essa tendência advém ainda na formação do professor, a partir de interesses que podemos identificar “neoliberais”, os professores oportunizam apenas aquilo que se consideram o suficiente para a formação, no que diz respeito a demando do sistema capitalista.

    Para isso,

    [...] é através da aprendizagem de alguns saberes práticos (savoir-faire) envolvidos na inculcação massiva da ideologia da classe dominante, que são em grande parte reproduzidas as relações de produção de uma formação social capitalista, isto é, as relações de explorados com exploradores e de exploradores com explorados (Idem, p. 66).

    Com isso, a escola torna-se local de instrumento de equalização social, formando um mecanismo edificado pela hegemonia burguesia para perpetuar e garantir seus interesses.

    Os objetivos do currículo técnico-esportivo induziam para uma prática esportiva a qual levasse os educandos para a forma institucionalizada do esporte: apresentações e competições etc. (NUNES; RÚBIO, 2008).

    No entanto, esse mesmo lugar é onde se aloca a luta de classes, por tanto, é imprescindível o uso de uma perspectiva crítica acerca dos reais objetivos que a escola pretende desenvolver ao longo do processo de escolarização dos alunos. Para isso, necessitamos buscar uma análise da influência de um objetivo globalizante “tecnicismo” no exercício das aulas de Educação Física. Mesmo com a mudança de perspectiva da Educação Física no processo de formação humana ainda na escola, pode-se identificar a forte influência da prática esportiva, bem como outros modelos de objetivos conservadores que permeiam o âmbito escolar. Todavia daremos uma maior atenção para a influência técnica do esporte nas aulas de Educação Física, que por várias vezes advém do próprio professor de Educação Física no exercício de sua aula.

    O esporte espetáculo e de auto rendimento que a sociedade diariamente recebe diversas informações pelos meios de comunicação em massa influencia para um determinado ponto de vista acerca desta prática da Cultura Corporal. Muito embora, o professor tenha que mediar as reais possibilidades de como abordar o esporte, ele passa na verdade a supervalorizar esta prática, a modo que classifique como importante a revelação de atletas por meio das aulas. Isto implica semelhança com o modelo do currículo esportivo da Educação Física no período de 1950 a 1960.

    Com o professor buscando enquanto objetivo a revelação de possíveis atletas, poderia está contribuindo para a formação alienada dos estudantes. Ora, os alunos já recebem bombardeios de informação das mídias sobre o esporte espetáculo e de auto rendimento e com o professor de Educação Física induzindo o aluno a manter o foco, poderá a criar pseudo-expectativas, fazendo-o a secundarizar seu processo de formação escolar, para dar prioridade a seu desempenho esportivo.

    Numa perspectiva tecnicista, a busca do campeão desencadeia um processo seletivo e discriminatório sobre as crianças, e os que a ele sobrevivem são chamados de “talentos”. Talentos para o quê? Seguramente para suportar os castigos que a injustiça social impõe e ainda pendurar no pescoço a medalha que o país, o professor, o técnico, o dirigente, o governador, o presidente anseiam (COLETIVO DE AUTORES, 2001, p. 35).

    Em verdade o esporte é utilizado como estratégia para possibilitar o trabalho do alto rendimento, esta estratégia se adequa ao modelo da perspectiva de Educação Física escolar que busca enquanto objetivo o desenvolvimento da aptidão física, assim contribuindo historicamente e advogando os interesses da classe hegemônica, mantendo a estrutura da sociedade capitalista (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

    Por conseguinte, ainda devemos realçar as peculiaridades da Educação do campo, a qual, para Marinho (2008), a Educação do campo foi menosprezada ao longo da história do Brasil pelo fato de o sistema educacional não prezar o local em que vive o educando, já que sustenta o ideal do reprodutivismo na escola. Por isso, o espaço escolar, ao invés de ser um local de transformação da realidade, complementa por não efetivar sua função, reforçando as desigualdades sociais.

    Isso porque, para além do “íntimo” da realidade da vida no campo, as iniciativas políticas no âmbito da educação, geradas ao longo da nossa história, não apresentam, em suas diretrizes, o interesse real pelas especificidades dos diferentes sujeitos que habitam o campo brasileiro. Estas pessoas têm suas características particulares, de certo são heterogêneas, por isso merecem, do Estado, políticas públicas exclusivamente criadas a fim de atender, de forma própria, cada realidade (FERNANDES, 2012, p. 61).

    Por tanto, é necessário que os objetivos conservadores da globalização sejam superados por meio de uma perspectiva crítica, a qual busque enquanto fundamentação, saberes que estejam estreitamente interligados com a realidade concreta, e que não seja apenas por base dos conhecimentos advindos por parte da escola e do professor, mas, também que seja levado em consideração os saberes que os alunos trazem de seus meios sociais e culturais, para assim

    [...] desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros, que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas (Idem, p. 26).

    Sendo assim, o ensino da Educação Física deve partir do contraponto para a superação dos objetivos globalizantes, para que seja possível a formação do ser crítico e autônomo, que atue na sociedade buscando transformação a partir de sua reflexão crítica e no exercício de sua práxis.

Conclusões

    Ao longo da história a Educação Física esteve rodeada de interesses que penetravam em seu arcabouço a partir de seu currículo, possuindo uma ideologia conservadora e reacionária, assim formando objetivos globalizantes, os quais enfatizavam apenas a manutenção do status quo da classe hegemônica, e reproduzir a realidade das classes subalternas, fazendo uso da escola enquanto um aparelho que levasse aos estudantes á uma formação alienada, propiciando repressão às classes oprimidas, apenas com o anseio da reprodução social, e a adequação ao modo de produção capitalista.

    No entanto, perspectivas foram introduzidas no currículo da Educação Física, muito embora os objetivos globalizantes continuarem permeando no âmbito escolar, assim contribuindo para a continuidade da conservação a partir do idealismo educacional. Dessa forma, propõe-se o uso de uma perspectiva crítica que identifique, diagnostique e denuncie esses modelos reprodutores do sistema que conserva a estrutura social de forma arbitrária e que fortalece as relações de dominação de uma classe sobre outra, como também da exploração do homem pelo homem.

    Por fim, a proposta de uma pedagogia crítica na Educação Física como elemento superador dos objetivos globalizantes, defende uma proposta de conteúdos do ponto de vista da classe trabalhadora. Evidencia que a educação e a sociedade são influenciadas dialeticamente, ou seja, a escola é induzida pela sociedade e esta por sua vez da mesma forma pode ser influenciada pela escola. Nesse sentido, é fundamental a percepção das relações que se asseguram entre as expressões da cultura corporal e os problemas sócio-políticos que as abrangem com interesse de conscientizar a população se envolver da logística do seu legado cultural. Dessa forma, pressupõe que o ser humano é o sujeito organizador de sua própria realidade, atribuído, deve, consequentemente, atuar em face às probabilidades históricas de transformação das suas circunstâncias de vida a partir de que possa refletir criticamente sobre a realidade, enfrentando as relações de exploração e opressão que constituem sociedade a partir do modo de produção capitalista.

Notas

  1. A globalização é injusta, visto que não se realiza de maneira universal tampouco homogênea e muito menos se amplia de forma igualitária. Portanto a globalização não é para todos, mas, para apenas um grupo que compõe a sociedade, a burguesia. Portanto, o objetivo que o ensino da Educação Física como de outras áreas do conhecimento esteja nos moldes e conforme o avanço da globalização implica uma grande contradição.

  2. Eficiência neste trabalho representa “fazer bem com menos recursos”.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 189 | Buenos Aires, Febrero de 2014
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