efdeportes.com

Relação entre o nível socioeconômico e o 

nível de atividade física em adolescentes

Relación entre el nivel socioeconómico y el nivel de actividad física en adolescentes

 

*Licenciado em Educação Física

pelo Centro Universitário do Rio Grande do Norte, UNI-RN

**Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Saúde e Sociedade

da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, UERN

***Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, UFRN

(Brasil)

Renato Fernandes de Sousa*

Nailton José Brandão de Albuquerque Filho*

Thiago Renee Felipe**

Joao Carlos Lopes Bezerra**

Gleidson Mendes Rebouças**

Humberto Jefferson de Medeiros***

renatopinguim@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo objetivou identificar a relação existente entre o nível de atividade física entre adolescentes de diferentes níveis socioeconômicos do Natal/ RN no ano de 2012. O estudo foi realizado em uma escola pública e uma privada do Natal-RN onde participaram do estudo 176 adolescentes escolares de educação física dos quais 96 pertenciam a Escola Estadual Berilo Wanderley (48 rapazes e 48 moças) e 80 ao Complexo Educacional Henrique Castriciano (44 rapazes e 36 moças) com idades entre 14 e 18 anos. Os instrumentos utilizados foram: questionário de atividade física habitual de Baecke (1982), traduzido para a língua portuguesa, para avaliar o nível de atividade física dos adolescentes e o questionário desenvolvido pela Associação Brasileira de Pesquisa (ABEP, 2003) para classificar a classe socioeconômica. Com base nos resultados pudemos verificar que o valor AFE para a unidade de ensino da rede pública foi de 2,3 ± 0,2 e 2,2 ± 0,2 para o sexo masculino e feminino respectivamente. No segundo escore EFLA temos os valores de 3,9 ± 1,4 para os rapazes e 3,6 ± 1,2 as moças e no terceiro escore AFL, os valores encontrados foram 2,9 ± 0,6 para o sexo masculino e 2,8 ± 0,5 para a amostra feminina. No escore total IAFH dos sujeitos da unidade de ensino da rede pública apresentou as seguintes médias: 9,1 ± 1,8, 8,6 ± 1,2 respectivamente para o sexo masculino e feminino. Já na instituição de ensino da rede privada os valores obtidos para a AFE foi de 2,9 ± 0,3 para o sexo masculino e 2,8 ± 1,0 para o feminino; para segundo escore (EFLA) para o sexo masculino foi 3,6 ± 1,1e para o sexo feminino 2,7 ± 0,9; no escore AFL temos os valores de 2,6 ± 0,8 para os rapazes e 2,9 ± 0,8 para as moças. Tendo uma de 9,1 ± 1,8 no IAFH para o sexo masculino e 8,4 ± 1,5 para o sexo feminino. Podemos concluir que o nível de Atividade Física Habitual se associa de forma negativa com o nível Socioeconômico mostrando que os indivíduos das classes socioeconômicas mais baixas apresentam-se mais ativos do que os sujeitos das classes sociais mais elevadas. Por questões ainda não investigadas não podemos especular tais razoes a exemplo de outros estudos. Acreditamos que investigações com maiores populações e mais variáveis podendo ser controladas podem nos dar mais explicações sobre o fenômeno.

          Unitermos: Adolescente. Exercício. Análise socioeconômica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    O estudo do crescimento infantil tem despertado a atenção de estudiosos envolvidos com a questão da saúde da criança (GUEDES, 2002; RONQUE et al., 2007; GONÇALVES, 2011). A prevalência de obesidade infantil vem emergindo como um dos principais problemas de saúde nas últimas décadas e tem sido comumente associada com vários fatores de risco para a doença cardíaca entre outras doenças crônicas na fase adulta (VOGELS et al., 2007). Nesse mesmo período vem se observando em muitos estudos que a atividade física neste grupo jovem parece diminuir especialmente nos países em desenvolvimento como é o caso do Brasil. Nos últimos anos, a medição da atividade física com acelerômetros tornou-se mais amplamente utilizado, estes instrumentos fornecem minuto-a-minuto quantificação de movimento do corpo durante períodos de vários dias, ou mesmo semanas, os padrões de movimento, permitindo visualizar o período de inatividade (AIRES, 2004; GONÇALVES, 2011).

    Investigar a relação do nível socioeconômico com o nível de atividade física, considerando diferentes contextos de prática, poderá suscitar hipóteses que conduzam a novas investigações que ajudem a esclarecer quais os fatores que levam a diferenças no tipo e grau de envolvimento com atividade física, em adolescentes de diferentes condições socioeconômicas. Neste sentido, dentre as preocupações da Educação Física e da Ciência do Desporto têm sido o estudo sobre os condicionamentos da variável Nível Socioeconômico relacionada às variáveis Hábitos de Vida, Indicadores de Crescimento e Aptidão Física, entre outras. Pesquisas recentes no âmbito da prática desportiva relacionada aos níveis socioeconômicos nos mostram dados consistentes (FERNANDES et al., 2008; SOUZA et al., 2009; FREITAS et al., 2010;). Desta forma, o presente estudo objetivou analisar a relação entre o nível de atividade física entre adolescentes de diferentes níveis socioeconômicos.

Metodologia

    O estudo foi do tipo descritivo exploratório com corte transversal uma vez que não testamos hipóteses e aceitamos as possibilidades existentes para as varáveis dicotômicas. Escolhidos de forma aleatória e não probabilística, a amostra foi composta por 176 adolescentes escolares de educação física dos quais 96 pertenciam a Escola Estadual Berilo Wanderley (48 rapazes e 48 moças) e 80 ao Complexo Educacional Henrique Castriciano (44 rapazes e 36 moças) com idades entre 14 e 18 anos.

    Para avaliar o nível de atividade física dos adolescentes foi utilizado o Questionário de Atividade Física Habitual (AFH) de Baecke e cols. (1982), traduzido para a língua portuguesa e adaptado para a escola, o questionário é composto de 16 questões que abrangem três escores de AFH dos últimos 12 meses: 1) escore de atividades físicas na Escola (AFE) com oito questões, 2) escore de exercícios físicos e Lazer Ativo (EFLA) com quatro questões, 3) escore de Atividades Físicas de Lazer (AFL) com quatro questões. Ao final, o índice é gerado com base em cálculos pré-determinados pelos autores. O questionário desenvolvido pela Associação Brasileira de Pesquisa (ABEP, 2003) foi utilizado para a classificação socioeconômica e consiste em uma série de perguntas sobre a posse de bens materiais duráveis e não duráveis, a infraestrutura do lar, contratação de serviços residências e grau de instrução do chefe da família. De posse destas informações são atribuídos pontos para cada item ou grupo de itens se determinar à classe correspondente.

    Todos os questionários foram aplicados no ambiente de sala de aula, no momento final do horário letivo evitando ausência do aluno portando o instrumento. Todos foram instruídos ao mesmo tempo e foi pedido a cada um que em uma eventual dúvida chamasse o avaliador na própria mesa não recorrendo a nenhum colega para o mesmo.

    Os dados coletados foram apresentados utilizando de medidas da estatística descritiva no sentido de uma melhor representação da amostra e seus respectivos subgrupos tais como média, desvio padrão, valores mínimos e máximos. Como estatísticas inferenciais foram utilizadas para as comparações entre as médias o teste t de Student para amostras independentes uma vez que foi verificada a normalidade da amostra através de medidas de assimetria e curtose. Já no tocantes as correlações entre as variáveis ordinais e de razão foi utilizado o teste de r de Spearman. Todos os dados foram plotados e analisados com o auxílio do software estatístico SPSS® 20.0 IBM®.

Resultados

    Com base nos resultados podemos verificar que o valor AFE do sexo masculino da unidade de ensino da rede pública foi de 2,3 ± 0,2 e para o sexo feminino 2,2 ± 0,2. No segundo escore EFLA temos os valores de 3,9 ± 1,4 para os rapazes e 3,6 ± 1,2 as moças e no terceiro escore AFL, os valores encontrados foram 2,9 ± 0,6 para o sexo masculino e 2,8 ± 0,5 para a amostra feminina. O escore total que indica o Índice de Atividade Física Habitual (IAFH) dos sujeitos da unidade de ensino da rede pública apresentou as seguintes médias: 9,1 ± 1,8, 8,6 ± 1,2 respectivamente para o sexo masculino e feminino.

    Já na instituição de ensino da rede privada os valores obtidos para a AFE que corresponde ao primeiro escore foi de 2,9 ± 0,3 para o sexo masculino e 2,8 ± 1,0 para o feminino; os valores do segundo escore (EFLA) para o sexo masculino foi 3,6 ± 1,1e para o sexo feminino 2,7 ± 0,9; no escore AFL foram encontrados os valores de 2,6 ± 0,8 para os rapazes e 2,9 ± 0,8 para as moças. A somatória dos escores ascendeu para uma média de 9,1 ± 1,8 no IAFH para o sexo masculino e 8,4 ± 1,5 para o sexo feminino (Ver tabela 01).

Tabela 01. Média e Desvio Padrão das variáveis envolvidas na avaliação do Índice de Atividade Física Habitual

    Os resultados acima corroboram que há uma pequena diferença na pratica de atividade física dos adolescentes avaliados, ocorrendo uma pratica maior nas classes socioeconômicas mais baixas, esta diferença fica mais nítida quando comparamos os alunos da instituição de ensino da rede privada entre eles mesmos, a tabela 03 mostra que há uma pratica maior de AFH nos alunos das classes socioeconômicas mais baixas mesmo sendo alunos da mesma escola.

    Corroboram ainda com algumas pesquisas onde mostram que apesar de baixa é existente a relação entre os Níveis Atividade Física com a classe socioeconômica, nota-se uma diferença principalmente quando comparamos o nível de AFH entre o sexo feminino, as meninas pertencentes a uma classe socioeconômica familiar mais baixa são levadas freqüentemente a assumir tarefas domésticas que envolvem por vezes trabalho manual de moderada intensidade, enquanto moças pertencentes à classe socioeconômica familiar mais elevada estariam desobrigadas dessas atividades (PALMA, 2000; SALLES-COSTA et al., 2003).

Tabela 02. Valores mínimos e máximos das variáveis envolvidas na avaliação do Índice de Atividade Física Habitual separados por unidade de ensino

    Como mostra a tabela 02 o valor máximo (6,40) e mínimo (2,00) nas atividades de lazer das meninas da escola Berilo Wanderley apresenta-se maior do que os valores das meninas da escola Henrique Castriciano que apresentaram os valores de 1,75 para mínimo e 5,40 para o máximo, sendo o valor máximo do sexo feminino da escola pública maior que o valor máximo (6,00) e igual ao valor mínimo (2,00) do sexo masculino da mesma instituição de ensino e maior do que o mínimo (1,25) e máximo (4,00) dos meninos da escola privada.

Tabela 03. Valores absolutos e relativos às classes sociais encontradas

    Já na Atividade Física na Escola os alunos da instituição privada apresentam valores maiores com valor mínimo 2,30 e máximo 3,50 para o sexo masculino e 2,30 para o valor mínimo e 3,30 como valor máximo para o sexo feminino enquanto os meninos da escola pública apresentaram como valores mínimo e máximo 2,00 e 2,80 respectivamente para o mesmo escore de AFE e para o sexo feminino e para 1,80 para o valor mínimo e 2,60 para o valor máximo, os valores deste escore nos levam a acreditar que os avaliados da escola Henrique Castriciano tem uma pratica de atividade física maior do que os avaliados da escola Berilo Wanderley pelo menos no contesto escolar.

    De acordo com a Tabela 03 podemos observar que na escola pública Berilo Wanderley não foi encontrado nenhum sujeito com classificação A1 e A2 de acordo com as determinações da ABEP. Também não foi encontrado nenhum sujeito com classificação e ficando a maioria dos sujeitos na classe C2 com 54 alunos que representa 56,3% da amostra da escola e a minoria na classe B1 com apenas 4, 12 pertenciam à classe B2, ficando 16 adolescentes na classe C1 e 10 na classe D.

    Já na escola Henrique Castriciano não foi encontrado nenhum individuo com a classificação C2 e D e assim como na escola Berilo Wanderley não houve nem um sujeito da classe E. Portando os adolescentes permaneceram em sua maioria na classe A2 (32 adolescentes) abrangendo 40,0 % da amostra da escola e os demais distribuídos nas classes A1 com 4 sujeitos; 28 adolescentes na classe B1 e 14 na classe B2 ficando a minoria na classe C1 com apenas 2 sujeitos como pode ser visualizado na tabela abaixo (ver Tabela 03).

Tabela 04. Valores de r de Spearman entre Classe Socioeconômica e IAFH

    Quanto à relação existente entre o nível socioeconômico e o IAFH verificamos de acordo com a tabela acima isso não ocorreu de forma consistente (força de associação moderada ou forte) em nenhuma das correlações efetuadas. Contudo, gostaríamos de ressaltar que todas as correlações, embora não significantes, foram negativas indicando um sensível aumento dos níveis de Atividade Física Habitual nas Classes Sociais mais baixas.

    Essa configuração ocorreu nas duas esferas de ensino, tanto na rede pública como na rede privada e pode significar uma tendência que extrapole as questões socioeconômicas.

    Contrário do que mostra MATSUDO et al. (1998) que afirma não haver relação entre o nível socioeconômico do sujeito com seu nível de atividade física, foi encontrado através da presente pesquisa que apesar de fraca há uma associação entre o NAFH e o Nível socioeconômico.

    Embora as famílias das elevadas classes sociais tenham acesso a clubes que oferecem muitas práticas esportivas, os jovens pertencentes a essas famílias muitas vezes não brincam em locais de muito espaço como nas ruas do bairro, por exemplo, provavelmente pela insegurança dos pais por acharem um risco para os filhos por essa razão as crianças acabam ocupando seu tempo de lazer com jogos eletrônicos, TV e etc. Aliado a essa falta de atividade física regular os maus hábitos alimentares compactuam para o sedentarismo desses jovens, em quanto os jovens das classes socioeconômicas mais baixas na maioria das vezes desde cedo já tem vivencia com brincadeiras que exigem um esforço físico significativo e por nem sempre terem acesso a os brinquedos e jogos eletrônicos seus momentos de lazer na maioria das vezes são ocupadas por algumas práticas de atividades.

    Outro fator que colabora para essa relação entre o NAFH e o nível socioeconômico está ligado ao deslocamento, pois adolescentes pertencentes às classes socioeconômicas mais elevadas normalmente não gastam tanto tempo e energia em caminhadas para chegar à escola, por exemplo, na maioria das vezes os pais deixam e buscam os filhos com algum transporte, quanto a os que pertencem a famílias de classes mais baixas não tem esse transporte e acabam tendo de caminhar alguns minutos para chegar à escola ou outro local assim gastando mais tempo e energia nessa atividade.

Conclusão

    Podemos concluir que o nível de Atividade Física Habitual associou-se negativamente com o nível Socioeconômico mostrando que os indivíduos das classes socioeconômicas mais baixas apresentam-se mais ativos do que os sujeitos das classes sociais mais elevadas. Acreditamos que investigações com maiores populações e mais variáveis podendo ser controladas podem nos dar mais explicações sobre o fenômeno tais como a acessibilidade da população e/ou motivações para a prática.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 189 | Buenos Aires, Febrero de 2014
© 1997-2014 Derechos reservados