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Libras e as intervenções psicopedagógicas no 

processo de aprendizagem do deficiente auditivo

Lenguaje de señas e intervenciones psicopedagógicas en el proceso de aprendizaje del discapacitado auditivo

 

*Centro Universitário Adventista campus São Paulo

Especialização em Psicopedagogia

**Docente na Faculdade Adventista de Hortolãndia

***Coordenadora do Curso de Psicopedagogia do Unasp

Docente na Faculdade Adventista de Hortolândia Docente no UNASP – SP

(Brasil)

Vilma Leite Nardes*

Dra. Helena Brandão Viana**

MS. Evodite Gonçalves Amorim Carvalho***

Magda Jaciara Andrade de Barros**

hbviana2@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho dialoga sobre as características da criança surda, como ocorre o seu processo neurológico, a importância da linguagem de sinais (Libras) e o papel do Psicopedagogo no processo ensino-aprendizagem do indivíduo surdo. Por meio desta pesquisa bibliográfica foi constatado que a relação do Psicopedagogo e o uso da linguagem de sinais são extremamente imprescindíveis, pois ambos auxiliam na orientação, na construção do conhecimento e no desenvolvimento integral e social e conseqüentemente possibilitando uma educação de qualidade e a preservação da cultura do indivíduo surdo, promovendo a esses educando o direito a igualdade como cidadãos participantes de uma sociedade justa e igualitária.

          Unitermos: Aprendizagem. Surdo. Psicopedagogia.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Esta pesquisa foi realizada com o desejo de levar os leitores a uma reflexão sobre a dificuldade de aprendizagem do surdo no Brasil, sendo ele criança, adolescente ou adulto, por não dispor de uma educação voltada para as suas necessidades especiais.

    Diante do desejo de pensar no tema da pesquisa que resultou nesses escritos, manifestei a necessidade de aperfeiçoar os meus conhecimentos nesta área por ter passado por uma experiência como professora de um aluno com deficiência auditiva completa o qual não pude contribuir muito para a sua aprendizagem, por não estar preparada para tal situação. Inconformada fui em busca de um curso de Libras para melhorar a minha comunicação com ele e auxiliá-lo durante as aulas de forma que ele se sentisse incluso.

    Criar uma educação inclusiva significa pensar em uma escola que abranja a todos, envolvendo transformações no trabalho, na saúde, na assistência social e principalmente na qualidade de ensino considerando as particularidades de cada um (SOARES, 2013).

    A partir do século XVI, começa-se a admitir que pessoas surdas poderiam aprender por meio de procedimentos pedagógicos pois, alguns profissionais pedagogos se dispuseram a trabalhar com os surdos na intenção de desenvolver seus pensamentos, adquirir conhecimentos e se comunicar, sendo necessário ensiná-los a falar ou utilizar gestos (BLUMER e BRUNN, 2011).

    Para Bifi, Carmo, Carmo e Miranda (2011), enquanto alunos, esses cidadãos tem o direito a usufruir de oportunidades semelhantes ás dos alunos sem deficiência, devendo fazer o uso de recursos que lhes permitam usufruir dos benefícios colocados à disposição da comunidade em geral.

    Pires e Oliveira (2011), defendem que devido ao contexto bicultural em que as pessoas surdas estão inseridas, as conseqüências da surdez não se resume exclusivamente na limitação sensorial, mas também como uma questão social, faz-se necessário incluí-las e buscar preparação por meio da educação continuada e que a escola se organize e assegure as condições adequadas.

    A grande diversidade existente entre os sujeitos portadores de deficiência auditiva não permite determinar uma única proposta educacional, cada um possui um grau de capacidade de utilização da audição e diferentes níveis de desenvolvimento da linguagem oral. A escola, juntamente com os seus profissionais irão possibilitar uma educação para esses deficientes com o objetivo de promover o bem estar e a formação total, viabilizando o desenvolvimento de suas potencialidades (ARAÚJO, ALMEIDA, CAMPOS, e SOUZA, 2010).

    O presente estudo buscou avaliar as características da criança surda buscando entender os níveis de surdez de cada indivíduo, suas reações e frustrações, como ocorre o processo de aprendizagem neurológico desse indivíduo, a importância da linguagem de sinais no processo de aprendizagem da criança surda e finalmente qual o papel do Psicopedagogo no processo de aprendizagem agindo como um intermediador e facilitador deste processo.

As características da criança surda

    Segundo o IBGE-2010, no Brasil existem cerca de 9,7 milhões de brasileiros com alguma deficiência auditiva, ou seja, 5,1% da população brasileira. 1,7 milhões possuem grande dificuldade de audição e 344,2 mil são completamente surdos e se concentram na sua maioria em centros urbanos (CHIAHYA, 2012). Segundo o dicionário Aurélio (1985) surdo é quem não ouve, ou ouve mal. Para Nunes (2011), o surdo mantém diferença do ouvinte porque ele deve desenvolver habilidades psicoculturais particulares, enquanto o ouvinte utiliza o canal de percepção auditiva com interações verbais e escritas com base fonológica, o surdo tem a sua língua diferenciada viso-espacial, ou seja, a língua de sinais onde ela apresenta estruturas gramaticais próprias é composta por diversos níveis lingüísticos: morfológico, sintático, semântico, pragmático, entre outros.

    Lopes (2010) afirma que o que dificulta a leitura e escrita dos alunos surdos não é a sua surdez em si, mas sim o atraso lingüístico em virtude da demora da aquisição da sua primeira língua e de metodologias direcionadas pela oralidade.

    Muito se tem discutido a respeito da surdez, seria deficiência ou não? Bisol e Sperb (2010), definem como deficiente todo aquele que possui falha, desvio, falta ou imperfeição na audição. Estudos mostram que a criança surda não possui os meios naturais de comunicação, isto impossibilita a socialização e faz com que apresentem dificuldades comportamentais no seu desenvolvimento. Alguns pesquisadores chegam a considerar que os bebês surdos seriam mais quietos e um pouco mais passivos que os bebês ouvintes, afetando assim a capacidade de entender o que as outras pessoas pensam e sentem.

    Goldfeld (2002) afirma que uma criança passa por duas etapas de desenvolvimento: o nível interpsíquico, ou seja, ela internaliza e depois passa pelo nível intrapsíquico que seria expor o que aprendeu. Isto mostra a dificuldade da criança surda, pois se a linguagem e o diálogo são fatores essenciais para o desenvolvimento infantil e sendo esta área afetada no surdo, mostra-se que as conseqüências da surdez devem ultrapassar a dificuldade comunicativa e atingir todas as áreas do desenvolvimento da criança.

    Para Moreira (2008), surdez nada mais é que a perda maior ou menor da percepção normal dos sons. A audição é medida e descrita em decibéis (dB), mede a intensidade do som. O normal da audição é representada por zero decibéis e a perda auditiva de até vinte e cinco decibéis não é uma deficiência significativa. Um indivíduo com surdez pode ser considerado pela área da saúde e da educação, parcialmente surdo ou surdo. O indivíduo parcialmente surdo ou com deficiência auditiva são pessoas com surdez leve e moderada, a leve apresenta uma perda auditiva entre vinte e sete e quarenta decibéis não percebem os sons distantes e os fonemas das palavras, porém não impede a compreensão normal da língua oral. A surdez moderada apresenta perda auditiva entre quarenta e um e setenta decibéis, provocando atraso de linguagem e alterações articulatórias. Um indivíduo é considerado surdo quando apresenta surdez severa e profunda, ela é caracterizada pela perda auditiva entre setenta e um e noventa e um decibéis, onde o indivíduo só consegue perceber sons próximos. E finalizando vem a surdez profunda que é a perda superior a noventa e um decibéis, impossibilitando o indivíduo de informações auditivas necessárias para perceber e identificar a voz humana, impedindo assim o indivíduo de adquirir a linguagem oral. As crianças com surdez profunda necessitam do uso da Língua de Sinais como meio de comunicação, possuindo características próprias no seu desenvolvimento global e na sua aprendizagem.

    A comunidade surda valoriza a língua de sinais como forma de valorizar a cultura visando um contexto de ser um grupo que utilizam a experiência visual e percepção de mundo como meio de comunicação. A identidade do surdo é o agrupamento de traços que os difere dos ouvintes representado por uma cultura específica, desenvolvida através das interações entre os surdos e suas experiências de vida (MOREIRA, 2008).

    Diante desta visão percebe-se a importância da formação consciente das crianças surdas que ao terem acesso a sua língua natural terão possibilidades diferentes no seu desenvolvimento global, preparando-se para exercer a sua cidadania.

O processo de aprendizagem neurológico da criança surda

    Para Cytrynovicz (2011) todas as pessoas vivem em um mundo de visões, sons e outros estímulos e a sobrevivência dos seres humanos depende de fazermos uma rápida interpretação deles. Compreender o mundo a nossa volta deve ser algo baseado em um modo rápido e certeiro de analisar o ambiente. Para ver e definir objetos é necessário uma grande façanha perceptual que requer toda uma seqüência de funções. Não vemos os objetos como eles realmente são, vemos formas, superfícies, contornos e fronteiras, em diferentes luminosidades ou contextos e mudam de perspectivas quando se movimentam ou quando nos movimentamos. Alguns objetos podem ser reconhecidos logo quando nascemos ou pouco tempo depois, por exemplo o rosto de uma pessoa, tirando isto o mundo dos objetos precisa ser aprendido por meio de experiências e atividades: olhando, tocando, manuseando, correlacionando as impressões dadas pelos objetos com a aparência dele: O reconhecimento visual dos objetos depende dos milhões de neurônios do córtex inferotemporal, e nessa área a função neural é muito plástica e aberta para experiência e treinamento, a educação. Esses neurônios evoluíram por causa da função do reconhecimento visual mas eles podem também ser utilizados para a leitura. Isto é possível porque os sistemas de escrita possuem em comum algumas características coerentes com o ambiente, características essas que o cérebro cria para decodificar.

    A criança surda sem linguagem apresenta distúrbios específicos de ordem cognitivas, social e emocional. O centro dos problemas são os bloqueios no seu desenvolvimento lingüístico causados pela falta de entrada necessária, isto ocorre por falta da audição que pode variar quanto ao grau e ao tipo, o que vai encadear um aproveitamento de acordo com os restos auditivos. O bloqueio de comunicação do surdo com os outros surdos ou ouvintes gera inúmeros problemas de ordem emocional, nervosismo, insegurança e até auto-rejeição.

    Algumas crianças surdas por vezes receberam tratamento psiquiátrico pensando que apresentavam distúrbios neurológicos ou mentais até que se descobriu que eram portadoras apenas de surdez, seus fracassos na comunicação no dia a dia geram causas de inseguranças e que perduram por toda a sua vida, fazendo com que ela rejeite sua condição de surda por buscar constantemente um modelo ouvinte que provavelmente não atingiria (BRITO, 2012).

    Segundo Cárneo, Csipai e Couto (2010) a leitura de um texto se dá através da habilidades de decodificação, compreensão e interpretação. Para compreender são necessários diferentes processos cognitivos, como memória e inferência com diferentes níveis de complexidade, denominados de baixo nível como a identificação de palavras e letras e alto nível como a elaboração de inferências e outros fatores como vocabulário adquirido, a fluência da motivação pela leitura. A compreensão de leitura sofre também a interferência das seqüências de técnicas ou atividades que a pessoa utiliza para facilitar a aquisição, o armazenamento e a utilização da informação, o que chamamos de estratégias de aprendizagem para ouvintes, porém os estudantes surdos, no qual a primeira língua é a de sinais, passam por processos diferentes para adquirir e aprimorar a segunda língua na modalidade da escrita.

    Alguns estudos mostram que durante a leitura de um texto, os surdos sinalizadores atêm-se mais ás ilustrações do que os leitores ouvintes ás letras, o apontamento do texto, apoio articulatório e gestos durante a leitura, portanto percebe-se que os fatores relacionados com a leitura de um texto e os recursos utilizados influenciam na compreensão da leitura de estudantes surdos, dá-se a idéia de que existe uma relação positiva entre estratégias de aprendizagem e o nível de compreensão da leitura, quanto mais estratégias o estudante surdo sinalizador utilizar, melhor será o seu nível de compreensão e aprendizado (CÁRNEO, CSIPAI e COUTO, 2010).

A importância da linguagem de sinais no processo de aprendizagem da criança surda

    Houve um período de desvalorização da Língua de Libras no Brasil por causa do Congresso internacional de Professores de surdos que aconteceu em Milão no ano de 1880 onde discutiram e avaliaram a importância dos métodos utilizados pelos meios educacionais, a língua de sinais foi proibida após ter recebido 160 votos a favor da proibição e 4 contra, a partir de então passou a ser utilizados os métodos orais na educação dos surdos (NUNES, 2011).

    A maioria dos alunos com deficiência auditiva tem o seu primeiro contato com a Libra na escola e esta dependerá de adquirir a primeira, faz-se necessário que a escola disponibilize aos alunos o acesso à interação social e lingüística e para que isto ocorra, os professores e todos os envolvidos na educação principalmente nas séries iniciais, precisam ter conhecimento em Libras (LOPES, 2010).

    Para os ouvintes uma aula só será produtiva através de discussões e atividades, assim também uma aula com exposição em libras associada à reflexão sobre o assunto e a estimulo visual então se tornará uma aula interessante e mais produtiva. Um professor terá melhores condições de trabalhar suas práticas se conhecer a estrutura gramatical e as características particulares da Libra (LOPES, 2010).

    Algumas pesquisas sobre a língua de sinais e o desenvolvimento psicológico do surdo são norteadas pelas idéias de Furth. O processo de aquisição da língua de sinais deve acontecer de forma natural e muito cedo ou o quanto antes possível para auxiliar o desenvolvimento lingüístico, cognitivo e a vivência social do deficiente auditivo (NUNES, 2011).

    A Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2012 no seu artigo 1º, reconhece a Língua Brasileira de Sinais como um instrumento legal de comunicação e expressão e no parágrafo único diz que a língua de sinais é uma forma de comunicação e expressão de natureza visual-motora de estrutura gramatical própria com um sistema de transmissão de idéias e fatos característicos das pessoas surdas do Brasil.

    Para Pires (2012), têm-se observado grandes avanços, porém ainda muitos desafios na questão de atender as necessidades do deficiente auditivo e ressalta que o ser cidadão permite que todos os seres humanos com suas particularidades devem usufruir plenamente desse direito à cidadania.

    Para que isso ocorra serão necessárias mudanças exigidas por leis e políticas públicas que garantam o acesso de pessoas com necessidades especiais em todos os campos da sociedade e também se faz necessário existirem profissionais habilitados para atender este grupo de pessoas, pois a comunidade surda depende da Língua de sinais para ter acesso à escola e para identificar seus pares e para preservar a sua cultura (PIRES, 2012).

    Botelho (2010) diz que a educação oralista propõe–se oferecer ao aluno surdo na sala de aula as mesmas condições de comunicação oral oferecidas ao aluno ouvinte; trazendo aulas expositivas, articulando lentamente e com clareza nas palavras pronunciadas e procura sempre estar à frente do aluno surdo, fazendo os registros na lousa das informações fornecidas oralmente aos demais. O aluno surdo deve freqüentar uma escola de ensino regular para estar em contato com falantes da língua oral onde aprenderá por meio de interações com os ouvintes, porém o surdo não adquire a língua oral de maneira natural, ele necessita de condições formais e especificas de aquisição do que para ele é como se fosse uma língua estrangeira. A surdez é uma experiência visual, eles se orientam a partir da visão, ainda que com os restos auditivos maiores ou menores às vezes façam o uso de alguns sons, sua organização perceptual fundamental se dá a partir da visão e não da audição.

    A leitura labial é um processo útil em algumas situações como na interação verbal entre surdos e ouvintes, mas define completamente a compreensão, pois depende muito da compreensão do contexto, da integração de um conjunto de elementos verbais e não verbais, o surdo deve atuar ativamente na interação. Professores interessados, dinâmicas escolares que mediam e que incentivam a construção do conhecimento através da interação do aluno surdo e seus colegas, presença de intérprete de língua de sinais na sala de aula, são situações pedagógicas consideradas condições suficientes para a construção da interação entre surdos e ouvintes. A criança ouvinte chega a sala de aula para ser alfabetizada dominando a língua de seus pais, porém a criança, adolescente ou adulto surdo dominam apenas fragmentos do seu idioma. Para o surdo aprender a ler serão necessárias situações lingüísticas específicas como o uso incondicional da língua de sinais em um espaço coletivo e compartilhado (BOTELHO, 2010).

O papel do psicopedagogo no processo de aprendizagem

    Para Souza e Vasconcelos (2012), o psicopedagogo está buscando ao longo dos anos por uma definição para a sua formação, atuação e identidade, porém o psicopedagogo é um profissional que poderá ajudar os alunos a superarem suas dificuldades de aprendizagem, compreender o processo escolar e descobrirem o potencial que existe em cada um. Ele também poderá oferecer a possibilidade de resgatar a própria autoestima e a motivação para a aprendizagem mostrando que através do próprio esforço o aluno poderá aprender e se desenvolver com prazer. O ser humano é o objeto central de estudo do psicopedagogo, observando também seus padrões evolutivos normais e patológicos, não excluindo a influência do meio que geralmente é produzida pela família, pela escola e pela sociedade no desenvolvimento do ser humano como um todo, procurando desenvolver seu estudo de atenção na reação do sujeito diante de suas tarefas levando em consideração: os bloqueios, hesitações, lapsos, repetição, resistências e angustias, cabe ao profissional saber como se constitui o indivíduo, como ele se modifica ao longo das etapas da vida: seus recursos de conhecimento, a forma como produz conhecimento, a forma como produz conhecimento e domo aprende. A aprendizagem é um processo complexo, por isso muitas vezes surgem dificuldades produzidas por falhas na metodologia utilizada em sala de aula, porém hoje a maior preocupação do psicopedagogo é evitar ou minimizar o fracasso escolar, facilitando o processo de aprendizagem cognitivo, afetivo e social. Na instituição escolar o psicopedagogo atuará numa ação preventiva, deverá adotar uma postura crítica frente ao fracasso escolar, visando novas mudanças de ações voltadas para a melhoria da prática pedagógica nas escolas, como forma de prevenção onde o professor possa ensinar com prazer e o aluno também aprenda com prazer.

    Pires e Eder (2012), o psicopedagogo deve compreender as inter-relações de vários fatores: hereditários, sociais, culturais, pedagógicos, psicológicos e ou/ médicos. Tudo isso para compreender de forma global o desenvolvimento da criança e não cometer o erro de fazer avaliações superficiais que estigmatizem o aluno, reforçando suas dificuldades e causando uma baixa autoestima e pré-conceitos do professor com relação a ele. A educação dos surdos e a educação regular tem sofrido uma sustentação teórica muito ligada a clinicalização dos fracassos. As crianças são avaliadas por médicos, psicólogos que diagnosticam seus “problemas” e geralmente o professor passivo, não consegue resolver os impasses em sala de aula, por ser um caso médico, na surdez essa tendência se reforça ainda mais pois, os surdos são privados; impedidos por sua deficiência auditiva, esta criança precisa ser normalizada para que sua vida seja mais parecida possível com a dos ouvintes.

    As atividades mecanizadoras, treinos auditivos e leitura-labial propostos pelas escolas visando a reprodução da fala, mas os surdos não aprendem a sua língua natural, a língua de sinais pois, a língua dos ouvintes é a única permitida, isso faz com que a criança surda não aprenda e estruturar seu pensamento pois, falta-lhe uma língua que o instrumentalize. O respeito ao aluno surdo deve ser baseado na compreensão das causas e conseqüências do fracasso escolar, faz-se necessário esclarecer a dúvida de o surdo possuir ou não o pensamento abstrato ou de que forma opera esse pensamento, é necessário entender que a aprendizagem é um processo social, com meios que facilitem e sejam variados para medir o aprender, respeitando o desenvolvimento de cada aluno. O professor e o psicopedagogo deve rever métodos tradicionais, reducionistas e inviabilizadores do prazer em aprender, os professores não compreendem as causas dos fracassos dos alunos surdos em escolas regulares. Há necessidade de um olhar diferente para a educação do surdo, uma escola onde o surdo possa assumir sua identidade, onde valorize sua cultura, que hes permita um ambiente lingüístico necessário para que se desenvolvam suas potencialidades lingüísticas e comunicativas (PIRES e EDER, 2012).

    Para que o psicopedagogo tenha sucesso no auxílio dos distúrbios de aprendizagem o profissional segundo Vercelli (2012) deverá considerar os aspectos físicos, emocionais, psicológicos e sociais do indivíduo, sua intervenção pode se dar tanto na escola por isso nome Psicopedagogia institucional com caráter preventivo, quanto na clínica com caráter terapêutico. Através da psicopedagogia institucional nas escolas terá o objetivo de prevenir dificuldades de aprendizagem e o fracasso escolar.

    Com o novo contexto educacional do ensino regular onde recebe crianças com necessidades educacionais especiais, a psicopedagogia tem um papel importante auxiliando os professores, os pais e a equipe escolar no trabalho com a inclusão, pois entendemos que não é suficiente oferecer a vaga ao aluno com necessidades especiais e sim atendê-lo de forma que este desenvolva suas habilidades educacionais, o psicopedagogo institucional junto com a equipe escolar deverá avaliar os fatores que interferem na aprendizagem dos alunos e suas causas, trabalhar como assessor psicopedagógico, ouvindo e conversando sobre a escola com os diferentes profissionais que nela atuam: levantamento, a compreensão, a análise das práticas escolares em suas relações com a aprendizagem promovendo a construção de novas práticas produtoras de melhor aprendizagem. Deverá englobar todos os trabalhos que dão suporte pedagógico e clínicos realizados no espaço escolar, deverá ser um trabalho de prevenção, ou seja, deverá fazer com que a escola seja a solução e não o problema, pois é nela que crianças e jovens irão adquirir conhecimentos para viverem em sociedade.

    O psicopedagogo deverá ajudar a equipe escolar a transformar o ambiente da escola em um espaço de construção do conhecimento, colaborando na elaboração do projeto pedagógico visando três questões fundamentais: o que ensinar, como ensinar e para quem ensinar. Escolas, pais e alunos deverão confiar no trabalho do psicopedagogo e estar abertos a mudanças caso sejam necessárias, em uma relação de reciprocidade e troca mútua de conhecimentos que poderá favorecer o processo de aprendizagem de muitos aprendentes (VERCELLI, 2012).

Discussão

    Partindo da idéia de Nunes (2011), não se deve querer que o surdo aprenda da mesma forma que o ouvinte pois, ambos são diferentes e possuem particularidades como por exemplo o canal utilizado pelo ouvinte que chamamos de percepção auditiva com interações verbais e escrita fonológica, o surdo possui uma língua viso-espacial que conhecemos agora por Libras, concordo por que já tive um aluno surdo o qual não entendia as minhas aulas pois eram destinadas aos demais alunos ouvintes, passei a utilizar figuras, imagens e sinais para facilitar o entendimento deste aluno, não satisfeita iniciei um curso de Libras para ampliar a nossa comunicação.

    A Libras foi desvalorizada por muito tempo no Brasil, Lopes (2010) afirma que a grande dificuldade de leitura e escrita do surdo é o seu atraso lingüístico devido à demora em aprender a sua primeira língua e que nem sempre as aulas oferecidas aos surdos são atrativas pois, geralmente são planejadas para os alunos ouvintes.

    E quando se pensa em cidadania Pires (2012) ressalta que está se obtendo grandes avanços na questão do atendimento ás necessidades do deficiente auditivo onde se busca atender as particularidades desse indivíduo, com mudanças nas leis e políticas públicas e utilização nas escolas da linguagem de sinais (Libras).

    Vivemos em um mundo de visões, sons e muitos outros estímulos, Cytrynovicz (2011) diz que quando nascemos somos capazes de reconhecer alguns objetos, mas para que isso ocorra dependemos do uso de milhões de neurônios do córtex temporal e essa função é aberta para experiências e treinamentos, isso quer dizer que quanto mais estímulos recebemos maior será o nosso aprendizado.

    Brito (2012) se preocupa com a educação inadequada oferecida aos surdos pois, pode acarretar sérios distúrbios emocionais que na maioria das vezes são confundidos com distúrbios neurológicos ou mentais.

    Para que haja compreensão é necessário utilizar diferentes processos cognitivos como: a memória e a inferência, Cárneo, Csipai & Couto (2011) discutem que quanto mais estratégias o estudante surdo sinalizador utilizar melhor será a sua compreensão e o seu aprendizado.

    Botelho (2010) critica a educação oralista para os surdos porque ela propõe as mesmas condições de comunicação oral oferecida aos alunos ouvintes. Ele ressalta que o surdo deve freqüentar a mesma sala de aula dos alunos ouvintes para estar em contato com eles e aprender através das interações.

    O Psicopedagogo poderá atuar para contribuir com esse processo, Souza e Vasconcelos (2012) afirmam que o psicopedagogo poderá ajudar os alunos surdos a superarem as suas dificuldades. Este profissional também poderá realizar mudanças nos planejamentos escolares de forma que favoreça mais o aluno surdo e previna futuras dificuldades com novos alunos.

    Para Pires e Eder (2012) o psicopedagogo deve analisar e compreender as interpelações de fatores hereditários, sociais, culturais, pedagógicos, psicológicos e ou médicos, compreendendo melhor o desenvolvimento da criança e deverá rever métodos e ter um olhar diferenciado valorizando a cultura do surdo.

    Juntamente com a equipe escolar o psicopedagogo deverá avaliar os fatores que interferem no aprendizado do surdo e Vercelli (2012) ressalta a importância do papel deste profissional para analisar, orientar e auxiliar o aluno surdo, os professores e até mesmo a família desses alunos. Escola, pais e alunos deverão confiar no trabalho do Psicopedagogo e estarem abertos ás mudanças necessárias indicadas por este profissional que com certeza irá favorecer o processo de aprendizagem dos alunos surdos.

Considerações finais

    Por meio da pesquisa realizada, consideramos uma grande dificuldade que o surdo sem linguagem apresenta, na grande maioria, distúrbios específicos de ordem cognitiva, social e emocional porém, o motivo desses problemas são os bloqueios no seu desenvolvimento lingüístico devido à falta de audição que pode variar quanto ao grau e o tipo de um indivíduo para o outro.

    Entende-se que o bilinguismo seria a prática mais apropriada ás necessidades da pessoa surda pois, habilita a um desenvolvimento pleno da linguagem. Algumas instituições educacionais insistem em considerar que o surdo participe de educação oralista, voltada a práticas pedagógicas para alunos ouvintes e isso pode ocasionar grandes fracassos escolares para o surdo.

    A linguagem de sinais seria a melhor alternativa, possibilitando não só a comunicação do surdo como também a sua interação com os alunos ouvintes.

    Então o que fazer para melhorar a comunicação com o surdo já que não ouvem os sons, não entendem a linguagem oral e nem a desenvolve? Através da pesquisa constatou que as instituições educacionais juntamente com o psicopedagogo poderão viabilizar os recursos para dar as mínimas condições de apreensão do conhecimento, e estas instituições deverão possuir um gerenciamento de forma a proporcionar uma educação voltada para todos, com condições de levar o aluno surdo a conhecer, aprender e se desenvolver em um ambiente livre de preconceitos, formando uma consciência crítica.

    Toda educação deve ser baseada na afetividade e superação do problema, e o psicopedagogo está trabalhando para que isso aconteça, envolvendo a família, orientando professores e modificando planejamentos para se adaptar aos alunos surdos, criando situações que favoreçam o desenvolvimento da autoestima do aluno.

    O psicopedagogo poderá também propor ao aluno a linguagem de sinais (Libras) como sendo a língua oficial para o surdo porém, deverá ser ensinada desde a infância. Algumas informações nos faz entender que o fator mais importante em ser bilíngüe é que ambas deve ser igualmente valorizada, mas a realidade é um pouco diferente, ela nos mostra que grande parte das escolas que atendem alunos surdos ainda não possuem o conhecimento da linguagem de sinais porque nem todos julgam ser ela importante. Não há necessidade de haver competição entre as duas línguas mas sim, que Libras se torne uma identidade cultural, sendo a língua Portuguesa utilizada como modalidade de escrita e a Libras como modalidade de informação, conhecimento e diversidade cultural tanto na comunidade surda como na ouvinte.

    Portanto conclui-se que o psicopedagogo juntamente com a instituição escolar e seu corpo docente e a família do aluno surdo deverão se unir para analisar, orientar e auxiliar no processo de ensino aprendizagem do deficiente auditivo estimulando a novas conquistas, seus esforços, aprendizagem e a utilização da linguagem de sinais como meio facilitador da comunicação e interação com os ouvintes, desenvolvendo assim seu aprendizado, relacionamentos sociais e emocionais do indivíduo surdo.

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