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Importância do Programa de Residência Multiprofissional em 

Saúde da Família da Universidade Federal de Pernambuco 

na formação dos profissionais da área de saúde

 

*Graduado em Educação Física na Universidade Federal de Pernambuco, UFPE

**Orientador. Professor Adjunto do departamento de Educação Física da UFPE

(Brasil)

Juan Alves*

Paulo Carvalho**

juan_alves_12@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Identificar e discutir as contribuições do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família – UFPE (PRMSF – UFPE) na formação dos profissionais da área de saúde. Métodos: O estudo é de natureza qualitativa, realizado com os 09 (nove) residentes da primeira turma do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Federal de Pernambuco, localizada na cidade do Recife-PE. A coleta de dados foi realizada no período Julho a Agosto de 2011, através da aplicação de questionários por e-mail contendo 05 (cinco) questões subjetivas que buscaram investigar como o programa estava se dando na prática e suas possíveis contribuições na formação dos profissionais. Resultados: A compreensão das diretrizes e princípios do SUS, as competências dos núcleos multiprofissionais, as realizações de ações de promoção, prevenção e educação em saúde precisam ser aperfeiçoadas durante os cursos de graduação para desenvolvermos recursos humanos qualificados para Saúde Pública e não utilizarmos do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Federal de Pernambuco como meio para sanar tais deficiências. Conclusão: O Programa traz novas possibilidades aos seus ingressantes oportunizando por meio de um campo prático (trabalho) e reflexivo (acadêmico) uma perspectiva de qualificar-lhe adequadamente para atender as necessidades do sistema de saúde.

          Unitermos: Residência multiprofissional. Saúde da família. Recursos humanos

 

Abstract

          Objective: To identify and discuss the contributions of the Multidisciplinary Residency Program in Family Health - UFPE (PRMSF - UFPE) in the training of health professionals. Methods: The study is qualitative in nature, carried out with 09 (nine) residents of the first class of the Multidisciplinary Residency Program in Family Health, Federal University of Pernambuco, located in the city of Recife. Data collection was conducted between July and August 2011, through the use of questionnaires by e-mail containing five (05) subjective questions that sought to investigate how the program was taking place in practice and their possible contributions in the training. Results: The understanding of the guidelines and principles of the NHS, the skills of multi-core, the achievements of health promotion, prevention and health education must be improved during the undergraduate courses to develop skilled human resources for Public Health and do not use the Program Multiprofessional Residency in Family Health, Federal University of Pernambuco as a means to remedy those deficiencies. Conclusion: The program brings new possibilities to their freshmen through providing opportunities for a practical field (work) and reflective (academic) perspective to qualify him to serve adequately the needs of the health system.

          Keywords: Multidisciplinary residency. Family health. Human resources.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Saúde pública no Brasil está diante de um longo processo de consolidação, passando por constantes processos de mudanças deste a formação do Sistema único de Saúde (SUS) através da constituição de 1988.

    O SUS é um conjunto de políticas, de normas legais executáveis. Por conta disso, ele é extremamente dinâmico. Hoje, quando se fala em SUS, não se fala exatamente da mesma coisa de 1988, pois nesses 22 anos houve modificações(1).

    Ao longo de sua história houve muitos avanços e também desafios permanentes a superar. Isso tem exigido dos gestores do SUS, um movimento constante de mudanças, pela via das reformas incrementais(2).

    Contudo, esse modelo parece ter se esgotado, pela dificuldade de imporem-se normas gerais a um país tão grande e desigual; de outro, pela sua fixação em conteúdos normativos de caráter técnico-processual, tratados, em geral, com detalhamento excessivo de enorme complexidade(2)..

    Um dos grandes desafios encontrados neste processo de consolidação do SUS é a inadequada qualificação de recursos humanos capacitados a aplicar sua área de conhecimento contextualizado à saúde pública em diferentes níveis de complexidade, deficiência essa causada pelo decurso durante a formação do profissional da área de saúde na graduação(3).

    Dessa forma, faz-se necessário atentar-se aos cursos de graduação no que diz respeito à qualificação dos graduandos quanto à atuação no SUS, com ênfase nas diretrizes e princípios da Estratégia Saúde da Família (ESF), sendo elas: universalidade, equidade, integralidade, descentralização, regionalização, hierarquização, participação e controle social, na qual encontram-se regulamentados de modo a detalhar suas atribuições através das Leis Orgânicas de Saúde 8.080/90 e 8.142/90(3,4).

    A pesquisa e o ensino em saúde devem ser dirigidos ao serviço básico, para a educação em saúde, com foco não apenas na pessoa, mas também na comunidade, na família, em seu contexto e relações. O ensino deve valer-se da Saúde Coletiva - campo de saberes e práticas que tem as necessidades sociais de saúde como chave para a compreensão do processo de adoecimento(5).

    Sob esta perspectiva, desde 2000 o Ministério da Saúde lançou uma convocatória nacional com o objetivo de implementar a oferta de pós-graduação latu sensu, na modalidade de residência multiprofissional em saúde da família, mediante incentivos financeiros repassados às universidades e escolas de saúde pública das Secretarias Estaduais de Saúde(6).

    O Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (PRMSF) - UFPE se norteia sob esta lógica e tem uma proposta teórico-pedagógica voltada para as necessidades do SUS, possibilitando o contato do trabalho e da formação dos residentes.

    São promovidas reflexões, capacitando o desenvolvimento para resoluções de problemas, propiciando mudanças pautadas na atuação multiprofissional, na humanização e assistência de qualidade(7).

    É diante destas dificuldades encontradas nos Sistema Único de Saúde e no processo de formação de recursos humanos que o presente estudo busca investigar, refletir e analisar as possíveis contribuições da primeira turma do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Federal de Pernambuco (PRMSF – UFPE) no processo de formação continuada submetidas pelos residentes.

    Este Programa é voltado aos profissionais de saúde, compreendendo as seguintes áreas do conhecimento: educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição, odontologia, psicologia, serviço social, e terapia ocupacional(8).

    O seu foco central é a qualificação dos profissionais atuantes na Atenção Básica, por meio da Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)(5). O PRMSF da UFPE organizou-se nessa perspectiva e seu desafio é investir na formação de habilidades para o trabalho na ESF e superar as dificuldades de adequação ao modelo, em parte por problemas no ensino dos cursos de graduação da área de saúde, que apenas recentemente vem buscando transforma-se(6, 7).

    Portanto, diante do exposto acima, procuramos responder a seguinte que norteia nossa pesquisa: Como o PRMSF – UFPE contribuiu na formação profissional dos residentes?

    Desta forma buscamos Identificar e discutir as contribuições do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família – UFPE (PRMSF – UFPE) na formação dos profissionais da área de saúde.

Métodos

    Este estudo possui natureza qualitativa, pois dar-se-á pela seguinte forma: A investigação qualitativa é descritiva. Os dados recolhidos são em forma de palavras ou imagens e não de números. Os resultados escritos da investigação contêm citações feitas com base nos dados para ilustrar e substanciar a apresentação(9).

    A abordagem da pesquisa, o instrumento de coleta e dados obtidos, foram as mesmas utilizadas no artigo “O Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (PRMSF) no Programa de Saúde da Família (PSF): possíveis contribuições, o caso da Unidade de Saúde da Família (USF) Emocy Krause no bairro da Torre na Cidade do Recife – PE”(10) para assim desenvolver este trabalho que também está sob autoria dos pesquisadores deste artigo e aprovação prévia ao Comitê de Ética em Pesquisa, cujo registro é o 153/11.

    Os dados foram coletados através de questionários, já que este instrumento é muito utilizado para o levantamento de informações e o mesmo deverá ser preenchido pelo próprio entrevistado(11).

    Desta forma nosso Questionário foi elaborado com perguntas subjetivas e aplicado em Julho a Agosto de 2011, visando à utilização de um piloto para posteriormente reformulá-lo e aplicá-lo neste trabalho(12). Sendo assim, verificou-se que o questionário contemplava os objetivos a serem investigados e manteve-se na estrutura original.

    O questionário foi formulado constando cinco questões subjetivas e foi enviado por e-mail aos nove residentes matriculados no PRMSF – UFPE com entrada no ano de 2010 e que compõe a primeira turma do programa. Obtivemos apenas o retorno de cinco residentes, sendo esta a amostra que constitui a análise de dados..

    Para iniciarmos a análise denominamos cada residente composto na amostra como R1, R2, R3, R4 e R5. Em seguida partimos de cada questão, investigando se o propósito da pergunta mediou o universo da pesquisa e os objetivos do estudo.

Resultados

    Concluída a coleta de dados ocorre a fase da análise que dar-se-á quando a coleta está praticamente finalizada (13), sendo assim nos direcionamos a ela ao indagarmos na questão 01 o que visa a Residência Multiprofissional em Saúde da Família com o intuito de identificar a compreensão do residente quanto ao propósito do PRMSF - UFPE.

    R1 afirma que “ela tem o objetivo de reorientar a formação dos profissionais (pois nem todos os cursos de graduação passaram pela reformar curricular)”, enquanto R2 diz que: “Formação essa muitas vezes compartimentalizada durante os cursos de graduação.

    Ambos destacam assim a necessidade desta pós-graduação ao considerar os problemas curriculares encontrados nas graduações da área de saúde.

    Ainda na questão 01 identificamos nas respostas que o PRMSF – UFPE propicia uma formação profissional mais ampla, como afirmam R2: “A Residência visa capacitar/formar os profissionais para uma atuação mais integral na Atenção Básica. A integração dos saberes de diversos núcleos profissionais amplia não só a visão de saúde, mas a de sociedade por parte dos residentes.”,

    R3: “Visa uma formação e o desenvolvimento de ações integrais, humanizadas e interdisciplinares para com a Estratégia de Saúde da Família...”.

    R4 “Formar profissionais aptos a atuar na atenção básica à saúde, na perspectiva multi e interdisciplinar...”.

    Na questão 02 perguntamos como se deu o trabalho que ocorreu durante a Residência na Unidade de Saúde da Família (USF) visando identificar mediações entre sua formação profissional e atuação profissional quanto residente do PRMSF - UFPE.

    Observamos que apenas R1 aponta para uma dificuldade organizacional do PRMSF – UFPE que implica nas ações profissionais desenvolvidas ao explicar que “Atuamos nas unidades na lógica dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, apesar de termos iniciado antes mesmo dessa “estratégia” ter sido implantada no município de Recife.”.

    Nas 05 respostas da questão 02 também encontramos descrições claras do conjunto de ações desenvolvidas durante o PRMSF – UFPE.

    R2 relata que: “O trabalho se dá através do desenvolvimento de ações nos eixos de promoção e prevenção da saúde, visitas domiciliares, atendimentos individuais e em grupo, controle social, acolhimento, matriciamento e outros”

    Enquanto R4 diz: “Ao longo de quase dois anos, a equipe tem desenvolvido ações de educação em saúde nos grupos (gestante e idosos); visitas domiciliares com algum membro da equipe, especialmente as ACS; consultas compartilhadas; discussão de casos clínicos; construção de PTS; acolhimento, matriciamento, entre outros”.

    Isto posto nos aponta no êxito da compreensão dos residentes quanto às atividades propostas pelo PRMSF – UFPE que objetiva habilitar os profissionais de saúde para ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação orientadas pelos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) no âmbito do Núcleo de Apoio de Saúde da Família (NASF).

    A questão 03 se tratava de uma extensão da questão anterior na qual perguntamos quais as contribuições do residente acredita ter dado a unidade de saúde da Família, se propondo assim ao mesmo objetivo da questão 02, visando identificar relações entre a formação profissional do residente e enquanto residente do PRMSF – UFPE.

    Das 05 respostas, percebemos que 04 apontaram em uma tendência: a educação na saúde. O R1 nos diz que: “A importância da educação em saúde na promoção e prevenção de doenças... É sem dúvida um “trabalho de formiguinha” de sensibilizar não só às ESF como a própria comunidade.”

    Isto evidencia a necessidade das ações desenvolvidas pelo NASF na conscientização dos usuários para corresponsabilizá-los em relação aos seus problemas de saúde característicos de determinada região atendida pela USF (Unidade de Saúde da Família),

    Para R2 e R5, suas contribuições também se deram na mesma tendência supracitada: “ter reforçado ações de promoção e educação em saúde já existentes na unidade” e “Acredito ter contribuído também para a divulgação do meu núcleo profissional para os meus colegas de trabalhos, equipes de saúde da família e principalmente para a comunidade”, respectivamente.

    Historicamente a população está habituada apenas com médicos, enfermeiros e dentistas em Unidades Básicas de Saúde (UBSs), tornando pertinente pensarmos na perspectiva de promover ações de educação em saúde que apresentem diretamente aos usuários as diversas áreas de saúde atuantes nas Unidades de Saúde da Família (USF) pela lógica do NASF.

    Para isso é pertinente esclarecer questões relacionadas a cada área de atuação na Atenção Básica, reforçando o comprometimento e a ética no atendimento da população.

    Faz-se necessário esclarecer o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Núcleo de determinada região e como ele poderá contribuir na promoção e prevenção da saúde daqueles indivíduos. Desta forma, o PRMSF – UFPE oportuniza os residentes a refletirem ao real papel profissional neste contexto e no processo de cidadania da comunidade.

    Na questão 04 buscamos investigar quais eram as adversidades vivenciadas pelos residentes a fim de identificar quais lacunas o PRMSF – UFPE teve sob a ótica dos pós-graduandos. Por isso, perguntamos: “Quais as maiores dificuldades que você encontra nesse percurso de quase dois anos?”.

    Verificamos que as respostas apontam para insatisfações ocasionadas por diversos motivos, na qual alguns são mais aparentes e outros não são esclarecidos.

    R1 afirma que “Bom, são muitas eu diria. Primeiramente, estruturais. Da própria unidade, que não tem muitas condições para receber tantos profissionais ao mesmo tempo (estágio, PET, residência médica e multiprofissional); E para além da estrutura, tem a dificuldade do entendimento do nosso papel ali.” e ainda completa dizendo que: “Somos profissionais formados, e ao mesmo tempo em processo de formação. Somos profissionais, mas com outra lógica de trabalho. Até a ESF entender que não estamos ali para fazer ambulatório, atender os pacientes que necessitam de um acompanhamento mais sistemático é um processo”.

    Percebemos que as intervenções profissionais no contexto da Estratégia de Saúde da Família (ESF) foram de encontro à estrutura organizacional oferecida pelo PRMSF – UFPE também pela fala do R4: “E uma série de dificuldades relacionadas à organização do Programa de Residência”.

    Ainda sobre a estrutura, R3 diz que: “Falta de estrutura, falta de entendimento dos profissionais de saúde para com o escopo de ações dos residentes (inicialmente), falta de orientação”, enquanto R5: “Tivemos q superar também as dificuldades de ser a primeira turma de residência da UFPE”.

    Essa seqüência de respostas nos evidencia que no momento da prática profissional os residentes se esbarraram com 02 dificuldades: o desencontro dos preceptores (profissionais de saúde que orientam os residentes em suas atividades) quanto ao papel deles e a falta de entendimento dos usuários quanto ao propósito dos profissionais do Núcleo de Apoio de Saúde da Família (NASF).

    Porém, não se faz claro quais os impedimentos advindos do programa quanto aos tutores, aos facilitadores relacionados à Universidade e a Atenção Básica no Recife, carga horária, entre outros possíveis vetores.

    Perguntamos na questão 05 se a residência foi da forma esperada por cada um deles buscando compreender a satisfação pessoal quanto ao PRMSF – UFPE, levando em consideração que a amostra selecionada é caracterizada como a primeira turma do programa. A grande maioria dos residentes afirmou “não”, justificando suas respostas na seqüência, apresentando anseios, satisfações e descontentamentos.

    R1 explica que o PRMSF – UFPE precisa se estruturar para dar conta dos objetivos propostos e cita alguns exemplos: “A Universidade precisa chegar mais junto e dar o apoio e as devidas condições para que possa funcionar (estrutura física com sala de aula, biblioteca, secretaria); reconhecer carga horária dos tutores. O corpo docente/tutores precisa ter mais “perfil”, proximidade com o campo de atuação (saúde pública, coletiva, atenção básica). E os preceptores que são nosso elo no campo de prática precisam ser mais bem orientados, e também estarem na AB”.

    Percebemos em sua fala alguns pontos que evidenciam a falta de estrutura e destacamos que é de fundamental importância tutores e preceptores qualificados no âmbito da saúde pública, com enfoque na Atenção Básica, para promoverem um campo de compreensões, análises, reflexões e discussões sobre a atuação dos diversos profissionais inseridos no NASF por meio da mediação entre a academia (Universidade) e a prática (Unidades atuantes).

    Isto também pode ser compreendido em outras respostas, como a de R2 que afirma: “A residência ainda hoje passa por um processo de constante construção e desconstrução, o que atrapalhou um pouco o desenvolvimento das ações no campo da prática” e R4: “Não. Talvez as próximas turmas do Programa tenham mais sorte. Ser a primeira turma de um Programa como o nosso não tem sido nada fácil para ninguém...”.

    Contudo, R3 demonstra através de sua resposta a importância da perspectiva multidisciplinar, contemplada como um dos objetivos do programa, e diz que: “Foi uma experiência incrível na qual as dificuldades serviram como desafios muitas vezes superados pelo trabalho multidisciplinar”, tornando assim evidente o processo de qualificação e formação continuada que os residentes são submetidos quando ingressados ao PRMSF – UFPE.

    Já R5 evidencia em linhas gerais a importância do programa: “Apesar das dificuldades, hoje, faltando poucos meses para concluir a residência, posso observar quão importante foi para mim esta formação, tendo em vista o meu objetivo de me dedicar a atenção básica” destacando o mérito do PRRMSF - UFPE na formação dos profissionais de saúde voltados a Estratégia de Saúde da Família (ESF), proporcionando contribuições significativas para sua formação.

Discussão

    Este estudo teve como objetivo identificar e discutir as contribuições do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família – UFPE (PRMSF – UFPE) na formação dos profissionais da área de saúde. Portanto, analisamos os conhecimentos que eles já apresentavam no momento em que respondiam as questões (conhecimentos prévios). que foram construídos para além dos dois anos desta pós-graduação.

    Pudemos constatar que os cursos de graduação da área de saúde ainda são carentes de disciplinas que proporcionem aos alunos um diálogo com o campo da Saúde Coletiva(3,5).

    Uma pesquisa desenvolvida em diversos cursos da graduação em Educação Física corrobora com esta perspectiva ao constatar que em diversas instituições nenhuma delas priorizavam disciplinas relacionadas aos aspectos sociais da saúde e ou preparem para a dinâmica da Saúde Pública, havendo prevalência das ações prescritivas e/ou curativas(14).

    Isto implica que possamos prever uma atuação profissional por indivíduos formados com currículos obsoletos, comprometendo as diretrizes para consolidação do SUS, preconizada pela Atenção Integral à Saúde (AIS).

    Contudo, desde 2001 o Ministério da Educação vem propondo reorientações aos cursos de graduação através das Diretrizes Curriculares Nacionais trazendo uma nova perspectiva(15).

    É afirmado que o perfil do profissional de saúde definido nas diretrizes deverá ser de um indivíduo com formação generalista, técnica, científica e humanista, com capacidade crítica e reflexiva, preparado para atuar, pautado por princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção. Enfatiza-se a perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania(15).

    Porém, como percebemos, há um desencontro da teoria e da prática no processo de reestruturação destes cursos. O mesmo ocorre nas pós-graduações que não atendem ao que é proposto e necessitado pelo sistema de saúde(16). Neste aspecto, o PRMSF – UFPE tem se apresentado como um norteador na qualificação dos profissionais, resgatando subáreas da Saúde Coletiva pertinentes a formação desses profissionais, conduzindo-os para os objetivos do programa.

    Além das dificuldades dos cursos de graduação supracitados, a abordagem interdisciplinar e o trabalho em equipes multiprofissionais, raramente são explorados pelas instituições formadoras na graduação, o que se reproduz nas equipes de saúde, resultando na ação isolada de cada profissional e na sobreposição das ações de cuidado e sua fragmentação.

    Para superar esse obstáculo, os gestores do SUS e as instituições de educação superior vêm empreendendo esforços para resolver os urgentes problemas da incorporação de profissionais à Estratégia de Saúde da Família(17).

    O PRMSF – UFPE traz uma proposta de habilitação profissional com enfoque na atuação em equipes multiprofissionais, promovendo assim a reflexão e superação desse obstáculo (7).

    Percebemos indícios através das diversas falas dos residentes que o panorama foi positivo para esta prática por ela propiciar a Atenção Integral à Saúde (AIS) já que permite um fluxo na dimensão vertical e dimensão horizontal, ou seja, extrapola a percepção do usuário apenas no campo biológico e inclui uma visão do ser humano como um tudo além de prestar um serviço intersetorial que contemple diferentes níveis de complexidade do sistema(18, 19).

    A verdadeira discussão diz respeito ao fato dos profissionais de saúde, não apenas os médicos, nem apenas os que trabalham inseridos diretamente na assistência, mas todos os que labutam na produção de serviços de saúde, reaprendem o trabalho a partir de dinâmicas relacionais, somando entre si os diversos conhecimentos(20).

    Faz-se necessário considerar uma intervenção multidisciplinar como uma oportunidade de mediar o problema com diversas áreas de saberes correlatas ao que se pretende solucionar propiciando uma dimensão horizontal e ainda julga-se necessário a compreensão que o usuário é também um promotor de saúde já que ele tem papel importante no êxito das ações de saúde (3, 21).

Considerações finais

    Através desta pesquisa tornou-se identificável alguns vetores que dificultam a formação do acadêmico a nível de graduação da área de saúde para atuar no SUS sob diretrizes e princípios que o regem.

    O Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Federal de Pernambuco traz novas possibilidades aos seus ingressantes oportunizando por meio de um campo prático (trabalho) e reflexivo (acadêmico) uma perspectiva de qualificar-lhe adequadamente para atender as necessidades do sistema de saúde.

    A compreensão das diretrizes e princípios do SUS, as competências dos núcleos multiprofissionais, as realizações de ações de promoção, prevenção e educação em saúde precisam serem aperfeiçoadas durante os cursos de graduação para desenvolvermos recursos humanos qualificados para Saúde Pública e não utilizarmos do PRMSF – UFPE como meio para sanar tais deficiências.

    De qualquer modo, avaliamos o Programa de Residência como um forte propulsor no processo de adequação e superação dessas dificuldades e por meio deste estudo apresenta-se a necessidade do surgimento de outras pesquisas que investiguem o cumprimento dos objetivos que os programas de residência em saúde da família se propõem.

Referências

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  2. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 399/GM de 22 de Fevereiro de 2006. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais do Referido Pacto. P. 01.

  3. Vasconcelos, CM. Pasche, DF. O Sistema Único de Saúde. In: Tratado de Saúde Coletiva. 2ª Edição, São Paulo: Hucitec; 2012. P. 531-558

  4. Aguiar, ZN. O Sistema Único de Saúde e as Leis Orgânicas da Saúde. In: SUS: Sistema Único de Saúde – antecedentes, percurso, perspectivas e desafios. 1ª Edição, São Paulo: Martinari; 2011. P 100-110.

  5. Paim, JS. Almeida FN. Saúde coletiva: uma "nova saúde pública" ou campo aberto a novos paradigmas? Revista de Saúde Pública, n. 32, p. 299-316, 1998.

  6. Célia, RRG. Formação de recursos humanos em saúde da família: paradoxos e perspectivas. Cad. Saúde Pública vol.21 no.2 Rio de Janeiro Mar./Apr. 2005.

  7. Brasil. Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Ciências da Saúde. Manual do Residente, 2012.

  8. Brasil. Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Ciências da Saúde. Processo Seletivo à Residência Multiprofissional em Saúde da Família, 2012.

  9. Bogdan, RC. Birklen, SK. Investigação Qualitativa em Educação; Editora: Porto, Portugal, 1994. P. 48.

  10. Espínola, E. et al. O Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (PRMSF) no Programa de Saúde da Família (PSF): possíveis contribuições, o caso da Unidade de Saúde da Família (USF) Emocy Krause no bairro da Torre na Cidade do Recife – PE. Recife, 2012.

  11. Barros, A. e Lehfeld, N. Fundamentos de metodologia. São Paulo: McGraw-Hill, 1989. P.73.

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  13. Ludke, M. André MEDA. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas, São Paulo, E.P., 1986. P. 48.

  14. Anjos, TC. Duarte, ACGO. A Educaação Física e a Estratégia de Saúde da Família: formação e atuação profissional. Physis, Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, 2009.

  15. Brasil. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. O ensino de enfermagem no Brasil: o ontem, o hoje e o amanhã. Brasília, 2006.

  16. Akerman, M. Feuerwer, L. Estou me formando (ou me formei) e quero trabalhar: que oportunidades o Sistema de Saúde me oferece na Saúde Coletiva? Onde posso atuar e que competências preciso desenvolver? In: Tratado de Saúde Coletiva. 2ª Edição, São Paulo: Hucitec; 2012. P. 171-185

  17. Brasil. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional da Saúde, 2007. (Série C, Projetos, Programas e Relatórios). P. 08.

  18. Carvalho G. Os governos trincam e truncam o conceito da integralidade. Radis, 49, p.16, set. 2006.

  19. Giovanella L. et al. Saúde da família: limites e possibilidades para uma abordagem integral de atenção primária à saúde no Brasil. Ciênc. saúde coletiva vol.14 no.3 Rio de Janeiro May/June 2009.

  20. Franco, TB. Mehry, EE. PSF: Contradições e novos desafios. Tribuna Livre. Belo Horizonte, 1999.

  21. Marques, KS. A interação dos profissionais de educação física e fisioterapia na reabilitação cardiovascular. 2004.

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