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Comparação de capacidades motoras e características 

antropométricas em atletas adolescentes
de voleibol, de acordo com o sexo

Comparación de las capacidades motoras y las características
antropométricas en adolescentes jugadores de voleibol, de acuerdo al sexo

 

Instituto Politécnico de Leiria

Centro de Investigação em Motricidade Humana

Escola Superior de Educação e Ciências Sociais

(Portugal)

Pedro Morouço

Ana Rodrigues

Samuel Toste

pedro.morouco@ipleiria.pt

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi avaliar as capacidades motoras e características antropométricas de atletas de voleibol, tentando identificar possíveis diferenças inferidas pelo sexo (masculino e feminino). A amostra foi constituída por 30 atletas do mesmo escalão (15 raparigas e 15 rapazes), com idades entre os 13 e 14 anos. Foram efetuadas as medições antropométricas (estatura, massa corporal, envergadura, altura com extensão dos membros superiores e cálculo do índice de massa corporal), e os testes de salto vertical, salto horizontal, teste T, velocidade (6m) e força de preensão com dinamómetro. Através destes testes foi possível observar que nestas idades começam a diferenciar-se os resultados entre rapazes e raparigas. Foi visível uma melhor prestação ao nível da agilidade e força de preensão nos rapazes. A realização de protocolos de avaliação nestas idades pode permitir a criação de bases de dados que permitam comparar a evolução dos atletas, ao longo da carreira desportiva.

          Unitermos: Voleibol. Capacidades motoras. Características antropométricas.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O voleibol é um desporto intermitente que solicita diversos períodos de alta intensidade, seguidos de períodos com baixa intensidade (Viitasalo et al., 1987). Estes pequenos períodos de alta intensidade, acumulados com a duração total do jogo (~90min), exigem aos jogadores que possuam boas capacidades aeróbias e anaeróbicas (Polglaze e Dawson, 1992; Viitasalo et al., 1987). Pode ser considerado uma das modalidades desportivas mais complexas, que exige perfeição na execução das suas habilidades e características físicas específicas que, quando associadas, proporcionam um melhor desempenho (Massa, 1999).

    Weineck (1999) afirma que fisicamente o atleta deve ter uma estatura privilegiada, com elevada coordenação, possibilitando ataques de bolas altas, rápidas e blocos nos vários pontos da rede, sem um grande desgaste físico. Além de força, agilidade, raciocínio e reações rápidas, deve ser dotado de uma grande resistência, pois os jogos podem durar várias horas. As ações de ataque e de bloqueio, que envolvem saltos verticais, podem ser primordiais para o jogo de voleibol, pois as equipas que possuírem melhor eficiência nesses fundamentos, podem ter uma grande vantagem sobre outras (Fleck et al.,1985; Matsushigue, 1996; Ugrinowitsch, 1997). Segundo Eom e Schutz (1992), o ataque e o bloqueio são as habilidades mais importantes para determinar o sucesso de uma equipa.

    Muitas capacidades motoras são necessárias no voleibol e é na preparação física que elas devem ser trabalhadas de forma a aperfeiçoá-las. Pode-se citar a capacidade aeróbia, anaeróbia (lática e alática), força (máxima e explosiva), potência, velocidade (de movimento, de deslocamento, reação e perceção), flexibilidade, agilidade, resistência, entre outras. Mas cabe a cada treinador avaliar a forma que irá trabalhar cada uma delas, sabendo também, como devem ser priorizadas ao longo do treino (Puhl, 2008). A maioria dos estudos encontrados sobre os fatores antropométricos e de aptidão física nesta modalidade, não são recentes. Adicionalmente, os estudos apontam para uma tendência dos pesquisadores em analisar a categoria adulta, mais propriamente de alto rendimento, pois os estudos sobre crianças e/ou adolescentes são escassos.

    O objetivo do presente estudo foi avaliar as capacidades motoras e características antropométricas de atletas adolescentes de voleibol, tentando identificar possíveis diferenças inferidas pelo sexo.

Métodos

Amostra

    Participaram no estudo um total de 30 atletas de uma equipa federada de voleibol, com idades compreendidas entre os 13 e os 14 anos (raparigas: 14.2 ± 0.6 anos; rapazes: 14.4 ± 0.6 anos), sendo 15 atletas do sexo feminino e 15 do sexo masculino.

Procedimentos

    Os testes foram implementados num espaço interior, iniciando pelas medições antropométricas (estatura, massa corporal, envergadura e estatura com a extensão dos membros superiores) seguido de um aquecimento standard de intensidade moderada (15 min) e só depois foram aplicados os cinco testes: salto vertical; salto horizontal; teste T; teste de velocidade (6m); e força de preensão manual, com a devida recuperação entre eles.

    Para realização do teste de salto vertical (ImpV) foi colocada uma fita métrica verticalmente numa parede. O participante colocou-se de pé, com os calcanhares no solo, os pés paralelos, mantendo o corpo lateral à parede. Antes de executar o salto pintou as pontas dos dedos com giz de cor. Ao sinal do sonoro, executou o salto, com o intuito de tocar com as pontas dos dedos, da mão dominante, o mais alto possível na parede. As medições foram registadas em centímetros (cm).

    Para o teste de salto horizontal (ImpH) foi colocada uma fita métrica horizontalmente no chão. O participante colocou-se com os pés paralelos no ponto de partida (linha zero da fita métrica fixada no solo). Após receber autorização, o atleta saltou com impulsão simultânea dos membros inferiores, com o intuito de atingir o ponto mais distante da fita métrica. Foi permitida a movimentação livre dos membros superiores e tronco e registou-se a marca atingida pela parte posterior do pé (calcanhar) em centímetros (cm).

    Foi realizada uma adaptação ao teste T colocando três cones sobre uma linha, com uma distância de 4.5 metros entre eles e outro cone alinhado com o cone central, a 9 metros, formando assim um “T”. Ao sinal sonoro o participante, partindo do cone que se encontra a 9 metros do cone central, deslocou-se até este, tocando nele com a mão direita, de seguida realizou deslocamentos laterais, sem cruzar os membros inferiores, para o cone do lado esquerdo, tocando-lhe com a mão esquerda. Voltou a realizar os deslocamentos laterais para o cone que está mais à direita, tocando-lhe com a mão direita e regressou para o cone central, tocando-lhe com a mão esquerda. Culminando com corrida para trás, até ao cone inicial. Assim que o participante passava este cone, era parado o cronómetro que registou o tempo (testT), em segundos (s), que o participante demorou a realizar o teste.

    Para o teste da velocidade (vel) foi utilizada a corrida máxima de 6 metros. Foram colocados dois cones, com uma distância de 6 metros entre eles. O participante colocou-se junto ao cone inicial e, após o sinal sonoro, correu o mais rápido possível até ao cone final, só parando depois de o ultrapassar. Assim que o participante passava o cone, era parado o cronómetro que registava o tempo, em segundos (s), que o participante demorou a realizar o teste.

    A força de preensão palmar (Fpreens) foi estimada com recurso a um dinamómetro de mão (Takei TKK 5401, Takei Scientific Instruments, Tóquio, Japão). O participante de pé, com o membro superior ligeiramente afastado do tronco, realizou a força máxima com a mão dominante. O registo foi efetuado em kgf.

Análise estatística

    Para o tratamento dos dados recorreu-se ao programa de estatística SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 20.0. Para verificar a homogeneidade de variâncias e normalidade dos dados recorreu-se aos testes de Levene e Shapiro-Wilk, respetivamente. Recorreu-se ao t test de Student para medidas independentes para comparação dos grupos. Foi adotado um nível de significância de 95% (p < 0.05).

Resultados

    Na tabela 1 estão apresentados os resultados referentes às variáveis avaliadas, de acordo com o sexo. Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (p < 0.05) na massa corporal, no tempo para realização do teste T e na força de preensão manual.

Tabela 1. Valores médios (± desvio padrão) e nível de significância para as variáveis estudadas, de acordo com o sexo

Discussão

    O propósito deste estudo foi avaliar e comparar as capacidades motoras e características antropométricas de atletas adolescentes de voleibol, de acordo com o sexo. Assim sendo, selecionámos alguns testes físicos que avaliam algumas das capacidades motoras necessárias para um jogo de voleibol, como a velocidade, impulsão vertical, agilidade, impulsão horizontal e força. Os estudos na área são escassos, sendo que a maioria encontra-se relacionada com atletas de alta competição, ou seja, no escalão de sénior. Também não foram encontrados estudos que comparem atletas de sexo diferente, dentro desta faixa etária, no voleibol.

    Como foi possível observar na tabela 1, existem algumas diferenças entre as raparigas e os rapazes, tanto nas características antropométricas, como nas suas capacidades motoras. Estas diferenças poderão dever-se ao facto dos participantes no estudo estarem a atravessar a fase da puberdade. Durante a puberdade (aproximadamente dos 11 aos 16 anos de idade), ocorrem diversas alterações morfológicas e funcionais que interferem diretamente no envolvimento e na capacidade de desempenho desportivo. Trata-se de um período dinâmico do desenvolvimento, marcado por rápidas alterações no tamanho e na composição corporal. Um dos principais fenómenos é o pico de crescimento em estatura, acompanhado da maturação biológica (amadurecimento) dos órgãos sexuais e das funções neuromusculares (metabólicas), além de alterações importantes na composição corporal, apresentando diferenças importantes entre os sexos (Ré, 2011). Por exemplo, nos rapazes o pico de crescimento em estatura ocorre aproximadamente aos 14 anos de idade, com grandes variações individuais, sendo normal a ocorrência deste entre os 12 e os 16 anos de idade (Rogol et al., 2002).

    Uma das variáveis onde os rapazes apresentaram um valo estatisticamente superior ao das raparigas foi na massa corporal. Esta diferença é suscetível de acontecer nestas idades, visto que, aproximadamente seis meses após o pico de crescimento, ocorre o pico de ganho de massa muscular, diretamente associado à elevação de testosterona (Rogol et al., 2002). Esse ganho de massa e o amadurecimento das funções musculares proporcionam um aumento na capacidade metabólica, que por sua vez tende a aumentar os índices de força, velocidade e resistência, especialmente se existirem estímulos motores adequados (Jones et al., 2000; Ré et al., 2005; Ré, 2011; Stodden et al., 2008).

    Nas raparigas, o pico de crescimento em estatura ocorre por volta dos 12 anos de idade e apresenta consideráveis variações em relação à idade cronológica, podendo ocorrer entre os 10 e os 14 anos (Malina et al., 2009; Ré, 2011; Rogol et al., 2002). Após o pico de crescimento, ocorre a menarca, diretamente associada à elevação da produção de estrogénios. Entretanto, não existe um ganho acentuado de massa muscular, uma vez que não há elevação significativa na produção de testosterona (Malina et al., 2009). Assim, as raparigas aumentam a percentagem de gordura corporal (principalmente na zona dos seis e quadris), o que não favorece a execução de habilidades motoras.

    As diferenças entre os grupos na impulsão vertical são semelhantes às que ocorrem na impulsão horizontal (Malina et al., 2009). É descrito na literatura que as raparigas com 12-13 anos de idade têm quase tanta impulsão como os rapazes da mesma idade. Só posteriormente, a força de impulsão nos rapazes começa a aumentar consideravelmente mais do que nas raparigas (Letzelter e Letzelter, 1986). Esta perspetiva está de acordo com os resultados obtidos no presente estudo, que demonstram que aos 13-14 anos as diferenças começam a exibir uma tendência para superioridade dos rapazes.

    No que se refere à agilidade, é considerado que esta capacidade motora evolui ao longo da idade. Tendo em consideração as fases sensíveis de desenvolvimento da criança, é apontado como período de maior desenvolvimento a fase entre os 5 e os 8 anos de idade. Posteriormente, tende a continuar a aumentar até pelo menos aos 18 anos nos rapazes e aos 14 nas raparigas (Branta et al., 1984). Para a presente amostra foram identificadas diferenças ao nível do teste de agilidade, reforçando a superioridade dos rapazes para esta faixa etária.

    Relativamente à força, as diferenças entre sexo são evidentes logo a partir dos 4-5 anos de idade. Em média, os rapazes são mais fortes, em ambas as mãos, do que as raparigas. Essas diferenças tonam-se mais evidentes na altura em que decorre o salto pubertário nos rapazes, tornando-se progressivamente maiores com o aumento da idade (Faust, 1977). Entre os 7 e os 13 anos de idade, o aumento de força em ambos os sexos é idêntico, no entanto, os rapazes continuam a aumentar a força durante a adolescência (Carvalho, 1996).

    Nos rapazes, a velocidade da corrida melhora muito entre os 5 e os 17 anos de idade, sem indicação de um claro salto pubertário. Os rapazes são mais rápidos que as raparigas já na infância, mantendo-se essa vantagem ao longo do crescimento da criança (Seefeldt, 1986).No entanto, no presente estudo não foram identificadas diferenças significativas entre grupos.

Conclusão

    Concluímos com este estudo que, para uma mesma faixa etária, os rapazes obtêm melhores resultados ao nível da agilidade e força de preensão manual do que as raparigas. Ao nível antropométrico foi percetível uma maior massa corporal dos rapazes.

    A existência de poucos estudos, na modalidade de voleibol, que analisem crianças e adolescentes, comparando os resultados entre sexos, dificultou a comparação de resultados com outras amostras. A realização de protocolos de avaliação nestas idades poderá permitir criar valores de referência para comparação dos resultados, ao longo da carreira desportiva do atleta.

Referências

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