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A generosidade do campeonato catarinense 

de futebol: o estadual mais equilibrado do país

La generosidad del campeonato catarinense de fútbol: el regional más equilibrado del país

 

Graduado em Geografia e Educação Física

Mestre em Desenvolvimento Regional pela UnC

Professor dos Departamentos de Educação Física das

Faculdades Integradas do Vale do Iguaçu (Uniguaçu)

e Universidade do Contestado (UnC) Núcleo de Porto União

Coordenador do GEPARFFUT da Uniguaçu

Douglas Tajes Jr.

douglastajesjr@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Qual campeonato estadual de futebol as equipes do interior rivalizam com as da capital em números de título no Brasil? O presente estudo pretende expor a generosidade do campeonato catarinense de futebol, fazendo um comparativo no período de 1960-2010 entre este campeonato estadual de futebol com outros oito estaduais brasileiros: campeonato paulista; campeonato carioca; campeonato gaúcho; campeonato paranaense; campeonato mineiro; campeonato baiano; campeonato goiano e campeonato pernambucano. A metodologia empregada se baseia no materialismo dialético proposto por Hegel, do tipo exploratória, estudo de caso e será de perfil quali-quantitativo, baseada em dados primários e secundários. A amostra se caracteriza como não probabilista, desta forma intencional. Os dados serão apresentados por estatística descritiva em forma de tabelas. Os resultados obtidos foram o campeonato catarinense obteve um percentual de 29% dos títulos estaduais conquistados pelos clubes da capital, enquanto que o carioca e pernambucano obtiveram 100%, o gaúcho, mineiro e o baiano 96%, o paulista 95%, o goiano 93% e o paranaense 82%. Desta forma, podemos afirmar que o campeonato catarinense de futebol é o mais equilibrado do país.

          Unitermos: Estaduais de futebol. Santa Catarina. Equilíbrio.

 

Abstract

          What state championship soccer teams inside rival those of capital in numbers title in Brazil? This study aims to expose the generosity of this state championship football, doing a comparative period in 1960-2010 between the state championship soccer with eight other Brazilian states: São Paulo championship; Rio de Janeiro championship; Rio Grande do Sul championship; Paraná championship; Minas Gerais championship, Bahia championship, Pernambuco championship and Goias league championship. The methodology is based on dialectical materialism proposed by Hegel, the type exploratory case study and will be quali-quantitative profile, based on primary data and side. The sample is characterized as non-probabilistic, this intentionally. Data will be presented by descriptive statistics in tables. The results were Santa Catarina League obtained a percentage of 29% of state titles won by clubs from the capital, while Rio de Janeiro and Pernambuco had 100%, the Rio Grande do Sul, Bahia and Minas Gerais 96%, the 96% São Paulo, Goias 93% and Parana 82%. Thus, we can say that the Santa Catarina Soccer League is the most balanced in the country.

          Keywords: State soccer. Santa Catarina. Balance.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Há muitos anos existe uma discussão no Brasil referente à existência dos campeonatos estaduais de futebol. Essa temática toma rumos e/ou acaloradas discussões, principalmente quando entram no quesito da participação dos clubes “grandes” (clubes da capital). Os clubes da capital, por disputarem um calendário mais extenso durante o ano (aproximadamente 70 partidas). Necessitam de um tempo maior para a sua preparação inicial para suportar esse volume de jogos. Em contrapartida, no primeiro semestre (segunda quinzena de janeiro) têm início os estaduais. E essa preparação fica prejudicada por um retorno tão precoce as atividades, pois, o campeonato nacional encerra na primeira quinzena de dezembro (entre os dias 8 e 9) e o início das atividades nos clubes ocorre geralmente no dia 6 de janeiro.

    Já para os clubes do interior do Estado, essa é uma grande chance de exposição perante a mídia e torcedores do restante do país. Esses clubes tem um tempo de preparação relativamente maior do que os da capital. Contemplando por esse prisma, isso pode ser uma prerrogativa de que os clubes do interior vão melhor do que os clubes da capital nessa competição? E/ou não vão?

    Por outro lado, existe alguma possibilidade do desenvolvimento econômico regional influenciar para que uma determinada equipe se torne campeã? Pois, o processo de desenvolvimento econômico regional comporta um agrupamento variado de reflexos na estrutura socioeconômica do ambiente. E a área desportiva não é imune a esses reflexos. Portanto, a região onde está localizada a agremiação, deve possuir setores econômicos para suportar os gastos volumosos correntes para alcançarem os seus objetivos. Sendo assim, modalidades mais caras e/ou equipes mais ambiciosas só poderão obter respostas às suas necessidades em contextos locais e regionais caracterizados por patamares mais elevados de desenvolvimento (MOURÃO, 2004).

    Entretanto, o objetivo do estudo é saber qual o campeonato estadual de futebol as equipes do interior rivalizam com as da capital em números de título no Brasil? O presente estudo disponibiliza um viés pouco elucidado na bibliografia, pois trata de um comparativo entre nove campeonatos estaduais nacionais, sobre a localização (capital ou interior do Estado) dos seus campeões desde 1960 – 2010. Essas novas concepções podem subsidiar a elaboração de trabalhos futuros, através da sistematização do conhecimento gerado na efetivação do estudo, o que será possível a partir do cruzamento de indicadores e variáveis, sobre os campeonatos estaduais de futebol no Brasil.

Materiais e métodos

    A metodologia empregada fundamenta-se no materialismo dialético proposto por Hegel, será de perfil quali-quantitativo. Quanto ao tipo de pesquisa é exploratória, que é toda pesquisa que busca constatar algo num organismo ou num fenômeno. A forma é de estudo de caso. O universo é constituído por nove campeonatos estaduais brasileiros, catarinense, gaúcho, paranaense, paulista, carioca, mineiro, goiano, baiano, pernambucano. Serão analisados os campões estaduais dos anos de 1960 – 2010 para realizar um comparativo entre a localização do campeão estadual (capital ou interior do Estado). A escolha dos campeonatos ocorreu de forma não probabilista, logo a amostra é do tipo intencional. Os dados foram obtidos nos sítios das federações estaduais de futebol dos respectivos Estados. O instrumento de coleta de dados foi realizado através de fichamento de documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser recolhidas no momento em que o fato ou fenômeno ocorreu, ou depois (MARCONI e LAKATOS, 1996, p. 62). E secundários oriundos de pesquisa bibliográfica. Os dados colhidos serão descritos em forma de estatística descritiva em forma de tabelas.

Resultados

Discussão

    Com base nos dados apresentados nas tabelas 1 e 2, não existem relatos de campeonato estadual de futebol de grande porte onde o interior e a capital se enfrentem de forma tão equilibrada quanto no Estado de Santa Catarina. Confirmação disso são os oito títulos estaduais consecutivos do Joinville Esporte Clube no final da década de 1970 e início da década de 1980. Outro fato é a maior glória do futebol catarinense que pertence ao Criciúma Esporte Clube, campeão da Copa do Brasil em 1991. E nesse ano, a Associação Chapecoense de Futebol que jogará a Série A do Campeonato Brasileiro juntamente com o Criciúma Esporte Clube e o Figueirense Futebol Clube e o Avaí Futebol Clube jogará a Série B do Campeonato Brasileiro. Primeira vez na história que o futebol catarinense vai ser representado no maior campeonato de futebol do país na era dos pontos corridos por três agremiações, duas do interior e uma da capital do Estado.

    Apoiados em Machado (2000) que afirma que para muita gente da época, só mesmo a edição de 1927 foi considerada um estadual de verdade, pois até então participavam apenas as equipes da capital. As deficiências das estradas que levavam até a Florianópolis limitavam a idéia de que times do interior do Estado participassem do campeonato catarinense de futebol, embora o futebol já tivesse se difundido por todo o Estado. A partir de meados da década de 1940, o interior catarinense se tornou hegemônico. Tanto que, no período de 1940 – 2010, a dupla da capital Figueirense Futebol Clube e o Avaí Futebol Clube conquistou apenas quinze títulos (9 com o Figueirense e 6 com o Avaí). Equipes de fora da capital se adequaram mais rapidamente à realidade do profissionalismo, caso clássico do Esporte Clube Metropol, da cidade de Criciúma.

    Entretanto, os dados nos apresentam que as equipes da capital de Santa Catarina conseguem 29% dos títulos nesse período de cinqüenta e um anos, enquanto as agremiações oriundas do interior do Estado perfazem um total de 71% dos títulos. O Estado que tem a menor porcentagem de clubes da capital para os do interior é o Estado do Paraná, com 82% dos títulos para os clubes da capital e 18% deles para os clubes do interior. Mostrando uma grande vantagem perante os adversários do interior. O que pode explicar essa situação?

    Pautados no estudo de Mourão (2004) que trata da importância do desenvolvimento regional na localização de equipes profissionais de futebol, podemos obter algumas respostas perante esse assunto. O presente estudo referenciado procura testar a hipótese, se o nível de desenvolvimento econômico da região condiciona a presença das coletividades de futebol profissional, aí sediadas, na primeira divisão portuguesa. Para confirmar essa hipótese, o autor levou em consideração alguns itens: nível de qualidade média de vida; nível de longevidade; nível de rendimento médio dos residentes da localidade e dimensão populacional. Os resultados obtidos foram que: o nível de qualidade de vida e longevidade não é significativo em nenhum período levantado. Já os pontos referentes ao nível de rendimento médio dos residentes da localidade e dimensão populacional mostraram uma significância de elevada magnitude. Desta forma, os dados corroboram que na realidade de Portugal, o desenvolvimento econômico regional influência na localização de equipes profissionais de futebol que disputam a primeira divisão daquele país.

    Haja vista que, na comparação que estamos debruçados, parece ser uma anomalia, pois, o cenário nacional se difere, pois as regiões do Estado com maior infraestrutura e maior população detêm a grande maioria dos títulos estaduais de futebol profissional. Isto mostra que, o dinamismo econômico de uma região reflete no desempenho esportivo do clube situado nessa região. Santa Catarina é um caso raro no panorama nacional, de desenvolvimento equilibrado, no qual a diversidade, o minifúndio, a microempresa e a cooperação regional têm papel de destaque. Sendo assim, o futebol catarinense parece observar a mesma lógica de conjuntura econômica. O desenvolvimento do futebol catarinense pode estar vinculado ao processo de desenvolvimento regional, porque o campeonato estadual de futebol apresenta um grande número de diferentes clubes campeões bem distribuídos regionalmente, tal como acontece com o processo de divisão econômica regional, que é marcada por uma forte heterogeneidade.

    Na década de 1960 a região sul do Estado de Santa Catarina é a mais vencedora da década, obtendo 6 títulos. Os três primeiros anos da década de 1960 (1960, 1961 e 1962) tiveram como campeão estadual de futebol profissional o E.C. Metropol da cidade de Criciúma. Segundo Silva Júnior (1996) apud Carola (2002) o futebol foi um tipo de lazer utilizado pelos proprietários de minas para atenuar os conflitos entre capital e trabalho. Praticamente, cada mina tinha seu time, no qual os jogadores-mineiros descarregavam suas tensões, esquecendo temporariamente a brutalidade da exploração a que estavam sujeitos. Muitas partidas (dentro e fora do campo) viravam palco de pancadarias, com tiros, paus e pedras voando para todos os lados. As rivalidades aumentavam e as partidas muitas vezes pareciam arenas onde se defrontavam gladiadores. Mas nem sempre a violência era a tônica do futebol. Nos períodos de campeonato, o domingo era dia de futebol e a comunidade operária, formada por homens, mulheres, idosos e crianças, era espectadora ativa. Entre as rivalidades, o autor destaca o clássico entre o Metropol, time da Companhia Metropolitana, e o Comerciário, time pertencente às elites do comércio da cidade.

    O Metropol pertencia à Companhia Carbonífera Metropolitana e atuou como time profissional no período de 1959 a 1969. O time era formado por trabalhadores mineiros e jogadores profissionais contratados em outros clubes. Vindo do amadorismo em 1959, a sociedade Freitas – Guglielmi passa a investir no Esporte Clube Metropol. “[...] A partir desse momento, com o impulso financeiro da Companhia Carbonífera Metropolitana, começa a história do ‘Metropol rico’ [...]” (CORRÊA, 2006). Em 1960, tornou-se clube rico e programado para se impor pela diferença na qualidade técnica de seus jogadores e extrema organização. Acabou parecendo-se, em muito, guardadas as devidas proporções, com o poderoso Santos Futebol Clube, à época o melhor time de futebol do mundo. Dele copiou até o impecável uniforme todo branco que costumava usar em seus jogos principais, trocando apenas a cor de fundo, o preto, pelo verde. O Metropol foi, também, chamado de “Real Madrid Catarinense” pela imprensa da Capital, em alusão ao poderoso Real Madrid, da Espanha, outro dos maiores times do mundo naqueles dias. Em 1962, o clube se fez presente nos gramados da Europa, trazendo um resultado surpreendente de 13 vitórias, 6 empates e 4 derrotas. Tido como clube moderno, foi campeão estadual cinco vezes na década de 1960 (1960, 1961,1962,1967 e 1969), e também quinto lugar na Taça Brasil (MACHADO, 2000). Estranhamente em 1969, abandonou à realidade do profissionalismo e passou a disputar apenas competições amadoras, condição que preserva até os dias atuais. A trajetória do Metropol (1959-1969) retrata em que o poderio econômico de alguns mineradores era marcante. (SILVA JÚNIOR, 1996 apud CAROLA, 2002).

    Segundo Goularti Filho (2007) o complexo carbonífero catarinense continuou se expandindo durante todo o período da Primeira Guerra. A crise maior que o setor passou foi imediata após o final da Segunda Guerra, quando o governo federal parou de garantir a compra de toda a produção. A crise, na verdade, foi de superprodução, as mineradoras continuaram no mesmo ritmo de produção anterior a 1945. Como forma de pressionar o governo a voltar a garantir a compra de toda a produção, durante os meses de fevereiro de 1947 e maio e junho de 1949, foi realizada, na cidade do Rio de Janeiro, uma Mesa-redonda, conhecida como a Batalha do Carvão, para debater os problemas do carvão nacional. O apelo que vinha dos empresários e dos políticos que representavam os interesses do setor era um só: a garantia de compra de toda a produção pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), sem a qual seria impossível a sobrevivência do carvão nacional. No final da Mesa, foi elaborado um documento que enumerava trinta medidas necessárias para manter o setor em pleno funcionamento. A Companhia Carbonífera Metropolitana, mantenedora do E. C. Metropol, teve uma produção bruta de carvão no ano de 1956 de 154.087 toneladas. Essa produção foi a terceira maior do Estado, comprovando que o município de Criciúma possuía um bom desenvolvimento econômico regional naquele final de década e que possibilitou a formação de um clube vencedor. Tanto é verossímil isso, que a outra equipe da cidade de Criciúma, o Comerciário E.C. (equipe da elite do comércio), sagrou-se campeão no ano de 1968, o que segundo Machado (2000) mostra que a Capital do Carvão, possuía o maior reduto de clubes profissionais do Estado. Pois, além das duas equipes mais famosas (E. C. Metropol e Comerciário E. C.) possuía o E. C. Próspera e o Atlético Operário Futebol Clube. Desta forma, pode-se afirmar que na década de 1960 a realidade econômica regional do carvão no município de Criciúma oportunizou a formação de clubes de futebol profissional de renome no Estado.

    Na busca por materiais que tratem desta temática, encontramos Mascarenhas (2006) que tratou do assunto, futebol e o desenvolvimento econômico no Rio Grande do Sul. Neste estudo, encontramos que em 1919 a Federação Rio Grandense de Desportos, organiza o primeiro campeonato gaúcho de futebol. Neste campeonato, participaram apenas três agremiações: o Grêmio de FootBall Portoalegrense, representando a capital, o 14 de Julho de Livramento, representando a fronteira e o Sport Club Brasil, de Pelotas, que foi o campeão. A explicação desse título nos é colocada pelo autor, devido ao grande poderio econômico de um vigoroso centro moderno e cosmopolita. Na outrora cidade da aristocracia do charque, um clube de futebol era financiado por um dos seus ricos industriais, o Senhor Simões Lopes. O autor segue nos informando que, de 1940 – 2003 os clubes da capital vencem 62 dos 64 campeonatos disputados, nós encontramos 49 títulos vencidos pela dupla GRE-NAL e os mesmos 2 títulos de fora da capital durante o período estudado. Isso reflete a decadência econômica da metade sul do Estado do Rio Grande do Sul após o final do ciclo do charque e conseqüentemente o processo de metropolização da capital Porto Alegre.

    De volta ao campeonato catarinense, após o “Ciclo Capital”, com quatro títulos seguidos conquistados em revezamento entre Avaí e Figueirense; em meados da década de 1970, a cidade de Joinville, vivia um crescimento vertical de sua economia e da população, mas seus dois clubes profissionais (América e Caxias) contrastavam com esse quadro favorável. Estavam à beira da falência. Apenas cumpriam papel de figurante no filme vitorioso da dupla da capital. A idéia da fusão das duas equipes como alternativa para se manter o futebol profissional na cidade começou a ganhar força no final de 1975. Com o apoio direto do empresário João Hansen Neto (Tubos e Conexões Tigre) e da imprensa esportiva da cidade, os dois clubes finalmente aceitaram fundir os seus departamentos de futebol profissional. Surgiu em 29 de janeiro de 1976 o Joinville Esporte Clube (JEC), a agremiação do Norte origina-se da própria memória do futebol joinvilense, nascendo da bem-sucedida fusão dos departamentos de futebol profissional de América e Caxias, as duas mais tradicionais agremiações da cidade. E a trajetória vitoriosa do time da “Manchester Catarinense”, começou justamente no ano de sua fundação, quando disputou as finais com o Juventus, de Rio do Sul, vencendo os dois jogos por 1 a 0, fora e em casa. Com isso, tornou-se o campeão catarinense daquele ano (MACHADO, 2000).

    O bom desenvolvimento econômico regional de Joinville e o apoio dos empresários locais fizeram do JEC o campeão de 1976, mais uma vez, a realidade econômica regional em parceria de sucesso com o futebol profissional.

    A década de 1980 se inicia, mas o título continua nas mesmas mãos: o Joinville Esporte Clube, a agremiação do Norte, conquistou os seis primeiros títulos da década (1980, 1981, 1982, 1983, 1984 e 1985) somando-se aos dois títulos dos anos anteriores, conquistou oito títulos seguidos, fato inédito no campeonato catarinense de futebol profissional. Antes, o máximo de títulos em seqüência de que se tinha notícia em terras barriga-verde eram quatro ganhos pelo Avaí, de 1942 a 1945. Nesta década também, estava reservado o início de uma das mais históricas rivalidades do futebol catarinense. Começa aqui, a disputa pela hegemonia do futebol barriga-verde entre o Criciúma, do Sul do Estado, e JEC, do Norte, representando as cidades que lhes emprestam o nome (MACHADO, 2000).

    Para que se possa contar essa história, precisa-se voltar ao ano de 1978. Nasce a idéia no dia 22 de janeiro, na qual, previa a mudança de nome de Esporte Clube Comerciário para Criciúma Esporte Clube, aprovada no dia 17 de março. Assim, tem-se como fundado o novo time da “Capital do Carvão”. Contrariando comentários que dizem ter o clube sulino nascido de uma fusão de times da “Capital do Carvão”, o Criciúma Esporte Clube, originalmente Comerciário, que apenas mudou de nome. Surgiu o Criciúma Esporte Clube num momento oportuno em que começava a cair à identidade futebolística do lugar, antes bastante promovido por ter sempre quatro clubes disputando o Estadual. Todos os anos lá estavam o Comerciário, Metropol, Atlético Operário e o Próspera (MACHADO, 2000).

    No ano de 1991, o Criciúma Esporte Clube conquista o seu tricampeonato, na segunda colocação fica a Chapecoense. Mas, o ano de 1991, vai ficar marcado na história do futebol catarinense. Por que, no dia 2 de junho o Criciúma Esporte Clube conquista a Copa do Brasil, a segunda principal competição de futebol do país.

    Mas, esse feito só foi possível devido há um fato econômico regional. Os anos 1970 foram marcados pela rápida expansão da produção nas três maiores cerâmicas sul-catarinenses – Eliane, Cesaca e Cecrisa – e pelo aparecimento de novas unidades. Desde os anos 1940, Criciúma era conhecida como a “Capital Nacional do Carvão”. A partir de 1973 passa a ser também conhecida como a “Cidade dos azulejos”. Ainda nos anos 1960, foram fundadas a Cerâmica Criciúma S.A. (Cecrisa), em Criciúma, 1966, e a Indústria e Comércio de Cerâmica S.A. (Incocesa), em Tubarão, 1969, ambas entram em operação na década seguinte..

    Apoiados nos dados das tabelas 3 e 4, explica-se o fenômeno Criciúma Esporte Clube nos gramados catarinenses e como se percebeu nos gramados nacionais, apoiado por uma realidade econômica regional muito estruturada e pulsante. Na tabela 3, as cerâmicas em destaque eram localizadas no município de Criciúma na epóca. Os dados comprovam que a realidade econômica regional de Criciúma, no início da década de 1990, era favorável para a formação de uma equipe de futebol competitiva, como foi o caso do Criciúma E.C. Os revestimentos cerâmicos totalizando 42,5% da produção brasileira e o carvão totalizando 64,2% da produção nacional. Já que a Cerâmica Eliane era estampada na camisa do clube naquele ano.

    Em comparação com os dois estaduais mais relevantes do país, o paulista e o carioca, observamos que, no paulista durante o período analisado acontecem três títulos de equipes oriundas de fora da capital. O ano de 1990, ficou conhecido como a “Festa do Interior”, quando decidiram o campeonato paulista Bragantino, da cidade de Bragança Paulista e Novorizontino da cidade de Novo Horizonte. Quanto ao campeonato carioca, não há relatos de campeões de fora da capital fluninense. Confirmando a supremacia dos times sediados na capital.

    Os clubes de futebol de Santa Catarina e as suas indústrias apresentam um plano de marketing diferente dos outros Estados quando o assunto é futebol. Pois se utiliza das empresas regionais, com a sua exposição aliadas aos clubes de futebol do Estado ao longo do tempo, para buscar projeção e fortalecimento no mercado local. Melo Neto (2007) define marketing esportivo como “um tipo de marketing promocional”. Ele diferencia o marketing esportivo do marketing publicitário tradicional pelos seguintes motivos: dá chance do consumidor participar ativamente deste mercado; e possibilita uma ótima resposta ao nível de imagem e de vendas, pois atinge o consumidor de forma mais rápida e direta. Mesmo que o consumidor não queira, ele tem contato direto com a marca espantada na camisa do clube que ele é simpatizante.

    Também é possível através do esporte a regionalização da mídia e segmentação de mercado. Ao vincular a marca da empresa ao esporte, ela obtém alto poder de penetração na mente do consumidor, pois o momento encontra-se disponível para aquela situação. Uma das vantagens do marketing esportivo é sua capacidade de fixação da marca ou do produto da empresa investidora na mente do consumidor (MELO NETO, 2007). Os torcedores aficionados pelo futebol ou o mercado de simpatizantes de um clube são os potenciais consumidores de um bem (CARDIA, 2004). Para Melo Neto (2007) “a segmentação é a maior vantagem do marketing esportivo”. Os atributos e características do marketing esportivo fazem dele uma ação de baixo custo, de grande eficácia, e o torna indispensável em qualquer plano estratégico de marketing e comunicação para empresas que se destacam pela liderança em seus mercados e pela excelência empresarial (MELO NETO, 2007).

    Essa regionalização da mídia através de patrocínios dos produtos regionais nos clubes de futebol de Santa Catarina é evidente.

Considerações finais

    Pode-se afirmar que se está diante de uma anomalia dentro do cenário nacional futebolístico. Pois, em nenhum outro Estado da federação os times do interior enfrentam as equipes da capital de tal forma como, em Santa Catarina. E mais, em Santa Catarina todas as microrregiões estão representadas na classificação geral do campeonato profissional de futebol, durante o período da pesquisa. E isso, parece ser primordial para um melhor aproveitamento do campeonato catarinense de futebol. Pensando o campeonato como um produto, Santa Catarina possui uma ótima oportunidade de alavancar o seu campeonato. Usa-se a lógica do processo produtivo de suas ofertas: a necessidade de cooperação com os rivais, que leva à necessidade de equilíbrio competitivo numa certa competição esportiva, sendo, portanto, um fator relacionado ao resultado do evento. Se quer dizer o que com isso? Que quanto mais equilibrado o campeonato, mais lucrativo ele será. A força de um campeonato é à força de seu time menos favorecido financeiramente. Se por vários anos o mesmo time for campeão sem disputa acirrada, o torcedor perderá o interesse pelo futebol. Sendo assim, a lógica da concorrência no mercado do futebol é diferente da lógica de outros mercados. Os rivais são peça fundamental para o sucesso dos clubes individualmente. E que Estado possui tamanho equilíbrio no campeonato estadual de futebol profissional no Brasil? Santa Catarina.

Referências

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  • MASCARENHAS, G. Futebol e desenvolvimento econômico no RS. In: DACOSTA, L. (org.) Atlas do Esporte no Brasil. Rio de Janeiro, 2006.

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