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Constituição da cultura esportiva e sua confluência com Educação Física Escolar: um estudo sobre os Jogos Intercursos das Faculdades Network

La conformación de la cultura deportiva y su confluencia con la Educación Física 

Escolar: un estudio sobre los Juegos Intercursos de las Facultades Network

 

*Possui Graduação em Educação Física e Pedagogia, é Especialista em Pedagogia do Movimento

Mestre em Educação Escolar e Doutorando pela Unesp - Araraquara. Atualmente é docente

nas Faculdades Network e na Secretaria da Educação São Paulo/Diretoria de Americana

**Possui Graduação em Educação Física e Pedagogia e é Mestre em Bioquímica pela Unicamp, Campinas

Atualmente é Coordenador do Curso de Educação Física das Faculdades Network

e Diretor da E. E. Dr. Telêmaco Paioli Melges

***Possui graduação em Educação Física e é Mestre em Ciências USP, São Paulo

Atualmente é docente nas Faculdades Network.

****Graduanda/o do curso de Educação Física das Faculdades Network

(Brasil)

Kleber Tüxen Carneiro*

Mário Ferreira Sarraipa**

Thiago Augusto Costa de Oliveira***

Alessandra Montesano Ferraz****

Carlos Alberto de Lima****

Fabiano José da Silva****

Henri Vile Pereira de Carvalho****

Leonardo de Oliveira Augusto****

Leonice de Azevedo Barbosa****

Luis Vanderlei Barbosa****

Marco Antonio Domingos****

Moacir Celestino de Carvalho****

kleber2910@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho de investigação, buscou refletir sobre a possível causalidade entre os saberes propagados pela Educação Física no espaço escolar e seus desdobramentos e influências na formação da cultura esportiva. Assim, procurou-se conhecer a relação entre as preferências, nas opções das modalidades que constituirão os jogos (I Intercursos) a partir de um levantamento prévio e a possível ingerência da Educação Física Escolar na construção ou formação da cultura esportiva. A partir de um estudo qualitativo e o método denominado pesquisa de campo buscou-se analisar as respostas dos 507 participantes, a fim de verificar a nossa hipótese. É neste cenário que se configura o presente trabalho, cujo objetivo é trazer reflexões e inquietações para esta área do conhecimento humano que tem se mostrado tão resistente e cética a mudanças ao longo da história.

          Unitermos: Educação Física. Campeonato intercurso das Faculdades Network. Cultura esportiva. História da Educação Física.

 

Abstract

          This research work sought to reflect on the possible causality between the knowledge propagated by Physical Education in school and their developments and influences in shaping the culture of sports. Thus, we sought to determine the relationship between preferences, the options arrangements which constitute the games (I intercourse) from a previous survey and the possible interference of physical education or training in the construction of sporting culture. From a qualitative study and the method called field research sought to examine the responses of 507 participants in order to verify our hypothesis. It is in this scenario that sets this work, whose goal is to bring ideas and concerns for this area of human knowledge that has proved so resistant to change and skeptical throughout history.

          Keywords: Physical Education. Sport and culture and colleges championship intercourse Network. Sports culture. History of Physical Education.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 186, Noviembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Impulsionados pelo início do curso de licenciatura em Educação Física no ano de 2011, as Faculdades Network, institui o primeiro Intercursos institucional organizado e supervisionado por discentes e especialistas da área (Educação Física).

    Engendrado com um olhar profissional e por uma vereda que enalteça a responsabilidade social, dissemina as diretrizes do primeiro Intercursos. Oportunizando se pensar no espaço competitivo, a possibilidade da colaboração com os que estão inseridos em espaços de vulnerabilidade social, revertendo toda a arrecadação das inscrições para uma instituição filantrópica.

    Deste modo, o presente estudo apropriou-se deste ensejo, para investigar a confluência da cultura esportiva na composição das escolhas de modalidades que compusessem os jogos entre os cursos e sua relação dialética com a Educação Física Escolar. Dito de outro modo, buscou-se averiguar quais modalidades predominariam na escolha dos participantes para comporem o Intercursos e se de alguma forma as vivências advindas da Educação Física Escolar influíram em tais escolhas e conseguintemente na constituição da cultura esportiva.

    Assim sendo, o presente estudo está organizado inicialmente versando sobre o abrangente conceito de cultura esportiva, também apresenta uma pequena incursão sobre os ideários que perpassaram a historicidade e a composição da Educação Física no Brasil, situando historicamente o leitor. Não obstante, são apresentados os aspectos metodológicos que subsidiaram a pesquisa, posteriormente os resultados encontrados e uma pequena discussão sobre os mesmos, e por fim, conclui-se com algumas considerações propositivas.

Concepção de cultura esportiva

    Para compreendermos melhor a construção do conceito de cultura esportiva, julga-se necessário revisitar, ainda que superficialmente, o conceito de cultura, por entendemos a cultura esportiva é um fenômeno integrante da cultura geral contemporânea, havendo entre ambas diversos traços identitários comuns, especialmente quanto à lógica de sua produção e de transmissão (PIRES, 2000).

    Assim, discorrer sobre o conceito de cultura não é tarefa simples. Embora no senso comum, a palavra tenha uma conotação simplista se limitando a sinônimo de hábitos ou costumes, sua dimensão é muito maior e abrangente.

    Podendo ser concebida por uma interpretação antropológica, construção de padrões humanos, entendimento ou por um compreensão sociológica do termo, a partir da lógica de sua difusão e de seus meios de produção.

    Todavia conhecendo as armadilhas hermenêuticas que permeiam o conceito de cultura e reconhecendo as dificuldades, em definir cultura, considerando a profusão e diversidade de conceitos existentes, optamos por acompanhar a linha de raciocínio desenvolvido por Thompson (1995).

    O autor define cultura como o “padrão de significados incorporados nas formas simbólicas, que inclui ações, manifestações verbais e objetos significativos de vários tipos, em virtude dos quais os indivíduos comunicam-se entre si e partilham suas experiências, concepções e crenças” (THOMPSON,1995, p.176).

    Logo, auxiliados pelas proposições de Thompson (1995) e Pires (2000) fundimos os conceitos, afim de promover uma tentativa de aproximação entre as concepções referidas, objetivando a construção de um conceito de cultura esportiva, que pode, resumidamente, ser entendido como: o conjunto de ações, valores e compreensões que representam o modo predominante de ser/estar no mundo, em relação ao seu âmbito esportivo, cujos significados são simbolicamente incorporados em diferentes ambientes.

    Essa definição de cultura esportiva não se restringe obviamente ao âmbito esportivo, mas dimensiona-se as diferentes práticas humanas que têm origem nos processos sociais, ideológicos, morais/éticos, econômicos, entre outros confluências do ser/estar-no-mundo, para além do campo específico do esporte.

    Assim sendo, compreenderemos cultura esportiva no presente trabalho a partir das contribuições de Pires (2000) como conjunto de ações, valores e compreensões que representam o modo predominante de ser/estar na sociedade e busca relacionar a cultura ao seu aspecto estrutural/contextualizador.

    Para elucidarmos melhor, o espaço ocupado pelo fenômeno esportivo no interior da Educação Física, apresentaremos um pequeno recorte histórico para situarmos e contextualizarmos os fatos, afim de que, posteriormente possamos discorrer sobre essa intrínseca relação entre Educação Física e cultura esportiva.

Contextualizando a histórica da Educação Física no Brasil, a partir da década de 50

    Embora reconheçamos a importância de apresentarmos todo o processo histórico que compôs a Educação Física no Brasil, por fins didáticos, nos restringiremos a apresentar um recorte histórico, ou seja, uma parte da historicidade, considerando a especificidade do que pretendemos investigar.

    Assim sendo, destacamos um forte movimento que influenciou a Educação Física no Brasil denominado movimento de esportivização ou competitivista, que teve início logo após a 2ª Guerra Mundial, mais precisamente no limiar da década de 50, com o Método Desportivo Generalizado, difundido pelo professor Augusto Listello. Esse movimento tinha como principal desígnio inserir o conteúdo esportivo nas atividades desenvolvidas pela Educação Física.

    À luz do pensamento de Soares et al (1992), fica evidente as intenções presentes nesse movimento:

    [...] essa influência do esporte no sistema escolar é de tal magnitude que temos, então, não o esporte da escola, mas sim o esporte na escola. Isso indica a subordinação de educação física aos códigos⁄sentidos da instituição esportiva, caracterizando-se o esporte na escola como um prolongamento da instituição esportiva: esporte olímpico, sistema desportivo nacional e internacional. Esses códigos podem ser resumidos em: princípios de rendimento atlético⁄desportivo, competição, comparação de rendimentos e recordes, regulamentação rígida, sucesso no esporte como sinônimo de vitória, racionalização de meios e técnicas etc. (SOARES et al, 1992, p. 54).

    Tamanha foi a identificação da área com esse movimento que, em pouco tempo, a Educação Física foi confundida com atividades esportivas. Logo se criou um binômio Educação Física/esporte que atingiu seu auge a partir da década de 70 e sofreu novamente influências do aspecto político, com a ascensão do Regime Militar.

    O slogan mais conhecido da época foi “esporte é saúde”, pois o objetivo do governo militar era investir na disciplina para formar um exército composto por uma juventude forte e saudável. “[...] estreitaram-se ainda mais os vínculos entre esporte e nacionalismo, como por exemplo: a campanha da seleção brasileira de futebol, na Copa do Mundo de 1970, para promover o país.” (BRASIL, 1998, p.21).

    Encontramos, no Decreto nº 69.450, de 1971, a ênfase na aptidão física e no reforço da iniciação esportiva nas atividades da Educação Física escolar, visando à descoberta de novos ‘talentos’, porque além da preocupação com a segurança nacional, encontrávamos também um interesse preeminente na projeção política por intermédio dos resultados obtidos nos eventos esportivos internacionais.

    Por isso houve um forte investimento econômico na formação esportiva da criança, e a base dessa formação deu-se por intermédio da escola e das aulas de Educação Física. Diferentemente dos métodos rígidos disciplinadores oriundos da ginástica e do militarismo, encontramos nesse movimento apenas a busca de novos esportistas, o que descaracteriza o ambiente escolar por transformar as aulas em “treinos esportivos”, o professor em técnico e o aluno em atleta. (SOARES et. al, 1992).

    Esse modelo teve grande aceitação entre os professores e tornou-se consenso o esporte como principal conteúdo dessa disciplina. No entanto começaram a surgir novos estudos e reflexões sobre a especificidade da Educação Física na escola e, com eles, os questionamentos sobre o reducionismo da área, que teria apenas como função formar atletas, indo na contramão dos objetivos da escola, cuja preocupação era formar pessoas.

    Todavia, tal fenômeno deflagra uma grande discussão em torno das aspirações da Educação Física, especialmente no âmbito escolar. Deste modo, em oposição a esse movimento denominado esportivização ou competitivista no final da década de 70 e limiar da de 80, inicia-se um grande debate no cenário nacional sobre os caminhos da Educação Física escolar.

    Em estudos realizados por Betti (1991, 1992) e Kunz (1989) os autores apontaram que até os dias atuais a Educação Física Escolar ainda é confundida com o esporte. A referência de conteúdo para as aulas de Educação Física se limita ao esporte, segundo o olhar da maioria dos alunos e o de alguns profissionais da área, como mostram os estudos por estes empreendidos e como nosso estudo também corroborou Carneiro (2009) e (2012).

    Tal conjuntura levou-nos a refletir sobre a possível causalidade entre os saberes propagados pela Educação Física no espaço escolar e seus desdobramentos e influências na formação da cultura esportiva. Dito de outra forma, buscou-se averiguar a relação entre as preferências, nas opções das modalidades que constituirão os jogos (I Intercursos) a partir de um levantamento prévio por nós empreendido, por ocasião da organização do campeonato e a possível ingerência da Educação Física Escolar na construção ou formação da cultura esportiva.

Aspectos metodológicos da pesquisa

    Uma pesquisa de alguma forma, constitui-se num relato de uma longa viagem empreendida por um sujeito, cujo olhar vasculha lugares muitas vezes já visitados, mas não contemplados com a riqueza de detalhes e orientados por um método científico.

    Assim sendo, a escolha assertiva de um tipo de pesquisa é sempre um desafio para o pesquisador (viajante), dada a complexidade de elementos que compõem as diferentes tipologias de pesquisa, deste modo, para um bom desenvolvimento de uma atividade científica (pesquisa), necessariamente implica no acerto da escolha metodológica, ou seja, o sustentáculo de um trabalho de investigação.

    Os métodos de investigação foram classicamente considerados como quantitativos e qualitativos por apresentarem características contrastantes quanto à forma e ênfase. Contudo ao revisar a literatura sobre a pesquisa qualitativa, o que chama atenção imediata é o fato de que, freqüentemente, a pesquisa qualitativa não está sendo definida por si só, mas em contraponto a pesquisa quantitativa.

    Entretanto as dissensões entre as abordagens qualitativa e quantitativa refletem divergências epistemológicas, que implicam nos estilos de pesquisa e formas de construção teórica. Convém reiterar, no entanto, que os métodos quantitativos e qualitativos, apesar de suas especificidades, não se excluem. Assim, esta classificação não significa que se deva optar por um em detrimento do outro. O pesquisador pode, ao desenvolver o seu estudo, utilizando os dois, usufruindo, por um lado, da vantagem de poder explicitar todos os passos da pesquisa e, por outro, da oportunidade de minimizar interferências e quantificar informações, afim de contribuírem nas conclusões obtidas.

    Deste modo, nossa opção foi por uma abordagem qualitativa, entretanto nos apropriamos de instrumentos quantitativos, para analisarmos os resultados obtidos. Como descreve SAMPIERI (2006, P.102), ao apresentar os benefícios de uma pesquisa qualitativa "Os estudo descritivos/qualitativos pretendem medir ou coletar informações de maneiras independente ou conjunta sobre os conceitos ou as variáveis a que se referem”.

Objetivo

    A presente pesquisa tem por objetivo principal, averiguar quais modalidades predominariam na escolha dos participantes para constituírem o Intercursos e se de alguma forma as vivências advindas da Educação Física Escolar incutiram em tais escolhas e conseguintemente na composição da cultura esportiva.

Definição do problema

    Considerando que a Educação Física Escolar ainda circunscreve-se ao esporte, sendo ele a referência de conteúdo para as aulas de Educação Física, como apresentamos anteriormente, tal reducionismo teria um desdobramento na escolha das modalidades constituintes do Intercursos e por conseguinte no repertório da constituição, ou formação, da cultura corporal.

Hipótese

    Analisando a circunscrição do conceito cultura esportiva, somado aos os ideários que perpassaram a historicidade e a composição da Educação Física no Brasil pensamos na possível causalidade entre os saberes propagados pela Educação Física no espaço escolar e seus desdobramentos e influências na formação da cultura esportiva. Dito de outra forma, buscou-se averiguar se existe uma relação causal, entre as preferências nas opções das modalidades que constituirão os jogos (I Intercursos) a partir de um levantamento prévio por nós empreendido, por ocasião da organização do campeonato e a possível ingerência da Educação Física Escolar na construção ou formação da cultura esportiva.

Método

    Utilizamos o método denominado pesquisa de campo, esta abordagem engloba, desde a década de 1930, uma ampla variedade de delineamentos desde a sua introdução ao contexto acadêmico por Jahoda, Lazarsfeld e Zeisel (1933). Este estudo é especialmente interessante do ponto de vista do método da pesquisa qualitativa, ao mesmo tempo em que se constitui como exemplo de triangulação, i.é, uma integração de diferentes abordagens e técnicas – qualitativas e quantitativas – num mesmo estudo.

Instrumento

    Foi utilizado um questionário, contendo questões fechadas para coletar dados junto a alunos das Faculdades Network sobre:

  1. Dados pessoais: sexo, idade e curso

  2. Pratica de atividade física

  3. O tipo de atividade física

  4. Freqüência semanal que pratica a atividade física

  5. Preferência de modalidade a ser disputada no intercursos

  6. Interesse em participar do intercurso

    As questões foram respondidas de próprio punho pelos alunos e o preenchimento do questionário foi realizado no ambiente de estudo dos respondentes. Os pesquisadores estavam presentes durantes a aplicação dos questionários explicando as questões e sanando as eventuais dúvidas. Cabe ressaltar, que a pesquisa recebeu o consentimento do diretor acadêmico das Faculdades Network.

Participantes e local

    Participaram desta pesquisa 507 alunos das Faculdades Network, sendo alunos dos cursos de: Pedagogia, Administração, BSI (Bacharelado em Sistemas de Informação), Educação Física, Engenharia, Mecatrônica. Situados em dois Campus: Campus I no municípios de Nova Odessa e Campus II no município de Sumaré.

Apresentação e análise dos resultados

    Com desígnio de mensurar as respostas, descrita no questionário respondido pelos discentes dos diferentes cursos, anteriormente apresentado, buscamos quantificá-las a partir de um os tratamentos estatísticos.

    Convém relembrarmos o que dissemos anteriormente, embora nosso estudo seja de natureza qualitativa, no entanto, usamos de procedimentos quantitativos, porque entendemos que os métodos quantitativos e qualitativos, apesar de suas especificidades, não se excluem.

    Os resultados foram agrupados em duas categorias, masculino e feminino. Cabe ressaltar, que essa divisão não tem relação alguma com distinção de gênero, ou qualquer manifestação sexista, mas por uma questão didática, já que cada gênero guarda suas especificidades, no gosto e na prática desportiva.

    Cabe ressaltar, que quando pensou-se na formação das possibilidades de modalidades que pudessem fazer parte dos jogos Intercursos, procurou-se alternar o repertório de possibilidades, de maneira que superasse o reducionismo hegemônico propagado pela tradição da Educação Física Escolar das quatros clássicas modalidades (Futebol/Futsal, Basquetebol, voleibol e handebol) e também aludir a novas possibilidades de estruturação de campeonatos que rompesse com as tradições clássicas a partir dos apontamentos sugeridos pelos pesquisados, na tentativa da expansão da cultura esportiva.

    Assim, no agrupamento masculinos, encontramos as seguintes quantificação nas opções sinalizadas: Basquete (26); Bets (41); Futsal (110); Handebol (17); Natação (20); Queimada (25); Vôlei (42); Nenhum (47).

    Para melhor visualização e entendimento dos resultados, apresentaremos na página a seguir, um o gráfico que possibilidade compreendermos os dados, distribuídos em percentualidade:

    Alguns dos dados apontados merecem considerações, com maior percentual (34%) se encontra o futsal, considerando sua tradição na cultura brasileira e também sua inserção e propagação no interior das práticas pedagógicas da Educação Física, já suspeitávamos de seu despontar nas escolhas.

    Contudo nosso assombramento ocorreu com o nível de abstenção dos participantes frente as possibilidades (14%), tal apontamento abre margem para investigações futuras sobre o que estaria subjacente a escolha em não optar por modalidade alguma. Dito de outra forma, quais os motivos intrínsecos que levaram os pesquisados a não escolherem as modalidades oferecidas. Seria um prenuncio de excessivo sedentarismo? Resquícios ou opção da cultura esportiva propagada tradicionalmente pela Educação Física Escolar? Uma resposta ao não desejo de existir o campeonato? Enfim são muitas possibilidades que mereciam um investigação mais detalhada.

    Não obstante, como segunda opção mais escolhida aparece o voleibol, com um percentual de (13%) o que reforça nossa hipótese da relação causal entre ingerência da Educação Física Escolar e a formação da cultura esportiva. Assim as modalidades classicamente disseminadas ou instituídas como conteúdo da prática pedagógica da maior parte dos docentes da área da Educação Física repercutiriam significativamente na constituição da cultura esportiva.

    Contudo como terceiro principal apontamento encontramos o jogo de Betis (12%), o que nos leva a refutar nossa afirmação anterior, sobre a perpetuação clássica dos conteúdos esportivos hegemônicos, todavia como um dos municípios (Nova Odessa) onde reside boa parte dos pesquisados, promove com certa freqüência campeonatos de Betis, já não sabemos aferir qual seria proporcionalmente a maior intervenção, ou repercussão sobre esse apontamento.

    Quanto as outras seleções das demais modalidades, consideramos todas com percentuais relativamente próximos e voltam a corroborar nossa hipótese da forte relação das modalidades clássicas propagadas no interior da prática pedagógica da Educação Física e o desenvolvimento da cultura esportiva a partir desta concepção.

    Conquanto, as opções do gênero feminino apresentam um cenário diferente do masculino, sendo ele: Basquete (16); Bets (20); Futsal (29); Handebol (43); Natação (49); Queimada (46); Vôlei (96); Nenhum (124).

    Para melhor visualização e entendimento dos resultados, apresentaremos na página a seguir, um o gráfico que possibilidade compreendermos os dados, distribuídos em percentualidade:

    Os dados encontrados merecem observações, e novamente o nosso assombramento reaparece, contudo, agora em maior escala, porque o nível de abstenção das participantes foi de (29%), sendo o principal resposta no agrupamento feminino.

    Tal apontamento revela a necessidade de investigações futuras sobre o que estaria subjacente a escolha em não optar por modalidade alguma Porque e quais os motivos intrínsecos que levaram as pesquisadas a não escolherem as modalidades oferecidas. Há muitas possibilidades merecem um investigação mais aprofundada.

    A opção mais escolhida pelas pesquisadas foi o voleibol, com um percentual de (23%) dos apontamentos, o que reforça nossa hipótese da relação causal entre ingerência da Educação Física Escolar e a formação da cultura esportiva. Considerando que o voleibol foi inculcado classicamente como único conteúdo da Educação Física Escolar para meninas, tal percentual nos permite inferir, que essa escolha esteve subsidiada por tal ingerência e que seus desdobramentos repercutiriam significativamente na constituição da cultura esportiva.

    Não obstante, encontramos mais um lampejo que corrobora nossa hipótese de causalidade, uma vez que como segunda opção mais assinalada foi a queimada, com (11%) de aparecimento nas respostas, outro conteúdo inculcado classicamente na Educação Física Escolar para meninas.

    Quanto as outras seleções das demais modalidades, consideramos todas com percentuais relativamente próximos e voltam a corroborar nossa hipótese da forte relação das modalidades clássicas propagadas no interior da prática pedagógica da Educação Física e o desenvolvimento da cultura esportiva a partir desta concepção.

Uma palavra final

    Nosso intento na singela investigação foi tentar observar a forte relação entre a Educação Física e a formação da cultura esportiva. Deste modo, buscamos apresentar a partir dum recorte histórico a inserção ideológica do esporte e como o mesmo foi facilmente aderido com desdobramentos até os dias atuais, e o quanto a cultura esportiva dimensiona-se nas diferentes práticas humanas que têm origem nos processos sociais, ideológicos, morais/éticos, econômicos, entre outros confluências do ser/estar-no-mundo.

    Assim, embora os dados de nosso estudo tenha demonstrado ainda a hegemonia do ensino dos esportes clássicos, uma tradição bastante cristalizada, ele também apresentou alguns avanços com o apontamento de conteúdos que em outrora não apareciam. Seria pretensão acharmos que os estudo revela a dimensão da totalidade, contudo ele abre um espaço para pensarmos na expansão de culturas escolares propagadas pela Educação Física que postulam outros significados para a formação do discente.

    A Educação Física deve romper com a perpetuação dos conteúdos clássicos e hegemônicos, ela não pode mais legitimar sua existência com discursos amplos, ou por meio de sentimentos e até unicamente mirando os benefícios, conforme advoga Freire (1989):

    [...] dizer, por exemplo, que a Educação Física é importante porque faz a criança usar sua energia excedente, ou porque desenvolve a disciplina, o companheirismo, a responsabilidade, não chega a convencer ninguém de sua importância na escola. Isso tudo é muito vago e discutível.” (Idem, 1989, p. 182).

    Todavia ela justificará sua existência quando apresentar a cultura do movimento como um patrimônio cultural humano que é necessário conhecer em três dimensões: como foi desenvolvido ao longo de nossa existência humana, como está sendo apresentado atualmente e quais possibilidades teremos sobre ele em um futuro bem próximo.

    E assim, sua repercussão poderá ampliar a constituição e formação da cultura esportiva e impetrar uma práxis transformadora, para que os discentes por ela formada, produzam transformações no repertório da cultura esportiva e apresentem novas proposições e organização de futuros eventos que abarquem a diferentes constituições da cultura corporal.

Referências bibliográficas

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  • PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE SÃO PAULO: Educação Física. São Paulo: SEE, 2008.

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