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A influência dos pais no desenvolvimento de jovens atletas do futebol

La influencia de los padres en el desarrollo de jugadores juveniles de fútbol

The parent’s influence in the development of young soccer’s players

 

*Graduado em Educação Física pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

**Doutorando em Distúrbios do Desenvolvimento e Docente do Curso de Educação 

Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Faculdade Nossa Cidade

(Brasil)

Ricardo Christophe Marangoni*

Vinicius Barroso Hirota**

vinicius.hirota@mackenzie.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi identificar a influência dos pais na participação da vida esportiva de seus filhos, estes jogadores de futebol da categoria infantil de um clube da cidade de São Paulo. A metodologia utilizada para alcançar tal objetivo foi a pesquisa descritiva (THOMAS e NELSON, 2002) com a aplicação de questionários desenvolvido por Verardi (2004) e Verardi e De Marco (2007). Foram coletados 20 questionários de crianças (média de idade de 11,5 anos) e mais 20 de seus respectivos pais. A aplicação da pesquisa ocorreu em Clube Privado de Futebol da Cidade de São Paulo - Capital. Como resultado da pesquisa, foi possível verificar que a maioria dos pais conversa com seus filhos sobre a competição, freqüentam os jogos, ficam satisfeitos com a vitória dos mesmos, mas não se incomodam frente à derrota, relatando a importância da participação no esporte, influenciando positivamente na vida esportiva dos jovens. Os jovens atletas em oposição aos pais estão preocupados com a vitória, considerando a competição de extrema importância, demonstrando sentimento de raiva e tristeza frente à derrota. Conclui-se que a presença dos pais não é negativa no que tange a vida esportiva de seus filhos, mas que as próprias crianças levam o esporte à sério, sendo muito competitivos.

          Unitermos: Futebol. Iniciação esportiva. Influência dos pais.

 

Abstract

          The aim of this study was to identify the parent’s influence on the participation sporting life of their children, these soccers Category child of a club in the São Paulo City. The methodology used to achieve this goal was descriptive research (THOMAS and NELSON, 2002) with the use of questionnaires developed by Verardi (2004) and Verardi and De Marco (2007). Questionnaires were collected from 20 children (mean age 11.5 years old) and 20 of their parents. The application of research occurred in Private Soccer Club of São Paulo City - SP. As a result of the research, we found that most parents talk to their children about the competition, attend games, get satisfied with the victory of the same, but do not bother facing defeat, describing the importance of participation in sport, influencing positively in the lives of youth sports. The young athletes as opposed to parents are concerned about the victory, considering the competition of the utmost importance, demonstrating feelings of anger and grief face defeat. We conclude that the presence of parents is negative regarding the sporting life of their children, but the children themselves take the sport seriously, and very competitive.

          Keywords: Soccer. Sport initiation. Parental influence.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 186, Noviembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Para Moraes et al. (2004) fica evidente que o desenvolvimento expoente de atletas do futebol brasileiro e o papel dos pais nesse processo de envolvimento desafiam os modelos conceituais.

    Segundo Machado et al. (1997) a participação dos pais em jogos, treinos e diversos outros afazeres, faz com que a criança tenha uma resposta a tal presença. É na fase de iniciação esportiva que acontecem as grandes influencias dos pais e familiares sobre a criança, determinando inúmeros aspectos, inclusive se a criança irá ou não gostar do futebol, isso devido à grande cobrança que a maioria delas sofre dos pais. Desta forma, a resposta à presença dos pais pode ser positiva ou negativa.

    Para Mutti (2003) muitos pais tentam obter seus desejos não alcançados, através dos filhos, tratando e cobrando-os como pequenos adultos. Os pais muitas vezes exigem, brigam e tem diversas reações fortes com as crianças. Quando um filho começa a praticar um esporte, em especial o futebol, é gerada uma expectativa enorme em torno do futuro dessas crianças, pois o futebol é o esporte mais midiático do país e é visível a transformação que pode fazer na vida de uma família.

    Com essa grande expectativa criada pelos pais a cobrança por resultados dentro de casa muitas vezes acaba sendo maior do que a do próprio time. Isso ocorre quando os pais só querem saber do sucesso e vitória de seus filhos (MACHADO e PRESOTO, 1997). Para muitos pais é complicado entender que o que importa é a participação de seu filho em uma prática esportiva e não a vitória em si.

    Influenciados por familiares, professores, técnicos e amigos, o esporte se torna importante na socialização das crianças e dos adolescentes (VERARDI e DE MARCO, 2008).

    Para Verardi et al. (2010) a influência dos pais na iniciação esportiva é de total importância para o desenvolvimento da criança, quando se vê motivada e induzida pelo pai a praticar determinado esporte como no caso o futebol e Hirota et al. (2009) diz que o futebol é reconhecidamente o esporte mais difundido e praticado no Brasil, resultando num grande número de crianças, adolescentes e de jovens que se iniciam nesta modalidade. Por se caracterizar como um esporte de competição, esta modalidade inclui possíveis manifestações de agressividade, que estão relacionadas diretamente com a própria formação pessoal de seus praticantes.

    A presença dos pais tanto nas competições como nos treinamentos são de grande importância para as crianças que estão iniciando o futebol, ajudando, incentivando as crianças a se superarem, portanto o presente estudo se faz relevante na possibilidade de demonstrar que a presença e o incentivo dos pais na vida esportiva dos jovens atletas pode motivá-los e levá-los a ter uma vinda longínqua no esporte.

    Portanto o objetivo do presente estudo foi identificar a influência dos pais na participação da vida esportiva de seus filhos, estes jogadores de futebol da categoria infantil de um clube da cidade de São Paulo.

Metodologia

Tipo de pesquisa

    O tipo de pesquisa realizado foi a descritiva, que conforme Thomas e Nelson (2002) “é um tipo de pesquisa preocupada com o status, de que os problemas podem ser resolvidos e as práticas melhoradas por meio da observação e descrição objetivas e completas. O método mais comum de pesquisa descritiva é o estudo exploratório, o qual inclui questionários e entrevistas pessoais”.

Amostra e local de estudo

    O presente estudo teve uma amostra escolhida por conveniência e contou com a participação de 20 jovens (n: 20) de idade entre 09 e 12 anos (sendo a média de 11,5 anos). Todos os respondentes (jovens) são do sexo masculino. Os pais destes jovens apresentaram idades entre 31 e 60 anos, sendo que ¼ dos pais eram do sexo masculino (n:05) e ¾ do sexo feminino (n:15). Logo, foi possível verificar uma maior participação das mães do que dos pais. O estudo foi realizado no Pequeninos do Jóquei – SP – Capital. A rotina de treinamento é composta por 3 encontros semanais e os alunos participam de campeonatos periódicos.

Instrumento e procedimento para coleta dos dados

    O instrumento de coleta de dados utilizado neste estudo foi o questionário desenvolvido para Pais e Filhos proposto por Verardi (2004) e Verardi e De Marco (2007).

    O primeiro passo para a realização da coleta de dados foi submeter o trabalho à Comissão Interna de Ética (CIEP), cujo protocolo de aprovação é n. EF007/07/12, do Centro de Ciências Biológicas da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

    O segundo passo foi submeter a Carta de Informação ao Jovem/ao Responsável Pelo Jovem e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TLCE) aos pais dos alunos. Uma vez recebido o aceite, foi possível a aplicação dos questionários nos padrões estabelecidos pelos autores.

Tipo de análise

    Para a análise dos dados foi adotada a estatística descritiva (média, desvio padrão e freqüência dos dados). Os gráficos foram elaborados no padrão de barras para melhor ilustrar os resultados.

Resultados e discussão

    Do total de pais entrevistados, 60% se encontram com idade entre 41-50 anos, 75% é do sexo feminino e todos têm o ensino superior completo. É importante ressaltar que além das atividades profissionais, as atividades que os pais mais se dedicam é a leitura e a televisão, sendo que 80% se dedicam à leitura e 90% se dedicam a televisão, e quando questionado por que meios se mantinham informado sobre os acontecimentos atuais, 50% respondeu “telejornal”, 25% “jornal”, 15% “radio jornal” e 10% respondeu “revistas”. Isso pode ter uma grande relação com o nível socioeconômico, onde 55% possuem uma renda entre 4-10 salários mínimos e 35% entre 11-20 salários mínimos, demonstrando assim que o nível social dos participantes do estudo é relativamente bom.

    Ao serem questionados se conversam com o filho sobre o significado da competição, 10% responderam nunca ter pensado sobre o assunto, 25% responderam “não” e 65% responderam “sim”.

    A maioria dos pais entrevistados respondeu que o principal sentimento quando seu filho ganha um jogo é “satisfação e orgulho” com 80% e 20% respondeu que o principal sentimento “neutralidade, pois o importante é participar”. Já quando perguntado sobre o principal sentimento quando o seu filho perde um jogo, 90% responderam “neutralidade, pois o importante é participar” e 10% responderam “tristeza”.

    Na figura 01 foi expresso o principal sentimento dos pais quando seu filho perde um jogo, sendo que 90% dos pais expressaram naturalidade e apenas 10% expressaram tristeza.

Figura 01. Qual é o seu principal sentimento quando seu filho perde um jogo?

    Observou-se que em caso de vitória, os pais manifestam um sentimento de orgulho e satisfação, já quando seus filhos sofrem derrotas, os pais preferem adotar a neutralidade, pois o importante é a participação na competição. Outro contraponto em relação aos sentimentos dos pais é que 40% não gostam de ver seu filho no banco de reservas ou substituído, mas 60% dos pais não se importam.

    Questionados, os pais, se participam ou já participaram de alguma competição, 65% disseram “sim, nível recreativo” e 20% disseram “sim, nível amador”, portanto não leva a crer que os pais das crianças não foram atletas.

    A maioria dos pais, 50%, acompanha os filhos em todos os jogos, já 20% raramente assistem aos jogos de seus filhos. 60% acreditam que a maior importância através da prática esportiva para a formação do filho seja “física” e 40% que seja “social”. Questionado sobre quem deveria ser o técnico dos seus filhos 75% disseram “professor de educação física”, 15% escolheram “um ex-jogador” e 10% “um técnico profissional”.

    Isso pode levar a um pensamento que a maioria dos pais se preocupa mais com a formação completa dos seus filhos do que em uma específica modalidade, como fica claro ao serem perguntados se além do futebol, incentivam seu filho a participar de outras atividades esportivas, a resposta foi de que 90% dos pais incentivam seu filho a participarem de outras atividades esportivas. E as crianças responderam que seus pais ou incentivam ou a obriga praticar outras atividades esportivas.

    Faria Jr. (1995) enfatiza dizendo que a prática do futebol como desporto de equipe pode atuar como meio eficaz de ensinar aos jovens a tolerância e aceitação das diferenças individuais

    Existe uma diferença em relação a pais e filhos sobre em qual posição é mais habilidoso, 75% dos pais acham seu filho mais habilidoso no ataque, enquanto apenas 50% dos filhos se acham mais habilidosos no ataque. 15% dos filhos se acham mais habilidosos na defesa e nenhum dos pais acredita que seu filho seja mais habilidoso na defesa.

    Em comparação aos pais, os filhos parecem ter mais idéia da posição onde acredita ser um melhor jogador, pois houve uma maior distribuição dentre as respostas.

    Após os jogos 35% dos pais “fazem comentários com o filho sobre as jogadas, elogiando as melhores e criticando as piores”, 30% dos pais “discutem somente as melhores” e a soma dos pais que “discutem somente as piores jogadas” e “não faz comentários” chegam a 40%. Analisando esse número, verifica-se que a maioria dos pais irá falar dos erros ou não falará nada com o filho, ao invés de falar dos prós e contras do jogo. 75% dos pais revelaram “ficar apreensivos” durante os jogos do seu filho.

    Ao serem questionados sobre qual o principal comportamento do seu filho como reação aos acontecimentos dentro do campo (observe a Figura 02), 75% revelaram que seu filho “torna-se agressivo, entrando num clima de briga”, 20% “tenta dialogar, impedindo as brigas” e apenas 5% “não se envolve”.

Figura 02. Durante os jogos qual o principal comportamento

do seu filho, como reação aos acontecimentos de campo?

    De acordo com a figura 02 esse comportamento agressivo pode ser confirmado quando 40% dos filhos dizem já terem sido expulsos de campo e que 90% ao receberem agressões dos adversários reagem com uma atitude negativa, como revidar depois, reclamar com o arbitro ou reclamar com o agressor. Sendo que as crianças dizem que todos os técnicos pedem para “ignorar” após receber agressões dos adversários.

    Hirota et al. (2009) diz que por ser esse esporte tão desejado, acabou-se tornando um esporte muito competitivo e que atrai grande parte da atenção das crianças. Como elas sempre quererem ganhar, devido a grande competitividade do futebol, acaba influenciando possíveis reações agressivas.

    Existe uma divergência muito grande nos pensamentos de pais e filhos em relação a se tornar um jogador profissional. 90% dos filhos desejam se tornar jogadores profissionais, mas 70% dos pais não querem que seus filhos se tornem jogadores profissionais, entendendo que há um futuro melhor para eles.

    Hirota et al. (2013) enfatiza que a motivação no contexto esportivo se faz necessário para aprendizagem e aperfeiçoamento da técnica, tática e desempenho físico do jogador, além da busca de sua auto superação.

    Apesar de 90% das crianças desejarem ser jogador de futebol, quando questionadas sobre o motivo de jogarem futebol, 45% escolherem as opções que não seria a de se tornar jogador profissional, escolhendo ser por diversão, fazer amigos ou aprender. Todas as crianças disseram que jogam futebol em mais de um local e 60% delas disseram praticar futebol há 3 ou 4 anos e todas as crianças responderam que já participaram de alguma competição, e a consideram muito importante.

    Quando as crianças perdem um jogo, sendo que 5% “não liga” 10% sente “desânimo” 40% sente “tristeza” e 45% sentem “raiva”, demonstrando assim o espírito de competitividade das crianças.

Conclusão

    Observamos que os filhos tem sentimento de raiva e tristeza quando perdem um jogo, demonstrando sentimento de agressividade devido à frustração da derrota; os mesmos jovens atletas dão muita importância a competição, e contrapondo a literatura, os jogadores buscam o desempenho e colocar a prova suas habilidades; comparando com os resultados dos pais, os mesmos dizem que já haviam participado de competições, no entanto, em sua maioria, responderam que só em nível recreativo, ainda sim quando visualizamos a posição dos pais quanto a derrota ou vitória dos filhos, 90% expressou a importância da participação esportiva, e não a competição, mas quando vencem uma partida, sentem-se satisfeitos com o resultado, sendo assim o esporte se torna um meio e não um fim por si só, ao passo que os pais estão preocupados com a formação global de seus filhos e não somente esportiva.

    Fica evidente que a participação dos pais na vida esportiva dos filhos é de grande importância para o desenvolvimento da moral do individuo dentro do esporte, ainda que este clube analisado apresente um nível sócio econômico mais elevado, os pais não estão preocupados em formar somente atletas, mas com que o esporte faça parta da vida dos jovens jogadores, e possibilite a inserção na sociedade, e a melhoria nos relacionamentos.

Referências

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