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O culto ao corpo e seus desdobramentos contemporâneos

El culto al cuerpo y sus desarrollos contemporáneos

The cult of the body and its contemporary paradigms

 

*Universidade Federal de São Paulo – Campus Baixada Santista

**Grupo de Estudo e Pesquisa Sociocultural em Educação Física

***Grupo de Estudo e Pesquisa Morfologia do Trauma Sistêmico

(Brasil)

Rogério Cruz de Oliveira* **

Flavia de Oliveira* ***

rogerio.unifesp@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste texto é refletir sobre os desdobramentos contemporâneos referentes aos padrões corporais. O referencial teórico utilizado neste texto é composto por autores do campo da Anatomia e Educação Física. A discussão central faz uma relação entre conceitos da anatomia, como normalidade e variação anatômica, e da Educação Física, como estilos de vida, beleza e estética.

          Unitermos: Cultura. Cultura da beleza. Estética. Educação Física. Treinamento. Anatomia. Variação anatômica.

 

Abstract

          The aim of this study was thinking about the contemporary paradigm of the body patterns. Anatomical and Physical Education authors composed the theoretical reference used. The main discussion was related to Anatomical concepts such as normality and anatomic variation, in addition, Physical Education concepts such as lifestyle, beauty and esthetics.

          Keywords: Culture. Beauty culture. Esthetics. Physical Education. Training. Anatomy. Anatomic variation.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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    Para a área de conhecimento da Anatomia Humana, o termo normal se refere ao que é estatisticamente mais comum, ou seja, o que é encontrado em maior número na população. Já variação anatômica, é o que aparece em menor quantidade na população, sem que haja prejuízo da função (DÂNGELO e FATTINI, 1995).

    As variações anatômicas podem ocorrer tanto nas partes internas do corpo quanto nas partes externas. Dessa maneira, o tamanho e a forma de determinados órgãos podem variar de indivíduo para indivíduo sem que isso atrapalhe a função dos mesmos. No que se refere às partes internas podemos citar a forma e tamanho do estômago; os diferentes padrões de ramificação de nervos, vasos e artérias; o formato e a apresentação dos detalhes ósseos; a forma de inserção dos músculos nos ossos; dentre outros inúmeros exemplos. Já em relação à variação anatômica externa, essa se refere à posição e tamanho de determinadas partes do corpo. Assim, temos como exemplo a implantação da orelha. Na maior parte da população, esta se encontra próxima ao crânio. No entanto, em parte da população, pode estar afastada do crânio, apresentando-se “aladas”, o que não prejudica a função da orelha, sendo, portanto, uma variação anatômica. Nesse horizonte, podemos exemplificar uma série de variações anatômicas externas tais como comprimento das pernas, largura do quadril, tamanho das mamas, nádegas, pés, mãos, dedos, nariz, dentre outros.

    Ressaltamos ainda que as variações anatômicas podem estar relacionadas com diferenças sexuais, étnicas e de idade. As formas corporais externas bem como os órgãos genitais externos e internos são diferentes nos homens e nas mulheres. De acordo com a etnia há alterações no tom da pele, cabelos, forma dos olhos, nariz e lábios. De acordo com a idade existem diferenças na espessura e elasticidade da pele, na cor dos cabelos e até na quantidade de ossos, haja vista que determinados ossos, como os da calota craniana, sofrem um processo de fusão - denominado sinostose - e se unem.

    Contudo, apesar de a variação anatômica aparecer em menor quantidade na população, os atuais padrões de beleza corporal, constantemente expostos pela mídia impressa, televisiva e virtual, envolvem muitas características relacionadas a um padrão corporal que ocorre em baixíssimas quantidades na população. Como exemplo, podemos citar o corpo feminino. Apesar de não ser uma característica da maioria da população brasileira, o biótipo longilíneo da mulher magra e de pernas longas, como as da modelo brasileira Gisele Bundchen, é o sonho de muitas mulheres, ou, pelo menos, imposto a elas, mesmo sendo esse um padrão raro na população.

    Assim, tem-se um modelo corpóreo que acaba por se distanciar da realidade da maioria das pessoas e, por isso mesmo, é visto como algo valioso, bem como idealizado por aqueles que desejam obter um corpo socialmente mais aceito.

    Vejamos outro exemplo. As mulheres da comunidade indígena Paudang da Tailândia a partir dos 5 anos de idade começam a utilizar argolas no pescoço para alongá-lo - constituindo uma referência bastante utilizada por estudos antropológicos quando o assunto é a diversidade cultural. Nesse contexto, quanto mais longo o pescoço mais bela é considerada a mulher. No entanto, o pescoço longo não representa um padrão normal na população, mas sim um padrão em pouquíssima quantidade. Ou seja, a variação anatômica produzida pelas mulheres Paudang caminha no sentido do embelezamento e da significância cultural que o pescoço longo representa.

    Este exemplo, e outros tantos que poderíamos citar, frequentemente causam espanto da população ocidental. Como assim utilizar argolas no pescoço? Isso não pode ser prejudicial à função do pescoço? No entanto, essa mesma população ocidental que se espanta com as mulheres da tribo Paudang, vislumbram mamas de tamanhos diferentes, quase sempre fartos, ou ainda glúteos semelhantemente fartos, que também representam um padrão corporal encontrado em menor quantidade na população. Assim, também ficam dispostas a realizar intervenções no corpo com vistas ao embelezamento e significância cultural, mesmo que isso seja tão ou mais agressivo do que a utilização das argolas no pescoço, caso das cirurgias de implantes de próteses mamárias e de glúteos. Dessa forma, poderíamos dizer que, quanto maior os seios ou glúteos mais bonita é a mulher. Ou seja, mudam-se as partes do corpo, mas a ótica é a mesma: mudanças corporais em busca de um corpo mais bonito e socialmente aceito.

    Frente ao exposto questionamos: Quais as implicações do culto ao corpo para nossa vida em sociedade? É legítima a busca por um corpo socialmente mais adequado?

    Em nosso entendimento essas questões são centrais para a contemporaneidade, a qual tem apresentado a diferentes pessoas diferentes formas e modelos corporais, todos, claro, distantes de suas próprias formas corporais. Consequentemente, tal fato causa um primeiro desdobramento: imensas quantidades de pessoas descontentes com a aparência de determinadas partes de seu corpo, mesmo que essas estejam em plenas condições de funcionalidade. E para isso, esforços são empreendidos, na tentativa de se adequar aos rigorosos padrões corporais de beleza.

    Assim, o culto contemporâneo ao corpo tem se desenvolvido a partir de alguns consensos, sendo dois centrais. O primeiro deles diz respeito ao labor corporal, sendo comum o entendimento de que é preciso se esforçar muito para se alcançar os resultados desejados. O outro diz respeito aos ciclos da vida, na qual a jovialidade é privilegiada.

    Dessa forma, não raro imaginamos as academias de musculação – locais privilegiados do culto ao corpo – frequentadas por pessoas jovens, aparentemente sadias, dotadas de tipo físico atlético, mulheres trajando roupas justas ao corpo e homens trajando roupas que realçam a musculatura desenvolvida no labor corporal, sendo este cumprido com muito sacrifício, haja vista a máxima: no pain no gain (sem dor não há ganho).

    Ora, mas por que a relação entre a academia de musculação e as pessoas jovens e tipo físico atlético? Justamente porque o fenômeno do culto ao corpo traz embutido o ideário do esforço individual e da juventude. É frequente, por exemplo, a associação da atividade física com a juventude e beleza.

    Assim, é formada uma legião de seguidores ávidos pelos padrões corporais prometidos pela atividade física, horizonte no qual todos podem participar e conquistar. Entretanto, para aqueles que não conseguem mudar os seus padrões corporais por meio do labor corporal intenso acabam por ser enquadrados em diversos rótulos, como exemplo, gordinho e magrelo.

    Dessa forma, entram em cena os estereótipos, que, em relação aos padrões corporais, frequentemente, estão associados ao fenômeno recente da culpabilização individual. Tomando como exemplo os rotulados gordinhos, sabe-se, há pouco tempo, que a obesidade, assim como outras doenças crônicas como a hipertensão arterial, tem sido relacionada ao estilo de vida das pessoas. Dessa forma, se a pessoa tem obesidade, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, doenças cardiovasculares, etc., é porque não se cuidou (não se alimentou saudavelmente, não se exercitou, etc.). Mas, e os fatores genéticos? E as condições de vida das pessoas (trabalho, lazer, moradia, alimentação, acesso igualitário aos serviços de educação, saúde, etc.)? Sem mencionar aqueles que não possuem (não podem ter) um estilo de vida, apenas estratégias de sobrevivência (CASTIEL, 2003).

    Diante do exposto, compreendemos que a culpabilização individual, mencionada acima, acaba por criar a marginalização corporal, que, na perspectiva de Fraga (2006), permite a formação de identidades marginais. Para o autor, as pessoas são cada vez mais responsabilizadas pelas intercorrências da vida. Assim, surge uma lista de termos que determinam novos marginais, dentre eles figuram o sedentário e o gordo. “’não faz exercício porque é preguiçoso’; ‘é gordo porque é relaxado’[...]” (FRAGA, 2006, p.110). Assim, o culto ao corpo marginaliza os corpos distantes do padrão atlético e jovem. Para estes, uma série de recomendações especiais são direcionadas diariamente: Se você não gosta de academia, utilize as escadas ao invés do elevador (e os que precisam ir ao 14º andar?); se você anda de ônibus, desça duas paradas antes do previsto (e os que permanecem no ônibus por mais de 1 hora em pé?); se você anda de carro, vá para o trabalho de bicicleta ao menos uma vez por semana (e os que residem distante do trabalho? Ou não tem bicicleta?); se você é dona de casa, organize suas atividades de modo que pelo menos um afazer vigoroso esteja previsto todo dia (e se todo o serviço doméstico for vigoroso?), dentre outras recomendações.

    E tudo isso para quê? Para ficar jovem, belo, magro, atlético, ativo, saudável, disposto, atualizado, atraente, enfim, na moda, com o corpo na moda. Caso contrário, torna-se um marginalizado corporal. Para Mariuzzo (2012), a moda “[...] não está no corpo, ela é o corpo”, assim, a velhice e a obesidade, por exemplo, passam a ser motivo de estigmatização (p.14). Fato esse, segundo a autora, que leva, atualmente, o desejo e luta de muitas mães de se parecem com as filhas, o que, num passado não tão distante se traduzia no inverso.

    Assim, partindo do pressuposto que é impossível a todas as pessoas atingirem os padrões corporais cultuados na contemporaneidade pelo próprio esforço, haja vista que os mesmos ocorrem em pequenas quantidades na população em geral, compreendemos que a sociedade fica refém de certas doses de insatisfação corporal, a saber: se é gordo, é preciso ficar magro; se é magro é preciso ficar forte; se é forte, é preciso ter a musculatura mais definida e assim por diante. Ou seja, se em cada época da humanidade um padrão corporal foi exigido, na atualidade o padrão reside justamente naquilo que não alcançamos ou o que não podemos alcançar.

    Diante dessa impossibilidade, chegamos a outro desdobramento: a criação de um mercado consumidor de corpos, que, para Torri, Bassani e Vaz (2007), entrelaça discursos de promoção da saúde, performance e estética. Assim, são vendidas dietas, programas de treinamento especializados, produtos que prometem combate às rugas, celulite, estrias e todas as marcas corpóreas indesejadas pela contemporaneidade.

    Para Roble e Daolio (2006), que discutem a relação entre um corpo identitário e um corpo virtual, o processo de virtualização das relações contemporâneas tende a multiplicar os modelos de corpo a serem perseguidos, gerando algumas implicações para as práticas corporais, sendo uma delas a supervalorização do ter em detrimento do ser. Nas palavras dos próprios autores “[...] ter uma bicicleta ou esteira ergométrica, ter várias roupas de ginástica, comprar os kits de emagrecimento ou os aparelhos domésticos de ginástica ‘global’, de certa forma já garantem o ingresso no universo do cuidado do corpo e experienciar este universo é, por assim dizer, uma realidade ‘não-corpórea’ do próprio corpo” (p.222-223). Entretanto, este processo não garante os resultados prometidos pelo marketing dos produtos, pois os instrumentos por si sós não garantirão o corpo desejado. Haverá necessidade, e a ciência comprova, de intensas rotinas diárias de exercícios físicos para se almejar qualquer mudança corporal significativa, o que nem todos estão dispostos ou podem empenhar seu tempo nesta empreitada.

    Com isso, compreendemos que o culto ao corpo possui severas implicações e desdobramentos para a vida em sociedade. A insatisfação corporal promovida pelo desfile de inúmeros modelos corpóreos, apresentados massivamente pela mídia, acaba por gerar uma legião de consumidores corporais sedentos por transformações: aumentar ou diminuir as mamas, aumentar o glúteo, estreitar o nariz, ter pernas mais grossas, não ter rugas ou quaisquer outras marcas de expressão, alisar ou enrolar o cabelo, emagrecer, engordar, etc. Tudo isso em nome de um conceito: ser belo (a).

    Assim, concluímos que a busca por um corpo socialmente mais adequado e/ou valorizado, se legitima em processos grávidos de fragilidade, a qual, ditada por modas vulneráveis ao tempo, corre o risco de se tornarem rapidamente desatualizadas, gerando novas demandas corpóreas. Consequência disso é a concretização de um ciclo vicioso que, iniciado pela marginalização corporal, acaba por criar a insatisfação corporal, permitindo assim a consolidação de uma mercadorização corporal, a qual busca superar, justamente, as “imperfeições corpóreas” que produziu.

    Diante disso, resta nos questionar quais os limites desse culto ao corpo. Em que medida as pessoas estarão dispostas a efetuar mudanças corporais de acordo com algum padrão imposto? Chegaremos a testemunhar a existência de lugares destinados à produção de novos seres humanos, como na obra “Admirável mundo novo”? Ou como na animação “Robôs”, na qual a máxima “Para que ser você se você pode ser novo?” é proferida por um personagem que pretende retirar de circulação os velhos e desatualizados robôs que vivem numa cidade. Será possível que cheguemos a tal realidade? Talvez seja um exagero pensar nessas possibilidades. Entretanto, não nos esqueçamos de Mariuzzo (2012), quando afirma que, com os avanços da biotecnologia, novos campos de possibilidades corpóreas se abrem, inclusive a de um corpo híbrido (natural e tecnológico). Para a autora, as cirurgias plásticas traduzem somente um dentre muitos aspectos desse fenômeno, “[...] um objeto de consumo para criar um corpo a ser consumido” (p.14). Não esqueçamos também dos questionamentos de Gaya (2005), que no texto intitulado “Será o corpo humano obsoleto?”, indaga: “[...] na sociedade da tecnociência, da informação, da inteligência artificial, da nanorrobótica: será o corpo humano obsoleto? Seremos no futuro próximo apenas sofisticados avatares? Ciborgs? Robôs? Na sociedade do século XXI: será a despedida do corpo biológico? Matrix surgirá como uma hipótese viável? Corpos híbridos entre o biológico e o artificial? Mundo das máquinas inteligentes? Enfim! Será a morte do corpo humano?” (p.331).

    Por fim, entendendo o corpo como expressão da cultura, sendo mais do que um conglomerado de ossos, músculos e órgãos, mas sim nosso meio de diálogo com o mundo, compreendemos que se faz necessário retomar a centralidade do significado do corpo para a vida. Distanciando-nos da concepção cartesiana de separação entre corpo e mente, compreendemos que não temos um corpo, mas somos um corpo, o que implica a necessidade de lidar com o mundo de forma mais autônoma e menos passiva, consequentemente, mais resistente aos apelos corpóreos da contemporaneidade. Isso não significa que sejamos contra, por exemplo, à atividade física, muito pelo contrário. Apenas desejamos que esta possa ser ressignificada, assim como outras práticas destinadas ao corpo.

    Tão importante quanto à perda numérica de calorias e/ou o ganho de massa corpórea proporcionada pelo labor corporal deve ser o prazer proporcionado pela própria atividade em si. Para Alex Fraga, esta é uma condição que permite o resgaste do caráter lúdico das práticas corporais contemporâneas. Práticas estas que, frequentemente, tem sido associadas à (re)formulação, (re)modelamento e (re)juvenescimento corporal. Consequentemente, incorrendo numa drástica redução de seu significado.

    Assim, torna-se urgente repensar o significado do corpo na contemporaneidade e colocá-lo na esteira do ser e não do ter, do desenvolver e não do possuir e, claro, do viver plenamente ao invés de fragmentá-lo em partes pretensamente mais belas, fortes e jovens. Com isso, teremos uma possibilidade de prolongar a própria vida em si, que, como realidade corpórea, não reside em outro lugar que não seja no nosso próprio corpo.

Referências

  • CASTIEL, L.D. “Quem vive mais, morre menos?”: estilo de risco e promoção da saúde. In: BAGRICHEVSKY, M.; PALMA, A.; ESTEVÃO, A. (Orgs.). A saúde em debate na educação física. Blumenau: Edibes, 2003.p.79-97.

  • DÂNGELO, J.G.; FATTINI, C.A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar para o estudante de medicina. 2.ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995.

  • FRAGA, A.B. “Promoção da vida ativa: nova ordem físico-sanitária na educação dos corpos contemporâneos”. In: BAGRICHEVSKY, M.; PALMA, A.; ESTEVÃO, A.; DA ROS, M. (orgs.). A saúde em debate na educação física – vol. 2. Blumenau: Nova Letra, 2006. pp. 105-118.

  • GAYA, A. “Será o corpo humano obsoleto?”. Sociologias, Porto Alegre, v.7, n.3, pp. 324-337, 2005.

  • MARIUZZO, P. “Crescimento de cirurgias plásticas demonstra fusão dos conceitos de saúde e beleza”. Ciência e Cultura, São Paulo, v.64, n.3, pp.13-15, 2012.

  • ROBLE, O.J.; DAOLIO, J. “Do corpo identitário ao corpo virtual: algumas implicações para a Educação Física”. Pro-posições, Campinas, v.17, n.1, pp.217-226, 2006.

  • TORRI, G.; BASSANI, J.J.; VAZ, A. “Dor e tecnificação no contemporâneo culto ao corpo”. Pensar a Prática, Goiânia, v.10, n.2, pp.261-273, 2007.

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