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Memória de trabalho: análise de desempenho em escolares
de 6 a 10 anos da Rede Pública de Ensino do DF
relacionado ao nível de atividade física diária

Memoria de trabajo: análisis de rendimiento en escolares de 6 a 10 años de la 

Red de Educación Pública del DF relacionados con el nivel de actividad física diaria

 

Cursos de Educação Física e Pedagogia

da Universidade Católica de Brasília

(Brasil)

Pollyanna Ferreira da Silva

Walkiria Laet

Nanci Maria de França

pollyannafs@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A capacidade de aprender e recordar informações fundamentadas em experiências é essencial à nossa sobrevivência, e é na infância que ocorre a caracterização por concentrar as aquisições fundamentais para o restante do desenvolvimento humano. Os exercícios físicos e os processos da memória de trabalho estão totalmente relacionados, de acordo com a maioria dos estudos, grande parte revela que criança que tem uma melhor aptidão física tem também um melhor desempenho cognitivo. Sendo assim, esse estudo teve por objetivo avaliar o desempenho da memória de trabalho dos escolares de 6 a 10 anos do Ensino Fundamental I da rede pública do DF tendo como pressuposto a classificação do Nível de Atividade Física Diária. Para coleta de dados dessa pesquisa foi aplicado, para aproximadamente 89 alunos, com idades variando entre 6 e 10 anos matriculados nas escolas públicas de Taguatinga- DF, o teste de memória de trabalho (Torre de Hanói) e para a avaliação do nível de atividade física (Questionário de Atividade Física – Youth. RBS, 2005). Os resultados obtidos a partir dos testes realizados permitiram concluir que crianças entre 6 e 10 anos com um bom nível de atividade física, tem um melhor desempenho da memória de trabalho e pode-se concluir também, que a atividade física é um dos fatores importante para o desenvolvimento cognitivo da criança, pois poderá resultar em benefícios significativos para a conservação e melhoria da memória de trabalho, bem como para o desenvolvimento físico de cada indivíduo.

          Unitermos: Crianças. Memória de trabalho. IPAQ. Teste de Hanói.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O desenvolvimento humano, em seu processo, é o foco de estudos científicos para analisar as mudanças do indivíduo no decorrer do seu crescimento. Sendo assim, essas mudanças são mais obvias na infância e os fatores que influenciam são tanto internos (hereditários) quanto externos (ambientais), mas também, mudanças são feitas durante todas as outras fases da vida, de acordo com o estudo feito por Papalia e Olds (2000).

    A infância é caracterizada por concentrar as aquisições fundamentais para o restante do desenvolvimento humano, pois é nessa etapa da vida que o indivíduo forma a base motora para a realização de movimentos mais complexos futuramente (GALLARDO, 2003). E ainda afirma que neste momento é importante que a criança tenha um bom acompanhamento no seu desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial.

    Contudo, a aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde que a criança passa a ter contato com o mundo. Na interação com o meio físico e social, a criança passa a se desenvolver de forma mais abrangente e eficiente. Isto significa que a partir do envolvimento com seu meio social são desencadeados diversos processos internos de desenvolvimento que permitirão um novo patamar de aprendizagem (BONAMIGO et al, 1982).

    A partir disso, a capacidade de aprender e recordar informações fundamentadas em experiências é essencial à nossa sobrevivência (MCGAUGH e GOLD, 1988 apud SANTOS, 1998). Então Izquierdo (1992) define a aprendizagem como a aquisição de novas informações através de uma experiência. E a armazenagem e evocação destas informações ou de suas conseqüências podemos chamar de memória, que também é definida como o estado estável de um sistema complexo com muitos componentes que interagem entre si, conseqüência de um estimulo ou um conjunto deles.

    Segundo estudos feitos anteriormente por Flavell et al. (1999), a memória de trabalho é responsável pelo arquivamento temporário de informações e cumpre um papel ativo no processamento de informações. Outro ponto importante, citado em outro estudo, é que o modelo de memória de trabalho, definido por Baddeley e Hitch (1974) apud Lopes et. al (2005), é um modelo tripartido que comporta um sistema denominado executor central, responsável pelas funções reguladoras incluindo a atenção, o controle da ação e a resolução de problemas.

    Com relação à influência de exercícios físicos e os processos da memória de trabalho, existem poucos estudos que estão relacionados, mas grande parte revela que crianças que obtém uma melhor aptidão física têm também um melhor desempenho escolar (HILLMAN, et al, 2003).

    Na literatura pesquisada, não foi encontrado estudos que diferencie os meninos e as meninas relativamente à resposta da memória de trabalho, mas no estudo de Oliveira (2008), foi aplicado a Torre de Hanói, que o objetivo é avaliar a função executiva constituindo-se em três pinos com três discos, no qual os as meninas tiveram melhores resultados, resolveram em menor tempo.

    Por conseguinte, diante das informações apresentadas, o presente estudo tem como objetivo avaliar o desempenho da memória de trabalho dos escolares de 6 a 10 anos do Ensino Fundamental I da rede pública do DF tendo como pressuposto a classificação do Nível de Atividade Física Diária.

Revisão da literatura

Memória de trabalho

    São várias as maneiras de qualificar os diferentes tipos de memória. Uma destas é com relação ao tempo transcorrido entre a aquisição e o momento de evocação: na memória imediata transcorrem segundos ou minutos, enquanto na memória recente lida-se com horas ou alguns dias e na memória remota, com semanas, meses ou até anos (IZQUIERDO, 1989; ROSAT et. al, 1990).

    A partir disso, Baddeley e Hitch (1974) citam a concepção de memória a curto prazo, que é encarada como um compartimento de armazenamento temporário, que foi modificada através do modelo de memória de trabalho de maneira a explicar a manutenção temporária da informação enquanto são executadas operações mentais. A informação é temporariamente mantida durante a execução de determinadas operações mentais, podendo ser classificada, organizada e relacionada com outra informação que já se encontra retida na memória. Grande parte dos autores acreditam que os diferentes componentes do modelo da memória de trabalho fornecem uma vantagem na explicação de tarefas cognitivas que incluem um sistema de manipulação temporária da informação, tais como a leitura, a matemática, o raciocínio e a resolução de problemas (BADDELEY, 1986). Esse modelo define-se como tripartido que comporta um sistema denominado executor central, responsável pelas funções reguladoras (BADDELEY e HITCH, 1974).

    Existem dois outros elementos da memória de trabalho, o loop fonológico que é um armazenamento fonológico de curto prazo que conserva a informação verbal e a recapitulação sub-vocal (movimento dos lábios sem o som), e o bloco de notas visuo-espacial que é o ato de visualizar mentalmente as características físicas dos estímulos, como exemplos, a cor e o movimento. Todavia, Gathercole e Hitch (1993) apud Carneiro (2008) afirmam que o início do processo de recapitulação espontânea ocorre apenas por volta dos 7 anos. Consideram também que antes dessa idade, a capacidade do loop fonológico corresponde à capacidade do seu armazenamento. O bloco de notas visuo-espacial ocorre uma mudança desenvolvimental importante também por volta dos 7 anos de idade segundo Carneiro (2008). Em outros estudos, Hitch, Halliday, Schaafstal e Schraagen (1988) indicaram que em tarefas em que os objetos a recordar partilham muitas características físicas (garfo, chave, pente,...), crianças de 10 anos, por sua vez, não são sensíveis à similaridade física dos objetos, mas apresentam menores níveis de recordação quando os objetos possuem um nome mais comprido.

    Sendo assim, de acordo com a pesquisa de Linassi et. al (2005), foi ressaltado que a memória de trabalho tem um importante papel na aquisição do vocabulário durante a infância e que é primordial para a aquisição da linguagem e para o desenvolvimento da fala das crianças.

Questionário Internacional de atividade física (IPAQ)

    Baseado no estudo feito anteriormente por Pardini et al.(2001), no qual afirma que utilizar um questionário confiável, completo e de fácil preenchimento, seria um ótimo instrumento para trabalhar em estudos epidemiológicos para diagnosticar o nível de atividade física da população e para tentar prevenir doenças causadas pela inatividade física, como também em estudos que acrescentem para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos.

    Portanto, podemos ressaltar que o Questionário Internacional de atividade física (IPAQ), foi criado e validado para servir como um instrumento a fim de avaliar o nível de atividade física diária do individuo, independentemente do seu nível social, podendo ser aplicado em forma de entrevista ou auto-preenchimento. As questões avaliam a freqüência (dias na semana), os hábitos de atividade física como: a prática, o tipo, a participação em escolinhas esportivas, se fora de horário escolar brinca com os amigos ou parentes, a forma de transporte utilizada de casa para escola, o tempo de deslocamento e outras. Analisa, também, o tempo (em horas) por dia em que a criança assisti televisão, quantas horas são destinadas ao vídeo game ou computadores e a duração (minutos por dia) da caminhada e das atividades físicas vigorosas e moderadas.

    A classificação do nível de atividade física foi utilizado e firmado por um consenso realizado em parceria do CELAFISCS e do Center for Disease Control (CDC) de Atlanta em 2002, classificando diferentemente, em categorias, considerando os critérios de freqüência e duração nas diferentes intensidades de atividade (PARDINI et al., 2001): Muito ativo, ativo, irregularmente ativo e sedentário.

Metodologia

    Esta pesquisa foi um estudo de campo de natureza epidemiológica, que utilizou do procedimento experimental a fim de, analisar a relação causa-efeito entre as variáveis independentes (idade e IPAQ) e variável dependente (memória de trabalho).

População e amostra

    O estudo foi realizado com aproximadamente 89 alunos, com idades variando entre 6 e 10 anos matriculados nas escolas públicas de Taguatinga- DF.

Critérios de inclusão

    Para participar da pesquisa todos os sujeitos tiveram disponibilidade para participar de todo os processos, não apresentando disfunções mentais e psicológicas.

Materiais e métodos

    Para a avaliação do nível de atividade física e cognitiva foram utilizados os seguintes materiais:

a.     Teste de memória de trabalho: Torre de Hanói objetiva a mensuração da memória de trabalho (BULL; ESPY; SENN, 2004). A Torre de Hanói se constitui em três pinos com seis discos. Uma torre inicialmente disposta no primeiro pino, com os discos dispostos de forma crescente, estando o menor por cima e o maior por último será oferecida ao aluno, que tem por objetivo a construção de outra torre, na mesma seqüência inicial, em um dos outros dois pinos. O aluno não pode colocar o disco maior sobre o disco menor, nem segurar os discos nas mãos enquanto movem outros podendo mexer somente uma peça de cada vez. A pessoa será orientada para tentar solucionar o problema o mais rápido possível.

b.     Questionário de Atividade Física - Youth RBS (2005): Para avaliar o nível de atividade física, é aplicado o questionário destinado a crianças e adolescentes do YOUTH. Risk Behavior Survey (2005) proposto pelo Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS), em forma de entrevista e tendo como referência a última semana, com questões relativas à intensidade, freqüência e duração da atividade física habitual do indivíduo, podendo ser classificado como sedentário, irregularmente ativo, ativo e muito ativo (MATSUDO et al., 2001).

    O questionário é composto por 10 perguntas fechadas com 4 opções de resposta (a,b,c e d) nos valores de 5, 10, 15 e 20 pontos respectivamente e o escore é obtido pela soma de todas as questões para se obter a pontuação final. Sendo assim, a partir do escore pode-se classificar as crianças como muito ativas a sedentárias.

Classificação IPAQ

Questionário de Atividade Física – Youth. RBS, 2005

S

Sedentário

40 a 50 pontos

A1

Irregularmente ativo

55 a 100 pontos

A2

Ativo

105 a 130 pontos

A3

Muito Ativo

130 a 160 pontos

Procedimentos

    O Questionário de Atividade Física – Youth. RBS, 2005 e o teste de Hanói foram aplicados individualmente em uma sala arejada e silenciosa, com iluminação natural, no período matutino. Antes desse processo, foi solicitada uma autorização da Diretoria Regional de Ensino e da escola, para realização dos mesmos. Após a autorização foram aplicados os testes.

Delineamento estatístico

    Utilizada porcentagem para a análise dos resultados da pesquisa, foram feitos por meio da apresentação de tabelas de freqüência com os escores obtidos pela classificação dada pelos testes, calculado, também, médias e respectivos desvios que, em seguida, será apresentada a analise e discussão com base nos dados demonstrados.

Resultado e discussão

    Participaram do estudo 89 escolares com idade compreendida entre 6 e 10 anos, com média de 8,6 anos. A média de tempo correspondeu a 2min. 55seg. e 1,6 erros no teste de memória de trabalho (Torre de Hanói). Na classificação do nível de atividade física diária, a média total da amostra ficou em aproximadamente 115,2 pontos que estão relacionados a indivíduos “ativos”, como pode ser observado na tabela 1.

Tabela 1. Média e desvio padrão das variáveis apresentadas

    Em conformidade com os dados da tabela 2, baseado na estatística descritiva com cálculo de percentual de acordo com as categorias de classificação da variável IPAQ e a classificação de erros no teste de memória, verifica-se que os indivíduos “Ativos” (38,2%) tiveram menos números de erros frente aos “Irregularmente ativos” (33,7%) e aos “Muito ativos” que corresponderam a 19,1% da amostra.

    Tais resultados indicam que as crianças mais ativas apresentam menos dificuldades cognitivas em relação as outras, diante dessa analise, diversos estudos tem demonstrado que o exercício físico melhora e protege a função cerebral, sugerindo que as pessoas fisicamente ativas, de acordo com dados epidemiológicos, apresentam menor risco de serem acometidas por desordens mentais em relação as sedentárias, mostrando que a participação em atividades físicas exerce benefícios na esfera física e psicológica e que indivíduos fisicamente ativos provavelmente possuem um processamento cognitivo mais rápido (ANTUNES, 2006).

Tabela 2. Nível de atividade física e erros

    No tempo de execução da Torre de Hanói (tabela 3) observamos os seguintes resultados: 29,2% das crianças irregularmente ativas a muito ativas necessitaram de um tempo menor para resolver o problema sendo que 23,6% tiveram o tempo ruim. Mas a maioria 47,2% obteve um tempo bom e nenhum indivíduo foi classificado como sedentário.

    De acordo com Peterson e Peterson citado por Cardoso et al (2007), estágio de armazenamento em curto prazo (memória de trabalho) é caracterizado pela capacidade de usar imediatamente a informação na qual foi apresentada e, a partir dessa informação, chegaram a conclusão de que tendemos a perder informações depois de decorridos 20 a 30 segundos do estímulo sensorial. Estudos feitos posteriormente vieram a confirmar essa afirmação acrescentando que nesse estágio a informação permanece retida por intervalos de tempo muito curtos (GLEITMAN, 2002).

    Portanto, segundo Matsudo et al (2000b), algumas pesquisas anteriores apresentaram a correlação entre melhores índices das funções cognitivas e atividade física:

    Wood et al verificaram que o tempo de reação e a memória estão relacionados com a mobilidade física, e a memória relaciona-se também com o componente social da qualidade de vida; Etnier et al revelaram que o exercício e a aptidão física têm um efeito positivo pequeno na cognição, e que este efeito depende do exercício, dos participantes, dos testes cognitivos e da qualidade do estudo. Assim sendo, é possível estabelecer que o exercício físico realizado durante um considerável período de tempo, é que produz ganhos na aptidão física e pode ser útil na melhora das habilidades cognitivas (CARDOSO; CAVOL; VIEIRA, 2007, p 12).

    Por conseguinte, Matsudo (2001) apresentou em estudos a associação entre a memória e aptidão física que dependerá da tarefa a ser executada, sendo observada com mais freqüência naquelas que exijam um processo cognitivo rápido, ou com algum grau de dificuldade, do que em tarefas automáticas ou auto-controladas.

Tabela 3. Nível de atividade física e tempo

Conclusão

    Ao final desse estudo, a partir dos resultados obtidos nos testes realizados, concluímos que crianças entre 6 e 10 anos com um bom nível de atividade física, tem um melhor desempenho da memória de trabalho. Porém, essa relação existente entre a prática de atividades físicas e os aspectos cognitivos (memória) é um tema que exige uma maior quantidade de estudos.

    Todavia, a partir de pesquisas anteriormente desenvolvidas, foi possível analisar estudos que apresentam crianças com maior dificuldade na performance cognitiva comparadas com crianças que demonstram ser mais ativas.

    Por fim, pode-se concluir com os resultados do teste cognitivo realizado com o Hanói e com a classificação do IPAQ - Youth RBS (2005), que a atividade física é um dos fatores importante para o desenvolvimento cognitivo da criança, pois poderá resultar em benefícios significativos para a conservação e melhoria da memória de trabalho, bem como para o desenvolvimento físico de cada indivíduo.

Referências

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