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Estudo sobre a suplementação com creatina

Estudio sobre la suplementación con creatina

 

Universidade Federal do Paraná

(Brasil)

Euclides Roberto Ferreira

Maria Gisele dos Santos

mariagisele@yahoo.com

 

 

 

 

Resumo

          A concentração celular de creatina é determinada pela habilidade da célula em assimilar o nutriente a partir do plasma, uma vez que não há síntese muscular da mesma. Sabe-se que a captação da creatina circulante na corrente sanguínea pelo músculo é realizada através de um processo altamente específico, sódio-dependente, saturável e de alta afinidade, capaz de transportar a creatina contra um gradiente de concentração.

          Unitermos: Creatina. Suplementação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Entende-se por recursos ergogênicos todas as substancias ou artifícios, processos ou procedimentos para a melhoria da performance (WILLIAMS & BRANCH apud BIESEK, 2005, p. 281).

    Os suplementos para praticantes de atividade física, pelas normas brasileiras são divididos em: repositores hidroelétricos, energéticos, protéicos, compensadores e aminoácidos de cadeia ramificada (BIESEK et al., 2005, p. 283). Tendo ação nutricional, farmacológica, fisiológica, psicológica e biomecânica (DANTAS, 2003, p. 362)

2.     Revisão de literatura

2.1.     Creatina

    A creatina foi identificada pelo cientista francês Michel Chevreu, em 1835, quando este relatou ter encontrado um novo constituinte orgânico nas carnes. Este constituinte foi então denominado creatina. Devido a problemas técnicos, apenas em 1847, outro cientista, Justus Liebig, foi capaz de confirmar a presença de creatina como um constituinte regular das carnes. Liebig também observou que a carne de raposas selvagens que sobreviviam da caça continha 10 vezes mais creatina em comparação às raposas em cativeiro, concluindo que o trabalho muscular resultaria em acúmulo dessa substância. Na mesma época, os pesquisadores Heitz e Pettenkoffer descobriram uma nova substância presente na urina, mais tarde identificada por Liebig como creatinina, um subproduto da creatina (DEMANT & RHODES, 1999).

    No inicio do século 20 estudos mostraram que nem toda creatina ingerida era encontrada na urina, evidenciando que uma quantidade era armazenada.

    Trata-se de um composto encontrado em alimentos de origem animal, que pode também ser sintetizado no fígado, rins e pâncreas, tendo como precursores: arginina, glicina e metionina. O grupo amino da arginina é transferido para glicina, formando guanidinoacetato e ornitina, através de uma reação mediada pela enzima glicina transaminase. Em seguida, o guanidinoacetato é metilado pela s-adenosil-metionina, através da ação da enzima guanidinoacetato N-metil transferase, derivando, finalmente, a creatina (FELDMAN, 1999).

    Ela é estocada no músculo esquelético na forma livre (40%) ou na forma fosforilada (60%). A creatina fosforilada tem uma importância muito grande na contração muscular, pois funciona como reserva energética utilizada principalmente em atividades onde predomina o sistema energético ATP-CP. São encontrados estoques de aproximadamente 120 g de creatina em um homem de 70 kg, sendo que 95% se encontram no músculo esquelético (MENDES & TIRAPEGUI, 2002).

    Aparentemente, com a suplementação, é possível aumentar o estoque muscular de creatina, melhorando o desempenho em atividades de alta intensidade e curta duração. Outro motivo para o sucesso da molécula nas academias é o aumento no volume muscular, que parece ser causado pela retenção hídrica provocada no músculo.

    A ingestão de creatina num prazo de menor de sete dias é acompanhada por rápidos aumentos da massa muscular. No entanto, esse aumento “mágico” de peso pode ser explicado pela retenção hídrica intracelular. Estudos comprovam essa hipótese, demonstrando que se observa um declínio do volume urinário após o início da suplementação oral de creatina (MUJIKA & PADILLA, 1997).

    A concentração celular de creatina é determinada pela habilidade da célula em assimilar o nutriente a partir do plasma, uma vez que não há síntese muscular da mesma. Sabe-se que a captação da creatina circulante na corrente sanguínea pelo músculo é realizada através de um processo altamente específico, sódio-dependente, saturável e de alta afinidade, capaz de transportar a creatina contra um gradiente de concentração. Para cada 2 moléculas de sódio, 1 molécula de creatina é captada pela célula muscular, através da ação da enzima Na+ - K+ - ATPase, também conhecida como bomba de sódio-potássio (ONTIVEROS & WALLIMANN, 1998).

    A ingestão de creatina parece exercer uma função no controle de sua síntese, através de um mecanismo de retroalimentação negativa, ou "feed-back" (MUJIKA & PADILLA, 1997).

    Hoje sabemos que o músculo possui um limite de acúmulo de creatina, variando entre 150 e 160 mmol/kg de músculo. Esse fato sugere que a ingestão crônica de creatina promova uma diminuição da síntese de CreaT, a fim de se evitar um armazenamento excessivo de creatina intramuscular. Desta forma, esta regulação "negativa" da CreaT pode ser interpretada como um indesejável efeito adverso da suplementação prolongada de creatina (ONTIVEROS & WALLIMANN, 1998).

    Uma vez dentro da célula, a creatina é fosforilada a fosfocreatina durante o repouso pela enzima creatina quinase. Essa enzima possui as seguintes funções: criar um reservatório energético prontamente disponível; promover um sistema de transporte de energia onde a fosfocreatina seria um carreador de energia; prevenir um aumento do ADP livre intracelular; criar um reservatório de prótons, permitir sinalização para início da glicogenólise no exercício e suprir sítios subcelulares com taxas apropriadas de ATP/ADP (STRYER, 1995).

    Em todas as atividades físicas há quebra de ATP em ADP ou adenosina-difosfato, e é nessa quebra que ha liberação de energia. Apesar das principais fontes para a do ATP serem gorduras e carboidratos, a obtenção de energia a partir destas fontes requer um tempo para reativação de vias metabólicas. Neste intervalo, a regeneração de ATP é totalmente dependente da fosfocreatina (CIDADE, 2003).

    Atletas e freqüentadores de academias utilizam a creatina de várias maneiras diferentes. Em geral, em dados coletados junto aos rótulos do produto, a dose mais utilizada é a etapa de carga que dura cinco dias, sendo utilizado 20 gramas do produto, divididas em 4x5 g; após essa etapa de carga, são utilizadas de cinco a dez gramas diárias (SILVA & BRACHT, 2001).

3.     Conclusão

    A creatina talvez seja o suplemento mais utilizado, o aumento do volume muscular e do rendimento atrai muitos consumidores, de iniciantes na academia até atletas. Mas conforme mostram os estudos é necessário tomar cuidado com a quantidade e o período de consumo, pois se utilizada de maneira crônica pode causar uma regulação negativa da CreaT. As pesquisas mostram também que o aumento do volume muscular, muito desejado por freqüentadores de academias, acontece rapidamente após o inicio da suplementação, mas isso não significa que houve um real ganho muscular e sim uma maior retenção hídrica, o que explica o inchaço. Por outro lado, a melhora do rendimento em atividades intensas de curta duração acontece e é explicada pela transferência do grupo fosfato da creatina, que é utilizado para a resintese de ATP, possibilitando assim a continuidade do exercício.

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