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Efeito de um programa de cinesioterapia laboral na dor, 

flexibilidade e postura de funcionários de uma biblioteca universitária

Los efectos de un programa de kinesioterapia laboral en dolor, flexibilidad y postura de empleados de una biblioteca universitaria

 

*Professor do Curso de Fisioterapia

da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL)

Componente do Laboratório de Pesquisa em Exercício Físico e Saúde (LAPES)

**Acadêmicas do Curso de Fisioterapia

Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL)

(Brasil)

Luana Meneghini*

Inês Alessandra Xavier Lima*

Aline da Rosa Silva**

Camila dos Santos**

Luiz Augusto Oliveira Belmonte*

luana.meneghini@unisul.br

 

 

 

 

Resumo

          Durante o trabalho a manutenção da postura somada à inatividade física, carência de mobilidade articular e fadiga muscular é fator condicionante para a diminuição da elasticidade miofascial e desenvolvimento de desconforto físico e alterações posturais.A implantação de programas de promoção à saúde do trabalhador visa melhorar a qualidade de vida destes indivíduos e a Cinesioterapia Laboral (CL) é uma das ferramentas utilizadas. Assim, este estudo teve como objetivo implantar um programa de CL e avaliar sua eficácia sobre a dor, flexibilidades e postura de funcionárias de uma biblioteca universitária. A amostra foi composta por 5 funcionárias. Foram coletados, Pré CL e Pós CL, dados referentes às queixas álgicas utilizando-se o mapa de dor e/ou desconforto corporal; flexibilidade utilizando-se o banco de Wells e alterações posturais através da fotogrametria. Para verificação da influência do programa de CL sobre queixas de dor e/ou desconforto corporal e flexibilidade da cadeia muscular posterior foi utilizado o teste t Student paramétrico. Com relação às queixas álgicas houve diferença significativa (p= 0,0032) entre o total de queixas Pré CL (8,6 ± 3,97 queixas) e o total de queixas Pós CL (3,2 ± 2,38 queixas). Quanto às alterações posturais não houve diferença Pré CL e Pós CL. Com relação à flexibilidade da cadeia muscular posterior houve diferença significativa (p= 0,0178) entre as médias Pré CL (20,75 ± 7,6 centímetros) e Pós CL (27,38 ± 6,0 centímetros).

          Unitermos: Saúde do trabalhador. Dort. Ergonomia.

 

Abstract

          During the works the maintaining of posture added physical inactivity, lack of joint and muscle fatigue is determinant for the decreased flexibility myofascial and development of physical discomfort and postural changes. The implementation of programs to promote workers’ health, aims to improve the quality of life of individuals and kinesiotherapy labor (CL) is one of the tools used. So, this study had as objective deploy a CL program and evaluate its effectiveness on pain, flexibility and posture employees of a university library.

The sample consisted of five employees. Were collected Pre CL and Post CL, date for the pain complaints using the Wells Bench and postural changes by photogrammetry. To check the influence of a CL on complaints of pain and/or bodily discomfort and posterior muscle chain flexibility test was used for parametric Student’s T. Regarding the pain complaints their was significant difference (p = 0.0032) between total complaints Pre CL (8.6 ± 3.97 complaints) and total complaints Post CL (3.2 ± 2.38 complaints). The postural changes there was no difference Pre CL and Post CL. Regarding the flexibility of the posterior muscular chain their was significant difference (p = 0.0178) between the average Pre CL (20.75 ± 7.6 cm) and Post CL (27.38 ± 6.0 cm).

          Keywords: Occupational health. Dort. Ergonomy.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    As LER (Lesão por esforços repetitivos) e Dort (Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho) são os nomes dados às afecções de músculos, tendões, sinóvias, nervos, fáscias e ligamentos, isoladas ou combinadas, com ou sem degeneração de tecidos. Elas atingem principalmente, mas não somente, os membros superiores, a região escapular e a região cervical e têm origem ocupacional, decorrendo (de forma combinada ou não) do uso repetido ou forçado de grupos musculares e da manutenção de postura inadequada1.

    A alta prevalência dessas afecções tem sido explicada por transformações do trabalho e das empresas cuja organização tem se caracterizado pelo estabelecimento de metas e produtividade, sem levar em conta os trabalhadores e seus limites físicos e psicossociais. Muitas vezes exige-se a adequação dos trabalhadores às características organizacionais das empresas, pautadas por intensificação do trabalho, aumento real das jornadas e prescrição rígida de procedimentos, impossibilitando manifestações de criatividade e flexibilidade. Além disso adiciona-se o aspecto físico-motor, com alta demanda de movimentos repetitivos, ausência e impossibilidade de pausas espontâneas, necessidade de permanência em determinadas posições por tempo prolongado, atenção para se evitar erros e submissão ao monitoramento de cada etapa dos procedimentos, além de mobiliário, equipamentos e instrumentos que não propiciam conforto2.

    Outros fatores influenciam no surgimento destes distúrbios relacionados ao trabalho como sobrecarga biomecânica ocupacional, sendo as mais comuns o trabalho repetitivo, velocidade e aceleração do movimento, força excessiva, compressão mecânica, vibração localizada, ausência de pausas e adoção de posturas inadequadas3,4,5.

    Nos trabalhadores que desempenham suas tarefas laborais na postura sentada, a manutenção da postura somada à inatividade física, carência de mobilidade articular e fadiga muscular é fator condicionante para a diminuição da elasticidade miofascial e alterações posturais6,7.

    Todos estes fatores de risco somados a falta de compensação de esforços provoca o desenvolvimento de desconfortos físicos, dores, estresse, absenteísmo e afastamentos, muitas vezes por tempo indeterminado8.

    Com o intuito de melhorar as condições de trabalho surgiu a ergonomia, cujo objetivo é a humanização, a melhoria da produtividade do sistema de trabalho, a redução dos acidentes de trabalho e aumento do conforto do trabalhador, procurando fornecer meios para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores,adaptando o trabalho às características anatômicas, fisiológicas e psicológicas destes9,10.

    A Cinesioterapia Laboral (CL) faz parte do processo ergonômico e proporciona redução das dores, fadiga, monotonia, estresse, acidentes e doenças ocupacionais dos trabalhadores. Pode ser definida como atividade física praticada no local de trabalho de forma voluntária e coletiva pelos funcionários na hora do expediente, ou seja, é um programa de prevenção, cujo objetivo é a promoção da saúde dos trabalhadores10.

    Compartilhando a visão de que os benefícios de recrutar, gerenciar e manter um grupo de trabalhadores saudáveis está diretamente relacionado à performance geral da companhia, algumas empresas brasileiras estão introduzindo programas de promoção à saúde do trabalhador, sendo a CL uma das ferramentas utilizadas para melhoria da qualidade de vida e conscientização corporal e a disposição para o trabalho 11,12. Indiretamente, a CL pode aumentar a produtividade, diminuir o absenteísmo, promover a motivação e atenção no trabalho, diminuir o número de acidentes de trabalho e aumentar a integração no ambiente de trabalho13.

    A CL mostra-se um importante instrumento para minimizar os males provenientes da adoção de posturas inadequadas e da execução de movimentos repetitivos e duradouros comuns em ambientes de trabalho14,15,apresentando-se com caráter preparatório (antes da jornada de trabalho) ou compensatório (durante ou após o trabalho).

    A implantação de um programa de CL busca despertar nos trabalhadores a necessidade de mudanças do estilo de vida, e não apenas de alteração nos momentos de ginástica orientada dentro da empresa. O mais convincente dos argumentos, que se pode utilizar para demonstrar que a atividade física constitui um importante instrumento de promoção da saúde e da produtividade, é que vale a pena praticar exercícios físicos regularmente, em virtude dos benefícios comprovados cientificamente16. Entretanto alguns autores relatam que a CL adotada de forma isolada pode não ser eficaz para a promoção da saúde do trabalhador17.

    Assim, este estudo teve como objetivo implantar um programa de CL e avaliar sua eficácia sobre a dor, flexibilidade e postura corporal de funcionários de uma biblioteca de uma Universidade da Grande Florianópolis.

Métodos

    O estudo, do tipo semi experimental18, com etapas de pré e pós-intervenção, foi realizado com funcionárias de uma biblioteca universitária. A amostra foi selecionada de forma intencional, tendo-se como critérios de inclusão: trabalharem somente na biblioteca universitária, carga horária diária de trabalho de 8 horas e 40 minutos e não apresentar lesão osteomioarticular ou doença que impossibilite a prática de exercício físico. Dessa forma, fizeram parte do estudo 5 (cinco) funcionárias, todas do gênero feminino.

    As atividades laborais desempenhadas pelas funcionárias na postura sentada são: atendimento aos acadêmicos no balcão, digitação em terminais informatizados (elaboração de relatórios, apresentação em Power Point, auxílio na formatação de bases de dados) e na postura em pé: reposição dos livros nas prateleiras da biblioteca. Durante a maior parte do tempo permanecem desenvolvendo as atividades laborais na postura sentada.

    Para caracterização da amostra, foi utilizada uma entrevista contendo questões relacionadas aos dados pessoais (idade, gênero e tempo de serviço).

    Com o objetivo de investigar as queixas de dor e/ou desconforto corporal foi utilizado o Mapa de dor e/ou desconforto corporal 19. Esta escala consiste em graduar o nível de desconforto manifestado sob a forma de dor em cada parte do corpo, numa escala representada por números: sendo 1 dor suportável que se caracteriza como um leve desconforto, consegue-se trabalhar mesmo sentindo-a; 2 dor intensa que obriga o trabalhador parar o trabalho por alguns instantes e manter-se em repouso ou mudar de posição para aliviar a dor possibilitando depois continuar o trabalho e 3 dor insuportável caracterizada pela incapacidade de continuar o trabalho.

    Para análise postural foi utilizado um sistema de avaliação postural PhysioEasy, composto por ferramentas de biofotogrametria computadorizada20.

    Para avaliar a flexibilidade da cadeia muscular posterior foi utilizado o Banco de Wells para realização do teste de flexibilidade Sentar e Alcançar.

    Para caracterizar a flexibilidade da cadeia muscular posterior utilizou-se valores de referência do CSTF (1986)21 . Este estudo foi desenvolvido em três fases distintas realizadas com o grupo experimental: (1) pré CL, caracterizada pela avaliação inicial; (2) intervenção, caracterizada pela aplicação do programa de CL e (3) pós CL, caracterizada pela avaliação final.

    Essa pesquisa foi conduzida dentro dos padrões exigidos pela resolução n.º 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisas em Seres Humanos da Universidade Do Sul de Santa Catarina (UNISUL), sob o protocolo número 12.057.4.08.III. Anterior a aplicação das avaliações, os funcionários que concordaram em participar da pesquisa, assinaram o termo de consentimento para fotografias, vídeos e gravações, e o termo de consentimento livre e esclarecido em duas vias, ficando uma via de posse do funcionário e a outra das pesquisadoras.

    Inicialmente, realizou-se um contato pessoal com a coordenadora da Biblioteca Universitária para solicitar permissão para a realização do estudo. Após o aceite realizou-se contato com os funcionários da biblioteca para explicação dos objetivos, do sigilo da identificação e solicitando sua participação. Em seguida, foi agendada a data, o horário e o local para aplicação da avaliação inicial.

    As avaliações foram realizadas individualmente no local onde foram realizadas as intervenções de CL. Primeiramente foi aplicada a entrevista individual. Após o Mapa de dor e/ou desconforto corporal, onde a ficha com a representação corporal foi apresentada as funcionárias e as mesmas apontavam os locais de possíveis dores ou desconforto e, de acordo com o seu parecer classificou-os conforme as opções disponíveis em dor suportável (1), dor intensa (2) e dor insuportável (3).

    Foram realizados os registros fotográficos no plano frontal (vista anterior e posterior) e plano sagital (vistas lateral direita e esquerda). Na seqüência, realizou-se o teste de flexibilidade Sentar e Alcançar para verificação da flexibilidade da cadeia muscular posterior.

    Após agendou-se com os funcionários os dias e horários para a realização do programa de CL composto por 12 intervenções, três vezes por semana, com duração de 15 minutos. As intervenções eram constituídas por exercícios: de aquecimento, coordenação e equilíbrio, reforço muscular da cadeia posterior, alongamento muscular estático analítico e global sobre a bola terapêutica.

    Este programa de CL pode ser classificado como CL compensatória. De acordo com a literatura a CL compensatória é caracterizada como exercícios físicos praticados durante o expediente de trabalho, normalmente aplicando-se uma pausa ativa de 3 a 4 horas após o início do expediente tendo como objetivo aliviar tensões e fortalecer os músculos do trabalhador 13.

    Após a finalização do programa de CL foi realizada a avaliação final.

Tratamento dos dados

    Os dados foram organizados no programa Microsoft Excel® e analisados no programa Prism 5.0®. Para verificação da influência da variável independente (programa de CL) sobre as variáveis dependentes (queixas de dor e/ou desconforto corporal , alterações posturais e flexibilidade da cadeia muscular posterior),foi utilizado o teste t Student paramétrico. Adotou-se um nível de significância de 5%.

    Para a elaboração dos gráficos deste estudo, foram utilizados os softwares Microsoft Excel® e Prism 5.0®.

Resultados

    A amostra do estudo foi composta por cinco funcionárias de uma biblioteca universitária.A idade média das funcionárias foi 29,6 ± 5,6 anos. Quanto ao tempo de serviço à média foi 4,5 ± 3,6 anos. Das cinco funcionárias quatro são destras e 1 é sinistra.

    Com relação às queixas de dor e/ou desconforto corporal relatados pelas funcionárias (Figura 1), observa-se que houve diferença significativa (p= 0,0032) entre o total de queixas Pré CL (8,6 ± 3,97 queixas) e o total de queixas Pós CL (3,2 ± 2,38 queixas). Os dados demonstram que houve redução no número de queixas Pós CL. Quanto à intensidade Pré CL houveram 22 relatos de queixa de dor e desconforto corporal suportável, 13 intensa e 7 insuportável. Já Pós CL houveram 5 queixas de intensidade suportável, 11 intensa, e nenhuma insuportável. Os locais com maior freqüência de relato Pré CL foram: coluna lombar (4 queixas), ombro direito (4 queixas), ombro esquerdo (4 queixas), coluna cervical (3 queixas), joelho esquerdo (3 queixas), pé direito (3 queixas) e pé esquerdo (3queixas). Pós CL foram: ombro direito (3 queixas), ombro esquerdo (2 queixas), perna direita (2 queixas) e perna esquerda (2 queixas).

Figura 1. Total de queixas de dor e/ou desconforto corporal relatadas pelas funcionárias da 

biblioteca universitária antes do programa de CL (Pré CL) e após o programa de CL (Pós CL).

**p≤0,05.

    Com relação à análise postural a tabela 1 apresenta as alterações observadas nos sujeitos do estudo nas vistas anterior, lateral direita, lateral esquerda e posterior. Não houve diferença na análise postural Pré CL quando comparada com a análise postural Pós CL. Ou seja a CL não influenciou nas alterações posturais.

Tabela 1. Alterações posturais verificadas na amostra do estudo, nas vistas anterior, posterior, lateral direita e lateral esquerda

    Com relação à flexibilidade da cadeia muscular posterior (Figura 2), nota-se que houve diferença significativa (p= 0,0178) entre as médias antes do programa de CL (Pré CL) (20,75 ± 7,6 centímetros) e após o programa de CL (Pós CL) (27,38 ± 6,0 centímetros). Os dados demonstram que houve aumento da flexibilidade Pós CL.

Figura 2. Flexibilidade da cadeia muscular posterior (em centímetros) das funcionárias da biblioteca

 universitária antes do programa de CL (Pré CL) e após o programa de CL (Pós CL). *p≤0,05

Discussão

    Este estudo analisou os efeitos da CL em funcionárias de uma biblioteca universitária.Os resultados do presente estudo demonstraram que houve redução de freqüência e intensidade de dor e/ou desconforto corporal após o programa de CL.

    A dor, relatada por indivíduos com distúrbios relacionados ao trabalho, é um dos fatores limitantes, que comumente está presente, sendo de caráter persistente, mesmo com tratamento22. Freqüentemente é decorrente das alterações morfofuncionais adaptativas dos tecidos, quando expostos aos fatores de risco no ambiente laboral23. Podendo algumas vezes evoluir para uma síndrome dolorosa crônica e, nesta fase, agravada por todos os fatores psíquicos (inerentes ao trabalho ou não), capazes de reduzir o limiar de sensibilidade dolorosa do indivíduo24.

    Dentre as ações que proporcionam benefícios para o trabalhador encontra-se a CL. Além de prevenir o surgimento das LER/DORTs, tem apresentado resultados relacionados com a melhora do relacionamento interpessoal e o alívio das dores corporais 25, 26, 27, 28, 30.

    Diferentes estudos corroboram com os resultados apresentados na presente pesquisa quando afirmam que fatores como amenização de dores e a redução da fadiga causada pelo estresse no ambiente de trabalho, bem como a busca da qualidade de vida, são evidenciados pela implantação de programa de CL. E tem como um dos seus benefícios a promoção de adaptações fisiológicas, físicas e psíquicas alcançados por meio de exercícios dirigidos elaborados para este determinado fim14, 26, 30, 31, 32, 33.

    Em relação aos resultados da análise postural, não houve diferença entre as alterações observadas Pré e Pós CL. Este resultado indica que a CL não interferiu nesta variável.

    Vários estudos têm demonstrado que o estresse imposto pelas longas jornadas de trabalho, associado às más posturas e mobílias inadequadas, somados a movimentos repetitivos, podem resultar em alta prevalência de lombalgia e problemas posturais em trabalhadores 34.

    A contração contínua de determinados músculos para manter uma determinada posição acaba levando ao aparecimento de dores e desconfortos, bem como alterações posturais. Isso ocorre, porque o trabalho estático é altamente fatigante e, sendo assim, sempre que possível deve ser aliviado, através de mudanças de postura 35.

    De acordo com a literatura a CL visa diminuir o número de acidentes de trabalho, prevenir doenças originadas por traumas cumulativos, prevenir a fadiga muscular, aumentar a disposição do funcionário, promover maior integração no ambiente de trabalho e corrigir vícios posturais14.

    Entretanto em programas de promoção à saúde do trabalhador outras ações devem ser inseridas além da CL, como palestras educativas, readequação ergonômica no ambiente de trabalho, conscientização dos funcionários quanto à postura corporal, pois sem estas outras ferramentas o programa de CL é apenas um paliativo momentâneo.O que pode explicar os resultados encontrados no presente estudo que indicam que a CL aplicada de forma isolada não influenciou na minimização das alterações posturais. Desta forma é importante que outras ações sejam implantadas concomitantemente com o programa de CL.

    Quanto à flexibilidade da cadeia muscular posterior, no presente estudo, observou-se que as funcionárias apresentaram valores inferiores quando comparado aos valores de referência por gênero e idades, demonstrando baixo desempenho nesta aptidão física, por isso faz-se importante a continuidade do programa de CL. Entretanto houve aumento na mensuração Pós CL quando comparado com os valores Pré CL. Esses resultados vão ao encontro de estudos que verificaram que após o programa de CL houve aumento de flexibilidade da cadeia muscular posterior6 e melhora da flexibilidade do quadril concomitantemente com a diminuição das queixas de dores lombares27.

    A CL compensatória deve atuar sobre as sinergias musculares antagônicas das pessoas que se encontram ativas durante o trabalho. Este tipo de atividade visa proporcionar a compensação e o equilíbrio funcional,assim como a recuperação ativa, de forma a aproveitaras pausas regulares durante a jornada de trabalho para exercitar os músculos correspondentes e relaxar os grupos musculares que estão em contração durante o trabalho, prevenindo a fadiga muscular37.

    Dentre os exercícios que compõem um programa de CL os exercícios de alongamento têm como principal objetivo proporcionar maior flexibilidade38

    Como uma atividade que auxilia a prevenção de lesões no ambiente de trabalho a CL visa melhorar a flexibilidade e a mobilidade articular, diminuindo a fadiga decorrente de tensão e repetitividade que acometem tendões, músculos, fáscias e nervos e beneficiar a postura do individuo diante do seu posto e rotina de trabalho38. Entretanto não deve ser adotada como único método preventivo e de promoção da saúde no trabalho.

Considerações finais

    Baseando-se nos resultados encontrados no presente estudo, consideramos que houve uma diminuição das queixas de dor e/ou desconforto corporal e aumento da flexibilidade da cadeia muscular posterior após o programa de CL. Entretanto não observou-se alterações na postura corporal dos sujeitos analisados.

    Desta forma acredita-se fazer necessário a implantação de programas de promoção à saúde do trabalhador, com abordagem abrangente, ou seja, além da CL, outras ações como reorganização ergonômica e palestras educativas.

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