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O esporte como ferramenta da cultura e do pertencimento

El deporte como herramienta de cultura y de pertenencia

 

Núcleo de Pesquisa Rio em Forma Olímpico

Secretaria de Municipal de Esporte e Lazer do Rio de Janeiro

(Brasil)

Ramdel Caldas

ramdelcaldas@hotmail.com

Maurício Fidelis

Cristiane Dias

Guilherme Souza

Marcelo Leite

Marcello Barbosa

parede@msn.com

 

 

 

 

Resumo

          A sociedade sempre foi formada por diversas culturas, e o homem por ser um ser social, sempre se relacionou e relacionará diretamente com elas em seus grupos. Através da construção da memória, o convívio social possibilita a produção de sentido que são compartilhados no dia a dia como um processo ativo e dinâmico. Este processo permite as relações dos códigos simbólicos já instituídos e legitimados pelo grupo que constrói aquilo que reconhecemos como parte da cultura humana. As manifestações esportivas espontâneas são práticas culturais onde se produzem e transmitem as tradição e cultura local. Através destes eventos permitem a internalização de papéis pelos seus protagonistas que os remetem tanto aos lugares que ocupam no cotidiano, como nas construções da sua identidade e no desenvolvimento do sentido de pertencimento entre pessoa e o ambiente que o cerca.

          Unitermos: Esporte e cultura. Identidade cultural. Pertencimento.

 

Abstract

          Society has always been formed by several cultures and as the human being has a social nature it has always and will always directly relate to them. By building the memory, the social conduct allows the production of meaning shared daily as an active and dynamic process. This process enable the relations of legitimated symbolic codes by the group that builds what we recognize as part of the human culture. The spontaneous sports events are cultural practices where local tradition and culture is produced and transmitted. Through this events they allow the internalization of roles by its protagonists that represent their daily life and the construction of their identity as well as the sense of belonging to the environment.

          Keywords: Sports and culture. Cultural Identity. Belonging.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A sociedade sempre foi formada por diversas culturas, e o homem por ser um ser social, sempre se relacionou e relacionará diretamente com elas em seus grupos. Nesta convivência existem fatores que as transformam, excluem, valorizam ou até mesmo unem diferentes culturas ressignificando-as, o que resulta no conjunto de códigos simbólicos do grupo que antecederá e transcenderá gerações. Segundo Brasil (1997) este fenômeno é chamado de cultura.

    Moreira (2007) em seus estudos culturais entende a palavra “cultura” no sentido plural, como “culturas” e afirma que:

    (...) corresponde aos diversos modos de vida, valores e significados compartilhados por diferentes grupos (nações, classes sociais, grupos étnicos, culturas regionais, geracionais, de gênero etc.) e períodos históricos. Trata-se de uma visão antropológica de cultura, em que se enfatizam os significados que os grupos compartilham, ou seja, os conteúdos culturais. Cultura identifica-se, assim, com a forma geral devida de um dado grupo social, com as representações da realidade e as visões de mundo adotadas por esse grupo. (MOREIRA, 2007, p. 17)

    Neste contexto o trabalho pretende analisar se as modalidades esportivas oferecidas pelos projetos socioesportivos podem manutenir e reforçar o sentimento de pertencimento e a identidade cultural local.

Cultura a diversidade e a pluralidade em busca do pertencimento

    A transmissão da tradição, baseada nas lembranças e aprendizados presentes na memória de um grupo, através da experiência socialmente compartilhada, ressalta a importância das manifestações espontâneas enquanto prática para a continuidade da cultura local. Esta continuidade esculpe no grupo sua identidade cultural, gerando o sentimento de pertencimento local.

    A memória é uma construção social, produzida pelos homens a partir de suas relações, de seus valores e de suas experiências vividas. Ela sofre transformações à medida que o tempo passa, a história dos indivíduos toma um novo rumo. Assim, pode-se dizer que a memória não é apenas um registro histórico dos fatos, mas uma combinação de construções sociais passadas, com fatores significantes da vida social do presente, sendo permanentemente reconstruída. (MORIGI et al 2012 p 184)

    Através da construção da memória, o convívio social possibilita a produção de sentido que são compartilhados no dia a dia como um processo ativo e dinâmico. Este processo permite as relações dos códigos simbólicos já instituídos e legitimados pelo grupo que constrói aquilo que reconhecemos como parte da cultura humana.

    Corroborando com a definição acima a cultura possui suas individualidades, porém, ao conviver socialmente, o homem aprende e apreende novas culturas, ou seja, novos hábitos, atitudes, valores entre outros. Quando um grupo se relaciona com a cultura de outro a ponto de vivenciá-la no seu dia-a-dia, pode-se dizer que houve a valoração desta. De acordo com Brasil (1997) esta valorização de culturas diferentes é chamada de pluralidade cultural.

    A pluralidade está presente em todos os aspectos culturais, sejam eles religiosos, sociais, artísticos, esportivos e até mesmo desportivos, ela é um dos aspectos formadores da identidade cultural que segundo Oliveira e Simões (2009): “é o conjunto de traços psicológicos, como o modo de ser, sentir e agir, próprios e exclusivos de um grupo, que o individualiza e o identifica, além de ser uma prática sócio-cultural em que tal grupo produz discursos sobre si mesmo”.

    Desta forma Oliveira e Simões (2009), considera que a identidade cultural contempla o passado, presente e futuro, unindo determinado grupo em torno de uma visão histórica parecida, dando a este um sentimento de pertencimento,onde mesmo que o indivíduo não tenha participado da construção da identidade poderá partilhar deste sentimento de pertencimento por meio das instituições culturais, dos símbolos e representações da qual deseja fazer parte através das manifestações espontâneas, entre outras as esportivas.

O esporte na construção do cidadão e de sua identidade

    O esporte moderno foi incluído nas escolas pela Associação Cristã de Moços (ACM), nascida na Inglaterra 1884. A ACM chegou aos EUA e evidenciou a prática esportiva e o difundiu no Brasil através de ACM em São Paulo. (BREGOLATO, 2008 p.96)

    Na atualidade o esporte nas escolas brasileiras é intitulado de esporte educacional. Os princípios que os norteiam são: princípio da totalidade, da co-educação, da participação, da cooperação, da emancipação e do regionalismo. (BRASIL, 1996a). Este vetor do esporte, o educacional, é o que norteia as ações do projeto Rio Em Forma Olímpico (REFO) da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer do Rio de Janeiro.

    Este vetor educacional tem como objetivos os mesmo estabelecidos na área da educação dos parâmetros curriculares nacionais (PCNs), como cita Brasil (2007). Da mesma forma, o projeto Rio em Forma, através dos professores de Educação Física, busca a formação de um ser humano integral, buscando conhecer e respeitar a diversidade cultural. Desta forma o REFO deve atuar como ocorre na escola cidadã.

     [...] A escola cidadã é aquela que contribui para a autoformação do homem, levando-o a assumir sua condição humana, ensinando-o a viver, a transformar-se, a tornar-se um verdadeiro cidadão crítico e com melhores condições de se contextualizar numa sociedade mais digna; pois a escola deve levar o homem a ser um agente transformador e conhecedor de si mesmo (AZEVEDO, 2010, p. 68-69).

    Nesta perspectiva do ser em sua totalidade, segundo Bregolato (2008) Educação Física Escolar se desenvolve em três dimensões: das práticas dos movimentos corporais, da contextualização teórica e de princípios de valores e atitudes.

    No projeto socioesportivo estas três dimensões tendem e precisam sempre andar juntas. Bregolato (2008) diz que a “contextualização teórica visa proporcionar a tomada de consciência das práticas dos movimentos corporais que se realizam e da relação deles com a vida como um todo”. Já de acordo com os princípios de Valores e Atitudes diz, “desenvolvem comportamentos voltados à formação de seres humanos que possam contribuir um mundo mais harmonioso.

    As modalidades do REFO contemplam os três blocos de conteúdo explícitos nos parâmetros curriculares nacionais, o primeiro é formado por, esportes, jogos, lutas e ginástica, o segundo por, Atividades rítmicas expressivas e o terceiro por, conhecimento sobre o corpo, sempre com a premissa de contemplar as particularidades da cultura regional e local.(BRASIL, 1997 p.35)

    Sobre o regionalismo o Ministério Extraordinário dos Esportes diz: “remete os participantes do esporte educacional a situação de respeito, proteção e valorização das raízes e heranças culturais”.

    A regionalização planejada da cultura, além de ser um poderoso antídoto contra a perda da identidade e a desestruturação psicossocial que nos ameaça a todos, pode ser, com relação ao esporte, uma estratégia e uma saída. (Nei LOPES apud BREGOLATO, 2008 p. 122)

    Na atualidade é fato que o esporte vem sendo oferecido como prática extra curricular, principalmente no contraturno escolar, isto se justifica, pois de acordo com a LDB/96 em seu artigo 34 “A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola”.

  • 1°São ressalvados os casos do ensino noturno e das formas alternativas de organização autorizadas nesta lei.

  • 2° O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino.

    Corroborando com este cenário o contraturno escolar vem ganhando cada vez mais projetos e ou escolinhas esportivas. Deste modo entende-se que estas atividades oferecidas estão alinhadas com o conceito do esporte educacional.

    Para uma maior diversificação das experiências dos educandos se faz necessário a mudança deste modelo gessado atual, cujo sempre são oferecidos o futebol, o handebol, o voleibol, o basquetebol e mais recentemente as lutas.

    Seguindo esta linha juntamente com o registro feito anteriormente, a diversificação das atividades do contraturno escolar, deve obedecer também a regionalidade. No cenário carioca se legitima cada vez mais o esporte de natureza, surf, trilha, treking, rapel entre outros, assim como esportes tradicionais adaptados para praia e jogos regionais que passam despercebido pelos coordenadores dos projetos, mas que na região existe até mesmo ligas e campeonatos como é o caso do queimado entre outros.

    Com este entendimento estas modalidades passam a ser uma identidade do povo carioca, sendo assim algumas dessas atividades podem ser adaptadas e oferecidas indoor enriquecendo agregando valor a formação do aluno, levando sempre em consideração as três dimensões, práticas dos movimentos corporais, contextualização teórica e princípios de valores e atitudes, para que a atividade transcenda o momento da aula atue de maneira reflexiva no dia-a-dia dos alunos.

    Identificando no contraturno escolar um espaço somativo para formar o ser de forma integral e objetivando novas experiências em outras culturas existentes no local acredita-se que esta vivência possa aumentar a pluralidade cultural do educandos de forma a torná-los cidadãos críticos e transformadores.

Metodologia

    Esta pesquisa trata-se de um levantamento teórico e bibliográfico que segundo Andrade (1997): Uma pesquisa bibliográfica pode ser desenvolvida como um trabalho em si mesmo ou constituir-se numa etapa de elaboração de monografias, dissertações, etc. desta mesma forma são consideradas pesquisas teóricas aquelas que têm por finalidade o conhecer ou aprofundar conhecimentos e discussões (BARROS e LEHFELD, 2000, p. 78). Já para Tachizawa e Mendes (2006) a pesquisa teórica não requer coleta de dados e pesquisa de campo. Ela busca, em geral, compreender ou proporcionar um espaço para discussão de um tema ou uma questão intrigante da realidade.

Considerações finais

    As manifestações esportivas espontâneas são práticas culturais onde se produzem e transmitem as tradição e cultura local. Através destes eventos permitem a internalização de papéis pelos seus protagonistas que os remetem tanto aos lugares que ocupam no cotidiano, como nas construções identitárias e nas suas noções de pertencimento.

    Desta forma o REFO assim como outros projetos do vetor educacional devem considerar as particularidades locais para que desta forma possam oferecer modalidades atrativas e que fortaleçam a identidade e o sentimento de pertencimento local.

    Conhecer a identidade local e suas formas de manifestação faz com que o projeto Rio em Forma seja aceito pela sociedade carioca, esta aceitação tornou-se uma mediação simbólica entre o poder público e a população. O projeto além de levar atividade física ás crianças e adolescentes, este ajuda na construção das identidades, das práticas culturais e das tradições locais.

    Conclui-se que apesar dos indícios teóricos se faz necessário estudos experimentais que acompanhem e mensurem o quanto é possível manutenir e reforçar a identidade e o sentimento de pertencimento local dos beneficiários dos projetos quando as modalidades oferecidas são legitimadas culturalmente pela população local.

Referências bibliográficas

  • BARROS, A. J. S. e LEHFELD, N. A. S. Fundamentos de Metodologia: Um Guia para a Iniciação Científica. 2 Ed. São Paulo: Makron Books, 2000.

  • BRASIL. Lei nº. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Disponível em: http://www.mec.gov.br/home/legislacao/default.shtm. Acesso em: 12 set. 2012.

  • BRASIL. Ministério Extraordinário dos Esportes. Conferência brasileira de esporte educacional. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho, 1996ª.

  • BREGATOLO, Roseli Aparecida. Cultura Corporal do Esporte, Ícone Editora. São Paulo, 2008.

  • MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa. Currículo, Conhecimento e Cultura in MEC – Indagações sobre Currrículo. Brasília, Ministério da Educação: Secretaria de Educação Básica: 2007.

  • MORIGI, Valdir Jose; ROCHA, Carla Pires Vieira da; SEMENSATTO, Simone. Memória representações sociais e cultura imaterial,Morpheus: Revista Eletrônica em Ciências Humanas, v. 09, n. 14, 2012.

  • OLIVEIRA, Rita Lírio; SIMÕES, Maria de Lourdes Netto. O tempo é chegado: a Memória como meio de produzir e preservar identidade. Reflexões, Londrina, v. 1, n. 1, p. 5-20, 2009.

  • Secretaria de Educação Fundamental (BR). Parâmetros Curriculares nacionais: Educação Física, Brasília. Secretaria de Educação Fundamental.PCN a1997

  • Secretaria de Educação Fundamental (BR). Parâmetros Curriculares nacionais: Pluralidade Cultural e Orientação Sexual Educação Física, Brasília. Secretaria de Educação Fundamental.

  • TACHIZAWA, T. e MENDES, G. Como fazer monografia na prática. 12 ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

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