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Comportamento pedagógico do professor de 

educação física no Ensino Infantil: estudo de caso

Behavior of teaching physical education teacher in Childhood Education: a case study

 

Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO

(Brasil)

Luiz Henrique Pereira

luizhp33@gmail.com

Fernanda Byczkovski

fernanda.b@live.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi verificar o comportamento de um professor de educação física do ensino infantil, e os métodos de ensino utilizados pelo docente fazendo o uso da linguagem verbal. O estudo caracterizou-se como estudo de caso, e participaram do estudo uma professora de educação física de ensino infantil, e 14 alunos entre 6 a 7 anos de idade. A coleta de dados foi realizada através de filmagens de vídeo e áudio, por 40 minutos da aula. Para o tratamento dos dados foi utilizado um instrumento de observação sistemática designado de Arizona State University Observation Instrument (ASUOI). As categorias que merecem atenção especial são: Instrução Simultânea; Elogio e Reprimenda; Uso do primeiro nome e Questionamento, sendo estas as que mais aparecem como comportamentos pedagógicos durante a aula. Conclui-se que a preocupação do docente em transferir os conhecimentos é notória. Através da sua própria pedagogia de ensino. Porém, o que é possível observar é a falta de elogio do professor em relação ao processo de ensino-aprendizagem. E um número significativo de reprimidas, fato este que pode acuar o aluno e fazer com que o mesmo perca a vontade de praticar atividades esportivas.

          Unitermos: Professor de Educação Física. Ensino Infantil. Comportamento pedagógico.

 

Abstract

          The aim of this study was to investigate the behavior of a physical education teacher in kindergarten, and the teaching methods used by the teacher making the use of verbal language. The study was characterized as a case study, participated in the study and a professor of physical education in kindergarten and 14 students between 6 and 7 years old. Data collection was conducted through video footage and audio for 40 minutes of class. For data processing we used a tool called systematic observation of Arizona State University Observation Instrument (ASUOI). The categories that deserve special attention are: Simultaneous Instruction; Praise and Reprimand; Use of first names and questioning, these being the ones that appear more like teaching behaviors during class. We conclude that the concern of teachers in transferring knowledge is notorious. Through their own teaching pedagogy. But what you can see is the lack of teacher praise on the process of teaching and learning. And a significant number of repressed, a fact that can corner the student and make it lose the will to practice sports.

          Keywords: Physical Education teacher. Kindergarten. Pedagogical behavior.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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1.     Introdução

    A participação de uma criança em alguma atividade esportiva potencia o seu desenvolvimento pessoal e social. No caso do ensino infantil na disciplina de educação física, os alunos aprendem a lidar com regras, o perder e o ganhar, a ter comprometimento com o grupo (MESQUITA, 2004). Porém a participação dos alunos, por si só não garantem que tais objetivos sejam alcançados. A maneira como o planejamento da aprendizagem é estruturado pelo docente é o fator de maior importância.

    Dentro do ambiente escolar, a prática esportiva sofre forte influência dos docentes. Os objetivos que eles promovem as atitudes e valores que transmitem e a natureza de suas interações com os alunos podem notadamente influenciar os efeitos da participação nas práticas desportivas (SMITH, SMOLL, CUMMING, 2007).

    Segundo Gallahue (1996) o professor no ensino infantil tem a responsabilidade de auxiliar os alunos a adquirir habilidades motoras, aumentar os aprendizados cognitivos e afetivos, sendo de fundamental importância a criação de uma atmosfera positiva no processo de ensino-aprendizagem.

    Para chegar ao êxito nesse processo de ensino-aprendizagem, a procura do sucesso pedagógico tem levado ao desenvolvimento e à adoção de metodologias, estratégias, modelos, experiências ou programas de formação de professores que possam contribuir para melhorar as habilidades de ensino e a competência para ensinar.

    Segundo Carreiro da Costa (1995), a investigação sobre o sucesso pedagógico, com particular atenção para o sucesso pedagógico em Educação Física, permitiu identificar alguns fatores de sucesso no ensino das atividades físicas, que se assumiam como objetivos a alcançar pelo futuro professor no sentido de uma ação mais eficaz. Entre tais fatores, salienta-se o empenhamento motor dos alunos, uma instrução clara, precisa e concisa, freqüentemente apoiada pela demonstração, o clima da aula, particularmente o positivo e o feedback pedagógico.

    A grande maioria daqueles que têm por função a preparação de professores de Educação Física ou que desenvolvem a sua ação no âmbito da pedagogia do esporte, acreditam que este último fator, especialmente no domínio do ensino das atividades físicas, mas com maior relevo ao nível do ensino das técnicas desportivas, assume um papel crucial na preparação dos futuros profissionais, porque, para além da carga afetiva que transporta e que ajuda muito a melhorar o clima da aula, permite oferecer ao aluno uma informação sobre a sua própria prestação que se torna indispensável para conseguir alcançar níveis mais elevados de execução.

    Ora, aplicavam-se modelos sem conhecer bem os resultados da sua utilização, nem a curto, médio e longo prazo. Sendo que o principal erro do professor de educação física no ensino infantil consiste, em não conseguir se expressar de maneira coerente o que realmente ele quer dos alunos. Isso quando não é piorado pela cobrança de um movimento motor de qualidade, o que acarreta com excessivas chamadas de atenção (SIEDENTOP, 1998).

    Portanto, o presente artigo teve o objetivo de verificar o comportamento de um professor de educação física do ensino infantil, e os métodos de ensino utilizados pelo docente fazendo o uso da linguagem verbal.

2.     Metodologia

    O estudo caracteriza-se como estudo de caso, onde a professora em questão leciona a disciplina de educação física no ensino infantil, com 15 anos de experiência docente e apresenta formação na área especifica.

    O ambiente escolhido foi a Escola Municipal Floresval Ferreira no município de Fernandes Pinheiro – PR, sendo está a única a contar com o professor de educação física no ensino infantil. Participaram do estudo alunos de 6 a 7 anos, sendo ao todo 14 alunos.

    O objetivo da aula foi de desenvolver os movimentos motores básicos e a atenção das crianças através de circuitos com alterações e da linguagem verbal. A aula transcorreu de maneira lúdica, visto que se tratava de crianças apenas iniciando a fase do aprendizado motor. A professora utilizou como materiais de apoio cones, discos, bolas de iniciação e cordas. E o objetivo das atividades consistiu em desenvolver a movimento do correr, saltar, engatinhar, lateralidade e equilíbrio.

2.1.     Instrumento

    Os dados referentes aos comportamentos pedagógicos da professora foram realizados através de um instrumento de observação sistemática designado de Arizona State University Observation Instrument (ASUOI), de Lacy e Darst (1989).

    O ASUOI possui 14 categorias comportamentais, sete das quais são relacionadas com o processo instrucional. As categorias comportamentais do ASOUI são definidas a seguir: 1. Uso do primeiro nome; 2. Pré-instrução; 3. Instrução simultânea; 4. Pós Instrução; 5. Questionamento; 6. Assistência Física; 7. Demonstração Positiva; 8. Demonstração Negativa; 9. Reforço; 10. Elogio; 11. Reprimenda; 12. Gestão; 13. Silêncio; 14. Não Codificáveis.

    Para a análise dos comportamentos pedagógicos da professora foi realizada a gravação em vídeo e áudio (filmadora marca Kodak, modelo AF 5), portanto foi possível captar todas as intervenções pedagógicas durante a aula. Sendo o tempo de duração da aula de aproximadamente 40 minutos.

    O método de registro utilizado referente à coleta da informação foi freqüência de ocorrência, ou seja, a quantidade de vezes que determinada categoria ocorria. Após a transcrição, tornou-se a efetuar um novo visionamento para confirmar se os dados eram coincidentes com os registros obtidos. Posteriormente os resultados foram apresentados em forma de quadro.

3.     Resultados

    O quadro abaixo ilustra as categorias comportamentais que foram utilizadas pela professora durante a aula.

Tabela 1. Categorias comportamentais utilizadas durante a aula

Categorias utilizadas

Número de vezes que foram utilizadas

Uso do primeiro nome

28

Pré-instrução

7

Instrução simultânea

21

Pós-instrução

10

Questionamento

22

Assistência física

9

Demonstração positiva

11

Demonstração negativa

1

Reforço

11

Elogio

12

Reprimenda

16

Não-Codificáveis

2

Silêncio

1

4.     Discussão

    As categorias comportamentais que serão discutidas são aquelas que apresentaram um número significativo, ou seja, que demonstraram ser de um grande volume utilizado pela professora no processo ensino-aprendizagem. Portanto as categorias que merecem atenção especial são: Instrução Simultânea; Elogio e Reprimenda; Uso do primeiro nome e Questionamento.

4.1.     Instrução simultânea

    Como observado nos resultados a professora tem a preferência de utilizar a instrução simultânea no decorrer das atividades, portanto a pré-instrução e pós- instrução ficam em segundo plano no comportamento pedagógico da docente.

    Conforme Lacy e Darst (1989) a instrução simultânea acontece quando sugestões ou lembranças são dadas durante a execução atual de uma habilidade ou jogadas. Essa estratégia instrucional pode ser definida como feedback pedagógico. Sendo para Magill (2000), feedback é definido como instrução que fornece informações aos indivíduos sobre o desempenho durante ou após a execução de um movimento.

    Koka e Hein (2003) referem que a instrução simultânea é um fator de vital na aprendizagem do aluno em razão de funcionar como uma importe forma de motivação para as crianças. O fornecimento de tais informações é de responsabilidade essencial do professor, para que o aluno compreenda o movimento executado e tenha condições de melhorar seu repertório motor e cognitivo.

    Porém de acordo com Smith, Smoll e Cumming (2007) uma instrução simultânea crítica ou punitiva pode reproduzir altos níveis de afetividade negativa em crianças, contribuindo assim para um ambiente ameaçador. No entanto no caso da professora não foi possível constatar uma instrução punitiva, apenas de correção e motivação.

    O alto número de instruções se deve ao fato de ainda os alunos serem iniciantes, e ainda estão em um período de descoberta motora e cognitiva. Williams e Hogges (2005) chamam a atenção para a forma de fornecer a instrução simultânea. Pois, professores tendem a fornecer grandes quantidades de Instruções na crença de que quanto mais, melhor. Entretanto, uma ótima freqüência da instrução depende do estágio de aprendizagem dos alunos, bem como da dificuldade e complexidade da atividade em questão.

4.2.     Elogio e reprimenda

    Segundo Lacy e Darst (1989) elogios, declarações o sinais de aceitação verbal ou não verbal caracterizam o elogio. Comportamentos de desprazer verbais ou não verbais caracterizam reprimenda. Nessas duas categorias encontramos um problema grave, pois as reprimendas foram em maior número do que os elogios. Levando em consideração que se treinado de crianças em fase de iniciação esportiva pode vir a ser uma manifestação de distanciamento do esporte no futuro próximo.

    Cushion e Jones (2001) ao estudarem os comportamentos de professores treinadores de crianças, encontraram como segundo comportamento mais predominante entre os participantes o uso do elogio, sugerindo que estes tentaram cultivar um ambiente positivo para seus atletas o qual poderia criar entusiasmo e atitudes favoráveis, afetando assim a auto-percepção e as habilidades dos alunos.

    Enfim, a utilização excessiva da reprimenda poderia não apenas resultar numa perda de respeito pelo professor aos olhos dos alunos, como também um declínio na receptividade dos alunos para as instruções do docente durante a aula.

4.3.     Uso do primeiro nome

    Uma variável que tem recebido grande atenção na literatura, é a instrução dirigida para alunos de forma individual. E neste estudo a variável mais significativa é justamente o uso desta técnica de ensino. Tendo isso em conta, é de destacar no estudo do comportamento do professor, a utilização do primeiro nome do mesmo durante a emissão de instrução, não só para a intensificação da relação interpessoal como para a centralização da atenção do praticante.

    Esta estratégia de instrução pode vir a ser determinante no comportamento de instrução, pois tem a função de focar para qual aluno será dada determinada instrução e, dependendo do momento em que é utilizada, se no início, no meio ou final da frase, possui diferentes aplicações. Por exemplo, um aluno que recebe uma instrução com a utilização do primeiro nome por parte do professor no início da frase, tem maior probabilidade de ter atenção ao que vai ser dito, diferentemente se o professor utilizar o primeiro nome no meio ou no fim da frase.

    Nos estudos acerca dos comportamentos instrucionais dos professores, os quais utilizaram o mesmo instrumento de observação (ASUOI), não fazem referência alguma acerca da utilização do primeiro nome, demonstrando ser uma variável que ainda necessita de investigação para ser mais bem explorada.

4.4.     Questionamento

    No desporto para crianças e jovens, ao pensarmos numa visão construtivista de aprendizagem, a relação existente entre o treinador e o atleta pode ser determinante no que diz respeito a uma formação esportiva a longo prazo. Neste sentido, o questionamento aparece enquanto estratégia instrucional fundamental, ao oferecer a possibilidade ao atleta de ocupar um papel central no processo de ensino aprendizagem atuando como construtor ativo de suas próprias aprendizagens (MESQUITA, 2004).

    Tal estratégia permite ao aluno, pensar sobre o que está a ser realizado e não somente ter uma informação pré-formatada. Neste sentido Mesquita (2004), explica que o professor ao utilizar o questionamento em detrimento da prescrição de soluções, possibilita aos praticantes o incremento do desenvolvimento do raciocínio e da autonomia decisória, pressupostos edificadores da prática esportiva e jogos lúdicos.

5.     Conclusão

    Conclui-se que a preocupação do docente em transferir os conhecimentos é notória. Através da sua própria pedagogia de ensino. Porém, o que é possível observar é a falta de elogio do professor em relação ao processo de ensino-aprendizagem. E um número significativo de reprimidas, fato este que pode acuar o aluno e fazer com que o mesmo perca a vontade de praticar atividades esportivas.

Referências

  • CARREIRO, C. F. O Sucesso Pedagógico em Educação Física: Estudo das Condições e Fatores de Ensino-aprendizagem Associados ao Êxito numa Unidade de Ensino. Edições FMH, 1995.

  • CUSHION, J. C.; JONES, R. L. A systematic Observation of professional top-level youth soccer coaches. Journal of Sports Behavior, v. 24, n. 4, p. 354-378, 2001.

  • GALLAHUE, D. L. Developmental physical education for today children. Ed. Mc Graw-Hill, 1996.

  • KOKA, A.; HEIN, V. Perceptions of teachers feedback and learning environment as predictors of intrinsic motivation in physical education. Psychology of Sports and Exercise, n. 4, p. 333-346, 2003.

  • LACY, A. C.; DARST, P.D. The Arizona State University Observation Instrument (ASUOI). Human Kinetics, v. 14. N. 3, 1989.

  • MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard Blucher, 2000.

  • MESQUITA, I. Refundar a cooperação escola-clube no desporto de crianças e jovens. Porto Alegre: Editora da UFRGS, p. 143-169, 2004.

  • SIEDENTOP, D. Aprender a Ensinar a Educação Física. INDE Publicações, 1998.

  • SMITH, R. E.; SMOLL, R. E.; CUMMING, S. P. Effects of a motivational climate intervention for coaches on young athletes sport performance anxiety. Journal of Sports & Exercise Psychology, v. 29, p. 39-59, 2007.

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