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Cultura esportiva na escola

La cultura deportiva en la escuela

 

Aluna de pós graduação na UFSM

Centro de Educação Física e Desportos

Universidade Federal de Santa Maria

Daniele Jacobi Berleze

danielejb_berleze@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo é baseado no trabalho realizado no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação á Docência – PIBID – Educação Física, cultura esportiva na escola, o qual foi realizado em uma escola de periferia na cidade de Santa Maria localizada no Rio Grande do Sul, com crianças em vulnerabilidade social. A educação física sendo trabalhada de forma crítica, comunicativa, dialógica com crianças em diferentes faixas etárias. Para isso as ações se basearam na teoria pedagógica Crítico Emancipatória e Didática Comunicativa idealizada no Brasil por Elenor Kunz, na qual as ações eram dialógicas, visando a emancipação, desalienação e desenvolvimento da criticidade nos alunos.

          Unitermos: Educação. Educação Física. Vulnerabilidade. Comunicação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Este relato se refere ao trabalho realizado, no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação á Docência PIBID – Educação Física – Cultura Esportiva na Escola, na Escola Estadual de Educação Básica Augusto Ruschi, localizada na periferia da cidade de Santa Maria, na qual a maioria dos alunos se encontra em vulnerabilidade social.

    As atividades pedagógicas tiveram início no mês de agosto. O grupo da escola decidiu dividir os conteúdos em oficinas, de acordo com o que cada um pretendia trabalhar e que fossem diferentes dos da educação física escolar que os alunos têm. O planejamento por oficina ficou a cargo de cada professor responsável, entretanto há muito diálogo entre os mesmos do andamento das aulas e muitas aulas são realizadas em conjunto.

    Eu fiquei responsável por 5 turmas sendo do 4º ao 8º ano, cada um contendo suas atividades diferenciadas. No 4º e 5º ano não trabalhei com as turmas isoladas, pois faltava um professor para o horário de quarta pela manha, então eu e um colega juntávamos as turmas e trabalhávamos recreação, no 6º, 7º e 8º trabalho com handebol.

Desenvolvimento

    Este semestre trabalhei com todas as turmas participantes do projeto, sendo que um dos dias de trabalho as turmas do 4º, 5º e 6º ano eram unidas para um trabalho em conjunto.

    Nos dias em que as turmas eram unidas, ficávamos com metade de cada ano (turma), devido á presença de outros macro-campos na escola. Nessas aulas trabalhávamos recreação, que segundo Rosado, Kowalski, Moreira e Souza (não datado):

    Segundo o Dicionário Prático da Língua Portuguesa (RIOS, 1997, p. 142). Recreação pode ser definida como: “(...) algo que dá diversão, prazer, satisfação e alegria”. Para BARTHOLO (2001, p. 91) “a recreação, portanto, é uma atividade que se processa a partir do enfoque simultâneo da sensibilidade, da consciência e da cultura em sua ludicidade e criatividade.” (ROSADO, KOWALSKI, MOREIRA E SOUZA, p. 10, não datado).

    A recreação segundo os mesmos autores já citados apresenta cinco características básicas, que se não forem respeitadas ela perde seu teor recreacionista, são elas:

  1. A recreação deve ter um fim em si mesma, sem benefícios ou resultados específicos, não se deve buscar algum retorno ou recompensa.

  2. A atividade deve ser escolhida e praticada livremente, espontaneamente, sem ser imposta.

  3. As atividades devem levar prazer, alegria, bem estar ao participante.

  4. A recreação deve dar liberdade de atitudes e movimentos, estimular a criatividade e criticidade do indivíduo.

  5. A recreação deve ser escolhida de acordo com os interesses de cada grupo.

    Penso que meu colega e eu conseguimos abranger todas as características do que estávamos trabalhando e com isso conseguimos chamar mais a atenção das crianças, conseguimos aguçar a criatividade e criticidade dos alunos, também se observou uma maior socialização, integração entre os alunos.

    Já com o 6º ano, turma com uns 25 alunos, tive que mudar de conteúdo algumas vezes, pois é uma turma muito difícil de trabalhar, os alunos são muito indisciplinados, não querem fazer nada e não se interessam por nada. Após uma aula totalmente desastrosa de voleibol onde os alunos não realizaram nenhuma atividade tivemos uma conversa e chegamos a um acordo que eu daria aula de handebol, pois é um conteúdo que eles não trabalham na educação física regular.

    Tendo como conteúdos programáticos o manejo de bola, empunhadura, arremessos, lançamentos, drible e pique de bola. Sendo assim um dos objetivos era o aprendizado dos fundamentos básicos, como também do trabalho em grupo, respeito de regras, com o colega, normas de convivência, integração, socialização.

    No decorrer do projeto nesse semestre ocorreram muitos incidentes que fizeram com que muitos alunos deixassem o projeto e fossem substituídos por outros do 6º ano, onde a conduta dos alunos não foi adequada às normas do projeto.

    Após esse período de aulas penso que a maioria dos objetivos foram alcançados, pois os alunos aprenderam os movimentos básicos do esporte, melhoraram seu comportamento, o respeito e a forma de tratamento uns com os outros, respeitam as regras.

    A outra turma que eu trabalho é com 7º e 8º ano. A turma é pequena devido às aulas de educação física que acontecem para alguns alunos, no mesmo horário das aulas do projeto, e ela ficou com cerca de 20 alunos. Mas neste semestre, a turma ficou menor ainda por ter que ser dividida com o macro-campo desenho, que praticamente me deixou sem alunos para as aulas. Mas quando tinha aula a modalidade esportiva trabalhada era o handebol.

    Os fundamentos do esporte visados para o ensino são a empunhadura, passe, drible, manejo de corpo e de bola, finta de braço e de corpo, arremesso, papel do ataque e defesa, posições e funções dos jogadores.

    Como objetivos temos o ensino dos fundamentos e da técnica do desporto, a desinstitucionalização do esporte de alto rendimento, trabalhar o raciocínio lógico e a tomada de decisão. Um dos motivos para a escolha de um esporte coletivo para o trabalho com essa turma é o fato de ser um bom mecanismo para se trabalhar regras, tomada de decisão, pensamento lógico e rápido, cooperação, uma forma de competição saudável.

    Penso que os objetivos foram alcançados, por que os alunos conseguiram melhorar a prática desse esporte, interagiram mais entre si, aumentou a cooperação e senso crítico para formas desmedidas de competição e comportamentos que não consideram adequados, aumentou a discussão de assuntos referentes ao corpo, sexualidade, diferenças entre os sexos.

Materiais e métodos de ensino

    Para trabalhar e planejar as aulas é necessário ter um método de ensino que segundo Libâneo (2002) citado por Tenroller e Merino (2006):

    LIBÂNEO (2002) afirma que método de ensino é a ação do professor, ao dirigir e estimular o processo de ensino em função da aprendizagem dos alunos, quando utiliza intencionalmente um conjunto de ações, passos, condições externas e procedimentos. (TENROLLER E MERINO, p. 20, 2006).

    O meu método de ensino utilizado foi o misto, o qual reúne o método global e parcial, que de acordo com Xavier (1986) citado por Tenroller e Merino (2006):

    Para Xavier (1986), esse método consiste na sincronia dos métodos global-parcial-global. Primeiramente acontece a execução do gesto como um todo. Em seguida, o gesto é parcializado com o objetivo de proceder a "correções" do movimento ou dos movimentos. Finalmente, volta-se à prática completa dos movimentos. Desse modo, a segunda parte servirá, com base no que foi observado no primeiro momento, para que o professor faça a demonstração do exercício e, assim, a partir da terceira parte, aconteça o gesto completo. Trata-se de uma metodologia bastante rica sob o ponto de vista didático, com mais fatores positivos do que negativos. (TENROLLER e MERINO, p. 23, 2006).

    Para atingir meus objetivos minhas ações eram calcadas na Teoria pedagógica Crítico Emancipatória e Didática Comunicativa, no Brasil seu idealizador é Kunz no ano de 1991 com a publicação do livro “Ensino e Mudanças”.

    Essa concepção pedagógica propõe uma seqüência metodológica composta por quatro etapas: encenação, problematização, ampliação e reconstrução coletiva do conhecimento. Na qual a encenação consiste na exploração dos materiais didáticos e de suas próprias possibilidades. A problematização é a discussão referente ao que foi vivenciado e descoberto na parte da encenação. A ampliação é o levantamento de dificuldades verificadas nas ações, assim como na apresentação de subsídios que ampliem a visão dos temas vivenciados. E a reconstrução coletiva do conhecimento é uma nova atribuição de significados ao conteúdo.

    Levando em consideração as competências que de acordo com Kunz (1998) referenciado por Henklein e Silva (2007) essa abordagem pretende desenvolver três competências, a objetiva, a social e a comunicativa.

  1. A competência objetiva, que visa desenvolver a autonomia do aluno através da técnica; 

  2. A competência social, referente aos conhecimentos e esclarecimentos que os alunos devem adquirir para entender o próprio contexto sócio-cultural; 

  3. A competência comunicativa, que assume um processo reflexivo responsável por desencadear o pensamento crítico, e ocorre através da linguagem, que pode ser de caráter verbal, escrita e/ou corporal. (KUNZ, 1998). (HENKLEIN e SILVA, p. 2, 2007)

    Portanto o que se pretende é uma emancipação total dos alunos, através dos conteúdos da educação física escolar, utilizando da sua realidade para uma conscientização e com o diálogo visamos desenvolver a criticidade dos alunos.

Conclusão

    A escola por ser de periferia, a maioria de seus alunos se encontrarem em vulnerabilidade social, sofrerem violência doméstica pretendemos com as aulas uma maior inclusão social desses alunos, como também trabalhar essas problemáticas e a visão das crianças sobre sua situação, sobre a convivência social com suas diferenças, realidades e tentar fazer com que elas adquiram um senso crítico e tentem modificar seus comportamentos a partir de uma visão mais ampla da sociedade.

    Este semestre a convivência na escola estreitou os laços dos bolsistas com a comunidade escolar, ficamos mais livres para tomar decisões, no entanto foi mais complicado pela falta de horários e pela necessidade de ter que juntar as turmas para dar aula, o que torna a turma muito grande e com alto índice de indisciplina.

    Este semestre minha atuação na escola foi melhor, pois já sabia como as coisas funcionavam, já conhecia os alunos e já sabia como planejar minhas aulas e para quem planejar.

    Continuo pensando que minha graduação não me deu subsídios suficientes para encarar a realidade escolar e fazer um bom trabalho, pois durante a formação não temos condições de realmente saber como é a realidade escolar, como trabalhar com turmas tão diferentes o mesmo conteúdo.

    As aulas regulares, pouco me auxiliaram na inserção escolar e no desenvolver do trabalho pedagógico, pois onde mais aprendi a dar aula, planejar, como me portar diante dos alunos foi em projetos de extensão na escola, nos quais aprendi as teorias pedagógicas e como trabalhar com elas, por que nas aulas regulares os professores, muitas vezes, têm uma visão superficial da realidade escolar, até mesmo por que muitos, nunca trabalharam em uma escola.

    A formação inicial como está não nos dá subsídios suficientes para uma boa atuação profissional, o que está embasando nossas experiências são projetos de extensão, os quais então desempenhando o papel de ensinar a prática pedagógica com suas dificuldades, pois nas disciplinas, no papel tudo é muito bom e bonito, tudo dá certo, mas na prática nem sempre é isso que acontece, os conhecimentos passados, muitas vezes, são muito superficiais.

    Penso que os três estágios que temos durante o curso, nos dão uma visão superficial do mundo escolar, pois trabalhamos com uma turma por vez e somente 24 aulas, o que não acontece na escola, onde temos várias turmas, vários planejamentos ao mesmo tempo, onde também no estágio não estamos em real contato com o contexto escolar.

    O PIBID me ajudou a ver como é a realidade escolar, como é trabalhar com várias turmas ao mesmo tempo, como realizar um planejamento coerente e diferenciado com cada turma, mostra o que realmente é a prática pedagógica com todas suas dificuldades, é onde realmente aprendemos a dar aulas, a trabalhar com os alunos e em conjunto com outros professores. É o momento para o aprendizado real, consistente, no qual entramos em contato direto com o que vamos encontrar após nos formarmos e tentarmos uma real inserção no mundo de trabalho.

    No meu trabalho pedagógico tento estar em harmonia com os quatro pilares da educação preconizados pelo Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação Física para o século XXI (relatório Delors), citado por Lemos et al (p. 37, 2012), no qual temos que “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser, situados sob a égide do princípio de aprender a aprender (Brasil, 2002).”

    Colombo e Cardoso fazem referência a uma citação de Taffarel et al (2007, p. 46-47) que é totalmente pertinente e que é o que o PIBID proporciona para seus participantes:

    A consolidação da identidade do professor de educação física para o exercício profissional, durante a sua formação acadêmica requer:

  • sólida formação teórica de base multidisciplinar e interdisciplinar na perspectiva da formação ominilateral;

  • unidade entre teoria e prática, [...], tomando o trabalho como princípio educativo e como práxis social;

  • gestão democrática [...];

  • compromisso social com ênfase na concepção histórico-social do trabalho [...];

  • trabalho coletivo, solidário e interdisciplinar;

  • formação continuada para permitir a relação entre formação inicial e continuada no mundo do trabalho;

  • avaliação permanente como parte integrante das atividades curriculares [...]. (COLOMBO E CARDOSO, p. 123, 2008)

    Penso que o PIBID nos proporciona a melhor vivência do mundo do trabalho, unindo teoria e prática, com estudos e discussão á respeito da prática pedagógica, da realidade escolar e das dificuldades de inserção na escola e do trabalho como professor.

Referencial teórico

  • COLOMBO, Bruno Dandolini. CARDOSO, Ana Lúcia. Formação inicial em educação física e atuação na escola: à hora da verdade. Rev. Motrivivência, ano XX, nº 30, p. 111-127, jun./2008.

  • HENKLEIN, Ana Paula. SILVA, Marcelo Moraes e. A concepção crítico-emancipatória: avanços e possibilidades para a educação física escolar. Rev. Movimento. Vol. 3, nº 2 (2007).

  • LEMOS, Lovane Maria. VERONEZ, Luiz Fernando Camargo. MORSCHBACHER, Márcia. BOTH, Vilmar José. As contradições do processo de elaboração das diretrizes curriculares nacionais dos cursos de formação em educação física e os movimentos de resistência á submissão ao mercado. Rev. Movimento, Porto Alegre, V. 18, n. 03, p.27-49, jul/set de 2012.

  • ROSADO, Daniela Gomes. KOWALSKI, Marizabel. MOREIRA Nayara Clara Lopes. SOUZA, Douglas Alexandre. Recreação e Lazer – Relações com a educação física. Não datado. Acessado em 26/12/12 e Disponível em: http://sudamerica.edu.br/argumentandum/artigos/argumentandum_volume_1/Recreacao_e_Lazer.pdf

  • TENROLLER, Carlos Alberto. MERINO, Eduardo. Métodos e planos para o ensino dos esportes. Ed. ULBRA. 2006.

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