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Preparo bioético em acadêmicos do curso de 

fisioterapia das instituições de ensino superior de Manaus

La formación bioética en Estudiantes de fisioterapia de las instituciones de enseñanza superior en Manaus

 

Fisiocursos Manaus

(Brasil)

Caroline Soares Campos

Michele Nogueira Santos

carolinecampos_@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A bioética por se tratar da aplicação dos princípios morais que regem as condutas pessoais e profissionais aos cuidados da saúde, possibilita um melhor preparo diante de problemas éticos e/ou bioéticos evidenciados no contato com o paciente, sendo importante para a preparação dos futuros profissionais de fisioterapia. O objetivo deste foi comparar a preparação bioética em acadêmicos iniciantes e finalistas do curso de fisioterapia. As informações foram coletadas em três instituições de ensino superior de Manaus através de questionário fechado. O resultado obtido foi que não há diferença estatística significativa no preparo bioético entre as três instituições, mas demonstrou-se ainda, um melhor resultado na instituição que contém a disciplina Bioética em sua grade curricular. Foi evidenciada então, a necessidade da inclusão da Bioética como disciplina no curso de fisioterapia em períodos mais avançados, o que leva a um melhor aproveitamento da disciplina, conseqüentemente a um melhor preparo para prática clínica.

          Unitermos: Bioética. Ética. Formação acadêmica. Profissional fisioterapeuta.

 

Abstract

          Bioethics as it is the application of moral principles that govern personal conduct and to health care professionals, provides a better preparation before ethical problems and / or bioethical evidenced in contact with the patient, it is important to prepare future professionals physiotherapy. The purpose of this was to compare the academic preparation in bioethics beginners and finalists of the physiotherapy course. Data were collected at three higher education institutions from Manaus through closed questionnaire. The result was that there is no statistically significant difference in the preparation bioethical between the three institutions, but still showed up, a better result in the institution which contains the discipline Bioethics in its curriculum. It was evident then, the need for inclusion of bioethics as a discipline in the course of therapy in later periods, which leads to a better utilization of the discipline, consequently a better preparation for clinical practice.

          Keywords: Bioethics. Ethics. Education. Professional physical therapist.

 

Presenteado em I Bioergonomics, Congresso Internacional sobre Biomecânica y Ergonomia, Manaus, Brasil, do 30 de maio ao 2 de junho.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Fisioterapia em sua origem como profissão reconhecida, se deu em conseqüência das grandes guerras que provocou grande número de mutilados e incapacitados fisicamente, direcionando seu trabalho e sua atuação para as atividades predominantemente curativas e reabilitadoras. Atualmente ela não somente atua no tratamento, como também na promoção e prevenção da saúde (LUCAS, R.W.C. 2005). Por isso é importante ter no currículo das universidades, princípios que desenvolvam conteúdos humanísticos e globais para a formação dos estudantes, como ética e bioética, onde estas vão permitir que o acadêmico se aproxime precocemente da realidade que iria conhecer apenas a partir do contato com o paciente (ANTONELLO, I.C.F. 2006; ALVES, F.D. et al. 2008).

    É num ambiente marcado por grandes evoluções e sentimentos contraditórios que a bioética surge como um novo domínio de reflexão e prática, que adota como seu objeto específico as questões humanas na sua dimensão ética, tal como se formulam no âmbito da prática clínica ou da investigação científica (BADARÓ, A.F.V; GUILHEM, D. 2008; NEVES, M.P. 1996; SCHUH, C.M.; ALBUQUERQUE, I.M. 2009).

    No Brasil, a Resolução 196/96 que regulamentou a realização de pesquisas envolvendo seres humanos como sujeitos, aprovado pelo Conselho Nacional de Saúde, é um dos instrumentos que mais têm contribuído para difundir as reflexões sobre bioética no meio acadêmico (REGO, S. 2009). Ensinando assim, através desta, a humanizar e a personalizar os serviços de saúde, bem como promover os direitos dos pacientes (SGRECCIA, E. 2002).

    A melhor estratégia para o ensino da ética e da bioética nos cursos de graduação, inclui significativamente a discussão de casos que estejam relacionados com o cotidiano do estudante e dentro de sua capacidade de decidir efetivamente (D’AVILA, S. et al. 2006; DINIZ, D. 2008), englobando estudos sistemáticos das dimensões morais, que inclui visão, decisão, conduta e normas morais das ciências da vida e da saúde para que estas discussões funcionem como ferramentas teóricas para tomarem iniciativas ligadas às questões morais que porventura ocorram em sua prática profissional (SCHUH, C.M.; ALBUQUERQUE, I.M. 2009; CARVALHO, F.T. et al. 2005). Deste Modo, a bioética auxilia os profissionais da saúde, a não se declinarem de sua responsabilidade, ignorando todo um conjunto de recursos que podem ajudá-los não apenas a tomar decisões como também a auxiliar seus pacientes a tomarem, eles próprios, suas decisões (SERODIO, A.; MAIA, J.A. 2009; COSTA, S.I.F. et al. 1998).

    É importante ter esse espaço para a discussão de problemas éticos, proporcionando o desenvolvimento da capacidade dos acadêmicos de lidar com a pluralidade dos conflitos do campo da moral que exigem tomadas de decisões, com os quais inevitavelmente se defrontarão durante sua prática profissional (ALVES, F.D. et al. 2008; D. 2008; SERODIO, A.; MAIA, J.A. 2009; CARVALHO, F.T. et al. 2005), levantando questões sobre o cumprimento de normas éticas da profissão sobre as relações de trabalho e examinando como elas impõem aos fisioterapeutas limitações ao pleno exercício de sua autonomia profissional (SCHUH, C.M.; ALBUQUERQUE, I.M. 2009).

Procedimentos metodológicos

    Esta pesquisa foi baseada no Código de Ética Profissional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional aprovado pela Resolução Coffito n. 10 de 3 de Julho de 1978 (COFFITOA-10. 1978), que objetivou avaliar tanto o preparo bioético de 112 acadêmicos do curso de fisioterapia, onde destes, 66 são ingressantes e 46 finalistas, de três Instituições de Ensino Superior (IES) de Manaus, denominadas aleatoriamente como IES 1, IES 2, IES 3, quanto comparar a preparação sobre esta temática nos acadêmicos que possuem em sua grade curricular bioética, tendo em vista que dessas três instituições, somente a IES 1 oferece a disciplina bioética e nas outras duas, IES2 e IES3, ela está inserida no conteúdo programático das disciplinas Bases da Fisioterapia e Ética e Deontologia respectivamente.

    O instrumento utilizado nesta pesquisa foi um questionário elaborado por Alves (ALVES, F.D. et al. 2008), que contém 12 questões objetivas que versam sobre a prática clínica da fisioterapia, o relacionamento terapeuta-paciente e o relacionamento terapeuta com os colegas e demais profissionais da saúde, no qual as três primeiras questões são introdutórias, não havendo pontuação para as suas devidas alternativas, tendo nas demais, uma alternativa bioética, ética e não-ética para cada questão, seguindo respectivamente as pontuações: três pontos, dois pontos e zero, obtendo um escore máximo de 27 pontos. Foi adotado como critério de classificação de seu preparo a denominação Bom, Razoável e Ruim, referindo-se estas respectivamente a resultados de pontuação acima de 70% (de 19 a 27 pontos), entre 50 e 70% (de 14 a 18 pontos) e abaixo de 50% (menor que 13 pontos).

    Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Nilton Lins de Manaus, no qual as Instituições participantes autorizaram a realização do mesmo através da assinatura do Termo de Anuência, bem como os acadêmicos participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    A pesquisa realizada nas instituições de ensino foram previamente autorizadas através do Termo de Anuência.

    Este estudo caracterizou-se como quantitativo, comparativo, descritivo e transversal, utilizando-se como critérios de exclusão acadêmicos que estivessem cumprindo o estágio supervisionado, por possuírem uma vivência com os conflitos éticos e/ou bioéticas em seu cotidiano.

    Para análise dos resultados foram realizados os testes estatísticos t-student, que consiste em rejeitar ou aceitar uma hipótese nula, utilizando o valor de p-value para sintetizar os resultados das hipóteses, onde H0 (hipótese nula) indica que a pontuação média de iniciantes é igual a pontuação média de finalistas, enquanto Ha (hipótese alternativa) indica que a pontuação média de iniciantes é diferente da pontuação média de finalistas; e o teste de Tukey que é um teste de comparação entre médias, serve como complemento para o estudo da análise de variância. Estes testes demonstram as semelhanças e/ou as diferenças entre as instituições em relação ao preparo bioético de cada.

Resultados

    Os resultados estatísticos obtidos através da coleta dos dados foram ilustrados através dos gráficos de boxplot que mostram suas respectivas pontuações e médias.

Gráfico 1. Pontuações e médias entre os estágios da IES 1

    Como apresentado no gráfico 1, os alunos finalistas da IES1 obtiveram como resultado do questionário uma média de 15.3, variando entre 11 e 22 pontos; já os iniciantes respectivamente obtiveram uma média de 14.7, com uma variação entre 9 e 19, no qual ao confrontar os resultados dos mesmos obteve-se p-value igual a 0,4387, o que indicou não haver diferença significativa entre os estágios, deste modo não rejeitando H0, o que demonstra que o conhecimento dos alunos finalistas dessa instituição é semelhante aos iniciantes da mesma instituição.

Gráfico 2. Pontuações e médias entre os estágios da IES 2

    O gráfico 2 representa a pontuação da IES2, observando que os alunos finalistas obtiveram uma pontuação entre 12 e 18 com uma média de 15.2 e, os iniciantes apresentaram pontuação entre 12 e 21 e uma média de 15.4, como mostrado no gráfico 2, na qual ao confrontar o resultado dos alunos iniciantes e finalistas obtendo-se p-value de 0,8248, aceitando também H0, o que indica que não houve diferença significativa entre os estágios, considerando que o conhecimento dos alunos finalistas é semelhante ao dos iniciantes da segunda instituição.

Gráfico 3. Pontuações e médias entre os estágios da IES 3

    E na IES3 os alunos finalistas obtiveram pontuação entre 12 e 19 pontos e uma média de 15.1 e os iniciantes de 9 a 18 pontos e uma média de 13.3, como demonstrado no gráfico 3, obtendo um p-value de 0,0227 no confrontamento dos resultados entre iniciantes e finalistas, sendo a única instituição que rejeita H0, indicando que a pontuação média dos iniciantes tem diferença significativa da pontuação média dos finalistas, demonstrando que os finalistas apresentam um melhor preparo neste assunto de que os iniciantes.

Gráfico 4. Pontuações e médias entre os estágios das três IES

    Nota-se então no gráfico 4 que mesmo englobando os estágios das três instituições não há diferença significativa entre as pontuações dos iniciantes com a dos finalistas, mas em geral, a maioria dos finalistas apresentaram uma pontuação maior que a dos ingressantes, demonstrando que, os alunos finalistas mesmo que de forma restrita, obtiveram um melhor conhecimento e preparo sobre o assunto.

Gráfico 5. Pontuações e médias entre os estágios das três IES

    Nesse gráfico 5, ao confrontar as pontuações das três instituições de ensino superior, pode-se observar nitidamente a semelhança de pensamento entre as três instituições, demonstrando uma única diferença significativa da IES 2 e a IES 3.

Discussão

    A ética estuda a correção ou a incorreção dos nossos atos, enquanto que a bioética pode ser compreendida como a relação entre vida e saúde (CARVALHO, F.T. et al. 2005), preparando os acadêmicos para uma melhor conduta diante de problemas éticos e/ou bioéticos evidenciados em sua prática profissional (NEVES, M.P. 1996), como situações de conflito, de dúvidas, de posicionamento frente ao paciente e familiares, onde estes exigem iniciativas que estão intimamente ligadas ao processo de solução de problemas clínicos. Neste contexto, não se pode confundir a Bioética como forma de acatar os desejos dos pacientes, transferindo para eles a responsabilidade pelos seus atos e sim, construir uma relação fisioterapeuta-paciente e eliminar totalmente a concepção de que é um dever moral do profissional tomar decisões em nome de seus pacientes (SCHUH, C.M.; ALBUQUERQUE, I.M. 2009).

    Ao analisarmos os iniciantes das três instituições de ensino superior pode-se observar uma variação da pontuação de 9 a 21, o que demonstra níveis de conhecimentos diferenciados que variam conceitualmente entre bioética, ética e não ética, ou seja, indicam que alguns acadêmicos já entram na faculdade com conceitos de moral e ética mais elevados do que outros participantes, o que pode estar relacionado com os quesitos, cultura e educação, que são aspectos que também podem influenciar nas respostas desses indivíduos.

    Segundo Rego (SCHUH, C.M.; ALBUQUERQUE, I.M. 2009) em seu livro Bioética para profissionais da Saúde, todas as pessoas, independentemente de sua formação ou mesmo do seu grau de escolaridade, são capazes de tomar decisões sobre problemas morais, onde essas decisões, por sua vez, serão resultados de análises que elas fazem, tomando como referência sua própria cultura, ou estando diretamente relacionada com fatores constitutivos dos indivíduos, como: idade, gênero e experiência em se confrontar com situações que envolvem essas questões. Isto pode justificar o motivo dos acadêmicos iniciantes terem um nível ético semelhante aos dos finalistas, o que confirma também a afirmação de Schuh (NEVES, M.P. 1996) quando em sua literatura relata que para a resolução destes problemas fazemos uso integral do legado de discernimento moral que nos foi transmitido com as reações, atitudes, expectativas e sentimentos que constituem nossa vida moral, ou seja, todos nós temos valores morais e culturais que são ou não transmitidos através da educação familiar que podem interferir diretamente no resultado dessa pesquisa.

    Entretanto, mesmo que os princípios individuais possam alterar o resultado desse estudo, ainda sim, ele nos mostra uma grande necessidade de conteúdos humanísticos nos currículos das faculdades que possam reforçar os conceitos morais ao longo de todo o curso (ANTONELLO, I.C.F. 2006).

    Um fato interessante de ser analisado é que dos 66 participantes iniciantes, 1,78% obtiveram conceitos bioéticos, sendo estes de instituições particulares contra 0% da instituição pública, e no que concerne ao quesito ético houve semelhança entre as três IES com o número aproximado de 15% a 23% de participantes, observando assim que a maioria desses participantes obteve um preparo ético em suas respostas, por se tratar de alunos iniciantes que ainda não cursaram as disciplinas Bioética e Ética e Deontologia, o que se comprova a afirmativa do parágrafo acima.

    Entretanto os participantes finalistas das IES 1 e 3 obtiveram um percentual de 0,893% de conceito bioético, enquanto a IES2 obteve 0 %, o que pode ser justificado após análise do plano de ensino de sua grade curricular, que a mesma foi ministrada no 1º período do curso, no qual os alunos ainda estão se familiarizando com a faculdade e suas disciplinas, além de ter um longo período até chegar ao estágio para vivenciá-las na prática clínica, o que dificulta guardar na memória todas as informações passadas dessa importante disciplina; e também se justifica por a ética, a deontologia e a bioética estarem inseridas dentro do conteúdo programático de outra disciplina, o que reduz ainda mais a possibilidade de ter um bom aproveitamento nesse item pela redução do tempo e do conteúdo. E ao considerarmos o preparo ético nesses acadêmicos finalistas observamos que a IES 1 obteve 12,5% de preparo, enquanto a IES 2 e a IES 3, 8.036% e 8.92% respectivamente. E finalmente na análise pela escolha das respostas não éticas observamos que a IES 1 obteve 5.37% das respostas, contra 1.78% da IES 2 e 2.67% da IES3.

    No somatório geral das porcentagens entre as três instituições, observamos que 5.357% das respostas escolhidas foram bioéticas, 61.61% éticas e 33.036% não éticas, o que demonstra o mau preparo bioético.

    Isso nos faz repensar o momento mais adequado de ser abordada a disciplina, bem como seus métodos de abordagem para que esta porcentagem se torne mais expressiva entre os finalistas, na premissa de equivaler os conhecimentos científicos desta população.

Conclusão

    Diante do exposto, observa-se a necessidade de ampliar os estudos sobre esse tema, com o objetivo de aumentar as discussões sobre a inserção da bioética na formação e capacitação dos acadêmicos e futuros profissionais, possibilitando-lhes o preparo para o enfrentamento de desafios éticos que permeiam a prática profissional.

    Essa pesquisa foi capaz de demonstrar o preparo bioético de alunos iniciantes e finalistas, no qual foi evidenciado a equiparação dos conhecimentos científicos. Ainda que esta diferença tenha sido mantida de forma não significativa, valendo ressaltar que a instituição que oferecia em sua grade a bioética como disciplina obteve uma melhor pontuação. Isso nos mostra então a relevância da ética estar contida na bioética.

    Este artigo propõe então que a Bioética tenha maior representatividade no conteúdo programático de todas as disciplinas, para que os conceitos éticos sejam melhores empregados na prática profissional.

Referências bibliográficas

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