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Relato de experiências sobre o projeto de extensão: 

atividades físicas, culturais e de lazer em instituições 

de longa permanência. Ações da Educação Física

Relato de experiencias sobre un proyecto de extensión: actividades física, culturales y 

de recreación en instituciones de larga permanencia. Acciones de la Educación Física

 

Aluna de pós graduação na UFSM

Centro de Educação Física e Desportos

Universidade Federal de Santa Maria

Daniele Jacobi Berleze

danielejb_berleze@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho é baseado no projeto Atividades Físicas, Culturais e de Lazer em Instituições de Longa Permanência – Ações da Educação Física. Tem por objetivos Proporcionar as idosas do Lar das Vovozinhas, ações da educação física através de possibilidades de aprendizagem, recreação e lazer; Desenvolver atividades, levando em consideração as experiências de movimento anteriores e enriquecendo-as; Promover uma forma de emancipação das idosas asiladas através da didática comunicativa. As ações se apóiam em teorias/abordagens pedagógicas oriundas da educação física escolar, sendo a teoria crítico-emancipatória e didática comunicativa de Kunz (1994) e a proposta de aulas abertas de Hildebrandt (2003). O projeto está sendo realizado em duas instituições de longa permanência, o Abrigo Espírita Oscar José Pithan e no Lar das Vovozinhas, neste eu que realizo as intervenções semanais e este semestre o conteúdo trabalhado é dança tradicionalista e de salão. Como resultado do trabalho, estou conseguindo verificar uma maior socialização entre as idosas e com os professores/monitores, experiências de movimentos enriquecidas, uma forma de se trabalhar a educação física com idosos em uma perspectiva pedagógica, voltada para o aprendizado e não somente para saúde. Percebi também que os idosos são tão capazes de aprender quanto uma pessoa com menos idade e que é possível adequar as aulas a qualquer tipo de público.

          Unitermos: Comunicação. Pedagógico. Emancipação. Educação Física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Este projeto teve origem no projeto “Movimento e Vida” que foi registrado no ano de 1987 pelo Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira Idade - CEFD/UFSM, e tinha como objetivo proporcionar diferentes experiências de movimento, cultura e lazer aos idosos asilados, em uma perspectiva de manutenção da saúde, pratica de exercícios físicos, interação afetiva e social.

    Mas, com o tempo surge a necessidade de um trabalho diferenciado com os idosos, não só voltado para a saúde ou preenchimento do seu tempo, mas sim para a construção de uma nova cidadania, construção de um conhecimento acerca da educação física e seus conteúdos.

    Sendo assim criou-se o projeto Atividades físicas, culturais e de lazer em instituições de longa permanência – Ações da Educação Física, onde os objetivos passaram a ser proporcionar aos idosos asilados ações da educação física através de possibilidades de aprendizagem, recreação e lazer. Como também provocar a reflexão acerca das possibilidades de um agir pedagógico e contribuir através da Educação Física para a emancipação e relação interpessoal. Ampliar as ações pedagógicas, desenvolvidas a partir da Educação Física, que interferem no cotidiano das Instituições de Longa Permanência, buscando resgatar o idoso asilado para as atividades que são oferecidas a todos os idosos da comunidade, promovendo novas experiências e novos espaços de intervenção. Proporcionar diferentes experiências de movimento, cultura e lazer aos idosos, na promoção da saúde e interação social, visando uma melhor qualidade de vida. Desenvolver atividades, levando em consideração as experiências de movimento anteriores e enriquecendo-as.

    As ações se apóiam em teorias/abordagens pedagógicas e propostas didáticas, oriundas dos teóricos da Educação Física Escolar, entre elas "a teoria crítico emancipatória e didática comunicativa” de Kunz (1994), que fundamenta uma didática comunicativa que visa emancipar e promover a autonomia dos alunos por meio de vivências que contemplem construções e descobertas de atividades e práticas corporais. Através da qual se preconiza desenvolver a competência objetiva, social e comunicativa, todas relacionadas às categorias do trabalho da linguagem e da interação.

    Possibilitando a instrumentalização dos alunos, para alem das capacidades de conhecimentos que lhes possibilitem a praticar o esporte como instrumento para o desenvolvimento da capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar os sentidos e significados da vida, refletindo acerca deste, em um processo comunicativo, para todo o seu relacionamento com o mundo social, político, econômico e cultural. (Kunz, 1994).

    Também se utiliza a proposta de aulas abertas de Hildebrandt (2003), a qual centra o processo de ensino/aprendizagem no aluno, onde considera os interesses e favoreça o papel ativo dos mesmos com a relação com o conteúdo. Onde a experiência de movimentos é preconizada.

    Pois, o processo de aprendizagem, baseado nas experiências autênticas, não necessita de nenhuma forma de instrução, mas sim a configuração de situações que devem propiciar experiências de movimentar-se em relação á intenção educativa. Isso parece um ato revolucionário, pois estamos acostumados a levar aos alunos movimentos “corretos”, jogos definidos. Nós afirmamos que esse método valem somente para a formação de professor, nada mais. (Hildebrandt, 2003, p. 150 L. 7)

    O processo de ensino aprendizagem é utilizado à desconstrução do esporte e imagens negativas que possam ser relacionadas a práticas de atividades.

Metodologia

    O projeto é realizado na Instituição de Longa Permanência “Abrigo Oscar José Pithan”, por outra professora. Também na Instituição de Longa Permanência Lar das Vovozinhas, tendo eu como professora e mais três colegas. Este semestre especialmente, estamos realizando um trabalho de ensino de danças tradicionalistas e dança de salão, com as idosas do Lar das Vovozinhas.

    No início do projeto as idosas iam à instituição de ensino onde realizavam atividades variadas de jogos, recreação, lazer, agora, devido à falta de transporte os professores/monitores vão até as instituições. As aulas esse semestre, devido o conteúdo ser dança, estão sendo realizadas, na sua maioria das vezes, com música ao vivo, pois uma idosa do lar, que é cega, toca gaita nas aulas.

    As atividades são realizadas de forma socializadora, lúdico-recreativas, dialógicas, permitindo a troca de conhecimentos e experiências entre os participantes, da instituição asilar e os monitores. O trabalho é centrado na comunicação entre os participantes e prioriza-se a construção do conhecimento e não sua simples transmissão.

    Todas as atividades são realizadas de acordo com a capacidade de cada um. Todos os idosos se ajudam na prática das atividades.

    As atividades estão sendo realizadas na sexta-feira pela manhã, durante duas horas, e contam com a participação de, em média, 40 idosas asiladas, tendo entre elas idosas com problemas motores, mentais, dentre outros.

Resultados, discussão e conclusões

    Os resultados que conseguimos observar é maior socialização entre as idosas. Também apresentam experiências de movimentos enriquecidas. Percebe-se maior receptividade das atividades propostas, ganho de autonomia nos exercícios. Na dança já é possível visualizar o aprendizado dos passos básicos, de ritmo, coordenação motora. Numa perspectiva social é possível perceber ainda como resultado dessa proposta uma efetiva integração no âmbito sócio-cultural entre os idosos, legitimando a educação física como uma prática pedagógica caracterizada também no campo não formal. O projeto contempla os acadêmicos participantes ao trabalharem com os idosos e a experenciarem diversas situações características desta população e ao colocarem em prática o seu trato pedagógico.

    Especialmente para mim, que já trabalho á 5 semestres no projeto, percebo um ganho enorme em experiência, tanto profissional quanto pessoal. Na minha visão o “velho” não deve ser percebido, visto somente em uma visão biologicista, de entendermos somente a parte biológica do envelhecimento, mas sim também na parte emocional, de perdas e ganhos.

    Trabalhando com o publico idoso percebi que não importa a idade que se tenha e nem as limitações, podemos realizar qualquer atividade, que o professor não pode exigir de seu aluno a perfeição dos movimentos, que o conhecimento não é somente o prático que é relevante, que o fazer não é o mais importante e sim o prazer que se sente ao realizar tal atividade.

    Como professora aprendi a adequar a minha aula para qualquer tipo de público, aprendi a dialogar com meus alunos e colegas de trabalho, que educação física é para todos. Consegui perceber que a educação física não está somente ligada à saúde mas sim a um real aprendizado de seus conteúdos. Que a educação física é um processo educacional estando dentro ou fora do ambiente escolar e o aprendizado pode ocorrer em qualquer espaço.

    Nas aulas a comunicação entre os participantes é priorizada, o processo educativo é construído com as idosas, muitas vezes perguntamos a elas que atividades mais gostam, o que querem fazer, aprender, e consegue-se perceber que para realizar o que é proposto tem-se que adequar a proposta de ensino ao ambiente o qual ela vai ser utilizada bem como ao público alvo, a realidade que eles vivem, suas capacidades físicas e mentais.

    Com a participação no projeto percebi que o processo de aprendizado não cessa com a chegada da velhice, estamos sempre aprendendo, o aprendizado é “eterno”, constante, permanente. No entanto, não encontramos aulas construídas, com intuitos de aprendizado, voltadas para idosos.

    Com isso viemos criando uma pedagogia própria para o trabalho com idosos, pois como relata Meire Cachioni e Lúcia Saccomori Palma, em seu artigo Educação Permanente: Perspectiva Para o Trabalho Educacional Com o Adulto Maduro e Idoso: “Não há preocupação com uma pedagogia específica para idosos, uma vez que se acredita que ele não mais se desenvolve”.

    Mas o porquê de atividades diferenciadas com a terceira idade e ainda mais com idosos institucionalizados? Porque todos têm o direito ao saber, conhecer, vivenciar e experienciar coisas novas e prazerosas. Onde o aprendizado nunca se conclui, pois tudo se modifica e o homem sempre será um projeto inacabado. Esse processo de aprendizagem deve ser realizado com base na comunicação no diálogo, pois como relata Meire Cachioni e Lúcia Saccomori Palma, em seu artigo Educação Permanente: Perspectiva Para o Trabalho Educacional Com o Adulto Maduro e Idoso:

    A educação de adultos e de idosos pode ser definida como um processo de comunicação no qual os participantes idealmente devem poder decidir o que dará sentido ao processo de interação que desejam iniciar e como vão fazer para atingir os objetivos comuns e pessoais. (pg. 1464)

    Onde o processo de ensino aprendizagem dos idosos é essencialmente dialético, e falar desse ensino é falar da vida, de vivências, de experiência de vida, bagagem cultural e vontades que devem ser respeitadas e levadas em conta durante esse processo.

    Para mim é extremamente gratificante poder observar a evolução das idosas na dança, conteúdo trabalhado esse semestre, o interesse e a grande participação delas em aula, como também é muito importante receber o carinho e a atenção com que sou recebida por elas.

    O que podemos concluir é que encontramos assim uma possibilidade, através da educação física, de desenvolver lazer educativo com idosos, contribuindo para formação de indivíduos críticos capazes de construir e transformar o conhecimento, ainda que espaços da sociedade os destituam dessa capacidade.

    Por meio das percepções desveladas pelos próprios idosos, tanto em palavras como em ações, é possível (através de uma avaliação contínua, que inclui grupo de estudos, produção de conhecimento científico, diálogo, observação e gravação das aulas) constatar as incontáveis contribuições que a proposta proporciona a todos os participantes envolvidos. Deste modo, o projeto contribui tanto para as idosas quanto para os acadêmicos, ao se trabalhar numa perspectiva de promover autonomia e acesso a novas propostas e novos conhecimentos, ampliando o universo de contatos e, conseqüentemente, de visão de mundo, tanto dos idosos asilados, os da comunidade, quanto dos alunos que trabalham junto a eles. As constantes avaliações também contribuem para demonstrar que é bem possível de se trabalhar baseado em teorias pedagógicas, fazendo um trabalho voltado para o aprendizado, lazer, recreação e não somente para a saúde, fundamentando a base dos estudos realizados na constituição do respectivo projeto.

    Assim, acreditamos que temos certa importância na vida dessas pessoas que tem nas intervenções, uma possibilidade de realização de atividades prazerosas e diferentes do habitual, inclusive para os que preferem só olhar, por diversos motivos, que também alegam estar sendo beneficiados, pois dizem estar se distraindo, saindo da rotina em que vivem. Para nós também é muito satisfatório e gratificante. E, com isso, acreditamos que estamos cumprindo com o principal objetivo do projeto, o de proporcionar diferentes experiências de movimento numa perspectiva de manutenção da saúde, prática de exercícios físicos e, principalmente, aprendizado e interação afetiva e social.

    Deste modo, o projeto contribui tanto para os idosos quanto para os acadêmicos, ao se trabalhar numa perspectiva de promover autonomia, emancipação e acesso a novas propostas e novos conhecimentos, ampliando o universo de contatos e, conseqüentemente, de visão de mundo, tanto dos idosos, quanto dos profissionais/alunos que trabalham junto a eles.

Referencial bibliográfico

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