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Epidemiologia do envelhecimento e a interferência do trabalho resistido

Epidemiología del envejecimiento y la dificultad del trabajo resistido

 

*Graduandos em Educação Física pela Faculdade Adventista de Hortolândia

**Professora Titular na Faculdade Adventista de Hortolândia

***Professor na Faculdade Adventista de Hortolândia e Mestrando na FMJ/SP

(Brasil)

Guilherme Andrade Paulino*

Thiago Santos Magalhães*

Helena Brandão Viana**

Eliezer Guimarães Moura***

hbviana2@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Popularmente, não são unânimes as correntes ideológicas relativas à prática de exercícios físicos por idosos. O treinamento resistido mostra formas de recuperação das características fisiológicas, estruturais e de desempenho do idoso, garantindo a manutenção de suas capacidades funcionais e autonomia. A forma de realizar este treinamento depende em parte do profissional que o prescreve e aplica. Neste trabalho objetivou-se discutir os benefícios e métodos de treinamento resistido qualificados para proteger, promover e/ou recuperar a saúde da população idosa, aumentando sua qualidade de vida e promovendo sua inclusão social. O profissional deve informar e precaver o idoso sobre problemas fisiológicos e emocionais, estimulando-o a prática do treinamento resistido.

          Unitermos: Treinamento resistido. Idoso. Envelhecimento. Epidemiologia.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Com menores taxas de natalidade, o mundo atravessa um tempo de mudanças em sua demografia. O número de idosos – pessoas com mais de 60 anos – deve mais que triplicar entre 2007 e 2050 (ONU, 2012). Quanto aos idosos, um novo conceito foi definido durante a II Assembleia Mundial sobre Envelhecimento, realizada em Ouro Preto, em abril de 2002. Este novo entendimento projeta a viabilização da inclusão política, econômica e social da referida população, afastando o paradigma pré-conceituado de que estes são incapacitados, portanto passíveis de exclusão social, de acordo com o modelo intrinsicamente individualista e competitivo da sociedade atual (FONTE, 2012). Na medida do aumento da longevidade, em decorrência das alterações orgânicas, fisiológicas e funcionais advindas do processo de envelhecimento, tende a aumentar a dependência dos idosos, sendo fator agravante e adversário da nova ideologia inclusiva para a terceira idade. Como forma de promoção, proteção e recuperação da saúde, e de interferir benéfica e diretamente no processo de inclusão social dos idosos, a atividade física surge como ferramenta fundamental. Posição advogada, também, por Carvalho e Soares (2004), segundo os quais, para ter-se uma velhice saudável e protegida é necessário manter a atividade física, pois, com o passar dos anos nossas capacidades físicas e fisiológicas são comprometidas derivando a própria diminuição da qualidade de vida.

Epidemiologia do treinamento resistido

    Evans (1979) apud Silva et al. (2012, p.23), conceitua epidemiologia como a ciência que estuda a distribuição e os determinantes do processo saúde-doença em populações humanas. De acordo com a abordagem citada, estabeleceremos relação entre o Treinamento resistido e a epidemiologia de determinadas patologias, especificamente na população idosa.

    Podemos destacar como fator de desestruturação das funcionalidades estruturais internas do idoso, a osteoporose. Segundo Elsangedy et al. (2006) para um pleno desenvolvimento ósseo, é necessário que os osteoclastos - células responsáveis pela formação óssea - e osteoblastos - células responsáveis pela reabsorção óssea - estejam em pleno desenvolvimento funcional. Do contrário, ocorre uma desmineralização dos ossos, oportunizando a instalação da osteoporose.

    Para Moraes e Padilha (2010) outro fator desfavorável que poderia ser amenizado através do treinamento resistido, é a hipertensão arterial. Segundo Parreira et al. (2004) a hipertensão arterial é multifatorial, ou seja, pode acarretar problemas em vários órgãos como coração, rins, retina, cérebro, e vasos.

    Em um estudo, Krinski et al. (2006) observou o comportamento de 53 idosos hipertensos de ambos os sexos submetidos a exercícios físicos resistidos, ao longo de seis meses com duração de uma hora de exercícios, três vezes por semana, sendo esta hora dividida em vinte minutos de treino aeróbio e quarenta minutos de exercícios resistidos. Os autores constataram que houve uma melhora substancial aferidas através de medidas antropométricas nos idosos. A pressão arterial e a frequência cardíaca de repouso reduziram significativamente. Isso em decorrência de uma vasodilatação advinda de adaptações aos estímulos dos exercícios resistidos. Segundo Morais e Padilha (2010) quando há uma normalização da pressão arterial diminui-se para pequenos percentuais a possibilidade de acidentes vasculares, cardíacos, coronarianos e renais.

    Chaufun et al. (2008) agrega mais valores negativos a problemas decorrentes da idade avançada, que poderiam ser evitadas com a adesão ao treinamento resistido. Citam perturbações metabólicas que podem alterar o cotidiano do idoso, como o aumento do índice de colesterol e triglicérides. Esse desarranjo metabólico pode levar a uma diminuição da taxa de HDL e a um aumento, ou não, do LDL. Esse acúmulo de gordura pode fazer com que o tecido cardíaco sofra mudanças, ocasionando arritmias atriais. Outro fator pertinente é a concentração de depósitos lipídicos, a calcificação da válvula mitral, entre outras questões que levariam a deformações ou até mesmo a mudança induzida da cúspide. Disfunções predecessoras de problemas como a insuficiência cardíaca (KRAUSE, 2006).

    Nota-se outro fator relevante, na concepção de Christovam et al. (2007), que é a diminuição da capacidade de atuação do VO2 MÁX. Quando se envelhece, há diminuição da capacidade de condução sanguínea que consequentemente diminuirá a circulação de oxigênio e nutrientes no organismo, dificultando a ação do músculo.

Benefícios do treino de resistência de força para idosos

    Confirma Clemson et al. (2012), que pessoas idosas não praticantes de exercícios físicos, tendem a sofrer acidentes por quedas. Em relação a idosos praticantes de algum exercício físico, como exercícios de resistência de força, estes tendem a se rejuvenescer, assim, complementa Netto (2004), o trabalho resistido pode permitir ao idoso um desaceleramento de seu processo de envelhecimento. Relevante é também o papel da flexibilidade na vida do idoso. Segundo Krause (2006) quando destreinado ou em estado de sedentarismo ou simplesmente pelo fato de estar em idade avançada, o idoso reduz o seu poder de absorção de proteoglicanos (proteínas de rápido metabolismo), que por sua vez acabam atrapalhando o processo de hidratação da cartilagem articular, consequentemente prejudicando a flexibilidade do indivíduo. Fator passível de ser amenizado dentro de um programa de treinamento resistido com exercícios de amplitudes máximas, proporcionando uma melhor flexibilidade. Ribeiro et al. (2008) ressalta que cada articulação tem a sua capacidade de flexibilidade, assim, não podendo comparar uma parte do corpo com outra.

    Bocalini et al. (2010) destacam as melhorias que ocorrem na agilidade e no equilíbrio do idoso que pratica exercícios de resistência de força. Essas melhorias decorrentes da necessidade de executar o exercício com a técnica correta são transportadas para outros momentos da vida, pois, com as adaptações provenientes do treinamento resistido, o idoso passa a ter uma melhora nas suas capacidades de locomoção, orientação e principalmente controle corporal, reduzindo a possibilidade de acidentes domésticos, comuns nessa idade. Morris et al. (2012) relata que o exercício resistido pode promover um aumento na capacidade dos músculos para gerar energia, tornando o idoso mais disposto.

    Outro fator importante que indica benefício do treino de resistência de força é a proteção da vida dos idosos com diabetes do tipo II. Segundo Hovanec et al. (2012), nessa etapa da vida ocorrem vários distúrbios no metabolismo, principalmente deficiências na produção de insulina. Os autores referenciados diferem atividade física sendo uma movimentação da musculatura para despesas energéticas e o exercício físico como uma atividade planejada e direcionada a fim de alcançar um objetivo. Para Castro (2009) quanto mais exercícios, maior será a redução da atividade glicêmica e maximização das adaptações positivas esperadas. Confirmam Flack et al. (2010) que o envelhecimento das células parece diminuir, a proliferação e aumento da sensibilidade à apoptose é induzida pela hiperglecimia, ou seja, quanto mais ativo o idoso for, maior será a captação e consumo de glicose e em decorrência uma melhoria na atividade da insulina no corpo do indivíduo.

    Destacam-se, também, melhorias no que tange o perfil lipídico do idoso. Essa questão pode ser relacionada com a hipertensão, o colesterol alto e o déficit cardíaco. Chalfun et al. (2008) relata que, possivelmente, a atividade física resistida pode diminuir o percentual de colesterol, LDL e Triglicérides e ainda proporcionar um aumento no percentual de HDL.

    Segundo Baptista e Vaz (2009) o percentual de massa muscular de um idoso que treina, pode chegar de 5% a 17% em três meses. Isso desaceleraria o processo de sarcopenia. Ribeiro et al. (2008) ainda complementa dizendo que as melhorias vão além como tendões, ligamentos e articulações mais ágeis, ou seja, uma melhoria na capacidade de mobilidade articular. Isso se deve a amplitude que o movimento exige. E, pelos movimentos serem lentos e longos, há também uma melhora na coordenação, já que muitas terminações nervosas são estimuladas, principalmente as responsáveis pelo equilíbrio e consciência corporal (SANTAREM, 2004).

    Assumpção et al. (2010) relata outros benefícios como melhor sensibilidade a insulina e glicose, aumento dos estoques de glicogênio e transporte de glicose. De acordo com Kater et al. (2011) o exercício resistido promove uma concentração maior de hormônios que são responsáveis pelo catabolismo e síntese de proteínas. Essa síntese indica a presença de um número maior de actina e miosina, que são importantíssimas na produção de energia durante o exercício físico.

    Lincoln et al. (2011) acrescenta outros benefícios como, a eliminação de sentimentos depressivos e aumento da autoestima. Relatam Kimura et al. (2010) que o exercício de resistência de força acaba evitando que estruturas cerebrais sejam perdidas, reduzindo a perda de atividades cognitivas. É importante destacar os fatores físicos que são melhorados na vida do idoso praticante de exercício físico resistido. Este, segundo Silva et al. (2006) deixa de ser uma pessoa dependente e se transforma num idoso autônomo, tornando-o preparado para a fase onde a dependência, quando instalada, se torna fator crítico, fazendo-o perder a capacidade de gerenciar seu próprio cotidiano.

Propostas de treino resistido

    Burattinil et al. (2010) propõe uma variação entre 14 exercícios dentro do planejamento de treino. Essa variação de exercícios deve estar bem distribuída entre os grupos musculares.

    Flack et al. (2010) propõe os exercícios de resistência de força em idosos podem ocorrer duas a três vezes por semana, progredindo sempre o volume. Cada sessão de treino deve incluir oito a dez exercícios envolvendo os principais grupos musculares, trabalhado em intensidade máxima e submáxima respeitando o princípio da individualidade biológica, com o objetivo de sempre ativar as fibras tipo 2 e 2x. Já para o idoso diabético, um programa semelhante, alterando apenas o número de repetições, que passam a ser de no mínimo de 10 a 15 repetições. O aumento da intensidade do exercício em paralelo com o aumento do volume pode produzir maiores beneficios, ressalvando atenção quanto a não ser adequado para alguns indivíduos. Esse planejamento consiste entre 2 a 3 dias por semana não consecutivos. Em alguns momentos deve ser mais trabalhados volume com intensidade baixa, em outros, menos volume com intensidades altas.

Discussão

    Segundo Lima-Costa e Veras (2003) a população idosa têm crescido de forma significativa em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Um dos fatores que têm influenciado nesse aspecto é a prática de atividades físicas.

    Francescantonio (2008) em sua pesquisa ressalta que pessoas com mais de 60 anos têm mostrado interesse pela prática de atividades físicas. Existem hoje muitos programas de incentivo a tais práticas e a resultante são indicadores positivos na qualidade de vida do idoso. Porém, têm sido negligenciado a prática do treinamento resistido, por se criar uma falsa ideia que idosos podem apenas realizar “exercícios leves”. Entretanto, Maughan (2000) ressalta que o treinamento resistido mostra-se o melhor método de obter adaptações benéficas na massa muscular dos idosos; o treino com sobrecargas, trabalhado em intensidade máximas e submáxima mostra-se capaz de ativar principalmente as fibras do tipo 2a e I2x, que são fibras musculares responsáveis pela maior geração de força e maior volume na musculatura-esquelética; e isso explica a perda de massa muscular e o enfraquecimento da musculatura.

    Yoshimura (2007) ressalta que a perda de massa muscular vem sendo relacionada a alguns riscos a saúde do idoso, trazendo prejuízo à capacidade aeróbica máxima, intolerância à glicose, baixa taxa metabólica de repouso, disfunção imune, diminuição da velocidade de andar e na maioria dos casos dependência funcional. Portanto, a principal estratégia para prevenir e recuperar alguma dessas condições, inclusive a sarcopenia, é o treinamento resistido.

Considerações finais

    Buscou-se nesta reflexão mostrar o treinamento resistido como uma metodologia eficaz, capaz de promover, proteger, e/ou recuperar a saúde e funcionalidade da pessoa idosa, inclusive interferindo na inclusão social dessa população. Essas pessoas chegam a certa idade com grandes limitações motoras, dificultando o acesso a lugares, alterando sua rotina e seu estilo de vida. Para tanto, apresentou-se metodologias de treinamento adaptadas a esse público, cada qual com a sua restrição a doenças crônicas.

    Foram apresentados os propósitos benéficos da realização do treinamento resistido para o desenvolvimento das capacidades físicas, ocasionadas por adaptações benéficas de ordem metabólica e fisiológica, neural e morfológica nos idosos já debilitados, tendo potencial para uma melhora significativa na saúde.

    O profissional de educação física deve preparar-se, procurar meios e instruir-se de forma adequada e sensata para aplicar intencionalmente, metodologias capazes de gerar benefícios físicos a essa faixa etária, tendo cuidados especiais, levando em consideração os fatores fisiológicos e patológicos decorrentes do envelhecimento.

    Ao término desta reflexão é ressaltada a esperança de disponibilizar a prática do treinamento resistido para o idoso através da conscientização e respaldo científico, que rompam os limites ideológicos ainda radicados na sociedade. Incluindo-o, como uma forma a mais para a promoção da qualidade de vida.

Bibliografia

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