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A ‘morte’ da seleção brasileira de futebol: de favorita a participante

La “muerte” de la selección brasileña de fútbol: de favorita a la participante

The "death" of the Brazilian national football team: from favorite to participants

Den "Tod" der brasilianischen Fußball-Nationalmannschaft: von Favorit für Teilnehmer

 

Secretaria de Educação do Estado do Ceará, SEDUC

Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza, SME. Fortaleza

(Brasil)

Werlayne Stuart Soares Leite

werlaynestuart@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O futebol tem uma grande importância na cultura da sociedade brasileira. Mais do que uma paixão, existe uma relação entre identidade nacional brasileira e a seleção de futebol. O objetivo deste texto é debater, sob aspectos técnicos, táticos e organizacionais, os motivos que podem explicar os resultados ruins obtidos pela seleção brasileira de futebol nos últimos anos, principalmente, na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos. Dentre os principais fatores que podem explicar tal fato, podem ser citados: a evolução do futebol moderno; qualidade técnica e preparação física moderna; aspectos táticos individuais e coletivos; dentre outros. Apesar de ser notória a superioridade da Espanha e da Alemanha sobre as demais seleções, devido à imprevisibilidade do jogo de futebol, não se pode afirmar com antecedência que estas seleções serão as campeãs. Entretanto, pode-se afirmar que, caso não sejam realizadas profundas mudanças, a seleção brasileira de futebol tenderá a repetir seus maus resultados nos próximos grandes eventos internacionais.

          Unitermos: Futebol. Seleção brasileira. Técnica. Tática. Brasil.

 

Resumen

          El fútbol tiene una gran importancia en la cultura de la sociedad brasileña. Más que una pasión, existe una relación entre identidad nacional brasileña y la selección de fútbol. El objetivo de este texto es debatir, con base en aspectos técnicos, tácticos y organizacionales, los motivos que pueden explicar los malos resultados obtenidos por la selección brasileña en los últimos años, principalmente, en la Copa del Mundo y en los Juegos Olímpicos. Entre los principales factores que pueden explicar tal factor, pueden ser citados: la evolución del fútbol moderno; la cualidad técnica y preparación física moderna; aspectos tácticos individuales y colectivos; entre otros. A pesar de ser notoria la superioridad de España y Alemania sobre las demás selecciones, debido la imprevisibilidad del juego de fútbol, no se puede afirmar que estas selecciones serán las campeonas. Sin embargo, se puede afirmar que si no se realizan profundos cambios, la selección brasileña de fútbol va a repetir los malos resultados en los próximos grandes eventos internacionales.

          Palabras clave: Fútbol. Selección brasileña. Técnica. Táctica. Brasil.

 

Abstract
         
Football has a great importance in the culture of Brazilian society. More than a passion, there is a relationship between identity and the Brazilian national football team. The aim of this paper is to discuss, in technical, tactical and organizational reasons which may explain the poor results obtained by the Brazilian team in recent years, especially in the World Cup and the Olympics. Among the main factors that may explain this fact, we can mention: the evolution of modern football; technical quality and modern fitness, individual and collective tactical aspects, among others. Despite the superiority of Spain and Germany compared to the other national teams can be notorious, due to the unpredictability of the football game, we cannot say in advance that these national teams will be the winners. However, it can be stated that, if not performed profound changes, the Brazilian football team will tend to repeat its poor results in the next major international events.

          Keywords: Football. Brazilian National Team. Technical. Tactical. Brazil.

 

Zusammenfassung
         
Fußball hat eine große Bedeutung in der Kultur der brasilianischen Gesellschaft. Mehr als eine Leidenschaft, es ist eine Beziehung zwischen Identität und der brasilianischen Fußball-Nationalmannschaft. Das Ziel dieser Arbeit ist es, zu diskutieren, in technischen, taktischen und organisatorischen Gründen, die die schlechten Ergebnisse von der brasilianischen Mannschaft in den letzten Jahren gewonnen, vor allem in der WM und den Olympischen Spielen erklären. Zu den wichtigsten Faktoren, die diese Tatsache erklären können, können wir nennen: die Entwicklung des modernen Fußballs, technische Qualität und modernes Fitness, individuelle und kollektive taktische Aspekte, unter anderen. Trotz der Überlegenheit von Spanien und Deutschland im Vergleich zu den anderen Nationalmannschaften kann berüchtigten, wegen der Unberechenbarkeit des Fußball-Spiel, können wir nicht im Voraus sagen, dass diese Nationalmannschaften die Gewinner sein werden. Allerdings ist festzustellen, dass, wenn nicht tief greifende Veränderungen durchgeführt werden, wird die brasilianische Fußballmannschaft dazu neigen, ihre schlechten Ergebnisse in den nächsten großen internationalen Ereignisse zu wiederholen.

          Schlüsselwörter: Fußball. brasilianischen Nationalmannschaft. technisch. taktisch. Brasilien.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol tem uma grande importância na cultura da sociedade brasileira. A paixão pelo esporte assumiu (e ainda assumi) uma enorme proporção. Essa paixão manifesta-se em vários níveis, desde a paixão pelo “clube do coração” até a paixão pela seleção nacional. Mais do que uma paixão, o futebol também foi um elemento primordial na história recente do país, em sua transição de uma sociedade rural para uma moderna sociedade urbana e industrial (Helal & Gordon, 2002).

    Falar em Copa do Mundo de futebol é ver o país inteiro se mobilizar, de norte a sul. Este evento transforma-se em um enorme fenômeno cultural e social que acontece de 4 em 4 anos e atinge até mesmo quem não gosta muito de futebol. Essa relação é tão grande que foi criada um famoso slogan brasileiro – a pátria de chuteiras – cunhado pelo dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues para expressar a relação que sempre concebemos entre identidade nacional brasileira e seleção de futebol.

    Entretanto, como explicar resultados tão ruins obtidos pela seleção brasileira em jogos amistosos com as grandes seleções (Alemanha, França, Inglaterra, dentre outras) e, principalmente, nas últimas Copas do Mundo e também em Jogos Olímpicos? Que possíveis fatores podem ser citados para explicar tal fato? Quais as transformações que estão acontecendo com o futebol moderno e as grandes seleções a nível mundial?

    O objetivo deste texto é debater sobre os principais motivos que poderiam explicar uma evolução e mudança do futebol moderno e do modelo de jogo das principais seleções do mundo e a estagnação do modelo de jogo da seleção brasileira, explicando assim os possíveis motivos deste insucesso e até a manutenção destes resultados se não houver grandes mudanças.

Uma análise crítica sobre os motivos do insucesso

    De acordo com Helal e Gordon (2002), se analisarmos o futebol do aspecto técnico e menos das representações do futebol no imaginário nacional, o ex-jogador e atual comentarista Tostão vem enfatizando, em suas colunas no “Jornal do Brasil”, que não jogamos mais o melhor futebol do mundo. A mesma ideia foi transmitida pelo ex-técnico da seleção brasileira, Wanderley Luxemburgo. Os dois estariam dando a entender que o Brasil vem deixando de ser (como afirmávamos até um passado recente) a maior potência do futebol mundial. Poderíamos ver nessas declarações outros indícios de que os brasileiros começam a questionar a ideia de que o Brasil seja ainda o “país do futebol”. Esta questão em si, sua própria condição de possibilidade – uma vez que fazê-la, por exemplo, em 1970, seria absurdo – já nos permite vislumbrar que o nosso futebol vem passando por importantes mudanças, e que essas mudanças são percebidas pelos agentes do universo futebolístico como uma “crise”.

    A revista inglesa FourFourTwo, uma das mais respeitadas publicações esportiva do mundo, publicou uma reportagem na sua edição de julho de 2011 entitulada “Death of Brazil” [Morte do Brasil]. Na capa aparece o símbolo da Confederação Brasileira de Futebol – CBF com a inscrição RIP [Rest in Peace – Descanse em paz]. A reportagem aponta como os 4 principais motivos para os atuais fracassos da seleção brasileira de futebol: o futebol feio; a copa de 2014 está um caos; a falta de estrelas; e os melhores jogadores da seleção são os defensores. De acordo com o jornalista Juca Kfouri, em artigo publicado na revista Carta Capital, sobre a crise no futebol brasileiro, enquanto os europeus cada vez mais jogam com a bola nos pés, a valorizam e tratam bem, nós passamos a ser o paraíso dos volantes, o cemitério dos camisas 10, a valorizar mais quem rouba a bola do que quem a entrega em domicílio – todo poder aos brucutus e muito cuidado com os violinistas.

    Estão listados abaixo, os principais motivos que podem ser considerados os mais importantes e, de forma geral, explicar os resultados ruins obtidos pela seleção brasileira de futebol e até mesmo prever o resultado que deverá ser atingido na próxima Copa do Mundo, a de 2014.

Evolução do futebol moderno

    Este parece ser o principal aspecto deste cenário. Se analisarmos bem tecnicamente, o modelo de jogo adotado pelas principais seleções mundiais, aquelas que realmente têm chances de ganhar uma Copa do Mundo, mudou drasticamente. Analisando o modelo de jogo de seleções como Alemanha e Inglaterra, por exemplo, há mais ou menos 15 anos, o modelo de jogo destas seleções baseava-se, principalmente, no jogo aéreo, em bolas cruzadas na área, e muitas vezes esta jogada tornava-se repetitiva. Atualmente percebemos modelos de jogo totalmente diferentes, estas seleções contam com jogadores mais ágeis, velozes e extremamente técnicos que fazem um modelo de jogo com passes mais curtos, ultrapassagens, triangulações, infiltrações, aproximação do centro de jogo e jogadas mais objetivas buscando o gol.

    A seleção espanhola (atualmente a número 1 no ranking da FIFA) também mudou radicalmente seu modelo de jogo, principalmente o modelo de jogo ofensivo. Conhecida como a fúria espanhola, tinha como principal característica o ímpeto para atacar seus adversários, o que não resultou em grandes vitórias. Atualmente a seleção espanhola utiliza um modelo de jogo ofensivo chamado de Ataque Organizado Posicional (AOP).

    Segundo Leite (2013), ataque organizado posicional é uma ação ofensiva que busca primeiro, um melhor posicionamento e distribuição geométrica em campo, onde a posse de bola, através dos passes horizontais (para os lados), acaba sendo parte importante da estratégia do jogo (organização ofensiva), para então, efetivamente construir situações que possibilitem chegar à meta adversária de forma coletiva e com o intuito de desorganizar a defesa adversária através da circulação da bola. O Ataque organizado posicional tem como principais características:

  • ataque em bloco homogêneo e compacto devido a permanentes ações de apoios e coberturas ofensivas aos jogadores que intervêm diretamente sobre a bola;

  • criação constante de condições favoráveis em termos de tempo, espaço e número de jogadores nos sucessivos centros de jogo ofensivos;

  • constante equilíbrio da organização do método ofensivo devido à utilização sistemática de ações de cobertura ofensiva, de compensações e permutações;

  • participação de muitos jogadores e execução de muitas ações técnico-tácticas para concretizar os objetivos do ataque, tendo assim uma elevada elaboração na fase de construção do processo ofensivo;

  • o elevado tempo que este método de ataque normalmente dura pode levar os adversários a entrarem em desequilíbrio táctico e psicológico, e, consequentemente, a cometerem imprudências e erros.

    Acredito que, neste aspecto, o modelo de jogo ofensivo da seleção brasileira estagnou e ainda continua o mesmo da década de 60-70: esperar se sobressair sobre os adversários com base, principalmente, na técnica individual dos jogadores, proporcionando assim a execução de uma boa jogada individual ou uma triangulação rápida. Isso é muito pouco para uma seleção que é a mais vitoriosa em Copas do Mundo de futebol.

    Segundo o ex-jogador da seleção alemã Paul Breitner, campeão do mundo em 1974, é necessária uma reformulação na maneira de jogar da seleção brasileira para que a equipe volte a ser a potência que já foi. “O futebol brasileiro parou no tempo. Está ultrapassado uns 10, 12 anos. Precisa se desenvolver. Com essa maneira que está jogando, não tem como ganhar a Copa do Mundo”, afirmou. Ainda segundo Breitner, a seleção brasileira precisa mudar o estilo de jogo. Conhecida pela qualidade individual de seus atletas, ele acredita que a equipe precisaria passar a ser mais pragmática, no estilo do próprio futebol alemão. “Tem de ser um futebol mais rápido, objetivo. Tem de trocar as jogadas de efeito, de querer mostrar habilidade, por lances mais objetivos e dinâmicos”.

    Enquanto se viu na Europa, principalmente na Espanha e na Alemanha, uma crescente preocupação com o desenvolvimento de talentos, no Brasil, ao contrário, buscou-se copiar os modelos europeus. Pior: se na Europa a busca deu certo e foi além, como diz o ditado popular, aqui a emenda ficou bem pior que o soneto (Kfouri, 2012).

    Seleções brasileiras perderam a capacidade de se impor, a ponto de, nas olimpíadas de Londres (assim como também em todas as outras olimpíadas), os mexicanos não darem a menor importância para a outrora temida camisa “amarelinha”. Entretanto, grande parte da imprensa brasileira continua, por incrível que pareça, apenas a explorar a mítica da camisa brasileira.

Qualidade técnica versus preparação física moderna

    Um dos principais motivos que antigamente fazia se destacar o futebol brasileiro era, sem dúvida, a qualidade técnica individual de seus jogadores. De acordo com o jornalista Juca Kfouri, o Brasil foi sim o país do melhor futebol do mundo por um bom tempo, isto é, por muito tempo, pelo menos durante todo o período de Pelé, entre 1958 até meados dos anos 70, o que não se mede, como se imagina, pelas Copas do Mundo conquistadas, mas pela beleza e eficácia do futebol apresentado.

    Até meados da década de 70 (onde o Brasil conquistou seus 3 primeiros títulos mundiais), podemos verificar esquemas táticos prioritariamente ofensivos, onde se objetivava principalmente marcar gols. Tal fato pode ser explicado pela média de gols marcados em jogos de Copas do Mundo. No estudo realizado por Leite (ainda não publicado), foram analisados todos os gols marcados em Copas do Mundo, desde 1930, no Uruguai, até 2010, na África do Sul. Pode-se perceber claramente que, em um dos itens analisados, a quantidade total e a média de gols marcados, começaram a cair na década de 60 a nível próximos (um pouco acima) dos encontrados atualmente. Isso porque, a partir deste período, começou-se a dar maior importância para a preparação física do jogador de futebol.

    Atualmente, a preparação física dos jogadores é importantíssima e um dos principais fatores da performance esportiva no futebol. Isso também pode explicar o fato de seleções com menor técnica terem mais chances de ganhar um jogo de uma seleção mais forte do que antigamente. Como exemplo, podemos citar a Espanha, atual campeã mundial e bicampeã europeia, que perdeu seu jogo de estreia na Copa do Mundo de 2010 para a Suíça (1x0).

    Este fato implica dizer que apenas a qualidade técnica do jogador brasileiro não é mais suficiente para superar a preparação física de algumas seleções, os jogadores estão mais preparados, mais fortes fisicamente e a marcação está mais próxima, diminuindo assim os “espaços livres” no campo. E em outros casos, como as seleções da Alemanha, Espanha, Holanda, dentre outras, além da excelente preparação física (aliada também à excepcional tática individual e coletiva), existe também a grande qualidade técnica.

    As falhas e a inferioridade da seleção brasileira frente às grandes seleções são visíveis. De acordo com Cozac (2013), o comprometimento e a prontidão esportiva destes garotos não são minimamente suficientes para enfrentar estruturas técnicas e táticas que – muito possivelmente – nos engolirão na Copa do Mundo. Para complicar este quadro, ainda contamos com um treinador que simplesmente parou no tempo – tanto na composição tática e técnica – como nas reações intempestivas e perigosamente ameaçadoras para o emocional dos atletas que, por si só, já é um fator de extremo risco. Grita com o árbitro à beira do campo, irônico nas entrevistas coletivas e distante daquilo que hoje se espera de um verdadeiro comandante.

Aspectos táticos individuais e coletivos

    Se analisarmos com bastante atenção e conhecimento técnico da área, a seleção brasileira nunca foi uma seleção que jogasse bem organizada taticamente, seja individual ou coletivamente. Ou seja, nunca foi uma equipe tão bem aplicada taticamente como algumas outras seleções, principalmente as europeias. Atualmente, não percebe-se, de forma clara, um esquema tático bem definido na seleção brasileira, onde:

  • cada jogador desempenhe bem sua função em determinado setor do campo delineando o esquema tático;

  • quando preciso, fazer variações táticas intencionais e propositais com o intuito de desequilibrar a marcação adversária;

  • quando um jogador da equipe não está rendendo o esperado e é substituído, o jogador que o substitui muitas vezes é originalmente de uma posição diferente;

  • constantes trocas de posições, principalmente entre os atacantes mais velozes, mas sem alterar o setor de meio campo e também sem ser devido a variações táticas setoriais (apenas para tentar jogadas no lado oposto).

    Com base neste e no item anterior, pode-se afirma que uma equipe que possua uma boa preparação física e tática, associada com um nível técnico mesmo que razoável, possui maior probabilidade de vencer o jogo do que uma equipe boa tecnicamente, mas com tática coletiva ruim. Por isso a excelente performance de seleções como Espanha e Alemanha: são jogadores de excelente preparo físico; tem grande aplicação e inteligência tática; e também possuem um excelente nível técnico.

    No futebol europeu prevalece uma enorme consciência tática e o envolvimento coletivo, tanto na defesa como no ataque. De acordo com Valente (2012), o futebol brasileiro já foi genial, mas atualmente genial é um time que joga sem zagueiros e sem centroavantes fixos, mas que troca 900 passes por jogo, que tem 75% de posse de bola e que os astros ficam no banco se não obedecerem ao esquema tático pré-determinado. Assim, os técnicos brasileiros estão no fio da navalha: ou mudam tudo sem constrangimento de treinar o que há de melhor atualmente no futebol, ou estão fadados à mediocridade de esquemas ultrapassados e sem comando.

    Os jornalistas esportivos no Brasil pregam a necessidade de criar ídolos no futebol, mas perderam a medida e exageram ao transformar jogadores em astros e celebridades. Devido a este e a outros fatores, nossas equipes perderam a coletividade e o individualismo impera contribuindo para esse declínio tático e também técnico do futebol brasileiro. Os jogadores brasileiros (principalmente os atacantes) ainda insistem em colocar as mãos na cintura quando perdem a bola e não têm nenhuma preocupação em correr para marcar, afinal eles acham que estão ali para dar espetáculo e os marcadores são sempre os outros jogadores (Valente, 2012).

Tempo para treinos e time base da seleção

    Outro aspecto que alguns jornalistas apontam é a falta de tempo disponível para treinamentos da equipe. Geralmente, os jogadores se apresentam poucos dias antes dos jogos e não há tempo hábil para treinos (o chamado “entrosamento”). Entretanto, apenas esta falta de tempo não é suficiente para explicar tal fato. Quase todos os jogadores titulares da seleção brasileira de futebol jogam em clubes da Europa, assim, estes jogadores terão calendários parecidos e o mesmo tempo para treinarem que os jogadores das seleções europeias.

    Talvez o problema possa ser a falta de um time base para compor a seleção brasileira. Enquanto a maioria das grandes seleções mundiais possuem equipes que servem como base: Alemanha (Bayern de Munique e Borussia Dortmund), Espanha (Barcelona e Real Madrid), Itália (Juventus), Inglaterra (Manchester United), dentre outras; a seleção brasileira não possui uma equipe base. São jogadores de vários clubes e países diferentes (Daniel Alves – Barcelona da Espanha; Davi Luiz – Chelsea da Inglaterra; Hulk – Zenit da Rússia; Neymar – Santos do Brasil; dentre outros) que possuem técnicos diferentes, modelos de jogo diferentes, esquemas táticos diferentes, formas de treinamentos diferentes, etc. Quando são convocados, não conseguem jogar bem juntos e não existe tempo hábil para os treinamentos. Isso força o técnico, geralmente, a esperar também que sobressaia-se a técnica individual do jogador brasileiro e que aconteça uma jogada individual dos atletas.

Cultura imediatista

    Infelizmente, existe uma cultura imediatista (e também estúpida) no futebol brasileiro que se reflete dos clubes para a seleção (ou vice-versa): a política do resultado a curto prazo! Os técnicos são cobrados a mostrarem resultados e não dispõem de tempo hábil para treinamentos devido ao aperto ocasionado pelo extenso calendário de jogos. Entretanto, se não obtiverem bons resultados, são demitidos.

    Ou seja, não há tempo hábil para executar um planejamento sério (e talvez nem mesmo haja este planejamento!) e de modo bem feito. Mas como esperar bons resultados se não houver planejamento e tempo suficiente para executá-lo? Certamente mudar e adotar um novo modelo de jogo, como fizeram Alemanha, Espanha, Inglaterra, dentre outras, requer tempo, pois esta mudança não foi realizada de um ano para o outro ou com a utilização de poucos jogos. Mas, para que isto possa acontecer, é preciso inicialmente uma mudança de mentalidade dos gestores do futebol brasileiro.

    De acordo com Kfouri (2012), a verdade é que o futebol brasileiro entrou numa burra viagem em que o resultado é tudo, ganhar é preciso, encantar não é preciso. E deixou de encantar sem, necessariamente, ganhar, pelo menos fora dos nossos horizontes. O futebol de resultados passou a ser, também, o da permanência dos técnicos no emprego, à custa da mediocridade ampla, geral e irrestrita.

Reflexões finais

    Devido o futebol ser um esporte classificado como Esporte Coletivo ou Jogo Desportivo Coletivo de invasão, este possui 6 princípios operacionais (3 de defesa e 3 de ataque) e tem atrelado ao seu resultado um fator importantíssimo: a imprevisibilidade. Mesmo uma equipe possuindo os melhores indicadores técnicos e táticos, não pode-se apontar com antecedência o vencedor de um jogo ou de um campeonato, apesar de ser notória a superioridade da Espanha e da Alemanha sobre as demais seleções.

    Mesmo assim, acredito que se não houver uma mudança de mentalidade e não for realisado na seleção brasileira de futebol um trabalho verdadeiramente sério, e, acima de tudo, com bastante planejamento, a seleção brasileira deixará de exercer seu papel de favorita a ganhar títulos mundiais e continuará a exercer sua função atual, e que certamente também fará na Copa do Mundo de 2014, de mera coadjuvante.

Referências

  • Cozac, Jõao. (2013). A Seleção Brasileira e a agonia do nosso futebol. Disponível em http://www.gazetaesportiva.net/blogs/joaoricardocozac/2013/04/25/a-selecao-brasileira-e-a-agonia-do-nosso-futebol/#comment-2281. Acesso em 22 de maio de 2013.

  • Helal, Ronaldo, & Gordon, Cesar. (2002). A crise do futebol brasileiro: perspectivas para o século XXI. Revista Eco-Pós, 5 (1), pp. 37-55.

  • Kfouri, Juca. (2012). Futebol em crise. Revista Carta Capital.

  • Leite, Werlayne. (2013). Euro 2012: analysis and evaluation of goals scored. International Journal of Sports Science, 3 (4), pp. 102-106.

  • Leite, Werlayne. (in press). Analysis of goals in football World Cups and determination of critical phase. (Em análise no Baltic Journal of Health and Phsycal Activity – Polônia).

  • Valente, Wallace. (2012). A crise do futebol brasileiro. Disponível em: http://www.fortes-es.org.br/pgn/5023/esporte-e-cidadania-a-crise-do-futebol-brasileiro/. Acesso em 01 de abril de 2013.

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