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Entre concepções, modelos, abordagens e 

propostas: constituindo o campo da Pedagogia do Esporte

Entre concepciones, modelos, abordajes y propuestas: construyendo el campo de la Pedagogía del Deporte

 

*Professores de Educação Física formados pela UFSJ

Universidade Federal de São João del Rei e membros do GEPE

Grupo de Estudos e Pesquisas em Pedagogia do Esporte.

**Professor do Curso de Educação Física

da UFSJ e coordenador do GEPE

(Brasil)

Daniel Pedro de Matos Ferreira*

Karine Ferreira da Silva*

Tamyres Sandim Baeta Tavares*

Renato Sampaio Sadi**

renatosampaio63@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo é uma revisão bibliográfica que investigou práticas de ensino de dez obras que referenciam o ensino e aprendizagem esportiva para discutir e problematizar a ação do professor. O objetivo do estudo se centrou na potencialização da capacidade crítica e reflexiva do profissional da área no estudo das tendências de ensino que foram elencadas de acordo com maior impacto e relevância na Pedagogia do Esporte e da Educação Física, incentivando um diálogo amplo que considere o homem dentro de sua totalidade e das especificidades e debates recentes da área. Considerando a complexidade do processo de ensino, foi defendida a ampliação da visão do professor em relação ao diálogo e articulação entre as tendências, buscando não delimitá-las, o que restringe seus significados e abrangência necessária no processo de ensino e na estruturação de uma prática pedagógica singular.

          Unitermos: Pedagogia do Esporte. Tendências. Concepções. Abordagem. Educação Física escolar.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O esporte vem apresentando crescente evolução a cada dia, ocupando diversos espaços e lugares de destaque dentro da sociedade. Abrange áreas com influência cada vez maior como, por exemplo, a mídia, a política, os hábitos de consumo etc. Em contrapartida a essa evolução, é possível observar uma negligência do sentido pedagógico do esporte? Os responsáveis pelos processos de ensino e aprendizagem do esporte conhecem suficientemente as diversas tendências que orientam a área? Quais são os consensos mínimos na constituição do campo da Pedagogia do Esporte (PE)?

    A necessidade de investigar as diferentes metodologias na PE é crescente, visto que as conseqüências de uma compreensão mais significativa e efetiva podem orientar alunos e praticantes em sua vida social e esportiva. Neste texto mapeamos o campo da PE na tentativa de reforçar conceitos, além de solidificar as principais tendências didático-metodológicas para orientar os profissionais da área.

    Dada a influência e representatividade do esporte na sociedade, não é aceitável que seu ensino seja ignorado ou desenvolvido de maneira superficial. Necessita-se de um pensamento complexo numa perspectiva diferente da observada atualmente, para que os esportistas sejam compreendidos como seu criador e objeto principal e não como uma simples peça coadjuvante (REVERDITO, 2009a; REVERDITO, 2009b; TANI, 2006; PAES, 2001; SADI, 2010).

    Assim, dentro da expectativa por um ensino de qualidade, o esporte pode ser concebido de uma maneira consistente que atenda às necessidades práticas de professores e alunos. Para isso é preciso estruturar um conteúdo formativo que apresente embasamento teórico-didático firme, diretivo e responsável. Abordar o esporte pela visão da pedagogia geral e das ciências do esporte confere uma necessidade de compromisso com uma prática pedagógica que analise, compreenda e interprete as diversas formas esportivas, considerando o caráter de formação humana por meio do fenômeno de jogo, ensino, movimento, aprendizagem e competição, intencionando uma prática voltada para aspectos motores, cognitivos e sociais.

    Apresentada por várias perspectivas, a PE vem obtido êxito tanto no cenário acadêmico como nos ambientes profissionais. Dependendo de sua finalidade pode haver divergências ou convergências em torno do ensino/iniciação esportiva, uma vez que, apesar de conter objetivos semelhantes, aspectos metodológicos devem ser analisados em suas especificidades.

    Como pedagogia, o esporte, seja em aulas de Educação Física (EF), no lazer ou na preparação e formação de atletas é um território de várias demarcações que apresentam insuficiências de ordem metodológica e didática. Quando se trata de ensinar e aprender, o esporte ainda não assumiu o desafio concreto de aplicar as teorias na prática da iniciação ao treinamento. Em outras palavras ainda estamos soltos às experiências, embora bem sucedidas, isoladas e pouco conhecidas.

    A pedagogia é, muitas vezes, equivocadamente julgada como um campo de investigação teórico-metodológico que estuda perspectivas procedimentais restritas ao âmbito escolar. Na verdade, a pedagogia envolve todo um contexto de formação que compreende a história e o ambiente do sujeito, utilizando sua realidade como referência para direcionar a teoria de encontro à prática. Desse modo, é por meio da interação entre o conhecimento das perspectivas procedimentais a serem utilizadas no processo de ensino e a análise individual do sujeito envolvido em seu projeto que se torna possível a organização, o comprometimento, a intencionalidade e a responsabilidade educacional.

    Entre concepções, modelos, abordagens e propostas, entendemos que se faz necessário constituir o campo da PE, tanto do ponto de vista acadêmico, quanto profissional. Nesta direção, os termos modelo, abordagem, concepção e proposta foram problematizados com a intenção de mapear tendências, sugestões, projetos.

    Modelo é um substantivo masculino que se refere a “objeto para ser reproduzido por imitação; molde; representação em pequena escala de um objeto para ser reproduzido em escultura; tipo; (...)” (BUENO, 1996, p. 436). Abordagem é um substantivo feminino dado como “ato de abordar; abordada; aproximação; (...)” (BUENO, 1996, p. 9). Concepção é um substantivo feminino que indica “geração; faculdade de perceber; conhecimento”. No conceito de modelo, o ambiente aberto, suscetível às mudanças e fatores externos que envolvem o processo de ensino são desconsiderados, excluindo as particularidades tão importantes durante o ensino. O conceito de abordagem indica uma aproximação ao ambiente de aprendizagem, mas sugere um tratamento superficial que aproxima, mas não é capaz de alcançar teoria e prática. O conceito de concepção sugere uma maneira de pensar, um conhecimento pronto não suscetível às mudanças, em que a teoria não atende às imprevisibilidades que a prática está sujeita, aumentando ainda mais a distância teórico-prática do ensino.

    Proposta é um substantivo feminino conceituado como “proposição; determinação; oferta” (BUENO, 1996, p. 533) que, diferentemente dos demais conceitos, é percebido não como algo a ser seguido, mas como uma conjectura, que considera possíveis falhas e não está restrita à simples reprodução. A adoção da palavra proposta está ligada à idéia de que a teoria, na prática, é diferente. Quando utilizamos a palavra proposta entendemos que aplicar a teoria na prática não é a melhor maneira de se ensinar, uma vez que não se considera a imprevisibilidade presente no ambiente de aprendizagem, sendo a teoria modificada de acordo com a prática (CAPARROZ, 2007).

Figura 1. Diagrama representativo da relação/interação entre teoria e prática de acordo com o conceito das palavras concepção, modelo, abordagem e proposta

    Baseado na perspectiva de reconhecer na Pedagogia do Esporte uma nova subárea da Educação Física, o principal objetivo foi examinar o conjunto de conhecimentos teóricos e práticos que se relacionam direta e/ou indiretamente à constituição do campo. Assim, foi possível compreender a forma operante, as virtudes e as insuficiências de cada tendência sem realizar comparações diretas de suposta superioridade ou inferioridade entre elas, considerando suas generalidades e particularidades.

    Para a estruturação deste estudo consideramos os seguintes objetivos específicos: a) constituir o campo da PE; b) situar a importância do conhecimento do campo da PE; c) desmistificar e desideologizar discursos sobre o esporte situando comportamentos observáveis no ensino e na aprendizagem; d) apresentar diferentes tendências metodológicas de ensino esportivo; e) esclarecer conceitos pertinentes da área; f) destacar pontos convergentes e divergentes existentes nos enquadramentos das tendências propositivas; e, por fim, g) discutir a possibilidade de diálogo das diferentes tendências que podem ser transformadas em projeto.

    Realizamos uma revisão bibliográfica em artigos, dissertações, livros e afins com discussões recentes que tratam do ensino de esportes de acordo com as tendências da PE e/ou subjacentes à área de Educação Física.

    No que diz respeito aos procedimentos técnicos de pesquisa, foram utilizadas as reflexões de Zanten (2004) sobre pesquisa qualitativa. Ao entender a presente investigação como um trabalho cumulativo que possa generalizar resultados, estamos situados dentro de uma lógica de autenticidade e mediação, cujo objeto exige rigorosidade e saturação como atitudes/posturas proativas dos pesquisadores. Os seguintes procedimentos de pesquisa orientaram a exposição textual: coleta de dados bibliográficos; seleção, comparação e confrontação de dados; debates entre pesquisadores; observação de diferentes propostas pedagógicas. Tais atitudes compuseram formas privilegiadas de tratamento teórico-metodológico, fundamentais ao processo de construção e socialização dos conhecimentos específicos referentes ao tema em questão.

Temas, autores, idéias...

    O jogo é o ponto chave da metodologia de ensino da PE, pois é por meio da compreensão dele que o sujeito desenvolve sua capacidade tática, correlacionando sua especificidade técnica. Essa estratégia metodológica se faz pelo ensino de jogos reduzidos, brincadeiras populares em situações que caracterizam um ambiente estimulador, favorável à aprendizagem. Com base no pensamento construtivista e interacionista é possível “compreender o sujeito a partir de suas capacidades potenciais na dimensão de sua totalidade” (PAES, 2005).

    Nesta direção, Sadi (2005, p. 33) caracteriza a PE como subárea da Educação Física, tendo como metodologia seu ensino por meio de jogos, a qual torna essa subárea “herdeira e difusora de uma cultura corporal/esportiva que defende o desafio de uma Educação Física cheia de sentido”.

Figura 2. Classificação valorativa das tendências em propositiva e não propositiva

    Como ponto de partida para elaboração do gráfico (figura 2), foi realizada uma discussão sobre a dificuldade de enquadrar a maioria das tendências em propositivas e não propositivas. Assim, as tendências foram classificadas no gráfico com intuito de delinear uma aproximação entre diferentes olhares e, ao mesmo tempo, uma valoração, isto é, uma quantificação em porcentagem, para que, posteriormente, novos debates pudessem enriquecer a temática.

    Perceber a complexidade desse processo se torna importante para analisar o conjunto de autores, temas e idéias apresentados na seqüência, a fim de evitar falsas polarizações entre as tendências. Resgatamos de cada tendência, o livro que representa uma síntese do pensamento que marcou e difundiu idéias centrais orientando práticas e promovendo discussões sobre metodologias de ensino. O quadro 1, abaixo inclui referências atuais do debate acadêmico e profissional da PE. Na primeira linha encontram-se as tendências, na segunda, os livros e na terceira, os autores.

Quadro 1. Referências do debate acadêmico e profissional de maior impacto e relevância na PE e EF

Considerações finais

    A insuficiência de uma visão mais ampla sobre as teorias que envolvem a Educação Física remete a um distanciamento das tendências entre si, às vezes, isolando seus componentes internos. Esta visão ampliada permitiria o estabelecimento de um ponto de aproximação entre o discurso político-pedagógico de situação e oposição, acolhendo um diálogo capaz de abordar a temática de acordo com as características e necessidades do sujeito. Nesse sentido, não advogamos o fechamento da teoria, mas o alargamento de capacidade crítica e construtiva do professor, com intuito de que, em sua análise e atuação pedagógica, ocorra interação com o ambiente, fornecendo sentido à sua prática além de torná-la significativa e singular.

    Com tais ferramentas os profissionais poderão perceber como a PE e as diferentes tendências de ensino dos esportes podem auxiliar o processo de estruturação e constituição de uma prática pedagógica mudancista.

    Para a Educação Física, tem-se muito a contribuir na definição do papel docente frente à adoção de um caminho propositivo, procurando não estreitá-lo por meio de olhares sectários.

    Com a perspectiva de visualização das tendências, a busca por comparações ou perspectivas de superioridade entre elas é, não só insuficiente como desnecessária. Para os dias de hoje, as seleções e classificações encontram-se multifacetadas, ou seja, há várias determinações concretas e abstratas que giram em torno de eixos comuns, sendo portanto, inócuo o debate puramente ideológico.

Referências

  • BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

  • BUENO, F. S. Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD, 1996.

  • CAPARROZ, F. E.; BRACHT, V. O tempo e o lugar de uma didática da educação física. Revista Brasileira Ciências Esporte, Campinas, v. 28, n. 2, p. 21-37, jan. 2007.

  • PAES, R. R. et al. Pedagogia do Esporte: Iniciação e treinamento em basquetebol. Guanabara Koogan, 2009.

  • PAES, R. R.; BALBINO, H. F. Pedagogia do Esporte: contextos e perspectivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

  • REVERDITO, R. S., SCAGLIA, A. J. Pedagogia do Esporte: Jogos coletivos de invasão. São Paulo: Phorte Editora, 2009a.

  • REVERDITO, R. S.; SCAGLIA, A. J.; PAES, R. J. Pedagogia do esporte: panorama e análise conceitual das principais abordagens. Motriz, Rio Claro, v.15, n.3, p.600-610, jul./set. 2009b.

  • SADI, R. S. Ensino/aprendizagem de esportes coletivos a partir de um jogo de queimada. Revista Digital EF desportes, Buenos Aires, v. 13, n.119, 2008b. http://www.efdeportes.com/efd119/esportes-coletivos-a-partir-de-um-jogo-de-queimada.htm

  • SADI, R. S. Pedagogia do esporte: descobrindo novos caminhos. São Paulo: Ícone, 2010.

  • TANI, G. Abordagem Desenvolvimentista: 20 Anos Depois. R. da Educação Física/UEM, Maringá, v. 19, n. 3, p. 313-331, 3. trim. 2008.

  • TANI, G.; BENTO, J. O.; PETERSEN, R. D. S. Pedagogia do desporto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

  • TANI G. Comportamento Motor: aprendizagem e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

  • ZANTEN, A V. Pesquisa qualitativa em educação: pertinência, validez, generalização. Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. 01, p. 25-45, 2004.

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