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O futebol em Itajaí em 1919: narrativas

jornalísticas e o surgimento de um clube

El fútbol en Itajaí en 1919: narrativas periodísticas y el surgimiento de un club

 

*Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professor do curso de Educação Física da UNIVALI

**Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina

Professor do curso de Educação Física da UNIVALI

***Licenciada em Educação Física pela UNIVALI

(Brasil)

George Saliba Manske*

Julio Cesar Couto de Souza**

Lana Gomes Pereira**

Vanessa Seibt***

gsmanske@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho tem como objeto de estudo os discursos da narrativa jornalística acerca do futebol na cidade de Itajaí produzidas, especialmente, no jornal de maior circulação no ano de 1919 na referida cidade, a saber, O Commercio. A delimitação deste período se deve ao fato de ser nesse espaço de tempo que diversos clubes amadores e com finalidades diversas aglutinaram-se para o surgimento do clube de futebol em atividade mais antigo do estado de Santa Catarina, qual seja, o Clube Náutico Marcílio Dias, de Itajaí. Na esteira dessa discussão tomamos como problema de pesquisa os modos pelos quais o discurso narrativo do Jornal O Commercio (1919) produziu e colaborou com determinada identidade futebolística na cidade de Itajaí. Para a condução e desenvolvimento desse problema de pesquisa tivemos como objetivo geral nesse estudo compreender a construção de identidade futebolística itajaiense a partir das narrativas veiculados pelo jornal O Commercio no ano de 1919, data da fundação do Clube Náutico Marcílio Dias. Ao fim, compreendemos que a narrativa jornalística enquanto objeto de estudo proporciona a compreensão de inúmeros fatores vinculados as distintas sociedades, carregadas de variadas perspectivas ideológicas e permeadas por endereçamentos à camadas e sujeitos sociais. No caso desse estudo, em especial, destaca-se o uso de estrangeirismos como recurso de divulgação do futebol na cidade e o caráter de socialização que este proporcionava.

          Unitermos: Historia do futebol. Narrativas jornalísticas. Itajaí.

 

          Pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa Educação, Esporte e Sociedade do curso de Educação Física da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) com fomento do Programa de Pesquisa do artigo 170 para os pesquisadores envolvidos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Aquecimento...

    Querer compreender a construção histórica do Brasil nestes últimos séculos, sem incluir neste processo o fenômeno do futebol, é negligenciarmos a importante participação deste esporte no desenvolvimento de vários segmentos da sociedade brasileira, entre eles, as diversas cidades que compõem o país.

    O desenvolvimento econômico do Brasil, entendendo-o com a chegada das grandes indústrias estrangeiras nas mais diversas cidades de todo o país, tem como “aliado” um jogo praticado pela elite européia masculina nos mais diversos clubs espalhados pelas cidades. Jogar futebol para além do divertimento e de seu caráter lúdico constituía-se na preservação de uma cultura cuja origem enquanto esporte estava além mares.

    Estudar o futebol no Brasil é necessariamente ressignificar todo o processo de desenvolvimento das cidades brasileiras que proliferavam pelas faixas litorâneas de todo o território nacional, entre elas principalmente as cidades portuárias. Fator importante na determinação de algumas identidades culturais locais, o futebol encontra-se na construção e fundação de cada uma destas cidades.

    Em nosso cenário local (cidade de Itajaí), este processo não se encontra tão distante nem diferente do das grandes cidades brasileiras, que também se caracterizam por um porto local como porta de acesso ao desenvolvimento econômico, assim como da fundação dos clubes esportivos como espaço de diversão da elite européia. Como exemplo destas semelhanças, podemos citar os clubes náuticos fundados no final do século XIX e início do século XX em diversas cidades brasileiras e o clube Marcilio Dias (1919) em Itajaí.

    Este trabalho tem como objeto de estudo os discursos da narrativa jornalística acerca do futebol na cidade de Itajaí produzidas, especialmente, no jornal de maior circulação no ano de 1919 na referida cidade, a saber, O Commercio. A delimitação deste período se deve ao fato de ser nesse espaço de tempo que diversos clubes amadores e com finalidades diversas aglutinaram-se para o surgimento do clube de futebol em atividade mais antigo do estado de Santa Catarina, qual seja, o Clube Náutico Marcílio Dias, de Itajaí.

    Na esteira dessa discussão tomamos como problema de pesquisa os modos pelos quais o discurso narrativo do Jornal O Commercio (1919) produziu e colaborou com determinada identidade futebolística na cidade de Itajaí. Para a condução e desenvolvimento desse problema de pesquisa tivemos como objetivo geral nesse estudo compreender a construção de identidade futebolística itajaiense a partir das narrativas veiculados pelo jornal O Commercio no ano de 1919, data da fundação do Clube Náutico Marcílio Dias.

    Na condução dessas discussões foram necessários investimentos teóricos, metodológicos e analíticos para que tais objetivos fossem alcançados. Desse modo, e a fim de alcançar tais proposições, esse artigo apresenta o processo de construção de nosso objeto de estudo bem como os resultados da análise dos dados coletados, apresentando os conceitos centrais que guiaram a metodologia, discussões e reflexões empreendidas. Assim, o texto segue apresentando esses elementos.

2.     Entrando em campo...

    A história do futebol nas grandes cidades brasileiras ou nas pequenas cidades interioranas entrelaça-se com um determinado período histórico de desenvolvimento urbano no país, proliferação das indústrias e desenvolvimento econômico. Giulianotti (2002) aponta três fatores importantes para a disseminação do futebol num âmbito geral: 1) intercâmbio entre as elites locais e européias, 2) disseminação de uma prática esportiva organizada por empresas com filiais locais, e 3) a difusão dos clubs, forma de convívio social originário da mesma elite.

    Em algumas cidades do interior do país o processo da emergência do futebol também obedeceu a mesma construção exposta pelo autor acima, e destacamos as cidades portuárias no litoral brasileiro que tiveram o futebol como prática esportiva. Entre estas damos destaque para o primeiro clube e futebol no Brasil, cuja fundação data de 19 de Julho de 1900, chamado Sport Club Rio Grande, clube de uma cidade portuária do interior do Rio Grande do Sul, que de forma ininterrupta disputa o campeonato regional local por 113 anos seguidos, sem nunca ter pedido licenciamento ou afastamento temporário na federação local ou CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

    Para Souza (2001) a forma pelo qual o futebol integra-se a sociedade brasileira, principalmente enquanto esporte institucionalizado, tem a ver com o desenvolvimento do país no final do século XIX e inicio do século XX. O avanço europeu, principalmente inglês sob os países considerados periféricos, é parte do processo capitalista estendendo-se sob estes mesmos países. Neste contexto alguns fatores podem ser observados. Entre eles está a expansão das metrópoles.

    No entendimento de Sevcenko (1994), esta expansão se deu através do desenvolvimento científico tecnológico que proporcionou migrações provocadas pela “globalização” das novas tecnologias, que na busca de matéria prima e mercado, abrangem todo o planeta numa corrida imperialista.

    Estas novas tecnologias foram as responsáveis, devido a dispensa da força de trabalho global, por colocar multidões a vagar no mundo inteiro ao bel prazer do mercado capitalista: “(...) populações imensas foram deslocadas de seu habitat e posta a vagar pelo mundo ao sabor do mercado internacional da mão de obra, arrastadas pela velocidade dos novos transatlânticos no maior movimento migratório jamais registrado na história” (p.33).

    As grandes cidades foram o alvo das grandes firmas de capital estrangeiro, como também desta população à deriva, que sem emprego, para sobreviver, sem terras, e sem ferramentas, procuravam emprego nas indústrias que se expandiam nas grandes cidades. Neste quadro de mudanças, encaixa-se o futebol. Este veio inserindo-se aos poucos, desde espiar através dos muros dos clubes, onde a burguesia da época divertia-se, e o povo não entrava, até o povo começar a participar nos times até então de elite, ou das indústrias estrangeiras aqui instaladas. Conforme Filho (1947, p. 24) apud Souza (2001) “Para alguém entrar no Fluminense tinha de ser, sem sombra de dúvida, de boa família. Se não, ficava de fora, feito os moleques do Retiro da Guanabara, célebre reduto de malandros e desordeiros”.

    Para Santos (1981) O futebol vai aos poucos popularizando-se, diferente daquelas partidas realizadas nos clubes grã-finos ou nas melhores avenidas das grandes cidades. “O dribling foi popularizado para drible, e dentro do campo ninguém mais se lembraria de avisar o companheiro do adversário por perto com um man on you, bastava gritar ladrão” (p.13). Ainda, continua o autor, sumia o field, o full-back, inside-right, referee, linesman, do contexto do futebol, que permeara até alguns anos atrás“, até 1930, se um jogador se machucasse, o ofensor só pedia desculpas sinceras se fosse em inglês: I’m sorry” (Santos 1981 p. 13).

    De certa maneira na cidade de Itajaí ocorreu processo semelhante. Como poderemos ver mais adiante, a partir de nossas analises, o estrangeirismo permeou a linguagem futebolística nas narrativas jornalísticas,enfatizando de forma retórica características da identidade do povo itajaiense a partir do esporte bretão.

3.     O esquema tático (ou da metodologia de pesquisa)...

    A pesquisa realizada assenta-se no campo dos Estudos Culturais, os quais se caracterizam enquanto, como destaca Corazza (2002), “temáticos”, no qual as escolhas teórico-metodológicas são “pragmáticas, estratégicas e auto-reflexivas”, estabelecendo-se como um processo de criação na produção de conhecimento sobre algum domínio da cultura, nesse caso, a narrativa jornalística sobre futebol no jornal O Commercio da cidade de Itajaí veiculado no ano de 1919.

    Cabe ressaltar que a escolha pelo jornal e ano não se deu de forma contingencial, mas sim, foi fruto de uma série de investimentos dos pesquisadores na busca por diferentes fontes acerca do futebol em Itajaí. Ao delimitar que a fonte de pesquisa seriam os jornais de Itajaí, iniciamos um processo de leitura no Centro de documentação e Memória Histórica de Itajaí – Genésio Miranda Lins (Arquivo Público de Itajaí) a fim de delimitar o foco do material a ser analisado. As primeiras leituras foram de jornais do fim do século XIX, e por fim analisamos jornais até da década de 20 do século XX. Pelo fato de que os jornais do inicio do século XX tinham poucas ou nenhum informação sobre futebol (sem contar que nesse período houve a primeira Guerra Mundial, o que tomava conta de boa parte do jornal ao longo de anos), optamos por resgatar as narrativas jornalísticas sobre futebol no ano do surgimento do Marcílio Dias. Como só havia um jornal em circulação na época, a saber O Commercio, acabamos por delimitá-lo como material de análise. Cabe destacar que, no total, foram 26 edições analisadas.

    Destacamos que tratamos os documentos encontrados a partir dos seguintes procedimentos: coleta dos artefatos referentes ao tema, seleção do material, registro e descrição do material e análise posterior dos mesmos. No procedimento analítico utilizamos uma perspectiva lingüística com ênfase na análise discursiva, baseada, sobretudo, nos estudos de Mikhail Bakhtin (2003).

    Na seção seguinte apresentamos as analises consideradas nessa pesquisa.

4.     O jogo...

    Convidamos o leitor a realizar algumas reflexões sobre a narrativa futebolística do Jornal O Commercio de 1919 enquanto discurso com vistas a compreender o futebol como possibilidade de identidade do povo Itajaiense. Nossas aproximações analíticas recaem sobre alguns conceitos de Bakhtin (2003) bem como seus interlocutores. A complexidade deste processo de análise paira, sobretudo, em torno do que vem a ser discurso narrativo e como seus elementos se relacionam com a formação da identidade de um povo. O desafio passa a ser desvelar as formas e maneiras de como se manifesta tal fenômeno.

    Ao delimitarmos nossa pesquisa a partir da análise do discurso, estamos penetrando em território metodológico pantanoso e complexo. Quadros teóricos diversificados debruçaram-se sobre este tipo de análise, entretanto, Bakhtin pode ser considerado como o precursor das analises de discurso, considerando o texto como objeto de estudos nas ciências humanas (BARROS, 1997).

    Para o autor o discurso é o produto da interação do locutor e do ouvinte, mas locutor e ouvinte nãos são sujeitos estáticos e fixos e se inserem em situações sociais e contextos que marcam profundamente o discurso e a comunicação. O contexto agrega concepções ideológicas, valores e regras, influencia todos a partir de formas de linguagem seja falada escrita, formal ou informal. De acordo com Barros (1997) o texto como objeto das ciências humanas se caracteriza por:

  1. objeto significante ou de significação, isto é, o texto significa;

  2. produto da criação ideológica ou de uma enunciação, com tudo o que está aí subentendido:contexto histórico, social, cultural, etc. (Em outras palavras o texto não existe fora da sociedade, só existe nela e para ela e não pode ser reduzido a sua materialidade lingüística (empirismo objetivo) ou dissolvido nos estados psíquicos daqueles que produzem ou interpretam (empirismo subjetivo));

  3. dialógico: já como conseqüência das duas características anteriores o texto é, para o autor, constitutivamente dialógico; define-se pelo diálogo entre os interlocutores e pelo diálogo com outros textos;

  4. único, não reproduzível: os traços mencionados fazem do texto um objeto único, não reiterável ou repetível (BARROS, 1997, p.28,29).

    A linguagem, nesse sentido, não é falada no vazio, mas numa situação histórica e social concreta em determinado espaço tempo de enunciados intersubjetivos. A competência avaliativa e interpretativa dos sujeitos em processos interativos deixa no produto as marcas do processo de enunciação, ou seja, de acordo com (BAKHTIN-MEDVEDEV, 1978: 121), a criação ideológica não existe em nós, mas entre nós (BRAIT, 1996, p. 97).

    A linguagem funciona diferentemente para diferentes grupos, na medida em que diferentes materiais ideológicos, configurados discursivamente, participam do julgamento de uma dada situação. Heterogeneidade da linguagem: língua em sua integridade concreta e viva. Pensemos: se toda palavra segundo Bakhtin é dirigida a alguém, o que enunciamos deve caber na compreensão do outro ao qual nos dirigimos. Projetamos certo horizonte social, segundo o autor, que se inscreve na capacidade de olharmos mais longe as possibilidades de entendimento das pessoas para as quais nos dirigimos, sobre algo que falamos. O horizonte social determina a criação ideológica do grupo social e da época a qual os mesmos pertencem. Isto porque a palavra é o signo lingüístico que se encontra disponível e importante. É preciso ressaltar que o locutor não é dono da palavra, o meio social mais amplo é que vai determinar a estrutura do enunciado (BAKHTIN, 1979, p. 99).

    O Jornal O Commercio, endereçava seu enunciado1 a determinado público, seu horizonte social é marcado pela forma como é construído o discurso. Vejamos nestes trechos extraídos:

28 DE MARÇO : Com regular assistência realizou-se domingo, 26 do corrente (março), um match amistoso entre dois teams do I. F. B. Club, denominados, Branco e Azul.

O6 DE JULHO: Hoje, as 13 horas, realizar-se-á, um “match-traning” entre as “equipes” do C. N. “Marcilio Dias”, no campo provisório sito á Avenida 7 de Setembro. (...) O captain pede o comparecimento do jogadores, as 14 horas em ponto em campo, assim como convida-se as torcedoras do “Azul e Encarnado” e os admiradores do sport bretão.

27 DE JULHO Match-training Realizar-se-á, hoje as 13 horas, no campo sito á Avenida 7 de setembro, entre “equipes” “Azul e Encarnado” um “match training”. Convida-se as pessoas sympathicas ao “sport”, torcedores e torcedoras do “Rubro e Azul”. O “captain” pede o comparecimento em campo as 13 horas em ponto.

10 DE AGOSTO Si o tempo permitir realizar-se-há hoje, no campo á Avenida 7 de setembro um match de foot-ball entre os jogadores do club Marcilio Dias e praticantes do navio escola Wenceslau Braz.

17 DE AGOSTO “W. Braz” - versus - “M. Dias” Realizar-se-á hoje, ás 15 horas, no campo á rua Brusque, um grande match de Foot-Baal, entre as equipes acima.

23 DE AGOSTO Foot-ball Realizou-se terça-feira ultima no campo á rua dos Atiradores um match amistoso entre jogadores do Club Náutico “Almirante Barroso” e do Navio Escola “Wenceslau Braz” sahindo estes vencedores pelo score de 4x0.

    Todos esses enunciados revelam a necessidade de informar o público dos tempos e espaços aonde acontecerão os eventos, no caso, as partidas de foot ball. A expectativa do enunciador em formar certo público que possa apreciar o sport com todas as suas nuances, regras e valores, apresentam-se no texto objetivo, claro e direto. Nestas passagens a idéia de convite direciona-se para determinado público que segundo o horizonte social (Bakhtin, 1979) determinado pelos responsáveis pelo Jornal sabiam ler e conheciam ou reconheciam termos estrangeiros, bem vindos, diga-se de passagem, neste momento histórico.

    Entrementes, destacamos a forma de linguagem utilizada, carregada de estrangeirismos, os quais, por sua vez, acabam conformando um modo específico de ser sujeito desse contexto cultural. Assim, ao enunciar termos em inglês, na narrativa forma-se um sujeito que, para participar desse contexto, domina (ou deveria dominar) tal vocabulário. O endereçamento das narrativas se dá para um determinado publico, configurando, reforçando ou incentivando certa identidade, ou ainda, para aqueles que não pertencem a esse grupo, dominar o linguajar passa a ser uma estratégia de inserção e identificação.

    Em outras passagens o texto ou os enunciados jornalísticos revelam a necessidade de informar à determinado grupo social desta nova organização o fenômeno que se faz presente na sociedade. Assim temos:

20 DE ABRIL- CLUB NAUTICO “MARCILIO DIAS”

    Os sócios deste novo Club fundado sob os melhores auspícios, em reunião realizada em dia 13 do corrente, no Edifício do “Guarany”, elegeram a sua Directoria, Comissão Fiscal e Mesa da Assembléa Geral, para o corrente anno. Compõe a administração do Club, os srs. Carlos Seara Junior, Eleutherio Moraes e João Kersanak, respectivamente, presidente, 1 e 2 secretarios da Assemblea Geral. Marcos Konder, Felix Busso Asseburg e Bonifacio Sccmidit, Jayme Bento da Silva e Manuel Vieira Garção, membros da Comissão Fiscal. A Directoria ficou constituída dos sócios: Ignácio Mascarenhas Passos, presidente; Adolfo Germano de Andrade, vice-dito ; Bruno Malburg Junior, 1 secretario; Elisisario Pereira, 2 dito; Walter Lange, 1 thesoureiro; Victor Miranda, 2 dito; Oswaldo Reis, diretor de regatas; Gabriel Collares, diretor do Galpão e Celso Liberato, orador.

    Em reunião effectuada na sede social, no dia 15, a directoria resolveu tomar diversas medidas para a prompta solução de vários emprehendimentos.

    Percebemos após leitura atenta das notícias e narrações coletadas que o futebol se caracterizava também enquanto possibilidade de socialização entre, sobretudo neste primeiro momento, cidades e suas castas sociais. Eram verdadeiros eventos sociais que preparavam a cidade para recepções calorosas aos sport mans como eram tratados os atletas jogadores na época, longe da conotação de inimigos, estes homens e seus valores eram recebidos de forma a demonstrar que a civilidade havia chegado ao interior, ou pelo menos, ensaiava-se imitar hábitos e condutas vistas em outros lugares e que davam o exemplo de como ser e estar nesta nova sociedade exigia: refinamento, gentileza e jogo limpo. Assim estes valores importados dos ingleses eram utilizados pelas elites brasileiras e sobremaneira pelos Estados do Sul do país. Itajaí com suas origens germânicas não ficaria atrás neste processo e acolheu, segundo a narrativa jornalística relata, cordialmente, os teams e sport man de outros Estados e cidades, vejamos neste relato como aconteceu:

31 DE AGOSTO – Club Nautico Riachuelo

    Conforme noticiamos em nosso ultimo numero, chegou domingo passado a esta cidade a equipe do Club Nautico Riachuelo, de Florianopolis, que veio disputar com o Club Almirante Barroso um amistoso match de foot-ball. As seis horas da manhã, ao defrontar o paquete Max, em cujo bordo vinham os jovens sportsmen, a nossa barra, foram ahi recebidos por duas guarnições do Verde e Branco que em suas yoles os acompanharam até o porto, onde foram recebidos pela Directoria e grande numero de socios do club Almirante Barroso. Nesse mesmo dia às 9 horas da manhã, com a presença dos socios do Riachuelo recém-vindos, praticantes do navio-escola Wenceslau Braz e grande multidão, teve lugar o baptismo da 3ª yole do Amirante Baroso aqual recebeu o nome de Riachuelo, servindo de madrinha a gentil minina Julieta Brandão, dilecta filha do sr. Comandante Appolinario Brandão, que proferiu, após o acto uma bela alocução enaltecendo o nome patriótico e invencivel que acabava de dar á embarcação: Riachuelo. Lançada a nova yole ao rio fez, tripulada por uma guarnição do club visitante, diversas evoluções nas aguas do Itajahy-Assú. As 4 horas da tarde teve lugar, no campo a rua dos Atiradores, o esperado match, havendo os teams entrado em campo na seguinte ordem:

Riachuelo:

Motriz

Alves – Loureiro

Aldo – Abry – Lio

Gil – Garcia – Carreira – Octaviano – Guimarães

Almirante Barroso:

Bruno

Fritz – Tuffy

Ralf –Rodi – Laux

Gentil – Maximo – Grecco – Fontes – Pfeilsticker

    Antes de começar o jogo foi, pelo sr. Clovis de Araujjo, em nome do club Riachuelo, oferecido ao Club Almirante Baroso um bello bronze representando um foot-baller. O match foi inaugurado pela senhora Virginia Fontes. No primeiro half-time o campo foi totalmente dominado pelos jogadores do Riachuelo que conseguiram fazer 3 goals contra 0 do team local; o mesmo não se deu, entretanto no 2° half-time no qual os jogadores do Barroso dominaram o campo durante quase todo o jogo, conseguindo 2 goals contra 1 do Riachuelo, terminando o match com o seguinte resultado total: Riachuelo, 4 goals. Barroso, 2 goals. Serviu como referee, o sr. Justino Silva, que actuou com imparcialidade. Ambos os teams jogaram perfeitamente e com o maior enthusiasmo, mostrando-se perfeitos conhecedores do bello sport bretão. Após o jogo voltaram na maior intimidade para o Bar Ideal onde foi servida cerveja em profusão. A noite realizou-se na Sociedade Guarany um bem organizado chá-concerto dedicado aos gentis visitantes. Abstemi-nos de falar sobre essa agradável reunião, afirmando somente que foi uma soirée encantadora, como sóe ao Almirante Barroso fazer e que a todos muito agradou. Terminando o concerto, tiveram lugar as danças que, muito animadas, se prolongaram até madrugada. Segunda feira à tarde, após um training de remo dirigiram-se os rowes do dois clubes juntamente com as torcedoras e muitos socios para a Sociedade dos Atiradores onde após farta mesa de café e doces começaram as danças que duraram até alta noite. Terça-feira á noite os jovens do Riachuelo offereceram aos socios do Verde e Branco, no Palacio Hotel, uma soirée dansante, que esteve animadíssima. Quinta-feira de madrugada, após haverem dansado toda a noite, no Palace Hotel, regressaram os jovens sportmen, para Florianopolis, sendo o seu bota-fora concorridissimo.

13 DE JULHO

    A mocidade itajayense muito se tem dedicado ao sport depois da fundação do dois Clubs Nauticos nesta cidade. Diariamente as modernas e elegantes yoles cortam as calmas aguas do rio Itajahy, levando comsigo os jovens remadores que trabalham com afinco afim de conquistar a victoria para seus clubs, nas próximas regatas. A ‘ tarde, nos campos de foot-ball encontram-se os valentes jogadores no training, havendo ambos os clubes confiança na victoria. Falla-se na fundação de campos para tennis e outros jogos. Oxalá que este enthusiasmo não decline, antes conserve-se sempre em aumento para que possamos ter uma mocidade forte, sadia, alegre, uma mocidade emfim que veja no sport uma necessidade, um divertimento agradável e bemfazejo e não um sacrificio inútil e dispendioso.

5.     Resultado do match: considerações finais

    A narrativa jornalística enquanto objeto de estudo proporciona a compreensão de inúmeros fatores vinculados as distintas sociedades, carregadas de distintas perspectivas ideológicas e permeada por endereçamentos à camadas e sujeitos sociais. No caso desse estudo tivemos como enunciadores do futebol em Itajaí nas duas primeiras décadas o jornal O Commercio, que em suas diferentes vozes proclamava e difundia o esporte bretão.

    Dentre as estratégias utilizadas para tais difusões destacamos o papel do uso dos estrangeirismos como ferramenta de disseminação e formação de identidades específicas para a cultura futebolística da região. Assim, a linguagem utilizada não apenas reforçava o futebol para os seus adeptos de determinada classe social como também, e principalmente, iniciava aqueles que por ventura ainda não faziam parte desse universo no meio futebolístico.

    A socialização que o futebol promovia neste momento histórico revelava a importância deste fenômeno como um evento social que aglutinava grupos sociais de cidades diferentes. As cidades se preparavam para receber os sport mans, as festas e os festejos ocorriam em função destas visitas que promoviam um novo estilo de vida, que reverberavam novas formas de ser, estar e se comportar no mundo, tais como o gentleman e o fair player.

    Destacamos a importância de estudos históricos que possam contribuir para o revelamento dos subterrâneos que envolvem o processo complexo de constituição da identidade do povo de Itajaí. Demos o primeiro passe, aguardamos que outros possam recepcionar e conduzir a sua maneira o restante do certame.

Nota

  1. Enunciado refere-se ao objeto de estudo do discurso sua materialidade. (Bakhtin,1996).

Referencias

  • BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo Paulo bezerra; prefácio a Edição Francesa Tzvetan Todorow. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

  • BARROS, D.L.P. Contribuições de Bakhtin as teorias do discurso. In Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. Campinas, SP: editora UNICAMP, 1997.

  • BRAIT, B. Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. Campinas, SP: editora UNICAMP, 1997.

  • CORAZZA, S. Labirintos da pesquisa, diante dos ferrolhos. In COSTA, M. (org.). Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p. 105-131.

  • MACHADO, M.; JACKS, N. O discurso jornalístico. Mimeo. Disponível em: www.ufrgs.br/gtjornalismocompos/doc2001/machado_jacks2001.rtf Acesso em: 28/02/2013

  • SANTOS, J.R. dos – História Política do futebol brasileiro. Ed. Brasiliense, São Paulo/SP, 1981.

  • SEVCENKO, N. Futebol, metrópoles e desatinos. In Dossiê Futebol. Revista USP, no. 22. Jun-Ago, 1994.

  • SOUZA, J.C.C de – A transformação do futebol brasileiro: Avanços e recuos na sua modernização, e repercussões nas categorias de base. Dissertação de Mestrado defendida junto ao Programa de pós graduação em Educação Física da UFSC. Florianópolis 2001.

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