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Percepção das atividades instrumentais da vida diária em pessoas
com deficiência intelectual e seus responsáveis frente
ao mercado de trabalho

Percepción de las actividades instrumentales de la vida cotidiana en personas 

con discapacidad intelectual y sus responsables frente al mercado de trabajo

 

*Mestre em Promoção de Saúde UNIFRAN

**Doutorandos do Programa em Promoção de Saúde UNIFRAN

***Doutora em Educação Especial Universidade Federal de São Carlos UFSCar

Docente do Programa de Doutorado e Mestrado em Promoção de Saúde

Docente do curso de Educação Física UNIFRAN, SP

(Brasil)

Ana Caroline Fernandes Marafon*

Luciana Moreira Motta Raiz**

Daniel Gotardo de Souza**

Maria Georgina Marques Tonello***

gina@ginatonello.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A deficiência intelectual pode ser conceituada como sendo o funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos 18 anos. A capacidade funcional surge como um novo paradigma de saúde, para que a pessoa possa viver independente e com uma boa qualidade de vida. Com base nesses pressupostos estabelecemos os objetivos deste estudo, que foi o de verificar a percepção da pessoa com deficiência intelectual acerca da capacidade funcional nas Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD’s), participantes e não participantes no programa de inclusão no mercado de trabalho, pertencentes à APAE de um município de Minas Gerais. Participaram deste estudo 20 pessoas com deficiência intelectual e seus respectivos pais ou responsáveis. Dos participantes 10 incluídos no mercado de trabalho e 10 não incluídos no mercado de trabalho. Para avaliação das AIVD’s foi aplicado à escala de Lawton e Brody adaptada ao contexto brasileiro. Foi adotado o teste de t de Student proposto por Fisher para comparação de médias dos grupos pesquisados considerando o valor de p<0,05. Com relação às atividades avaliadas os sujeitos participantes do mercado de trabalho apresentaram uma melhor percepção de suas capacidades, apresentando uma diferença estatisticamente significativa quando comparados aos sujeitos não participantes no mercado de trabalho p<0,05. Ao comparamos as respostas dos participantes com a percepção de seus pais ou responsáveis não foram apresentadas diferenças estatisticamente significativa, este resultado pode demonstrar que pessoas com deficiência intelectual conseguem de fato, perceber as suas reais capacidades e habilidades, pois apresentaram percepção semelhante a dos pais e responsáveis. A partir dos resultados encontrados podemos afirmar que pessoas deficiência intelectual são capazes de aprender habilidades diversas e desenvolver suas potencialidades e que a inclusão no mercado de trabalho pode ser um importante aliado neste desenvolvimento.

          Unitermos: Deficiência intelectual. Mercado de trabalho. Inclusão.

 

Abstract

          The intellectual deficiency can be appraised as being the significantly inferior intellectual functioning to the average, with manifestation before the 18 years. The functional capacity appears as a new paradigm of health, so that the person can live independent and with a good quality of life. On the basis of this estimated we establish the objective of this study, that was to verify the not participant perception of the person with intellectual deficiency concerning the functional capacity in the Instrumental Activities of the Daily Life (AIVD's), participants and in the program of inclusion in the work market, pertaining to the APAE of a city of Minas Gerais. The study included 20 people with intellectual deficiency and its respective responsible parents had participated of this study or. Of the enclosed participants 10 in the market of work and 10 not enclosed ones in the work market. For the AIVD’s assessment was applied to Lawton and Brody scale adapted to the Brazilian context. We adopted the Student t test proposed by Fisher for comparison of averages of the groups surveyed regarding the value of p<0,05. Regarding the activities evaluated subjects participating in the labor market had a better perception of their abilities, with a statistically significant difference when compared to subjects not participating in the labor market p<0,05. When comparing participants responses to the perception of their parents or guardians were not presented statistically significant this result may show that people with intellectual disabilities can actually realize their true abilities and skills, because they showed a similar perception of parents and responsible. From the results we can say that individuals intellectual disabilities are able to learn different skills and develop their potential and that inclusion in the labor market can be an important ally in this development.

          Keywords: Intellectual deficiency. Work market. Functional capacity.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2000), o Brasil tem 24,5 milhões de pessoas com deficiência, o que equivale a 14,5% da população do país. Dessas, 48,1% foram declaradas deficientes visuais, 22,9% com deficiência motora, 16,7% com deficiência auditiva, 8,3% com deficiência intelectual e 4,1% com deficiência física. Dentre estas deficiências citadas, foi abordada neste estudo a deficiência intelectual. O Decreto nº 5296 de 2 de dezembro de 2004, estabelece em seu artigo 5º que considera como deficiência intelectual o funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos 18 anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde e segurança, habilidades acadêmicas, lazer e trabalho (BRASIL, 2004).

    A inclusão das pessoas com deficiências no mercado de trabalho propicia-os uma melhora na qualidade de vida, uma vez que, eles se sentem realizados interiormente, pelo fato de sentirem-se realizados profissionalmente, estarem sendo reconhecidos socialmente, terem mais responsabilidades, interesses e adequação das funções às próprias possibilidades, sendo que estes fatores contribuem para uma maior satisfação, assim como um salário, um ambiente físico diferente, relacionamento com novos colegas e com as chefias (ASSUMPÇÃO JÚNIOR; SPROVIERI, 2000; BECHTOLD; WEISS, 2003).

    A capacidade funcional surge como um novo paradigma de saúde, para que a pessoa possa viver independente, sendo esta a capacidade da pessoa realizar suas atividades mentais e físicas necessárias para manter suas atividades básicas e instrumentais, como: tomar banho, vestir-se, realizar higiene pessoal, manter a continência, transferir-se, preparar as refeições, alimentar-se, tomar remédios, arrumar a casa, controle financeiro, fazer compras, usar transporte coletivo, usar telefone e caminhar uma determinada distância (SOUZA; IGLESIAS, 2002).

    Observa-se que pessoas com deficiência intelectual estão sendo incluídas no mercado de trabalho (BECHTOLD; WEISS, 2003; ASSUMPÇÃO JÚNIOR; SPROVIERI, 2000). Desta forma, este trabalho abordou questões da deficiência relacionadas ao mercado de trabalho, bem como, a percepção da capacidade funcional da pessoa com deficiência intelectual nas atividades instrumentais da vida diária dos participantes ou não participantes no mercado de trabalho.

Pessoa com deficiência: aspectos relevantes

    O conceito de incapacidade tem passado por uma enorme evolução durante as últimas décadas. Atualmente, a incapacidade refere-se quase exclusivamente a um declínio funcional. A função é definida pela capacidade da pessoa viver independentemente, cuidar de seus negócios e de si própria (INZITARI; BASILE, 2003).

    Teixeira (2007), afirma que, deficiência é um termo originado do latim deficiens, de deficiere, que quer dizer “ter uma falha”. De de + facere, aquele que não consegue fazer, um corpo imperfeito, um erro da natureza.

    Apenas com a revolução burguesa, no final do século XV, e, com ela a mudança na concepção de homem e de sociedade, é que a deficiência passou a ser conceituada de uma forma mais humanitária. Nos séculos XVII e XVIII, ampliaram-se as concepções a respeito da deficiência em todas as áreas do conhecimento; mas, foi apenas no século XIX que se observou uma atitude de responsabilidade pública diante das necessidades do deficiente. O início do século XX foi marcado por reflexões, as quais atribuíam a causa de doenças também os fatores psicológicos, e assim, práticas mais atualizadas e aprofundadas surgiram a respeito da Psicologia da Saúde (TEIXEIRA, 2007).

    A deficiência intelectual é uma categoria dos diferentes tipos de deficiências existentes. Sua definição é bastante diversificada, uma vez que sofre influências do meio no qual foi estruturado, sendo, portanto, uma entidade clínica difícil de ser precisada (ASSUMPÇÃO JÚNIOR; SPROVIERI, 2000).

    O indivíduo com deficiência intelectual apresenta desenvolvimento intelectual reduzido ou incompleto, não dispondo, por conseguinte, de instrumentos necessários à boa compreensão de todas ou de parte das coisas, na doença ou no transtorno mental ele detém os instrumentos intelectuais necessários, os quais, entretanto, apresentam funcionamento comprometido (FALCONI; SILVA, 2010).

    A Associação Americana de Retardo Mental (AAMR) apresenta uma concepção funcional e multidimensional que facilita o planejamento de apoios necessários para o atendimento de pessoas com deficiência intelectual. É definida como uma “incapacidade caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo e está expresso nas habilidades práticas, sociais e conceituais, originando-se antes dos dezoito anos de idade” (PLETSCH; BRAUN, 2008).

    Sendo assim, pode-se observar que além das perturbações orgânicas, há também dificuldades na realização de simples atividades do dia-a-dia e conseqüentes alterações no relacionamento com o mundo. Logo, a deficiência intelectual não pode ser considerada uma moléstia isolada, mas um complexo de síndromes que tem como única característica em comum a insuficiência intelectual (ASSUMPÇÃO JÚNIOR; SPROVIERI, 2000).

    Diante disso, pode-se destacar que o diagnóstico da deficiência intelectual deve ser baseado em um conjunto de avaliações da pessoa, definindo as habilidades presentes e ausentes no seu repertório e, então, caracterizá-la quanto às áreas de comportamentos adaptativos que precisariam de intervenção (GOYOS; ARAÚJO, 2006).

    Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV-TRTM (2003, p. 77), as causas de ordem primária podem ser biológicas e/ou psicossociais. Os principais fatores predisponentes são: hereditariedade, alterações precoces de desenvolvimento embrionário, problemas na gravidez e perinatais, transtornos mentais, condições médicas gerais contraídas no início da infância e influências ambientais. No entanto, nenhuma dessas causas produz por si só, uma deficiência intelectual, e sim, constituem riscos, uns mais sérios outros menos, que convém evitar tanto quanto possível.

Classificação da deficiência intelectual e o mercado de trabalho

    Segundo a Associação Americana de Retardo Mental em 2002, para que um indivíduo seja considerado com deficiência intelectual, dois critérios devem ser preenchidos, sendo o primeiro a função intelectual abaixo da média e o segundo, a limitação em duas ou mais áreas de habilidades adaptativas.

    De acordo com Andrade e Morais (2006) o nível de gravidade da deficiência mental (DM) pode ser classificado com base em parâmetros de quociente de inteligência (QI), determinados por níveis: leve, moderado, severo e profundo (Quadro 1).

Quadro 1. Classificação das deficiências mentais quanto ao QI

    No entanto, é necessário que a pessoa seja avaliada a partir de testes de inteligência padronizados, administrados individualmente, de acordo com as normas culturais locais e apropriado ao nível de funcionamento do individuo e às suas condições adicionais específicas de prejuízo (DSM-IV-TR™, 2003).

    Almeida (2004) assinala que a maioria das autoridades na área de deficiência concorda que a definição e o diagnóstico não devem basear apenas em escores de QI, mas também em questões ligadas às condutas adaptativas.

    Apesar da complexidade em classificar o grau de intensidade dos deficientes intelectuais, é necessário não apenas classificar por um parâmetro, mas por uma série de avaliações da pessoa, caracterizando assim quais as áreas que necessitam de intervenção, e consequentemente qual o nível de deficiência que o individuo possui (AAMR, 2006).

    Segundo Pastore (2000), em todos os países o mercado de trabalho é mais restrito às pessoas com deficiência e as causas são múltiplas. Dentre elas cita a falta de qualificação, de esclarecimento e de estímulos que facilitem sua contratação.

    A “Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes" foi aprovada em 1975, depois de muita luta empreendida pelos movimentos sociais ligados à pessoa com deficiência. A resolução foi elaborada pela Organização das Nações Unidas - ONU, aprovada pela sua Assembléia Geral e mundialmente enfatizada em 1981 – o Ano Internacional da Pessoa Deficiente - AIPD, que teve como tema "Participação e Plena Igualdade" (FERNANDES, 2009).

    A aquisição dos direitos civis naturais, de igualdade de oportunidades para todos os cidadãos tornou-se tarefa sistemática entre órgãos internacionais como a ONU e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) (NOGUEIRA et. al, 2004). Neste contexto, pretende-se que a pessoa com deficiência, seja considerada como um cidadão comum com direitos, deveres e potencialidades, ou seja, enquanto seres humanos capazes em sua plenitude.

    No ano de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases, Lei número 9394, vigente no Brasil, ajusta-se à Legislação Federal, que aos indivíduos com necessidades especiais, deve dar-se a preferência na rede regular de ensino (BRASIL, 1996).

    Atendendo os Referenciais para a Educação Especial, fica elaborado o texto próprio para edição, em 2001, das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, em dois grandes temas: a organização dos sistemas de ensino para o atendimento ao aluno que apresenta necessidades educacionais especiais e a formação do professor (BRASIL, 2001).

    Apesar do direito ao trabalho já estar assegurado por lei, na prática a jornada é longa, pois existem fatores que devem ser analisados antes de se pensar em uma inserção efetiva e eficiente no mercado de trabalho (TANAKA; MANZINI, 2005).

    Tanaka e Manzini (2005) expõem que a maior dificuldade encontrada atualmente é a escassa literatura científica brasileira que visa a conhecer o trabalho da pessoa com deficiência sob a ótica dos empregadores.

    As pessoas com deficiência intelectual demoram a adquirir autonomia nas habilidades diárias, como abotoar roupa, amarrar sapato, ir ao banheiro, guardar brinquedos além de apresentarem mais dificuldade em permanecer numa mesma atividade escolar pelo mesmo tempo que seus colegas. Para tanto necessitam de um currículo mais apropriado às suas habilidades e possibilidades (CABANAS 2005).

    Diante disso, percebe-se a importância de melhorar a capacidade funcional da pessoa com deficiência intelectual facilitando a sua inclusão no mercado de trabalho e indiretamente promovendo saúde.

    Assim, o presente estudo tem como objetivo avaliar a independência de deficientes intelectuais na comunidade através da escala de Lawton e Brody e a inserção deles no mercado de trabalho.

Metodologia

Sujeitos

    Trata-se de um estudo descritivo, com alunos com diagnóstico clínico de deficiência intelectual leve ou moderada e seus respectivos pais e ou responsáveis, realizado na APAE de Patos de Minas – MG. O projeto de pesquisa foi aprovado nos termos da Resolução 196/96 do CNS (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE) pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Franca pela referência 0054/11.

    Foram analisados 60 prontuários da APAE de Patos de Minas através do arquivo da secretaria da escola. Os critérios de inclusão para o estudo foram o diagnóstico clínico de deficiência intelectual leve ou moderada, idade entre 17 a 41 anos e fisicamente independentes. Foram excluídos aqueles alunos com deficiência intelectual severa e ou fisicamente dependentes, ou seja, alunos com deficiência múltipla e não somente intelectual.

    Um total de 20 alunos com diagnóstico clínico de deficiência intelectual, dentro dos critérios descritos acima foram selecionados, sendo que 10 estavam incluídos no mercado de trabalho e 10 não estavam incluídos no mercado de trabalho, além de 20 pais e ou responsáveis para a realização deste estudo. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Procedimentos

    A escala de Lawton e Brody: Os participantes desse estudo (alunos, pais ou responsáveis) responderam a escala de Lawton e Brody adaptada ao contexto brasileiro. A escala avalia tarefas adaptativas ou necessárias para vida independente na comunidade, como, por exemplo, fazer compras, telefonar, utilizar o transporte, realizar tarefas domésticas, preparar uma refeição, cuidar do próprio dinheiro. Essas tarefas são consideradas mais difíceis e complexas do que as AVD’s (SANTOS; VIRTUOSO JÚNIOR, 2008).

    A referida adaptação da escala obteve validade concorrente utilizando o índice de correlação de Spearman na comparação das medidas auto-reportadas com as obtidas pelos testes motores com nível de significância de 5% com intervalo de confiança de 95%. Quanto à estabilidade das medidas, foram classificadas como concordância quase perfeita, tanto na reprodutibilidade (Ricc=0,89) como na objetividade (Ricc =0,80) (SANTOS; VIRTUOSO JÚNIOR, 2008).

    Os participantes responderam a escala com três alternativas de resposta e de acordo com a resposta ele recebeu 3, 2 ou 1 ponto. O escore das AIVD’s variou entre 7 e 21 pontos, indicando 0, o menor nível de dependência até a independência total.

Análise estatística

    Para as análises estatísticas descritivas (média, desvio padrão) e freqüência foi utilizado o software SPSS 19.0. Foi adotado o teste de t de Student proposto por Fisher para comparação de médias dos grupos pesquisados considerando que o valor de p<0,05 era significativo, ou seja, estatisticamente diferente.

Resultados e discussão

    Os alunos participantes ou não no mercado de trabalho foram caracterizados quanto ao sexo, grau de deficiência intelectual, renda familiar e admissão na Instituição APAE de Patos de Minas. Observou-se a prevalência do sexo masculino, grau da perda intelectual moderada e apenas 10% apresentam renda familiar acima de 3 salários.

    Sobre as características gerais dos 20 alunos participantes deste estudo, 65% deles, ou seja, 13 alunos são do sexo masculino, sendo que 20% do total de alunos apresentavam deficiência intelectual de grau leve e 80% de grau moderado.

    Em relação à renda familiar, 8 deles, o que equivale a 30% do total, ganhavam entre 1 e 2 salários mínimos, 10 deles, ou seja, 50% ganhava de 2 a 4 salários mínimos e apenas 2 deles (10% do total de participantes) ganhavam acima de 3 salários mínimos.

    Eram alunos admitidos na APAE há pelo menos 10 anos (4=20%), entre 10 e 20 anos (12=60%) e apenas (4=20%) foram admitidos a mais de 20 anos.

    No que tange à idade dos alunos deficientes intelectuais, verificou-se que a idade média foi de 26 ± 6 anos, sendo o mais velho com 41 anos e o mais novo 17 anos. Em relação à idade que ingressaram na APAE a média foi 9 ± 7 anos e todos permanecem até os dias atuais o que demonstra que mesmo os alunos participantes no mercado de trabalho ainda recebem da instituição o acompanhamento e suporte nas áreas que necessitam.

    Conforme aponta Carvalho e Maciel (2003), os diversos tipos de suporte que podem ser oferecidos às pessoas com deficiência intelectual pelas instituições e empresas são fundamentais para propiciar o aprendizado das habilidades nos locais de trabalho, a credibilidade nas competências destas pessoas e o processo de inclusão no mercado.

    Deste modo é fundamental que as empresas encarem a inclusão de pessoas com deficiência no contexto do trabalho como uma base para mudanças de atitudes, considerando as diferenças e as singularidades dos indivíduos (ROSS, 2006; TOLDRÁ, 2008).

    Verificou-se que 70% dos alunos participantes do mercado de trabalho utilizam transporte coletivo. Nota-se uma maior dependência entre os alunos não participantes no mercado de trabalho, onde 30% utilizam transporte particular acompanhado do responsável e 40% utilizam o transporte da APAE.

    Em relação ao perfil dos responsáveis pelos alunos da amostra, de todos os 19 participantes deste projeto, 16 deles, ou seja, 80% eram do sexo feminino. Apenas 1 (5%) da amostra era analfabeto. Com ensino fundamental incompleto participaram 8 parentes (42%). Com ensino fundamental completo havia 5 (26%). Três deles possuíam o segundo grau completo (18%) e apenas 2 (9%) tinham o terceiro grau. Os parentes variavam entre 14 mães (70%), 3 pais (30%), 1 sogro (5%), 1 prima (5%) e 1 irmã (5%). A idade média dos responsáveis pelos alunos era de 52,8 ± 8,3.

    Segundo Zamberlan e Biasoli-Alves (1996) são muitas as variáveis que afetam o desenvolvimento da criança, fatores como renda familiar, grau de instrução dos pais e profissão, qualidade das interações e relações entre os membros familiares e pessoas próximas, associam-se na promoção de um desenvolvimento adequado e saudável da criança. A maioria dos participantes deste estudo (70%) se enquadram na classe C, onde a média da renda familiar é maior que 2 salários e menor que 8 salários, de acordo com Coutto, 2011, e os pais ou responsáveis apresentam bom nível de escolaridade.

    Entre os participantes no mercado de trabalho nota-se prevalência do sexo masculino 70%, e que 40% dos alunos participantes no mercado de trabalho apresentam grau leve de deficiência intelectual. As atividades profissionais desenvolvida pelos alunos participantes no mercado de trabalho incluem: serviços gerais, auxiliar de produção, monitor, balconista, guia da equoterapia, repositor de mercadorias, auxiliar de dentista na escovação dentária. Nota-se que 50% têm menos de 2 anos de atuação profissional.

    Apesar de nos últimos anos ter ocorrido um pequeno crescimento de oportunidade de trabalho para pessoas com deficiência no Brasil, constata-se que as pessoas com deficiência intelectual são menos favorecidas do que as pessoas com outras deficiências (BEZERRA, 2010).

    A análise das respostas dos alunos participantes ou não no mercado de trabalho em relação à capacidade funcional na realização das AIVD’s neste estudo demonstrou uma diferença estatisticamente significativa para os alunos participantes no mercado de trabalho (15,3 ± 1,06*) que possuem melhor desempenho nas atividades instrumentais de vida diária quando comparados aos não participantes (10 ± 2,6).

    O mesmo ocorreu no estudo de Perneczky et al., (2006) onde encontraram prejuízos funcionais em 14 das 18 atividades instrumentais de vida diária avaliadas em idosos com prejuízo cognitivo comparados com outros sem prejuízo cognitivo de idade comparável. As atividades que envolviam memória ou raciocínio complexo foram as mais prejudicadas.

    Nunes et al. (2009), aponta que a redução da capacidade funcional está relacionada à interação de fatores multidimensionais, os quais incluem questões relacionadas à saúde física e mental, aspectos comportamentais e determinantes sociais de saúde, a saber: renda, escolaridade, ocupação, estar ativo no mercado de trabalho, entre outros.

    Goyos e Melleti (1998) descreveram que a literatura vem apontando a necessidade de preparar o indivíduo com deficiência intelectual para sua inserção no mercado de trabalho, além disso, relataram que o trabalho possivelmente implicará no reconhecimento das potencialidades e competências dessas pessoas.

    Ao comparamos as respostas dos alunos participantes com a percepção de seus pais ou responsáveis não foi observado diferença significativa nas respostas. O mesmo foi observado ao compararmos as respostas dos alunos não participantes no mercado de trabalho com a percepção de seus pais ou responsáveis, ou seja, não foi observada diferença significativa nas respostas. Isso demonstra que a percepção dos pais ou responsáveis quanto à capacidade funcional é semelhante a do aluno com deficiência intelectual. Isto significa que os alunos com deficiência intelectual conseguiram entender as perguntas do questionário respondendo sem diferença significativa dos seus pais ou responsáveis. Verificaram-se em nosso estudo que 70% dos pais ou responsáveis que responderam ao questionário foram as mães.

    A leitura contextualizada e direcionada acerca da representação social aponta principalmente para as formas desiguais nas relações de gênero existentes na sociedade, dando vistas à condição e ao papel social da mulher/mãe e, em especial, quando mãe de filhos com deficiência (WELTER et al., 2008).

    No trabalho de Martinelli (2006) que ao analisar a parte social de adultos com deficiência intelectual quanto a locais e atividades de lazer bem como a compreensão da família neste processo, verificou dificuldades das famílias em perceber suas capacidades, justificada na superproteção que constitui uma das barreiras que impedem a inclusão social das pessoas com deficiência intelectual.

    Queiroz (2011) observou em sua pesquisa que o maior número de funções oferecidas para o deficiente foi os serviços gerais, sejam eles limpeza ou manutenção e para os deficientes intelectuais as funções de estoquista e repositor.

    O processo de profissionalismo deveria compor uma das etapas do processo educacional do aluno com deficiência e ter como meta final a aprendizagem de um ofício e sua possível inserção social no trabalho. Para tanto é importante desenvolver a aprendizagem para o trabalho através das oficinas pedagógicas possibilitando a aquisição de hábitos e atitudes adequadas como: motivação para o trabalho, pontualidade, persistência, entre outras (CAMPOS, 2006).

    Neste estudo não houve predomínio de uma atividade profissional exercida pelos deficientes intelectuais.

Conclusão

    É importante dar ênfase as competências práticas e funcionais para serem atingidas em situações concretas da vida diária visando maior independência pessoal, social, desenvolvimento dos aspectos sócios cognitivos e de autonomia da pessoa com deficiência intelectual.

    Embora a lei de cota garanta a possibilidade de inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, na maioria das vezes, essas vagas são ocupadas por pessoas com deficiência física, uma vez que os empregadores têm dificuldades e se sentem despreparados para desenvolver o potencial da pessoa com deficiência intelectual, tornando-se um desafio a ser enfrentado pela sociedade.

    Pessoas com deficiência intelectual são capazes de aprender habilidades diversas e desenvolver suas potencialidades e a inclusão no mercado de trabalho pode ser um importante aliado neste desenvolvimento.

Referencias bibliográficas

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