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Treinamento intervalado de alta intensidade ≥ 90% 

do VO2max: adaptações fisiológicas e bioquímicas

El entrenamiento intervalado de alta intensidad ≥ 90% do VO2max: adaptaciones fisiológicas y bioquímicas

 

*Doctorando en Ciencias de la actividad física y deporte

Universidad de León, España

**Especialista em Treinamento Desportivo

Doctorando en Ciencias de la actividad física y deporte

Universidad de León, España

Luciano Bucco dos Santos*

lucbucco@yahoo.com.br

Rodrigo do Santos Guimarães**

rodrigo_santosg@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Atletas de elite e amadores apreciam há bastante tempo o papel do treinamento intervalado (TI) como parte de seu programa de treinamento. Estudos recentes mostram que no caso de indivíduos saudáveis de condição física média a ótima o treinamento intervalado intenso é uma estratégia efetiva para estimular adaptações no músculo esquelético similares àquelas alcançadas com o treinamento de endurance tradicional. Estudos comprovam que apenas seis sessões de treinamento intervalado durante duas semanas ou um total de aproximadamente 15 minutos de exercício muito intenso podem aumentar a capacidade oxidativa do músculo e incrementar o desempenho durante atividades que dependam principalmente do metabolismo aeróbico. No entanto, ainda persistem interrogações básicas com relação ao volume mínimo de exercício necessário para aumentar o bem estar fisiológico de vários grupos da população. Este artigo faz um resumo das adaptações dos músculos esqueléticos ao treinamento intervalado e destaca trabalhos recentes que dão novas perspectivas ao potencial deste tipo de treino bem como o volume apropriado de treinamento.

          Unitermos: Treinamento intervalado. Exercício. Adaptações musculares.

 

Abstract

          Elite athletes and amateurs enjoy for a long time the role of interval training as part of their training program. Recent studies show that in the case of healthy physical condition of the average optimal interval training is an effective strategy to stimulate adaptations in skeletal muscle similar to those achieved with traditional endurance training. Studies show that only six sessions of interval training for two weeks or a total of about 15 minutes of very intense exercise can increase muscle oxidative capacity and boost performance during activities that depend mainly of aerobic metabolism. However, there are still basic questions about the minimum amount of exercise needed to increase the physiological well-being of various groups of the population. This article is a summary of skeletal muscle adaptations to interval training and highlights recent studies that provide new perspectives to the potential of this type of training and the appropriate volume of training.

          Keywords: Interval training. Exercise. Muscle adaptations.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O treinamento regular de endurance melhora o desempenho durante tarefas que dependem fundamentalmente do metabolismo energético aeróbico, em grande parte devido ao aumento da habilidade do corpo de transportar e utilizar oxigênio e também devido à alteração do metabolismo dos substratos nos músculos esqueléticos quando exercitados (SALTIN e GOLLNICK, 1983).

    O treinamento intervalado de alta intensidade, em geral se refere a sessões repetidas de exercício relativamente breve e intermitente, normalmente realizado com esforço total ou com uma intensidade próxima à que provoca o VO2max (SANTOS e PALÁCIO, 2012; BURGOMASTER et al. 2005), por exemplo, 90% do VO2max (figura 4). Dependendo da intensidade do treino, um esforço pode durar de poucos segundos até vários minutos, seguidos de alguns minutos de descanso ou de exercício de baixa intensidade. Este método de treinamento é geralmente aplicado em atividades como o ciclismo e a corrida, sem induzir uma hipertrofia significativa das fibras (ROSS e LEVERITT, 2001). Uma prova comum de (TI) é o modelo usado em estudos recentes de Burgomaster et al. (2005, 2006 e 2007) Gibala et al. (2006) é o teste de Wingate, que inclui 30 segundos de pedalada máxima sobre um ergômetro especial contra uma força de freio potente. A atividade é bastante pesada, promovendo uma queda no desempenho entre 25 e 50% no decorrer do teste, à medida que o sujeito vai ficando cansado. Outra estratégia usual do (TI) são as sessões de treino que requerem esforços repetidos de duração fixa com uma carga relativamente constante (TALANIAN et al. 2007), muitos estudos, têm demonstrado (GIBALA et al. 2006; KUBUKELI et al. 2002) que a prática deste tipo de treinamento, durante várias semanas melhora os marcadores do metabolismo de energia aeróbica, tais como a capacidade aeróbica máxima e as atividades máximas de enzimas mitocondriais (MACDOUGALL et al. 1998). Em dados recentes, Laursen e Jenkins (2002) sugerem que o treinamento intervalado de curta duração é uma estratégia potente e eficaz em matéria de tempo capaz de induzir adaptações metabólicas rápidas semelhantes às mudanças geralmente associadas ao treinamento de endurance tradicional. De acordo com Laursen e Jenkins (2002) somente seis sessões de treino intervalado durante duas semanas, ou um total de apenas aproximadamente 15 minutos de exercício muito intenso, podem aumentar a capacidade oxidativa do músculo esquelético e melhorar o desempenho durante tarefas que dependem fundamentalmente do metabolismo energético aeróbico. Pesquisas recentes sugerem que muitas adaptações normalmente atribuídas ao alto volume do treinamento tradicional de endurance podem ser induzidas mais rapidamente do que até então se supunha com um volume surpreendentemente pequeno de treinos intervalados. Segundo Kubekeli et al. (2002), Laursen e Jenkins (2002) e Ross e Leveritt (2001), o treinamento com exercícios do tipo sprint de alta intensidade têm menos efeito sobre a provisão de energia oxidativa e a capacidade de endurance. Entretanto, os estudos de Ross e Leveritt (2001) tem demonstrado que o treinamento intervalado de alta intensidade realizado com um volume suficiente, pelo menos, durante várias semanas, aumenta o consumo máximo de oxigênio (VO2max) e as atividades máximas das enzimas mitocondriais no músculo esquelético (TALANIAN et al. 2007; WARBURTON et al. 2005). Este artigo faz um pequeno resumo das adaptações dos músculos esqueléticos ao treinamento intervalado e destaca trabalhos recentes que dão novas perspectivas ao potencial deste tipo de treino.

Adaptações do músculo esquelético ao treinamento intervalado

    Assim como nos treinamentos tradicionais de endurance ou de força, as respostas adaptativas do músculo esquelético ao (TI) são altamente dependentes da natureza precisa do estímulo do treinamento (TALANIAN et al. 2007), ou seja, a freqüência, a intensidade e o volume de trabalho realizado (SANTOS e PALACIO, 2012). No entanto ao contrário das outras duas formas de exercício que se baseiam fundamentalmente na fonte de energia oxidativa (endurance) ou não-oxidativa (força) para a provisão de ATP, a bioenergética do exercício de alta intensidade pode diferir significativamente em função da duração e da intensidade de cada intervalo, do número de intervalos realizados e da duração da recuperação entre esforços (ROSS e LEVERITT, 2001). Por exemplo, durante um esforço máximo de pedalagem de 30 segundos, aproximadamente 20% do total de energia provém do metabolismo oxidativo (PAROLIN et al. 1999). No entanto, se o exercício é repetido três vezes com 4 minutos de recuperação entre cada período, o suprimento de ATP durante a terceira série de exercício provém basicamente do metabolismo oxidativo (PAROLIN et al. 1999). O aumento da contribuição do metabolismo oxidativo durante esforços repetidos de alta intensidade se deve tanto ao aumento da taxa de transporte de oxigênio e de sua utilização, como à redução da capacidade de estimular a produção de ATP por meio da quebra de fosfocreatina e de glicogênio (PAROLIN et al. 1999). O exercício intermitente de alta intensidade é, portanto, único já que a energia celular durante a atividade aguda ou uma determinada sessão de treinamento pode originar-se, principalmente, do metabolismo oxidativo, ou do não-oxidativo. Por conseguinte, pode produzir uma vasta gama de adaptações fisiológicas (Kubekeli et al. 2002; Laursen e Jenkins, 2002; Ross e Leveritt, 2001). A melhora do desempenho nos sprints ou nos exercícios de alta intensidade depois de sessões de treinamento intervalado está relacionada em parte com o incremento da atividade máxima de várias enzimas que regulam a provisão de energia não-oxidativa (Juel et al, 2006; Kubukeli et al. 2002; Ross e Leveritt, 2001). No que se refere à composição da fibra muscular, vários estudos demonstraram transformações das fibras do tipo I e do tipo IIx em fibras do tipo IIa, a exemplo da tendência geral observada após exercícios de força e de endurance. No entanto este não é um achado universal (Kubukeli et al. 2002; Ross e Leveritt, 2001). O treinamento intervalado não tem efeito considerável sobre o tamanho do músculo, sobretudo em comparação com o treinamento pesado de força, embora possa ocorrer uma modesta, porém significativa, hipertrofia tanto das fibras do tipo I como do tipo II após vários meses de treinamento (Ross e Leveritt, 2001).

    Há muito tempo já se sabe que o treinamento intervalado também tem o potencial de aumentar a capacidade oxidativa e melhorar o desempenho em exercícios durante atividades que dependem primordialmente do metabolismo energético aeróbico (Saltin e Gollnick, 1983). Nesse sentido, MacDougall et al. (1998) relataram um incremento do VO2max e um aumento da atividade máxima de várias enzimas mitocondriais após um protocolo de treinamento intervalado baseado no teste de Wingate, no qual os sujeitos realizaram de 4 a 10 intervalos por dia, três vezes por semana durante sete semanas. No entanto, até bem recentemente não se sabia muito sobre a duração e o volume mínimo de treinamento necessário para produzir tais adaptações, tampouco sobre o efeito do treinamento intervalado no controle metabólico durante exercícios fundamentalmente aeróbicos. Para esclarecer essa questão, realizamos uma série de revisões que examinaram as adaptações rápidas do metabolismo de energia oxidativa e a capacidade de exercício após um treinamento intervalado de curta duração. O protocolo de treinamento intervalado padrão foi aplicado em sujeitos que repetiram o teste de Wingate de quatro a seis vezes, intercaladas por 4 minutos de recuperação, para um total de somente 2 a 3 minutos de exercício bem intenso durante cada sessão, com três séries de treinamento por semana durante duas semanas. A característica mais singular nos estudos foi, a utilização de um volume de treinamento consideravelmente baixo, equivalente a apenas aproximadamente 15 minutos de exercício muito intenso, de trabalho total. Todos os estudos foram realizados em indivíduos saudáveis, de ambos os sexos e de nível universitário, que eram habitualmente ativos, mas que não participavam de qualquer tipo de programa de treinamento estruturado (Burgomaster et al. 2005; 2006; 2007; Gibala et al. 2006) .

    Os resultados apontaram consistentemente um aumento da capacidade oxidativa do músculo avaliada com base na atividade máxima ou no conteúdo de proteínas das enzimas mitocondriais, tais como a citrato, sintetase e a citocromo oxidase, que variam entre 15 e 35% depois de seis sessões de treinamento intervalado durante duas semanas (Burgomaster et al. 2005, 2006, 2007). Poucos estudos compararam diretamente as mudanças na capacidade oxidativa do músculo em humanos depois do treinamento intervalado com as que ocorrem no treinamento contínuo. Além disso, todos os estudos que confrontaram a capacidade oxidativa do músculo depois do treinamento intervalado com a do treinamento contínuo utilizaram um esquema de trabalho pareado, em que o trabalho total foi idêntico para ambos os grupos de exercício. Recentemente, Burgomaster et al. (2007) realizaram um estudo com uma comparação direta entre as mudanças na capacidade oxidativa do músculo e no desempenho após um treinamento de sprint de baixo volume e um treinamento de endurance tradicional de alto volume. O protocolo de sprint se baseou em outro estudo de Burgomaster et al. (2005, 2006) que consistia em seis sessões de pedalagem breves 30s com esforço total, intercaladas com períodos curtos de recuperação, durante 14 dias. O protocolo de endurance consistia em seis sessões de 90 a 120 minutos de pedalagem com intensidade moderada, com 1 ou 2 dias de recuperação entre cada sessão de treinamento. Os sujeitos de ambos os grupos realizaram o mesmo número de sessões de treinamento nos mesmos dias e com dias similares de recuperação; porém, o volume total de trabalho realizado foi de 2,5 h e 10,5 h para os grupos de sprint e de endurance, respectivamente, o que correspondeu a uma diferença de 90% no volume de treinamento. Os dois protocolos de treinamento induziam de forma notável adaptações similares no desempenho e na capacidade oxidativa do músculo, (Figura 1).

Figura 1. Atividade máxima da enzima citocromo c oxidase, medida em biópsia do músculo esquelético humano em repouso, obtidas antes (PRE) e depois (POST) de seis sessões de treinamento intervalado de alta intensidade ou treinamento contínuo de intensidade moderada durante duas semanas. O tempo total de treinamento foi de, aproximadamente, 2,5 horas e 10,5 horas para os grupos de sprint e de endurance, respectivamente. O volume total de exercício foi, aproximadamente, 90% mais baixo para o grupo de T. Valores são médias ± erro padrão para 8 sujeitos de cada grupo. *P<0.05 versus PRE (efeito principal de tempo). Gibala et al. (2006). Adaptado Santos e Guimarães (2012).

Figura 2. Conteúdo de glicogênio medido em biópsia do músculo esquelético humano em repouso e após 20 minutos de exercício de trabalho pareado, antes (PRE) e depois (POST) de duas semanas (POST) de treinamento intervalado de alta intensidade. O exercício consistiu em 10 minutos a 60% de VO2max seguidos de 10 minutos a 90% de VO2max com a mesma carga absoluta antes e depois do treinamento. Valores são médias ± erro padrão, n=8. *Efeito principal de teste (pós-treinamento > pré-treinamento, P<0,05). A glicogenólise muscular durante a sessão de exercício também foi mais baixa (P<0,05). Burgomaster et al. (2006). Adaptado Santos e Guimarães (2012).

    Além do aumento da capacidade oxidativa do músculo esquelético após duas semanas de treinamento intervalado foi detectado mudanças no metabolismo dos carboidratos, que estão geralmente relacionados com os treinamentos de endurance tradicional, incluindo aumento do conteúdo de glicogênio em repouso, redução da taxa de uso de glicogênio durante exercícios (Figura 2), assim como aumento do conteúdo total da proteína GLUT-4 no músculo (Burgomaster et al, 2006; 2007). Entretanto após curta intervenção baseada no teste de Wingate, não foi encontrado mudanças em marcadores selecionados do metabolismo dos ácidos graxos, incluindo a atividade máxima da ß-hidroxiacil-CoA desidrogenase (HAD) e o conteúdo muscular, proteína relacionada com a união de ácidos graxos com as membranas plasmáticas (Burgomaster et al. 2006, 2007). Em contrapartida, Talanian et al. (2007) referiram recentemente que sete sessões de treinamento intervalado durante duas semanas aumentavam a capacidade máxima da HAD, o conteúdo de FABPpm no músculo e a oxidação corporal total de gordura durante 60 minutos de pedalagem a 65% do VO2max estimado antes do treinamento. Uma das principais diferenças entre os estudos recentes Burgomaster et al. (2006; 2007) Gibala et al. 2006) e o trabalho de Talanian et al. (2007) foi a natureza do estímulo do treinamento. Os sujeitos não realizaram sprints com esforço máximo de velocidade no estudo de Talanian et al. (2007); no entanto, toda sessão de treinamento consistia em dez séries de 4 minutos de pedalagem a 90% do VO2max com 2 minutos de descanso entre os intervalos. O tempo total de treinamento (5 h) no período de duas semanas foram substancialmente maiores do que os observados em estudos recentes, em que utilizamos treinamentos baseados no teste de Wingate (Burgomaster et al. 2006, 2007).

    Quando se trata de determinar quais sinais moleculares se desenvolvem para produzir as adaptações no músculo, normalmente se classifica o exercício como sendo de “força” ou de “endurance” Saltin e Gollnick (1983), Hawley et al. (2006). O trabalho de curta duração e alta intensidade é em geral relacionado com o aumento da massa muscular esquelética, já o trabalho de intensidade baixa a moderada costuma ser associado com um aumento da massa mitocondrial e da atividade das enzimas oxidativa (Baar, 2006). Sabe-se relativamente pouco sobre os sinais intracelulares que medeiam o remodelamento do músculo esquelético em resposta ao treinamento intervalado, o qual, diferentemente do treinamento de força tradicional, não se caracteriza por uma marcada hipertrofia muscular (Ross e Leveritt, 2001). Ao contrário, dadas as rápidas mudanças na capacidade oxidativa mitocondrial resultantes do treinamento intervalado, parece provável que as adaptações metabólicas a esse tipo de exercício podem ser mediadas, em parte, pela ativação das vias normalmente relacionadas com o treinamento de endurance. Segundo Warburton et al. (2005) contrações induzem alterações metabólicas que ativam vários sistemas de enzimas que participam das vias dos ativadores moleculares específicos envolvidos no metabolismo e na produção mitocondriais. Fazem-se necessárias pesquisas adicionais para um melhor entendimento dos efeitos de diferentes “impulsos” de exercício agudo sobre a ocorrência de sinais moleculares no músculo esquelético humano, o momento exato em que acontecem e os mecanismos responsáveis pelas adaptações induzidas pelo treinamento intervalado. 

O treinamento intervalado de curta duração ≥ 90% do VO2max melhora rapidamente a capacidade de exercício

    De um ponto de vista prático, um dos achados mais surpreendentes recentes foi o aumento drástico no rendimento durante atividades que dependem fundamentalmente do metabolismo energético aeróbico, apesar de um volume de treinamento muito baixo (Burgomaster et al. 2005, 2006, 2007, Gibala et al. 2006). Em estudo realizado por (Burgomaster et al. 2005), os sujeitos duplicaram o tempo que podiam manter o exercício a uma carga submáxima determinada de 26 minutos a 51 minutos durante o pedalagem a 80% do VO2max pré-treinamento depois de apenas seis sessões de treinamento intervalado (Figura 3). A validade desse achado foi corroborada pelo fato de que o grupo controle sem intervenção de treinamento não apresentou mudanças quanto ao seu desempenho quando da avaliação duas semanas depois. Trabalhos posteriores confirmaram que duas semanas de treinamento intervalado melhoravam o desempenho durante atividades mais semelhantes a uma competência desportiva usual, incluindo provas contra o relógio no laboratório que simulavam corridas ciclísticas com duração de 2 minutos a 1 hora (Burgomaster et al, 2006, 2007; Gibala et al. 2006).

    Os fatores responsáveis pelas melhorias induzidas pelo treinamento na capacidade de exercício são complexos e estão determinados por numerosos atributos fisiológicos e psicológicos: cardiovasculares, iônicos, metabólicos, neurais, respiratório, humor, motivação e percepção do esforço. Nesta revisão não encontramos mudanças mensuráveis no VO2max após duas semanas de treinamento intervalado baseado no teste de Wingate (Burgomaster et al. 2005; 2006; 2007; Gibala et al. 2006). Outros pesquisadores encontraram um incremento no VO2max após somente duas semanas de treinamento intervalado Rodas et al. (2000) Talanian et al. (2007), mas a capacidade total de trabalho realizado nesses estudos foi consideravelmente maior que as encontradas por (Burgomaster et al. 2005; 2006; 2007; Gibala et al. 2006), (figura 4) mostra a dinâmica de treinamento intervalado de ciclismo.

Figura 3. Tempo de pedalagem até esgotamento a 80% do VO2max medido antes do treinamento (PRE) e depois (POST) de seis sessões de 

treinamento intervalado de alta intensidade, durante duas semanas ou um período equivalente sem treinamento (controle; CON). Para cada grupo foram traçados valores

 individuais (linhas verdes) e médias (X ± erro padrão) de 8 sujeitos. *P<0.05 versus PRE na mesma condição Burgomaster et al. (2005) Adaptado Santos e Guimarães (2012).

 

Figura 4. O gráfico acima mostra a dinâmica de um treinamento intervalado de ciclismo, o ciclista executou 10 repetições de 5 minutos cada com intervalos

 de 2 minutos de descanso ativo. Os picos mais altos em vermelho correspondem o pico máximo atingido da freqüência cardíaca (188 bpm) logo após um descanso onde os batimentos

 diminuem para (135bpm). A velocidade está expressa pelas linhas azuis sendo que, a relação freqüência cardíaca e velocidade ficou respectivamente (188 bpm, 53,7 km/h) fase pico intervalado, 

(135 bpm, 31 km/h) fase descanso ativo. Fonte BUCCORE Assessoria Esportiva de Luciano Bucco, Cruz Alta, Rio Grande do Sul, Brasil. Aparelho utilizado no monitoramento modelo Polar RS 400 sd

Quantidade de treinamento intervalado suficiente “Volume”?

    Embora haja um consenso em relação à importância da atividade física, a dose mínima necessária para melhorar o estado de saúde ainda não está bem-definida (Blair et al. 2004). As instituições de saúde pública geralmente recomendam entre 30 a 60 minutos de exercício de intensidade moderada durante a maioria dos dias da semana. No entanto, apesar das numerosas evidências científicas de que a atividade física é efetiva na prevenção das enfermidades crônicas e da morte prematura, a maior parte dos adultos sequer consegue pôr em prática as recomendações mínimas de atividade física. Inúmeros estudos têm demonstrado que a razão mais citada para justificar a não realização de exercícios é a “falta de tempo” (Godin et al. 1994). Esse achado é universal; independentemente da idade, raça, sexo ou estado de saúde, as pessoas citam a falta de tempo como a primeira razão de seu fracasso em exercitar-se de maneira regular. Visto que a indisponibilidade de tempo é uma barreira tão corriqueira para a realização de exercícios, as inovações na prescrição de atividades que produzam benefícios com o menor compromisso de tempo representam uma proposta valiosa para diminuir o sedentarismo e melhorar a saúde da população. Não raro o treinamento intervalado é completamente descartado por ser considerado inseguro, pouco prático ou até mesmo insuportável para muitos indivíduos (Santos e Palácio, 2012). Por outro lado, existe uma crescente apreciação do potencial do treinamento intenso baseado em intervalos para estimular a melhora da saúde e o condicionamento físico em um grupo da população, inclusive indivíduos com várias enfermidades (Rognmo et al. 2004; Warburton et al. 2005), além disso, alguns dados sugerem que o enfoque de treinamento de baixa freqüência e alta intensidade está relacionado com uma maior aderência a longo prazo em comparação com um programa de alta freqüência e baixa intensidade (King et al. 1995).

Limitações benefícios e perspectivas do treinamento intervalado

    Está revisão não deve ser interpretada com o intuito de sugerir que, o treinamento intervalado de baixo volume e alta intensidade trazem todos os benefícios usualmente relacionados com o treinamento de endurance tradicional. A duração dos programas de treinamento em trabalhos publicados até a presente data foi relativamente curta (seis sessões em duas semanas), e ainda é preciso determinar se adaptações similares são produzidas após vários meses contínuos de treinamento intervalado de baixo volume e alta intensidade. É possível que o tempo necessário para os ajustes metabólicos apresentem diferenças quanto aos protocolos de treinamento: a natureza muito intensa do treinamento intervalado pode estimular mudanças rápidas, ao passo que as adaptações produzidas pelo treinamento de endurance tradicional podem ocorrer mais lentamente (Ilho y Barbanti, 2010). Em segundo lugar, o modelo de treinamento baseado no teste de Wingate que vimos empregando requer um ergômetro especializado e um nível de motivação dos sujeitos extremamente alto. Dada a natureza extrema do exercício, é questionável se a população em geral pode adotar esse modelo de forma segura e prática. Tal como no trabalho recente de Talanian et al. (2007), estudos futuros devem examinar um modelo de intervalos “modificado” para determinar a combinação ótima de intensidade do treinamento e o volume necessários para induzir adaptações de uma maneira eficiente e prática.

Limitações

    Desconforto. Os treinamentos intervalados são muito extenuantes. Não é de se surpreender que suas pernas fiquem bambas no final do trabalho. Ainda que não seja necessário exercitar-se com intensidade total para observar resultados, você terá de sair da sua “zona de conforto” se quiser obter os benefícios desse treinamento.

    Será preciso fazer uma sessão de aquecimento mais prolongada caso você planeje incluir corridas de velocidade em sua sessão de treinamento intervalado. As corridas explosivas aumentam o risco de lesões em comparação com as atividades que não requerem sustentação de seu peso corporal, como o ciclismo ou a natação. Caso você corra em seus intervalos, procure fazê-lo em uma subida.

    Certifique-se de reduzir de modo considerável a intensidade do exercício durante os períodos de recuperação entre os intervalos. A maioria das pessoas realiza os intervalos de forma incorreta e não se permitem uma recuperação suficiente. Se não se recuperar adequadamente, você não será capaz de exercitar-se intensamente durante os intervalos.

    Antes de retomar treinos ou competições extenuantes após lesões, não deixe de consultar um profissional qualificado – um médico esportivo, um personal trainer ou um técnico competente – para ter certeza de que o membro que havia sido lesado já esteja com a força adequada.

    A ciência que respalda os treinamentos intervalados também ajuda a dar um fim a mitos como o da “zona de queima de gorduras” ou dos “30 minutos de exercício necessários para que o corpo comece a queimar gorduras”. Os descrentes costumam subestimar o potencial para a perda de gorduras do exercício de alta intensidade pelo simples fato de os intervalos serem relativamente curtos. Porém, ainda assim, o gasto de energia permanece elevado durante os períodos de recuperação entre os intervalos de exercício, mesmo que a intensidade do exercício reduza drasticamente. Para comprovar esse ponto, um estudo recente demonstrou que apenas sete sessões de treinamento intervalado de alta intensidade durante duas semanas incrementam a queima de gorduras durante o exercício em mais de 30%. Assim como para qualquer tipo de exercício com o qual não se está acostumado, você deve consultar um médico antes de começar um treinamento intervalado. Isso não significa que “exercício de alta intensidade” é sinônimo de “ataque cardíaco à espreita”. Na verdade, abordagens recentes vêm empregando estratégias de treinamentos intervalados de alta intensidade com pacientes que apresentam enfermidades cardíacas, com melhores resultados tanto no condicionamento físico como na saúde geral em comparação com o treinamento de endurance tradicional.

Benefícios

Figura 5. Exemplo de periodização de treinamento para corredores iniciantes intermediários e avançados. Os atletas podem necessitar de uma fase especificamente 

maior ou menor referente ao volume e intensidade dependendo do objetivo que se quer alcançar em prova. O treinamento intervalado de alta intensidade se 

encaixa na etapa de polimento onde o atleta realiza treinos de alta intensidade e curta duração. Modelo Matvéiev (1990). Adaptado Santos e Guimarães (2012).

    Um fator relevante a ser considerado é a evolução do volume e da intensidade do treinamento durante a fase inicial, Santos e Palacio (2012) (figura 5). Não se pode esquecer que essa fase tem como objetivo principal preparar o organismo para as fases subseqüentes (Santos e Palácio, 2012; Farto, 2002; Barbosa, 2008). O ideal é começar o treino com pouco volume Ilho e Barbanti, (2010), os aumentos bruscos de volume e/ou intensidade são ótimos caminhos para lesões que, muitas vezes, acompanham o atleta por toda a temporada. Durante as semanas da fase básica segundo Santos e Palácio, (2012), recomenda-se manter uma rotina de um longo a cada duas semanas, dependendo da forma física, deve-se começar com 1 hora até alcançar 2 horas nas últimas semanas. Não é exagerado repetir aqui que cada atleta deve saber os seus limites e ser coerente com os mesmos. A cada duas ou três semanas deve-se diminuir o volume total de trabalho semanal, voltando a aumentar na semana seguinte, o volume de treinamento deve oscilar como uma onda, subindo e descendo segundo Santos e Palácio (2012), uma ou duas vezes por semana, recomenda-se a execução de circuitos. Uma vez por semana, um treino intervalado. Igualmente, intercalar entre longos e curtos, iniciando com os longos, bem como, uma vez por semana, realizar um Fartlek. Dessa forma, um treinamento longo de uma hora corresponde a um Fartlek de 30 a 45 minutos. Todas essas informações só vão ter valor se utilizadas de forma correta. Como uma guia geral, o atleta deve estabelecer uma meta realista para a sua próxima competição importante e iniciar seu treino com esse objetivo. Abaixo, segue um Mesociclo de treinamento e as fases com seus respectivos objetivos. Adaptado, Santos e Guimarães (2012).

Exemplos de treinos intervalados nível atlético e nível principiante corrida

    À medida que for adquirindo experiência, você pode aumentar a intensidade dos intervalos de exercício. Também é possível empregar diferentes modalidades de exercício para fazer intervalos. Se você gosta de treinar ao ar livre, pode realizar corridas de velocidade em uma subida ou correr dentro de uma piscina com a água à altura da cintura. Se você freqüenta uma academia, pode escolher entre a esteira, o cross trainer, a bicicleta ergométrica e, inclusive, o aparelho de remo seco. Tudo se resume a conseguir aumentar a carga de trabalho por um período de tempo curto e logo ser capaz de reduzi-la.

Conclusão

    É pouco provável que o treinamento intervalado de alta intensidade produza todos os benefícios geralmente atribuídos ao treinamento de endurance tradicional. A melhor forma de alcançar o condicionamento físico é empregar uma estratégia variada que alie sessões de força, endurance e velocidade a exercícios de flexibilidade, acompanhados de uma ótima alimentação. Contudo, para aqueles que não dispõem de muito tempo, os intervalos de alta intensidade são uma maneira extremamente eficiente de treinar. Mesmo para quem tem tempo, agregar uma sessão de intervalos ao programa de treinamento atual proporcionará novas e diversas adaptações. Partindo do princípio de que você está capacitado e disposto tanto física, como mentalmente a lidar com os eventuais desconfortos do treinamento intervalado de alta intensidade, o importante é que você provavelmente conseguirá se sair bem com um volume menor de treinamentos e menos tempo de exercício total.

Referências bibliográficas

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