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Relação entre índices de obesidade e hábitos de vida 

de escolares da rede estadual e particular de ensino

Relación entre los índices de obesidad y hábitos de vida de escolares de la red estatal y privada de enseñanza

 

*Licenciados em Educação Física pela Universidade Luterana do Brasil, ULBRA

**Mestrando em Inclusão Social e Acessibilidade pela Universidade Feevale

***Doutor em Ciências do Movimento Humano pela Universidade

Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS

(Brasil)

Leonardo Spohr de Oliveira*

Fernando Garcia Holderbaum*

Marcos Vinícius Zirbes**

Guilherme Garcia Holderbaum***

ghgarcia@ibest.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A presente investigação buscou identificar e relacionar adolescentes de duas escolas da cidade de Montenegro, RS, uma estadual e outra particular, verificando seus níveis de obesidade e hábitos de vida, no período do segundo semestre de 2007. O estudo caracterizado como uma pesquisa descritiva, utilizou um questionário com 13 perguntas fechadas e 3 abertas, verificou as medidas antropométricas de peso e estatura para identificar seus índices de massa corporal e também o percentual de gordura (%G) utilizando o protocolo de Slaughter et al (1988). A amostra foi composta por alunos voluntários, que forneceram seu consentimento por escrito, com idade entre 14 e 16 anos, todos matriculados e com freqüência nas aulas de educação física, em que o número total de alunos analisados foi de 122, sendo 56 meninos e 66 meninas. O estudo revelou que entre os alunos estudantes da escola particular, 5 meninos e 3 meninas, obtiveram %G muito alto, já nos alunos da escola estadual, 2 meninos e 5 meninas, tiveram como resultado um %G muito alto. O estudo nos mostrou também que os meninos da escola particular se mostraram mais ativos, porém com um %G maior na sua média final em relação aos meninos da escola estadual. As meninas estudantes da escola particular, assim como os meninos, também se mostraram mais ativas, porém com %G menor quando comparadas com as estudantes da escola estadual. Após a realização do presente estudo, pode-se concluir que as atividades físicas juntamente com bons hábitos de vida constituem uma importante ferramenta no combate a elevados índices de obesidade.

          Unitermos: Antropometria. Obesidade. Hábitos de vida. Adolescência. Escola.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nos últimos anos, vem-se observando importante aumento na prevalência da obesidade em diversos países e em várias faixas etárias, com as mudanças da vida moderna e o avanço da tecnologia as pessoas estão mais vulneráveis ao sedentarismo devido às facilidades em se conseguirem o que desejam com pouco esforço.

    Na infância e adolescência, a obesidade é um problema grave. Na última década ocorreu um aumento de 20% de casos de obesidade juvenil nos Estados Unidos, quase um quarto das crianças está atualmente obeso (BAR-OR; FOREYT; BOUCHARD, 1998).

    No Brasil, dados publicados sobre a prevalência de sobrepeso e obesidade na adolescência são escassos. Os poucos estudos publicados mostram um crescente aumento da obesidade juvenil no Brasil, a exemplo do que vem acontecendo na população adulta, esta tendência, provavelmente, tem relação com a mudança e transformações econômicas ocorridas nos últimos anos com a incorporação de hábitos alimentares e hábitos de vida de países desenvolvidos, aliados a um aumento do sedentarismo por diversos motivos, em particular nas grandes cidades (LAMOUNIER, 2000).

    A atividade física reduzida na adolescência é uma fonte potencial proeminente de desequilíbrio de energia, prejudica a balança energética e causa variação nas reservas de energia principalmente quando o consumo supera o gasto energético gerando o ganho de peso (GUTIN; BARDEAU, 2002).

    Em relação aos benefícios da prática de atividade física na infância, Kohl e Hoobs (1998) destacam dois aspectos positivos: o primeiro se refere aos benefícios físicos e psicológicos agudos inerentes a atividade física entre as crianças e adolescentes e o segundo retrata a associação de comportamentos de atividades físicas entre a infância e a adultidade, revelando que as crianças ativas apresentam maior probabilidade de serem fisicamente ativas quando adultas. Na adoção de comportamentos saudáveis neste período há a tendência desses hábitos serem levados a vida adulta, incidindo decisivamente na qualidade de vida.

    Acredita-se que os professores, pais e profissionais da área da saúde deveriam incentivar os alunos a praticarem atividades físicas regularmente e dirigidas, para que no futuro se tornem pessoas mais saudáveis com menos risco de adquirir doenças. Pois, são várias as maneiras de se prevenir à obesidade, mas para que isto aconteça é preciso que tenha desde cedo uma conscientização da importância da um habito de vida saudável.

    Considerando-se essa problemática de alto índice de obesidade em adolescentes, formulou-se a pergunta norteadora da presente investigação: Existe relação e variação em níveis de obesidade e hábitos de vida em adolescentes de 14 a 16 anos de uma escola particular e uma estadual (central) na cidade de Montenegro, RS?

    Sendo assim o presente trabalho tem como principal objetivo identificar em que tipo de estabelecimento de ensino (estadual e particular) ocorre maiores índices de obesidade e que relação pode haver com os hábitos de vida de adolescentes de 14 a 16 anos em duas escolas na cidade de Montenegro, RS.

Métodos

    O presente estudo caracterizou-se como uma pesquisa descritiva que tem por finalidade observar, registrar, analisar e relacionar fatos ou fenômenos, sem manipulá-los, e visa descobrir e observar os fenômenos procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los com o propósito de descrever sua natureza (PICCOLI, 2006).

    A população do presente estudo caracterizou-se por adolescentes de ambos os sexos, na faixa etária dos 14 a 16 anos oriundos de duas escolas (uma particular e outra estadual), ambas localizadas no centro da cidade de Montenegro/ RS.

    A amostra foi composta por 122 adolescentes voluntários entre 14 e 16 anos sendo 28 meninos da rede estadual, 28 meninos da rede particular, 33 meninas da rede estadual e 33 meninas da rede particular, todos frequentavam as aulas de educação física.

Instrumentos e materiais

    Para verificar a prevalência de obesidade, seus hábitos de vida e percentual de gordura foi aplicado um questionário, constituído por 13 questões fechadas e por 3 questões abertas adaptado de Youth (2005). Para verificar o percentual de gordura foi utilizado o protocolo de SLAUGHTER et al. (1988), com mensuração de duas dobras cutâneas, tríceps e subescapular para os meninos e tríceps mais panturrilha para meninas.

    Para avaliação final foi utilizado um compasso de dobras cutâneas modelo (SKINFOLD THICKNESS) uma balança digital de marca (ACQUA) com capacidade de 180 kg e graduação em 100g, uma fita métrica (POWERTAPE) com ajuda de uma régua para medida de estatura, tendo por objetivo nesta avaliação de coletar os dados para o calculo do percentual de gordura e índice de massa corporal.

Plano de coleta de dados

    Foram realizados contatos com duas escolas do bairro centro da cidade de Montenegro/RS em setembro de 2007 para se verificar a possibilidade de ali se realizar a testagem, todo este processo foi facilitado pelo fato de estar realizando estágio curricular nas duas instituições.

    Todos os alunos na faixa etária de 14 a 16 anos voluntários receberam a devida explicação do trabalho a ser realizado e também um termo de consentimento livre e esclarecido para levar para casa e trazer assinado pelos pais autorizando a participação na determinada pesquisa. Passadas duas semanas até o recolhimento das autorizações, os procedimentos da coleta de dados foram organizados da seguinte maneira: (1) processo de familiarização com o questionário a ser aplicado com a leitura do mesmo até não restar mais dúvidas por parte dos alunos, (2) avaliação física (peso, altura, e mensuração de dobras cutâneas) e (3) Análise dos resultados e entrega e apresentação dos mesmos aos participantes e seus responsáveis.

    Durante a realização da avaliação física estavam presentes o professor responsável pela turma, o professor responsável pela pesquisa e uma professora da escola desempenhando as funções de auxiliar na coleta de dados. Os alunos foram avaliados em duplas e foi permitido aos pais ou responsáveis acompanhar seus filhos durante a avaliação quando do seu interesse. Todos estes cuidados foram adotados para evitar quaisquer tipos de constrangimento por parte dos participantes da amostra.

Tratamento estatístico

    As informações do questionário e avaliação física foram digitadas em uma planilha no Microsoft Excel, sendo esta planilha usada para realizar a análise estatística de forma descritiva. Os dados foram processados e submetidos à análise de frequência simples, média, desvio-padrão e percentual.

Resultados e discussão

    Os hábitos de vida dos escolares foram coletados através do questionário (YOUTH, 2005) adaptado, no qual fazia parte 16 questões de fácil interpretação, segue abaixo os resultados encontrados sempre destacando as opções mais citadas pelos alunos pesquisados. Para fins de simplificar a seção de resultados do presente estudo, optou-se por apresentar, os resultados referentes aos hábitos de vida na forma descritiva e os resultados referentes aos índices de obesidade na forma de gráficos.

    Em relação ao uso do computador e videogame, pode-se observar que 24% dos meninos estudantes da escola estadual responderam 4 horas e 21,42% apontam 3 horas diárias, nos meninos da escola particular 32,14% marcaram a opção 3 horas e 21,42% escolheram a opção 5 horas diárias. Nas meninas da escola estadual, os resultados foram aproximados para as opções 6h ou mais, 4 horas e não joga/utiliza, sendo em torno de 18% para cada opção. Nas alunas da escola particular o resultado encontrado foi o seguinte 15,15% para a opção de 6 horas ou mais e 18,18% tanto para a opção 2 horas e 3 horas diárias.

    Em relação ao nível de atividade física realizada fora do horário da educação física os alunos responderam a 6 perguntas contidas no questionário. Sendo a primeira pergunta: se além da educação física você participava de outra atividade física abaixo regularmente? Para a escola estadual 57,14% dos meninos responderam sim e 42,86% não realizam atividade física extra. Já na escola particular 89,28% dos meninos responderam sim e 10,72% não realizam atividade física fora da escola. Com as meninas o resultado foi o seguinte: Alunas da escola estadual 51,51% participam de atividade e 48,48% não participam de atividade extra, já as alunas da escola particular 84,85% apontam que realizam atividade física extra e 15,15% não participam.

    Outra questão pesquisada foi em saber qual atividade extra que o aluno realizava. Sendo assim, o aluno que respondeu sim a questão anterior, agora respondia a modalidade que praticava e o resultado foi o seguinte: nos meninos da escola estadual 50% dos alunos jogavam basquete e 31,25% musculação, nos alunos da escola particular 52% praticam musculação e 36% jogam futebol. Já nas meninas 35,29% das alunas da escola estadual pratica caminhada e 23,53% jogam vôlei, nas meninas da escola particular 25% afirmam praticar caminhada e 21,43% ginástica de academia.

    Em relação à duração da atividade pode-se observar que 56,25% dos alunos da escola estadual apontam a opção mais de 60 minutos de atividade contra 76% dos alunos da escola particular na mesma opção. Com as meninas 52,94% (estadual) também apontam mais de 60 minutos contra 67,86% das alunas estudantes da rede particular que afirmam que a atividade dura mais de 60 minutos.

    Quanto à frequência semanal 31,25% dos meninos da escola estadual apontam realizar a atividade 2 vezes por semana e 25% 1 vez por semana, nos meninos da rede particular 28% realizam 3 vezes por semana e 24% 2 vezes por semana. Já nas meninas 47% das alunas da rede estadual realizam a atividade física 2 vezes por semana e 29,4% 1 vez por semana, nas meninas da rede particular 32,14% para a opção 3 vezes por semana e 32,14% para a opção 2 vezes por semana.

    Sobre o tempo de prática desta atividade, 37,5% dos meninos da escola estadual apontam a opção entre 3 e 8 meses e os alunos da rede particular 52% praticam a mais de 12 meses. Nas meninas da escola estadual 47% apontam praticar a mais de 12 meses esta atividade, já na particular 42,85% das alunas afirmam praticar esta atividade entre 3 a 8 meses.

    No que diz respeito à questão referente à “como na maioria das vezes você vai de casa para a escola?”, 42,85% dos meninos da escola estadual marcaram a opção “a pé”, os demais ficaram divididos entre bicicleta, ônibus e outros meios. Já os meninos da rede particular 42,85% marcaram a opção “a pé” e 42,85% na opção “de carro”. Nas meninas (estadual) 57,57% responderam “a pé” e na particular 60,6% responderam a opção “de carro”.

    Com relação ao tempo que leva de casa até a escola, pode-se observar que 53,57% dos meninos da escola estadual responderam a opção “15 minutos”, nos meninos da escola particular 75% responderam a opção “menos de 15 minutos”. Com relação às meninas da escola estadual 33,33% responderam à opção “15 minutos” e nas meninas estudantes da escola particular 63,63% responderam a opção “menos de 15 minutos”.

    Para avaliar o sobrepeso e a obesidade foi utilizado o método índice de Massa Corporal (IMC ou índice Quetelet), em razão deste ser de aplicação mais difundida para a identificação e diagnóstico destas variáveis. Ele correlaciona o peso (kg) ao quadrado da altura (m). Para a adolescência o índice de massa corporal também é o mais utilizado (ESCRIVÃO et al, 2000).

    Antes de falarmos sobre os resultados obtidos no (IMC) utilizamos também uma pergunta do questionário para melhor identificarmos a obesidade e saber a opinião dos próprios adolescentes quanto a seu peso (Gráfico 1).

Gráfico 1. Como você se considera em relação ao seu peso?

    O gráfico 2 apresenta os resultados obtidos através do método (IMC) separados por idade. Pode-se observar que a média em ambas as escolas esta numa faixa considerada normal segundo a referência da organização mundial de saúde.

Gráfico 2. Comparação das médias e desvios padrão de IMC por idade dos alunos das escolas estadual e particular

    O gráfico 3 apresenta os resultados obtidos através do método (IMC) separados por idade. Podemos notar também, se olharmos as médias das meninas estão numa faixa considerada normal conforme consta na referência da organização mundial de saúde.

Gráfico 3. Comparação das médias e desvios padrão de IMC por idade dos alunos das escolas estadual e particular

    Como forma de complementar este primeiro método optou-se por utilizar a mensuração de dobras cutâneas, aplicando o protocolo de Slaughter et al (1988). Foi utilizado o protocolo tríceps + subescapular para os meninos e para as meninas tríceps + panturrilha. A utilização deste método se justifica de acordo com Heyward e Stolarczyk (2000). Estes autores afirmam que para estimar o % GC de meninos e meninas adolescentes é mais adequado à utilização das dobras cutâneas triciptal, subescapular e da panturrilha, uma vez que estas são mais acessíveis para medir e não necessitam a utilização de trajes menores. Uma vez que o método de dobras cutâneas convencional requer contato físico com o avaliado, os avaliadores devem considerar a sensibilidade e questões éticas a respeito do toque em crianças por adultos.

    O resultado da avaliação das DC resultou no cálculo do %G dos meninos e meninas estudantes da escola da rede Pública e da rede Particular de ensino e pode ser observado no Gráfico 4.

Gráfico 4. Comparação das médias de percentual de gordura dos alunos das redes de ensino estadual e particular

Relação entre índice de obesidade e hábitos de vida dos estudantes pesquisados

    Diversos métodos têm sido desenvolvidos para medir a gordura corporal, entre eles a medida da densidade corporal, as medidas da água e do potássio corpóreo, a ultra-sonografia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética (ZIOCHEWSKI, 1996). Outro aspecto a ser considerado é se o trabalho vem sendo realizado com um individuo ou com uma população.

    Analisando os dados obtidos neste estudo podemos descrever que os meninos estudantes da escola estadual apresentaram ser menos ativos, 2 alunos apresentaram %G muito alto, porém com valor menor na média geral em relação aos meninos estudantes da escola particular, onde 5 alunos obtiveram um percentual de gordura muito alto segundo referência a OMS. Este fato pode estar relacionado com o maior poder aquisitivo, dos alunos da rede particular, pois uma vez que suas condições socio-econômicas sejam mais favorecidas é permitido aos mesmos freqüentar uma variedade maior de atividades físicas pagas (escolinhas esportivas, clubes, academias, etc.) bem como ambientes fast food. É importante destacar que uma alimentação adequada é fundamental para atingir um percentual de gordura menor (COSTA, 2007). Em estudo realizado com adolescentes de diferentes classes econômicas, o sobrepeso e a obesidade foram mais observados em adolescentes de melhor poder aquisitivo (BALABAN; MOTTA, 2005). No presente estudo não foram realizados procedimentos de avaliações dos hábitos alimentares, mas os resultados obtidos nos levam a acreditar na necessidade destas avaliações, pois se os meninos estudantes da escola particular não apresentassem tais níveis de atividade física seu %G médio poderia ser ainda mais elevado.

    Quanto ao (IMC) um aluno apresentou índice de obesidade e 4 alunos excesso de peso nos estudantes da escola estadual, já nos alunos da escola particular 2 alunos obesos e 2 com excesso de peso, segundo referência da organização mundial de saúde.

    A literatura é controversa sobre a associação entre padrões de atividade física e a obesidade na adolescência. Um estudo sueco de casos e controles mostrou que adolescentes obesos são menos ativos fisicamente do que adolescentes de peso normal (EKELUND, 2002). Entretanto, outro estudo de casos e controles realizado no mesmo país, comparando grupos de escolares com médias de peso com diferença de 40 kg, não mostrou diferenças quanto ao tipo e duração das atividades físicas (RENNAN, 1999). Um estudo transversal em adolescentes escolares no Rio de Janeiro tampouco encontrou associação entre o sobrepeso e a atividade física (FONSECA, 1998).

    No presente estudo, não foram observadas diferenças acentuadas entre os indicadores que compuseram a avaliação da atividade física (frequência semanal, tempo de cada sessão e tempo total semanal das atividades) ao comparar os meninos de escolas públicas e particulares. Neste caso, não se pode fazer uma associação fidedigna entre o nível de atividade física e a obesidade, visto que 89% dos alunos estudantes da escola particular responderam fazer alguma atividade física fora da escola contra 57% dos alunos estudantes da escola estadual, considerando que o percentual de gordura dos alunos da escola particular foi maior.

    Quanto aos hábitos de assistir televisão, em um estudo realizado no Rio de Janeiro, o tempo despendido assistindo televisão e jogando videogame mostrou associação com o sobrepeso em meninos (MONTEIRO; VICTORA; BARROS, 2004) enquanto que, no presente estudo não podemos fazer esta associação nos meninos, pois a média do tempo assistindo TV ficou muito semelhante em ambas as instituições.

    Quanto ao hábito de como os alunos costumam ir para a escola, a maioria dos alunos da escola particular responderam que vão de carro enquanto que, na escola estadual a maioria vai a pé, permitindo então, estabelecer uma relação com os níveis de percentual de gordura encontrado na avaliação.

    Com relação às meninas, através dos resultados obtidos nesta pesquisa, pode-se observar que 5 adolescentes estudantes da escola estadual e 3 da escola particular apresentaram um percentual de gordura muito alto, lembrando que na média final a escola estadual apresentou um maior índice. Portanto, é possível concluir que o sobrepeso e a obesidade foram mais observados na escola estadual. Quanto ao índice de massa corporal (IMC) nas meninas da escola estadual apenas uma aluna se apresentou obesa e na escola particular uma obesa e outra com sobrepeso, portanto apresentando-se com um índice muito próximo às médias finais divididas por idade, segundo referência da organização mundial de saúde.

    Com relação aos hábitos de vida pode-se destacar que possivelmente esta pequena diferença em relação ao percentual de gordura se deve a grande diferença no nível de atividade física, conforme os achados do presente estudo de que 85% das meninas da escola particular realizam atividade física extraescolar regularmente. Já nas meninas da escola estadual este índice foi de 51,5% para a prática de atividade física extraescolar.

    O estudo realizado por Costa (2007) sugere que o sobrepeso pode estar relacionado à redução da atividade física. Além disso, Souza (2001) fala que a existência de uma elevada prática de exercícios físicos pode contribuir significativamente para uma menor prevalência de sobrepeso e obesidade.

    Pode-se concluir que o índice de obesidade e sobrepeso encontrou-se mais presente nos meninos na escola particular e nas meninas na escola estadual. Dois aspectos metodológicos merecem especial atenção. Os achados do presente estudo confirmam a necessidade de se realizar um estudo mais amplo e estratificar suas análises por sexo e idade. Em segundo lugar, as análises determinantes contemporâneas devem ser ajustadas para fatores relativos à vida precoce dos adolescentes, pois muitas das associações brutas com fatores atuais desapareceram após este tipo de ajuste.

Considerações finais

    Os principais resultados desta investigação devem ser assumidos como evidências preliminares, pois o grupo de amostragem foi reduzido. Os resultados desta pesquisa sugerem que a atividade física pode ser uma das aliadas ao combate à obesidade e também da importância de hábitos saudáveis de vida. É possível que os fatores associados à ocorrência da obesidade em adolescentes tenham um comportamento diferente relacionado ao poder aquisitivo dos mesmos.

    Seria interessante dar continuidade a este estudo, e para tanto, aumentar o grupo de amostragem, a fim de obter resultados mais consistentes, e também da necessidade e importância de realizar procedimentos de avaliação dos hábitos alimentares.

    Apesar dessas considerações, estamos cientes das limitações deste estudo em relação ao grupo de amostragem e de não realizar avaliação da alimentação dos adolescentes. Dessa forma, acredita-se que se esses aspectos fossem atendidos, resultados mais esclarecedores norteariam a discussão e enriqueceriam as conclusões deste estudo.

    Sugere-se, então, a continuidade desta investigação, de modo à posteriormente, aplicá-las a outras faixas etárias para a realização de uma relação entre níveis sócio-econômicos e níveis de obesidade.

Referências

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