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O voleibol da aula de Educação Física escolar 

e sua influência na busca pelo clube esportivo

El voleibol de la clase de Educación Física escolar y su influencia en la búsqueda del club deportivo

 

*Laboratório do Esporte (LABES) do IEFD da UERJ

**Profª. da rede pública municipal da cidade do Rio de Janeiro

Mestranda do programa de pós-graduação em atividade física da UNIVERSO

***LABES do IEFD da UERJ e DEF da UGF
(Brasil)

Diogo Batista Ferreira da Silva*

Camila Simões Pelaes**

Guilherme Locks Guimarães***

diogo_iefd_uerj@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo desse estudo foi verificar se o voleibol oferecido nas aulas de educação física da escola influenciou para que alunos de faixa etária compreendida entre 12 e 13 anos buscassem este esporte em clubes filiados à Federação de Voleibol do Rio de Janeiro (FVR). Uma pesquisa de campo sob a forma de questionário foi realizada com 24 atletas dessa faixa etária em um clube filiado a FVR. Os resultados mostraram que o voleibol ensinado nas aulas de educação física escolar não foi o fator de influência para que se tornassem atletas do esporte de rendimento.

          Unitermos: Voleibol, Aula de Educação Física, Esporte de Rendimento.

 

Resumen

          El objetivo de este estudio fue verificar si el voleibol ofrecido en las clases de Educación Física en la escuela influenció para que estudiantes de edad entre 12 y 13 años buscasen este deporte fuera de la escuela, en clubes afiliados a la Federación de Voleibol de Río de Janeiro (FVR). Se llevó a cabo una investigación de campo en forma de cuestionario con 24 atletas en este grupo de edad en un club afiliado a la FVR. Los resultados mostraron que la enseñanza del voleibol en clases de Educación Física en la escuela no fue un factor que influyó para convertirse en atletas de este deporte.

          Palabras clave: Voleibol. Clases de Educación Física. Deporte de rendimiento.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Muito se escreveu, escreve e se discute no meio acadêmico sobre a utilização dos jogos esportivos como conteúdo da educação física escolar. São notórias e pertinentes às posições críticas de Betti (1999), Bracht (2000/1), Kunz (2001) e Betti e Zuliani (2002), entre outros, a respeito do que denominam de a esportivização da educação física escolar no Brasil.

    Atualmente, o voleibol brasileiro tem muito destaque, devido principalmente as suas conquistas internacionais, e por ser um dos esportes mais assistidos na televisão pelo tele-espectador brasileiro (DELOITTE, 2011). Com essas credenciais, era de se esperar que a procura pela prática do esporte também aumentasse. Porém, uma consulta ao site da Federação de Volleyball do Estado do Rio de Janeiro (FVR) mostra-nos que neste estado com 16 milhões de habitantes, existiam em 2012, 6 equipes masculinas e 9 femininas na categoria mirim, atletas até 13 anos, o que somaria, se todas as equipes tivessem 12 atletas, 180 novos praticantes no ano de 2012, sendo 72 do sexo masculino e 108 do feminino.

    Assim, diante do número diminuto de novos atletas que procuram o voleibol de clubes federados no Estado do Rio de Janeiro, e como a iniciação esportiva deles deve ocorrer na escola, procurou-se levantar se à prática da atividade voleibol nas aulas de educação física da escola é fator de motivação para a inserção dos alunos no esporte de rendimento.

    Ressalvamos que, apesar, de nossas preocupações estarem voltadas para o esporte de rendimento, não é nosso objetivo levar às aulas de educação física escolar a promover treinamentos para detectar novos talentos. Nossa intenção é acrescentar o voleibol aos conteúdos desta disciplina, para que os alunos possam vivenciar procedimentos motores e adquirir conhecimentos relativos a esse esporte que lhes permitam, caso tenham interesse, utilizá-lo seja como prática de saúde ou em equipes de competição.

O esporte no Brasil

    Segundo, a “Lei Pelé” (BRASIL, 1998), o esporte pode ser manifestado pelo caráter educacional, que é praticado nos sistemas de ensino, indica, também, que pode ser praticado como esporte de participação, para que seja assim considerada esta atividade "compreende as práticas esportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, promoção da saúde e educação e na preservação do meio ambiente" (op. cit., 1998). Assim, entendemos que esta é a atividade esportiva realizada em locais públicos nas horas de lazer. Por fim, pontua que o esporte de rendimento se manifesta através de competições esportivas, "com o objetivo de obter resultados e integrar pessoas e comunidades de um mesmo país e estas com as outras nações" (op. cit., 1998). Esta modalidade de esporte sugere a busca do resultado, através do aprimoramento da técnica e tática, isto é, do treinamento.

    Deste modo, para os efeitos desta pesquisa aceitamos como sugere a "Lei Pelé" que o esporte escolar tenha a função de educar, integrar e incluir os alunos na comunidade da escola e na sociedade, ficando o caráter seletivo dos mais hábeis e a exacerbação do caráter agonístico para o clube.

O voleibol e a Educação Física escolar

    Os PCN (BRASIL, 1998) propõem o desenvolvimento de três blocos de conteúdos para Ensino Fundamental. São eles: esportes, jogos, lutas e ginásticas; atividades rítmicas e expressivas e conhecimento sobre o corpo (Brasil, 1998).

    Os PCN (op. cit.) sugerem que os jogos podem ter uma flexibilidade maior nas regulamentações em relação aos esportes, já que são adaptados em função das condições de espaço e material disponíveis, do número de participantes, entre outros. Por serem exercidos com um caráter competitivo, cooperativo ou recreativo em eventos do cotidiano, entendemos que estas características o tornam um conteúdo, por excelência, da Educação Física escolar.

    Pelas definições citadas anteriormente, podemos afirmar que o voleibol se enquadra no conteúdo pertinente à educação física no ensino fundamental por se tratar de um jogo esportivo.

    Ao comentar os PCN, Darido e Souza Junior (2007) indicam que este documento trás para a discussão dos professores de educação física outras dimensões a cerca do movimento humano, as conceituais e as atitudinais, que são relatadas por Machado e Araújo (2010) ao retratar a dinâmica do voleibol e seu caráter coletivo:

    o jogo em si é mais do que os valores individuais ali presentes, mas vencer o oponente significa somar valores individuais e adequar os valores do grupo, como um sistema único: quem ganha o jogo (ou perde) é a equipe.

    A respeito de equipe, pontua Teodorescu (1981, p.21), "graças à organização, à coordenação e à racionalização das ações individuais e das interações, uma equipe esportiva pode ser considerada um microcosmo social, complexo, dinâmico". Avança, ao explicar que as ações de seus integrantes se conformam a certos princípios, dimensão atitudinal, e regras, dimensão conceitual, e que há um valor superior à soma dos valores individuais de cada componente.

    Os nossos colaboradores têm entre 12 e 13 anos, por isso, são adolescentes, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990). Logo, diante das ponderações de Machado e Araújo (2010) e Teodorescu (1981), a participação em uma equipe esportiva, ainda que, de forma ocasional durante uma aula de EFE, poderia favorecer a inclusão do adolescente na sociedade. Para reforçar este argumento, Weinberg e Gould (op. cit, p. 478) pontuam "que a afiliação é um motivo importante que os adolescentes têm para praticar o desporto. Portanto, as crianças apreciam o esporte devido às oportunidades que ele proporciona de estar com os amigos e fazer novas amizades".

    Assim sendo, pelos motivos apresentados entendemos que a aula da educação física da escola representa um espaço privilegiado para a iniciação e prática de atividades esportivas coletivas já que estas poderiam atender as indicações dos PCN em relação ao desenvolvimento biopsicossocial do aluno, e permitiria a este desenvolver vocação para o esporte de rendimento.

Metodologia

Tipo de pesquisa

    Este estudo é uma pesquisa descritiva na qual se empregou a metodologia exploratória no termos de Thomas e Nelson (2002, p.281). Para os autores a pesquisa descritiva é um estudo de status é amplamente utilizada nas ciências comportamentais baseada na premissa de que os problemas podem ser resolvidos e as práticas melhoradas por meio da descrição objetiva e completa, como é o caso de nossa pesquisa.

População e amostra

    A população deste estudo é composta por atletas de ambos os sexos filiados à FVR. A amostra contém 24 indivíduos de um clube filiado, sendo 6 do sexo masculino e 18 do sexo feminino, com idades entre 12 e 13 anos.

Instrumento de coleta de dados

    O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário composto por 9 (nove) perguntas fechadas, das quais, 7 (sete) foram utilizadas em nossa pesquisa. O questionário validado por um professor doutor pertencente ao Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Procedimentos para a coleta de dados

    Vale ressaltar que nosso estudo trata de indivíduos menores de idade perante a Constituição Federal da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988), sendo assim necessária a autorização do responsável legal para a participação na pesquisa.

    Deste modo, para que fosse realizada a coleta de dados, foi apresentado aos responsáveis de cada atleta um "Termo de Consentimento Livre e Esclarecido", constando o objetivo da pesquisa, garantindo o sigilo dos nomes de cada indivíduo, e solicitando permissão para a sua utilização neste estudo. Obtida as permissões, o questionário foi explicado a cada atleta, e foi respondido de modo presencial e individual.

Apresentação e discussão dos dados

    Com o objetivo de não haver casas decimais nas frequências relativas, o processo de arredondamento dos números foi realizado da seguinte maneira: até 0,5, o número foi mantido, enquanto que acima de 0,5, o número inteiro foi aumentado em uma unidade. Portanto, a frequência relativa total em alguns dados será maior ou menor que 100%.

Quadro 1. Distribuição da amostra por idade

Idade

Freqüência absoluta

Freqüência relativa

12 anos

13

54%

13 anos

11

46%

    O estudo conta com a amostra de 24 indivíduos, sendo 54% (n=13) com 12 anos de idade e 46% (n=11) com 13 anos de idade.

Quadro 2. Sexo

Sexo

Freqüência absoluta

Freqüência relativa

Masculino

6

25%

Feminino

18

75%

    Os 24 participantes do estudo, sendo 25% (n=6) pertencentes ao sexo masculino, e os demais 75% (n=18) são referentes a indivíduos do sexo feminino.

Quadro 3. Escolaridade

Ano Escolar

Freqüência absoluta

Freqüência relativa

7º ano

11

46%

8º ano

9

37%

9º ano

4

16%

    Desses atletas, 46% (n=11) estão cursando o 7º ano do ensino fundamental, 37% (n=9) se encontram no 8º ano do ensino fundamental, e 16% (n=4) no 9º ano. Assim, os dados coletados em nossa pesquisa permitiu-nos observar que todos os nossos colaboradores estudam no terceiro e quarto ciclo do ensino fundamental. Para esse período os PCN (BRASIL, 1998) sugerem o ensino do esporte, bem como seus aspectos histórico-sociais, vivência da construção dos gestos esportivos e a compreensão, discussão e construção das regras dos jogos e esportes.

Quadro 4. Tempo que pratica voleibol

Tempo que pratica voleibol

Freqüência Absoluta

Freqüência relativa

Até 1 ano

8

33%

Entre 1 e 3 anos

7

29%

Entre 3 e 6 anos

8

33%

Acima de 6 anos

1

4%

    O estudo mostra diferenças entre os participantes no que diz respeito ao acesso ao voleibol, o período de prática do esporte para os atletas entrevistados varia de 2 meses a 7 anos. Podemos constatar também que 62% (n=15) dos adolescentes entrevistados já praticava o voleibol de quadra previamente entre 1 ano e 6 anos, o que pode sugerir que esses alunos foram levados a praticar o voleibol antes mesmo que ele fosse apresentado nas aulas de educação física escolar.

    Ao apresentar o instrumento da coleta de dados, anunciamos que duas questões não fariam parte deste estudo, uma delas perguntava se o aluno havia tido contato com o voleibol fora da escola e antes do atual clube, todos responderam que haviam praticado o esporte em 'escolinhas'. A ‘Lei Pelé’ (BRASIL, 1998), denomina esporte de participação à modalidade que compreende as ‘escolinhas’ esportivas. Assim, ao que nos é dado parecer pelos dados extraídos de nossas entrevistas, o esporte participação, também tem funcionado como uma forma de inserir o jovem no esporte de rendimento.

Quadro 5. Freqüência semanal de treinos

Treinos por semana

Freqüência absoluta

Freqüência relativa

2 vezes

7

29%

3 vezes

17

70%

    Em relação à freqüência semanal de treinamento no clube, 29% (n=7) treinam 2 vezes por semana, referente à carga de treinamento das equipes mirins nesse clube. E 70% (n=17) tem uma carga de treinamento maior por pertencerem à categoria infantil, com uma freqüência de 3 treinos na semana.

Quadro 6. Conteúdo voleibol nas aulas de educação física escolar

Aula de voleibol na E.F.

Frequência absoluta

Frequência relative

Sims telegram aula

21

88%

No telegram aula

3

12%

    Os dados extraídos das entrevistas de nossos colaboradores permite-nos afirmar que a maioria dos atletas entrevistados 88% (n=21) tiveram a oportunidade de vivenciar o voleibol nas aulas de educação física. Conforme informamos anteriormente baseados nos PCN (BRASIL, 1998), o voleibol faz parte do conteúdo pertinente à educação física escolar no ensino fundamental, Porém, alguns atletas disseram que não foram apresentados à modalidade nas aulas de educação física, sugerindo que apesar de termos a cultura esportiva deste esporte arraigada no Brasil, os professores desses atletas optaram por utilizar outros conteúdos nas aulas.

    Chamamos a atenção que as restrições apresentadas pela prática do voleibol relatadas por Silva (1998) e Machado e Araújo (2010), e a escassez ou ausência de material adequado na maioria das instituições de ensino, podem ser outros fatores responsáveis pela não apresentação desta atividade na escola.

Quadro 7. Influência do conteúdo voleibol nas aulas de EFE na busca pelo esporte*

Influência das aulas de E.F.

Frequência absoluta

Frequência relative

Sim

5

24%

Não

16

76%

*Lembramos que vinte e um (21) alunos tiveram voleibol na EFE.

    Após apresentarmos nossos colaboradores e sua relação com o voleibol, retornamos ao problema que animou nossa pesquisa, dos 21 entrevistados que afirmaram terem sido apresentados ao voleibol dentro das aulas de educação física escolar, 76% (n=16) disseram que isso não influenciou na sua busca pelo esporte de rendimento no clube. Os demais 24% (n=5) que afirmaram terem sido estimulados pela prática do conteúdo escolar voleibol na sua passagem para o voleibol de rendimento, desses, 3 afirmaram que o grau de influência em sua escolha, numa escala de 0 a 10, onde 0 é o mínimo e 10 é o máximo, ficou entre 9 e 10, os outros 2 alegaram nota 5 e 6.

    Diante da resposta dos 2 atletas que atribuíram nota entre 5 e 6 à influência das aulas de voleibol da EFE na sua decisão de fazer parte de uma associação esportiva do esporte de rendimento, e dos outros 16 que afirmaram não ter recebido nenhuma influência, fica a sugestão de voltarmos a estes colaboradores e outros mais para fazermos outra pesquisa com o intuito de sabermos o que determinou a escolha destes.

Conclusão

    Entendemos que o grupo pesquisado é reduzido, por isto, fica a sugestão para, em outra pesquisa, se ampliar o número de colaboradores nos demais clubes de voleibol filiados FVR, para se verificar se a resposta desse grupo representa o padrão dos praticantes do esporte voleibol de rendimento no Rio de Janeiro.

    Recomenda-se, também, que, em outro estudo possa ser verificado o que de fato tem estimulado os jovens atletas a escolher o voleibol na modalidade esporte de rendimento.

    Concluímos que a observação dos dados extraídos das entrevistas permite-nos declarar que a maioria de nossos colaboradores não sofreu influência do voleibol das aulas de educação física em sua busca pelo esporte de rendimento.

Referências bibliográficas

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