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Exercícios excêntricos e seus efeitos no nível muscular

Los ejercicios excéntricos y sus efectos a nivel muscular

 

Mestrando em Atividade Física e saúde pela

Universidade Católica de Brasília

(Brasil)

Emanuelle Santos Camelo

emanuelleucb2007@gmail.com

 

 

 

 

Resumo
          Devido à prática crescente da atividade física na atualidade, vêm aumentando os estudos para verificar os benefícios, os malefícios e as adaptações morfológicas decorrentes das ações excêntricas nas contrações musculares. Este estudo tem como objetivo demonstrar os mecanismos que influenciam na ação excêntrica e seus efeitos nos músculos estriados esqueléticos. De acordo com a literatura, a ação excêntrica possibilita otimizar as respostas adaptativas dos músculos aos estímulos dos treinamentos de força. Essas respostas incluem maior ganho de força e hipertrofia decorrentes de um treinamento com apenas ações excêntricas, pois, a maior ocorrência de lesão, o maior grau de tensão sobre as fibras musculares ativas e o alongamento a que estas estão submetidas aparentam melhorar as respostas a esse tipo de treinamento, porém, deve-se levar em consideração que, hoje, está bem descrito que durante o exercício físico, envolvendo contrações excêntricas, utiliza-se restituição elástica, promovendo maior sobrecarga e, consequentemente, aumento da lesão muscular.

          Unitermos: Contração excêntrica. Hipertrofia muscular. Lesão muscular.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Nos últimos anos, o número de praticantes de atividade física cresceu vertiginosamente, mas não apenas a promoção da saúde foi enfocada e, sim, a questão estética, a procura por um corpo bonito (CLEBIS e NATALL, 2001).

    Para alcançarem seus ideais, muitos indivíduos conscientes dos maléficos resultados de forças repetitivas sobre uma estrutura buscam nos exercícios de sobrecarga intensiva um modismo implantado: Um corpo definido.

    Apesar de parecer que o treinamento excêntrico proporciona melhores estímulos para o desenvolvimento da força e maior hipertrofia, as lesões podem ser mais freqüentes naquelas atividades, onde há um grande número dessas ações excêntricas.

    O exercício excêntrico tem sido como um modelo fisiológico de lesão muscular em humanos. Segundo Ebbeling e Clarkson (1989) e Goldspink (1999), citados por Serrão (2004), o exercício excêntrico é considerado um dos tipos de exercício mais lesivos ao músculo, devido ao aumento de tensão na linha Z dos sarcômeros, principalmente em músculos de pessoas sedentárias.

    Muitos são os danos e/ou alterações provocadas pelas contrações excêntricas, mas este tipo de ação não é utilizada apenas em laboratórios para testes, pelo contrário, é usado frequentemente em educação física (academias, futebol, futebol americano e basquetebol) e, em alguns casos, na vida diária.

    Desta forma, este estudo bibliográfico tem como objetivo verificar as alterações morfológicas nas fibras musculares estriadas esqueléticas causados pelos exercícios de contração excêntrica, levando em consideração os benefícios, os malefícios e também as particularidades das respostas adaptativas nas fibras musculares.

As ações excêntricas

    Requião, Filus e Oliveira (2000) destacam que a contração muscular é do tipo excêntrica quando o músculo alonga-se durante a contração, isto é, durante o desenvolvimento da tensão ativa. Assim, o treinamento de força envolve alta resistência e baixo número de repetições, e leva a um aumento da proteína contrátil (actina e miosina), causa maior lesão muscular, menor recrutamento de unidades motoras e menor gasto energético, leva a um tecido conjuntivo mais forte, melhora da eficiência contrátil e inibições reduzidas e possível aumento da quantidade de fibras musculares.

Adaptações morfológicas da ação excêntrica

    Durante as ações musculares excêntricas o grau de sobreposição dos miofilamentos de actina com os de miosina tende a diminuir conforme o músculo é alongado, o que provoca a diminuição da produção de força ativa durante a realização de uma ação excêntrica (A.E.). Assim, enquanto o músculo é alongado, a tensão passiva que é a resistência oferecida pelos elementos elásticos -tinina e desmina- ao alongamento, aumenta. Desta maneira, durante uma A.E. a tensão passiva é somada a força ativa, e a força que o músculo é capaz de produzir aumenta (BARROSO, 2005), no entanto, deve-se levar em consideração que Indivíduos treinados são capazes de ativar completamente seus músculos durante a A.E., evento diferente do ocorrido com sedentários.

    Parte da comunidade científica concorda que no recrutamento durante a A.E. as unidades menores com menor capacidade de produção de força são recrutadas primeiro e com a necessidade de aumentar a força unidades maiores e mais fortes são recrutadas (recrutamento seletivo).

    Durante a fase inicial do treinamento de força, alterações neurais, como aumento do número de unidades motoras recrutadas, e aumento do sincronismo intramuscular são responsáveis pelo aumento de força muscular.

    Após esta etapa, é possível observar nos músculos alterações estruturais e ultra-estruturais tais como irregularidades no padrão estriado das fibras musculares, o aparecimento de núcleos centrais, a disrupção e vacuolização sarcoplasmática, o aumento do volume mitocondrial, o aparecimento de áreas de necrose segmentar e o edema celular. (TORRES, CARVALHO e DUARTE, 2005). Essas alterações intra-sarcolemais decorrentes do aumento da tensão causado pelo exercício de força promovem rompimento de algumas proteínas estruturais do sarcômero, como desminas (FETT et al., 2001), proteína de ligação entre linhas Z adjacentes que fornece estabilidade mecânica à fibra muscular, podendo ocorrer nos cinco primeiros minutos após uma série de exercícios excêntricos (LIEBER e FRIDÉN, 1999). Tais alterações estimulam a síntese protéica dentro da célula.

    Assim, a quantidade de proteína no interior do sarcoplasma tende a aumentar induzindo a incorporação de células satélites pela fibra muscular que, assim que ativadas pela ocorrência de dano muscular, alongamento e aumento do nível de atividade física, são capazes de se proliferar para auxiliar no processo de reparo as lesões sofridas.

    Essa seria uma das hipóteses que tentam explicar a hipertrofia relacionando-o com o grau de dano muscular em nível de estresse acima do habitual, denominado-se “principio da sobrecarga ou estresse” (FETT et al., 2001) porém, existem algumas evidências demonstrando que o dano muscular decorrente de uma única carga de treinamento excêntrico parece não ser suficiente para o desencadeamento do processo de hipertrofia. (BARROSO, 2005).

Exercício excêntrico e lesão muscular

    Segundo Serrão (2004), tem sido demonstrado que o exercício excêntrico oferece efeitos benéficos, como um potente estímulo para o fortalecimento muscular, e deletérios ao músculo esquelético, a qual pode-se citar a lesão muscular, pois, nesse tipo de ação, realiza-se trabalho de força e de alongamento ao mesmo tempo, aumentando, assim, o “stress” sobre os tecidos. Essas ações provocam uma extensão além do normal de alguns sarcômeros, causando, dessa forma, danos aos mesmos.

    Esse grau de lesão muscular depende da duração e intensidade do exercício, se realizado de forma exaustiva, ambos provocam danos celulares, e a degeneração corre segundo níveis crescentes (CLEBIS e NATALL, 2001), no entanto, deve-se levar em consideração que a lesão da fibra muscular estimula a mitogênese normalmente latente na fibra muscular e pode aumentar a reparação da lesão muscular. Todavia, em situação normal de lesão do músculo, os tecidos fibrosos crescem mais rapidamente em resposta a reação inflamatória, e apenas uma pequena parte de regeneração da fibra muscular está presente. (FETT et al., 2001).

    Alterações estruturais e ultraestruturais nas fibras musculares foram evidenciadas após exercícios excêntricos utilizando 4 indivíduos, eles aplicaram um teste de step (escada) durante 20 minutos e os achados em microscopia eletrônica revelaram que, imediatamente após o exercício, muitos sarcômeros encontraram-se rompidos, desorganização dos miofilamentos e o material que compõe a linha Z movia-se pelo sarcômero (lesões focais ou precursores de lesões extensas). Em grandes áreas foi possível observar rompimento da arquitetura com desorientação de organelas e miofilamentos de suas posições usuais (CLEBIS e NATALL, 2001).

    De acordo com Torres et al., a realização de exercícios de estiramento estático, por si só, não parece induzir agressão no músculo íntegro. Já o os submetidos unicamente ao programa de exercício excêntrico, apresentou evidências de agressão muscular.

O treinamento de força

    Segundo Barroso (2005), a inclusão de AE no treinamento de força maximiza as respostas adaptativas do músculo (por haver menos números de fibras ativas produz-se maior nível de força). Além disso, mesmo quando as AE são utilizadas exclusivamente como forma de treinamento os resultados também são mais vantajosos tanto para o ganho de força quanto para a hipertrofia.

    “O trabalho de alta intensidade em musculação que predomine a fase excêntrica necessita de tempo mais longo de recuperação e o aumento de força dá-se concomitante ao aumento da massa muscular (hipertrofia), levando-se em consideração que atletas treinando no limite da exaustão muscular, sem entrarem em ‘overtraining’, obtém melhores resultados de desempenho” (FETT et al., 2001).

Considerações finais

    Após os estudos efetuados pode-se concluir que, como forma de treinamento físico bastante utilizado, está o princípio de sobrecarga com o exercício excêntrico inserido. O principal objetivo deste tipo de ação é o ganho de massa muscular.

    Entre as características que diferenciam a ação excêntrica estão as características mecânicas que permitem que o músculo produza mais força e as adaptações morfológicas, pois, após um período de treinamento excêntrico, evidencia-se maiores ganhos de força e hipertrofia. O aumento de massa decorrente deste tipo de treinamento parece estar ligado a fatores diversos, como maior ocorrência de danos, maior grau de tensão e alongamento a que a fibra é submetida.

    Mudanças decorrentes do treinamento de força, como os desarranjos e rompimentos dos miofilamentos, de proteínas estruturais e consequentemente da linha z, podem afetar o bom funcionamento do músculo levando, em muitos casos, a algum tipo de lesão acentuada.

Referências

  • BARROSO, Renato. Adaptações neurais e morfológicas ao treinamento de força com ações excêntricas. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, São Paulo, 13(2): 111-122. 2005.

  • CLEBIS, Naianne e NATALL, Maria. Lesões musculares provocadas por exercícios excêntricos. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 9, n. 4, p. 47-53, outubro. 2001.

  • EBBELING, C. B.; CLARKSON, P. M. Exercise-induced muscle damage and adaptation. Sports Med., v. 7, p. 207-234, 1989.

  • FETT, Carlos et al. Suplementação de ácidos graxos ômega-3 ou triglicerídeos de cadeia média para indivíduos em treinamento de força, v. 7, n. 2, p. 83-91, jul - dez. 2001.

  • GOLDSPINK, G. Changes in muscle mass and phenotype and the expression of autocrine and systemic growth factors by muscle in response to stretch and overload. J. Anat., v. 194, p. 323-334, 1999.

  • LIEBER, R. L.; FRIDÉN J. Mechanisms of muscle injury after eccentric contraction. J. Sci. Med. Sport. V. 2, n. 3, p. 253-265, 1999.

  • REQUIÂO, Luiz Fernando; FILUS, Eliezer e OLIVEIRA, Mariele. Correlação entre contração concêntrica versus excêntrica nos movimentos de flexo-extensão do joelho. Fisio Magazine, Paraná.

  • SERRÂO, Fábio. Alterações morfo-funcionais do músculo quadríceps femoral de humanos lesado pelo exercício excêntrico. São Paulo: UFSCar, 2004. 132 p. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, 2004.

  • TORRES, R.; Carvalho, P. e Duarte, J.A. Influência da aplicação de um programa de estiramentos estáticos, após contrações excêntricas, nas manifestações clínicas e bioquímicas de lesão muscular esquelética. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 3(v) 274-287, 2005.

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