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Atividade física para indivíduos infectados pelo vírus 

da imunodeficiência humana: uma revisão sistemática

La actividad física para las personas infectadas con inmunodeficiencia humana: una revisión sistemática

Physical activity for human immunodeficiency virus infected subjects: a systematic review

 

Graduados em Educação Física

Universidade Federal do Ceará

(Brasil)

Wesley Lessa Pinheiro*

Carlos Jorge Maciel Uchôa Gadelha*

wesleylpinheiro@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo resgatar artigos que apontassem efeitos positivos no que diz respeito à aplicação de exercícios físicos em indivíduos infectados pelo vírus da imunodeficiência adquirida. Foram encontrados um total de 13 artigos que satisfaziam os critérios de inclusão para o presente estudo. Os artigos encontrados apontaram que é possível administrar um programa de exercícios físicos de maneira segura e eficiente em indivíduos soropositivos, obtendo assim todos os seus benefícios.

          Unitermos: Exercício físico. AIDS. Saúde.

 

Abstract

          The objective of this study was to survey articles who pointed positive effectives with respect to the application of physical exercises in individuals infected with the human immunodeficiency virus. A total of 13 articles that satisfied the inclusion criteria to the present study were found. The found articles pointed that it’s possible to manage a physical exercise program in a safe and efficient way in seropositive subjects, obtaining this way all of their benefits.

          Keywords: Physical Exercise, AIDS, Health.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 180 - Mayo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Desde seu surgimento nos início dos anos 80, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) tem sido objeto de vários estudos, dado o seu caráter letal e à inexistência de uma cura. Com o desenvolvimento do primeiro tratamento, houve um considerável avanço em relação à sobrevida dos indivíduos infectados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), mas, acompanhado a isso, o desencadeamento de vários efeitos negativos foram observados como manifestações neurológicas, alterações metabólicas, complicações cardíacas e pulmonares e alterações no metabolismo ósseo.

    Diversos estudos mostram que a atividade física caracteriza-se como um importante meio para se ter uma vida saudável. O risco de doenças e problemas de saúde diminui graças ao exercício físico que, por sua vez, também pode ajudar no processo de recuperação do sistema imunológico dos indivíduos. O exercício regular, além disso, pode também reduzir a proporção de massa gorda e elevar a proporção de massa magra e o desempenho aeróbico dos sujeitos. Tendo em vista as modificações na composição corporal em decorrência infecção pelo HIV assim como as modificações que ocorrem em decorrência da aplicação da terapia antirretroviral, a recuperação da força e da aptidão física deve se tornar um importante objetivo no que diz respeito aos sujeitos com AIDS.

    Esse trabalho objetiva resgatar estudos que confirmem os efeitos positivos dos exercícios físicos aplicados em indivíduos portadores do HIV. Para um melhor entendimento acerca da patologia, foram resgatados também estudos que tratam acerca de sua epidemiologia, características e os impactos do tratamento.

2.     Metodologia

    Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de revisão bibliográfica sistêmica. Para a elaboração deste artigo de revisão, foram realizadas buscas em diferentes bases de dados. Primeiramente, foram pesquisados os seguintes termos combinados na base de dados SciELO: “epidemiologia”, “AIDS”, “HIV”. Em um segundo momento, pesquisaram-se os seguintes termos combinados na base de dados PubMed: “exercise”, “physical activity”, “AIDS”, “HIV”.

    Após as buscas, foram aplicados os seguintes critérios para a aceitação e inserção dos artigos científicos encontrados nesse trabalho: idioma português, inglês ou espanhol; publicados entre os anos de 2002 e 2012; publicados em periódicos cuja classificação se desse nos níveis A1, A2, B1 e B2 para sua respectiva área de avaliação; ao menos um dos termos da busca deveria aparecer no título do artigo. Com a aplicação dos critérios descritos anteriormente, um total de 13 estudos foram aceitos para inclusão neste trabalho.

3.     Revisão da literatura

    São inúmeros os estudos que mostram que a atividade física regular é a chave para uma vida saudável. O risco de doenças e problemas de saúde é diminuído em função do exercício, que pode também ajudar na recuperação do sistema imune, reduzindo a prevalência de infecções e neoplasias entre os praticantes. O exercício regular também pode diminuir a quantidade de massa gorda e aumentar a quantidade de massa magra e o desempenho aeróbico. Dadas as alterações na composição corporal decorrentes da própria infecção pelo HIV bem como as alterações que se dão em decorrência da aplicação da terapia antirretroviral, a recuperação da força e da aptidão física é o principal objetivo de indivíduos com AIDS (SOUZA et al., 2008, p. 620).

    A chave para o treinamento físico é a especificidade: o treinamento aeróbico melhora o condicionamento cardiovascular e o treinamento de força aumenta a força e a massa muscular. Em trabalhos recentes foram encontrados resultados interessantes em relação ao condicionamento aeróbico, evidenciando que o descondicionamento aeróbico pode ser revertido com o treinamento aeróbio. Tratando-se do treinamento de força, foram encontrados aumentos significativos na força, circunferências, massa livre de gordura e estado funcional quando comparados com o grupo controle. Considerando as alterações apresentadas no perfil lipídico, os resultados ainda são controversos, porém, foram encontrados resultados significativos quando avaliada a gordura corporal total, com reduções mais importantes na região do tronco (DERESZ et al., 2007, p. 278).

3.1.     Efeitos do exercício na função imune

    O estresse causado pelo exercício físico gera respostas agudas e crônicas, seja em indivíduos infectados pelo HIV ou não. As células do sistema imune, leucócitos, linfócitos, monócitos e neutrófilos aumentam durante e após o exercício, encontrando-se em maiores quantidades em exercícios de alta intensidade e longa duração (SOUZA; MARQUES, 2009, p. 468).

    Bopp et al. (2004) verificaram em seu estudo a relação existente entre níveis de atividade física, quantidade de HIV circulante no sangue e contagem de células CD4+. Foi encontrada uma relação inversa entre o nível de atividade física e a quantidade de vírus circulante no sangue. Também foi encontrada uma correlação entre o nível de atividade física e a contagem de células CD4+. Esses achados sugerem que o aumento do nível de atividade física pode ter efeitos benéficos na quantidade de HIV circulante em indivíduos infectados. Por outro lado, em um estudo realizado por Fitch et al. (2006) não foram encontradas diferenças significativas na contagem de células CD4+, esse resultado desfavorável, entretanto, pode ser devido à intensidade do programa de treinamento que não foi controlado ou quantificado.

3.2.     Efeitos do exercício no perfil lipídico

    Em indivíduos aparentemente saudáveis, a atividade física pode levar à redução de gordura corporal total e central, dos níveis séricos de triglicerídeos e maiores níveis de lipoproteína de alta intensidade (HDL). A melhora do perfil lipídico relacionada ao exercício não difere em indivíduos infectados pelo HIV, como mostram vários estudos (SOUZA; MARQUES, 2009, p. 468).

    Florindo et al. (2007), realizou um estudo buscando relacionar o nível de atividade física com a incidência de gordura corporal em sujeitos em terapia antirretroviral altamente ativa. Foi encontrada uma correlação negativa entre atividade física e a incidência de gordura, indicando que a atividade física contribui na prevenção de acumulação de gordura em indivíduos portadores do HIV. Em outro estudo, Marrero et al. (2004) comparou a composição corporal de indivíduos infectados pelo HIV fisicamente ativos e inativos. Verificou-se que os participantes fisicamente ativos apresentaram uma composição corporal mais saudável em comparação aos indivíduos fisicamente inativos.

    Domingo et al. (2003), comparou em seu trabalho a composição corporal e o perfil sérico de lipídios em sujeitos infectados pelo HIV em terapia antirretroviral após uma rotina de atividades físicas. Seus resultados confirmaram a rotina de atividades físicas como fator de proteção determinante para o desenvolvimento de síndromes de redistribuição de gordura.

3.3.     Efeitos do exercício na capacidade aeróbia

    Nixon et al. (2005) buscou por meio de um estudo mostrar a segurança e a efetividade de uma intervenção de exercícios aeróbicos em adultos infectados pelo HIV. Foi concluído que o exercício aeróbico parece ser seguro e pode ser benéfico para adultos portadores do HIV.

    Deresz et al. (2007) cita em seu trabalho a eficácia do exercício físico para a melhora dos parâmetros cardiorrespiratórios e faz uma análise da interação entre o exercício físico, a infecção pelo HIV e o estresse oxidativo. Em indivíduos infectados pelo HIV, o estresse oxidativo está associado à replicação viral, assim, seu aumento pode acentuar a disfunção imunológica e induzir a replicação viral. O estresse oxidativo pode, além disso, favorecer a apoptose das células CD4+ e estar envolvido no mecanismo de indução do fator de necrose tumoral. O treinamento físico poderia gerar adaptações que amenizariam os efeitos do estresse oxidativo em indivíduos portadores do HIV por meio de melhorias nos níveis de glutationa, na atividade de enzimas antioxidantes como a catalase, superóxido dismutase e glutationa peroxidase aliadas a melhorias do mecanismo não enzimático, como ácido úrico plasmático, vitaminas e outros antioxidantes.

    Palermo & Feijó (2003) recomendam a programação de treinos entre 3 e 4 vezes por semana sem ultrapassar 90 minutos totais ou 45 minutos aeróbios. Preferir exercícios aeróbicos com intensidade até 75% do VO2 máximo ou 80% da frequência cardíaca máxima. Características parecidas são descritas por Bopp et al. (2003) e Dudgeon et al. (2004), o primeiro indica um programa de exercícios com frequência de 3 a 5 dias por semana com intensidades de 50% a 85% da frequência cardíaca máxima ou 45% a 85% do VO2 máximo com duração de 20 a 60 minutos por sessão, o segundo, por sua vez, indica um programa com frequência de 3 dias por semana com intensidades de 60% a 85% da frequência cardíaca máxima ou 50% a 85% do VO2 máximo entretanto, não especifica a duração da sessão de treinamento.

3.4.     Efeitos do exercício na força muscular

    É comum ocorrer redução na força muscular e incapacidade funcional em indivíduos infectados pelo HIV, levando a um quadro de fragilidade e dependência, que pode estar associado à baixa qualidade de vida, aumentando os riscos de mortalidade. O treinamento resistido é o que mais contribui para o aumento dessa capacidade física, devido às adaptações musculares à carga de trabalho (SOUZA, 2009, p. 470).

    A perda de massa muscular esquelética possui um impacto significante no desempenho funcional em pessoas infectadas pelo HIV. Com a introdução da HAART, a incidência dessa perda tem diminuído, embora ainda seja comum (SCOTT, 2007, p. 374).

    O’Brien et al. (2004) examinou a segurança e a efetividade das intervenções com exercícios resistidos progressivos nos parâmetros de força em sujeitos adultos infectados pelo HIV e concluiu que os exercícios resistidos parecem ser seguros e benéficos para indivíduos portadores de HIV.

    Souza et al. (2008), aplicou um programa de treinamento resistido progressivo em uma série de indivíduos infectados pelo HIV para avaliar a sua força muscular. A força dos principais grupos musculares aumentou de 74% a 122%, confirmando o aumento da força em decorrência do treinamento resistido em sujeitos infectados pelo HIV.

    Para o treinamento resistido, Palermo & Feijó (2003) indicam que o treino resistido deve ser programado até que possa atingir 3 séries de 8 a 10 repetições a 80% de 1RM (Repetição Máxima). Deve-se atentar também para a evolução das células CD4+ e da quantidade de vírus circulante no sangue, além da viabilidade ou não da progressão da carga de treinamento. Bopp et al. (2003) recomenda séries com 8 a 12 repetições onde se trabalhem os principais grupos musculares, mas não especifica o número de séries e a intensidade em RM. Por sua vez, Dudgeon et al. (2004) recomenda 3 séries de 8 repetições, devendo esses números permanecerem constantes ao passo que se aumenta a intensidade.

4.     Considerações finais

    Como mostraram os vários estudos que foram aqui apresentados, seria possível administrar um programa de exercícios físicos de maneira eficiente e segura em indivíduos portadores do HIV, obtendo, por meio desses, benefícios desejáveis para esses indivíduos como melhora do sistema imune e da autoestima, aumento do VO2 máximo da massa e força muscular, melhora do perfil lipídico e diminuição no risco de doenças cardiovasculares, o que levaria a uma melhora da sua qualidade de vida.

    Entretanto, para que o programa de exercícios físicos contemple os efeitos desejados nos indivíduos soropositivos, não se pode esquecer a prescrição específica de cada treinamento, que deve contemplar componentes de força e aeróbico.

    Mais investigação ainda é necessária para que sejam esclarecidos os mecanismos que envolvem a prática de exercícios físicos e seus efeitos na infecção pelo HIV bem como os efeitos do exercício associado à terapia antirretroviral altamente ativa.

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