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Motivação à prática da musculação: um estudo
nas academias de São José

La motivación para la práctica de musculación: un estudio en los gimnasios de Sao José

 

*Bacharel em Educação Física e Esporte

**Mestre

(Brasil)

Rafael Luiz de Andrade*

Fernanda Fonseca*

MS. Gustavo Ricardo Schütz**

MS. Elinai dos Santos Freitas**

fernandafonsecagrp@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Na área da atividade física e da prática de exercícios físicos a motivação exerce grande efeito sobre os indivíduos. Com o crescimento do número de academias no país, o estudo busca conhecer aspectos relacionados à motivação a prática da musculação no município de São José. Foi utilizado o IMPRAF 54 (Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física). Participaram 232 praticantes de musculação de 11 academias do município de São José, com idade entre 18 e 60 anos. Verificou-se o que o prazer é o fator que mais motiva, seguido por saúde, estética, sociabilidade, controle de estresse e competitividade. Na análise por gênero e por faixa etária o prazer também foi o fator que mais motiva os praticantes de musculação das academias de São José.

          Unitermos: Motivação. Academia. Atividade física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A motivação, em qualquer ambiente, é um dos principais precursores para a realização de uma tarefa bem sucedida. Afirma-se que sem motivação não há comportamento humano e muitos são os fatores que motivam os indivíduos no seu dia a dia tanto e esses podem vir internamente ou externamente. Além disso, a força em cada motivo influência e é influenciado pela maneira de perceber o mundo de cada indivíduo (MACHADO, 1997).

    No campo da atividade física e da prática de exercícios físicos, Malavasi e Both (2005) ressaltam que a motivação exerce um papel de grande efeito sobre os indivíduos, sendo um dos grandes responsáveis para que o indivíduo realize uma atividade ou não. Complementando, os mesmos autores destacam que o indivíduo que obtém um alto nível de motivação, demonstra por palavras ou ações, seu desejo pessoal de atingir com grande sucesso, um padrão de excelência.

    Segundo Saba (2001) o exercício físico carrega consigo um conceito de “wellness” um termo que significa sentir-se bem, estar bem, satisfeito e motivado, com boa saúde, o que implica na manutenção do exercício físico por um longo tempo. Correia e Queirós (2006) destacam a aparência física e os significados associados a ela, observando-se um grande interesse pelo corpo “belo”. Esta busca vem sendo trabalhado diretamente nas diferentes modalidades em academias, como na musculação. Costa, Bottcher e Kokubun (2009) apontam a musculação como uma modalidade se desenvolveu muito na década de 90, onde sua prescrição foi muito recomendada em função dos benefícios para a melhora da saúde, através do desenvolvimento da força muscular, bem estar psicossocial e capacidades funcionais. Santos e Knijnik (2006) destacam como a modalidade mais procurada pelas pessoas em academias, podendo ter por objetivos, padrões de beleza e/ou saúde, além de outros.

    A saúde física relacionada à qualidade de vida é citada como principal motivador para a prática de musculação no estudo realizado por Alves e Piccoli (2010), com praticantes de musculação de uma academia de Novo Hamburgo, RS. Entretanto o principal fator motivacional atribuído pode ser influenciado por diferentes fatores, como sexo e faixa etária. Exemplo desta variação é apresentado por Balbinotti e Capozzoli (2008) com praticantes de ginástica em Porto Alegre/RS, em que as mulheres aderiram mais à prática regular de atividade física que os homens, quando os motivos estão relacionados à saúde, assim como para os jovens adultos e indivíduos de meia idade no início e manutenção de uma atividade regular. Outra variação verificada foi que indivíduos mais jovens atribuíram maior importância a fatores de sociabilidade e competitividade quando comparados a faixas etárias maiores. Assim, analisar estes fatores torna-se importante na interpretação dos fatores motivacionais.

    A consciência em relação ao que leva o indivíduo a procurar alguma atividade física também parece fundamental para mantê-lo fisicamente ativo (DESCHAMPS e DOMINGUES FILHO, 2005). Isto é destacado por Weinberg e Gould (2001), onde a personalidade, as necessidades e os objetivos de um aluno, atleta ou praticante de exercícios são apontados como fatores determinantes do comportamento motivador. Contudo, o conhecimento dos fatores motivacionais pode colaborar com profissionais de Educação Física, bem como gestores de academias, no desenvolvimento de ações que visem à fidelização de seus clientes. E a partir do número crescente de academias de musculação no município de São José/SC, buscou-se investigar os fatores motivacionais de praticantes de musculação em academias.

Método

    O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética local (registro 11.516.4.09.III). Os participantes da pesquisa foram convidados a participar do estudo, informados quanto aos procedimentos a serem realizados, e após concordarem, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para em seguida, responder os questionários. Foi resguardado aos sujeitos que, no momento da aplicação do instrumento, pudessem desistir por qualquer motivo ou desconforto. Desta forma, participaram da pesquisa 232 praticantes de musculação de 11 academias do município de São José, com idade entre 18 a 60 anos, de ambos os sexos. A escolha dos participantes foi de forma não aleatória, com participação voluntária.

    O município de São José apresenta cerca de 200.000 habitantes, distribuídos numa área territorial de 116 km2, tornando-o o quarto município em população e o segundo densidade demográfica de Santa Catarina (FARIAS, 2006). Não há registros exatos, mas percebe-se o significativo e crescente aumento de academias no município, contribuindo com isso para que se tenha uma amostra representativa e que responda satisfatoriamente aos objetivos do trabalho.

    Para verificar a motivação dos foi utilizado o “Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física” IMPRAF-54 elaborado por Balbinotti e Barbosa (2006). O IMPRAF-54 é um instrumento que possibilita verificar a partir de 54 itens, com 9 blocos, seis possíveis dimensões associadas à motivação à prática regular de atividades física; sendo que o primeiro bloco apresenta uma questão relativa à dimensão motivacional: (1º) Controle de Estresse, (2º) Saúde, (3º) Sociabilidade, (4º) Competitividade, (5º) Estética e (6º) Prazer. Essas questões são repetidas até o oitavo bloco sendo que o último bloco, o nono é composto por seis questões repetidas tendo como objetivo investigar o grau de concordância acordadas a primeira e a segunda resposta ao mesmo item. O questionário apresenta uma escala tipo Likert com cinco opções, em uma ordem crescente de avaliação: (1) “isto me motiva pouquíssimo”, (2) “isto me motiva pouco”, (3) “mais ou menos, não sei dizer, tenho dúvida”, (4) “isto me motiva muito” e (5) “isto me motiva muitíssimo”.

    Para a coleta de dados, inicialmente foram contatadas 11 academias, explicados os objetivos da pesquisa e assinado o Termo de Ciência e Concordância entre as Instituições. Foram agendados dias e horários para aplicação dos questionários, estando presente no local o pesquisador para esclarecimento de possíveis dúvidas. A coleta de dados foi realizada nos meses de março e abril de 2011.

    Para análise dos dados foi utilizado dados de estatística descritiva utilizando parâmetros de média, desvio padrão, mínimo e máximo através dos escores obtidos pelo instrumento de pesquisa, apresentados através tabelas para todos os participantes, de acordo com o gênero e com a faixa etária.

Resultados

    Na tabela 1 estão apresentados os dados descritivos dos valores observados em cada dimensão na amostra geral (Estresse, Saúde, Sociabilidade, Competitividade, Estética e Prazer).

Tabela 1. Dimensões motivacionais – amostra geral

    Na tabela 2 são apresentados os dados descritivos dos valores observados em cada dimensão em uma amostra comparativa por sexo.

Tabela 2. Dimensões motivacionais – amostra geral por sexo

    Na tabela 3 são apresentados os dados descritivos dos valores observados em função da faixa etária.

Tabela 3. Dimensões motivacionais – em função da faixa etária

Discussão

    De acordo com a tabela 1, o prazer é apontado como principal dimensão motivacional pela prática, seguido pelas dimensões saúde e estética. As dimensões sociabilidade e controle de estresse abaixo obtiveram resultados semelhantes e como dimensão menos associada à motivação verificou-se a competitividade. Isto pode ser explicada pela característica não-competitiva da modalidade musculação, enquanto que em modalidades esportivas, como o basquete, segundo Saldanha (2008), a dimensão competitividade pode vir a apresentar maior significância.

    Os resultados deste estudo estão próximos, mas não semelhantes aos encontrados por Capozolli (2010) que objetivou verificar os fatores motivacionais para a pratica em academias de ginástica do município de Erechim, RS. O autor encontrou a saúde como principal fator, seguido por prazer, estética, controle de estresse, sociabilidade e competitividade. Concordando com esses achados, Balbinotti e Capozzoli (2008), buscaram identificar os aspectos motivacionais nos usuários de academias de ginástica, e tiveram como resultados a saúde como fator mais motivador para os praticantes. Este destaque da dimensão saúde pode estar associado ao destacado por Chagas e Samulski (1992), em que ao verificaram os aspectos que levam indivíduos a procurarem uma academia de ginástica concluíram que manter-se em boa forma, melhorar o condicionamento físico, aumentar o bem estar corporal e psicológico, melhorar o bem estar de saúde e prazer em realizar atividade física estavam entre os mais citados.

    Uma ordem de importância diferente foi verificada por Napoli e Sene (2008) também buscando identificar os principais fatores motivacionais que levam praticantes de musculação a treinar no período vespertino na cidade de Jaguaruna, SC. Os autores verificaram o controle de estresse como a dimensão mais citada, seguida por saúde, sociabilidade, competitividade, estética e estando o prazer como último motivo. Talvez o turno vespertino verificado possa corresponder ao um horário procurado por uma população específica, a qual necessidade de uma quebra na rotina diária, com intuito de minimizar agentes estressantes.

    Buscando uma relação com modalidade de caráter competitivo, percebe-se que os dois principais motivos foram semelhantes. No estudo de Bühler (2010) realizado com praticantes de futebol de finais de semana também se verificou que os praticantes buscam a prática pelo prazer, seguido por saúde, competitividade, controle de estresse, sociabilidade e estética.

    Em relação a possíveis diferenças em função do sexo, conforme apresentado na tabela 2, a dimensão que mais motiva o sexo feminino para a prática da musculação foi o prazer seguido pela saúde, estética, controle de estresse, sociabilidade e competitividade. Nas dimensões controle de estresse e sociabilidade obtiveram resultados próximos da média geral. Não muito diferente das mulheres, os motivos que levam os homens a prática da musculação também foi o prazer, seguido por saúde, estética, sociabilidade, controle de estresse e competitividade. Percebe-se com os resultados uma similaridade entre homens e mulheres na busca pela prática da musculação, diferindo apenas na terceira dimensão em que para as mulheres aparece o controle do estresse e para os homens a sociabilidade.

    Quando comparado com um estudo com objetivos semelhantes, verificou-se que o principal motivo difere-se tanto para homens quanto para mulheres que buscam a prática em academias com objetivos de saúde, seguido por prazer, estética, controle de estresse, sociabilidade e competitividade (Balbinotti; Capozzolli, 2008).

    Diferentemente dos resultados encontrados neste estudo, Napoli e Sene (2008) encontraram como principais fatores motivacionais a prática da musculação no período vespertino, à saúde, seguido por prazer, estética, sociabilidade, controle de estresse e competitividade. Neste mesmo estudo citado, para as mulheres a saúde também vem em primeiro lugar seguido por prazer, estética, controle de estresse, sociabilidade e competitividade. No estudo de Zambonato (2008) os resultados quando analisados separando homens e mulheres também diferem desse estudo e concordam com os resultados de Napoli e Sene (2008). Os motivos dos adolescentes com sobrepeso e obesos a prática da atividade física para os homens teve como fator primordial à saúde, seguido pelo prazer, estética, sociabilidade, controle de estresse e competitividade, para as mulheres a saúde também vem em primeiro lugar, já as outras dimensões vem seguido por estética, prazer, sociabilidade, controle de estresse e competitividade.

    Comparando com atividades de caráter competitivo, no estudo de Saldanha (2008) foi verificado os motivos dos atletas de basquetebol infanto-juvenil de 13 a 16 anos a prática regular da atividade física e o fator que mais motiva as mulheres a prática é o prazer seguido de saúde, sociabilidade, competitividade, estética e controle de estresse. Comparando a variável sexo feminino na tabela 2 acima, somente as dimensões prazer e saúde correspondem aos resultados. Já para os homens o motivo principal também é o prazer seguido por competitividade, saúde, sociabilidade, estética e controle de estresse. Ao comparar com a tabela 2, somente o prazer e a saúde se iguala as dimensões.

    Em função da faixa etária, de acordo com a tabela 3, todas as faixas etárias apresentaram o prazer como principal dimensão, seguido pela saúde. A estética apresentou maior importância nas três primeiras faixas etárias, diminuindo na faixa etária de 41 a 60 anos. Sociabilidade e controle do estresse apresentaram valores semelhantes em todas as faixas etárias. Também em todas as faixas etárias, a competitividade foi a dimensão de menor valor verificado.

    Os sujeitos da faixa etária de idade entre 18 a 20 anos têm como principal dimensão o prazer, seguido por estética, saúde, sociabilidade, controle de estresse e competitividade. Amorim (2010) em seu estudo verificou os fatores motivacionais de adultos jovens do sexo masculino a prática da musculação na faixa etária de 18 a 30 anos. Teve como dimensão mais motivadora a estética seguida pelo prazer, saúde, sociabilidade, controle de estresse e a competitividade. Esses resultados apresentam-se de maneira diferente aos achados neste estudo com semelhanças nas três ultimas dimensões: sociabilidade, controle de estresse e competitividade. Outra diferença verificada foi em relação ao estudo de Balbinotti e Capozzoli (2008) com praticantes de ginástica em Porto Alegre/RS. Os autores apontaram que indivíduos mais jovens atribuíram maior importância a competitividade quando comparados a faixas etárias maiores, o que não foi verificado neste estudo.

    Analisando a faixa etária entre 21 a 30 anos a dimensão que mais motiva os praticantes de musculação de São José é o prazer, seguido por saúde, estética, sociabilidade, controle de estresse e competitividade. Com resultados deferindo, Proença (2011) investigou mulheres de 20 a 35 anos que praticam musculação em uma academia do município de Palhoça, SC e a dimensão que mais motiva as praticantes de musculação foi à Saúde.

    Quando analisado a faixa etária entre 31 a 40 anos a dimensão que mais motiva os praticantes de musculação das academias de São José permanece o prazer seguido por saúde, estética, controle de estresse, sociabilidade e competitividade. Já Capozolli (2010) analisando indivíduos de 21 a 40 anos, o principal fator motivacional dos sujeitos praticantes é a saúde, logo após o prazer, controle de estresse, estética, sociabilidade e competitividade. Pouco mais próximo aos achados deste estudo Bühler (2010) analisando praticantes de futebol na faixa etária de 32 a 45 anos, também obtiveram o prazer como motivo principal, seguido por competitividade, saúde, controle de estresse, sociabilidade e estética.

    Para a faixa etária de 41 a 60 anos a dimensão que mais motiva é o prazer, seguido por saúde, controle de estresse, estética, sociabilidade e competitividade. Estes dados também se confrontaram de maneira diferente aos encontrados por Balbinotti e Capozzoli (2008) que encontraram que os motivos que levam os sujeitos à prática em academias de ginástica com idade entre 41 a 65 é a saúde seguido por prazer, estética, controle de estresse, sociabilidade e competitividade. Porém se comparado com o estudo de Bühler (2010) com faixa etária de 46 a 60 anos, o que mais motiva os praticantes de futebol é saúde subseqüente de prazer, competitividade, controle de estresse, sociabilidade e estética, podendo ser verificado que somente a 4ª dimensão (sociabilidade) é que se apresenta semelhante.

Considerações finais

    Verifica-se que a dimensão que mais motiva os praticantes de musculação nas academias de São José, SC é o prazer seguido por saúde, estética, sociabilidade, controle de estresse e por último a competitividade.

    Mesmo analisando separadamente homens e mulheres, verificou-se um comportamento semelhante da motivação entre os gêneros, nas três primeiras dimensões analisadas Prazer, Saúde, Estética. Verificou-se uma inversão entre homens e mulheres no que se refere ao 4º e 5º fator controle de estresse e sociabilidade para as mulheres e sociabilidade e controle de estresse para os homens. A competitividade aparece para ambos os sexos como o último fator associado à prática da musculação.

    De acordo com a distribuição por faixas etárias, pode-se dizer, de forma geral, que os escores avaliados apresentam os mesmos valores, traduzindo que o perfil motivacional, num todo, apresenta-se semelhante para as faixas etárias analisadas. É de se esperar que, uma ou outra característica avaliada apresentem diferenças, como a estética, que se apresentou superior nos indivíduos avaliados de 18 a 20 e mais reduzida nos indivíduos de 41 a 60 anos. Isto é um reflexo da sociedade em geral e das fases da vida, onde as pessoas mais jovens, que normalmente são mais inseguras, estão diante de constante avaliação e aprovação, seja em suas relações pessoais, relações trabalhistas ou até mesmo com seu perfil explorado pela sociedade. Porém, como este estudo tem uma amostra considerável, admite-se que o que foi encontrado é reflexo dos padrões sociais e dos diferentes perfis motivacionais ao longo da vida.

Referências

Outros artigos em Portugués

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