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Sapatilha e/ou chuteiras: futebol, das questões 

de gênero às práticas pedagógicas

Zapatillas y/o botines: el fútbol, de las cuestiones de género a las prácticas pedagógicas

 

*Licenciada em Educação Física pela Universidade Federal de Sergipe, UFS

**Professora no curso de Educação Física do Centro Universitário de Brusque. UNIFEBE

Mestre em Educação pela Fundação Universidade Regional de Blumenau, FURB

***Professor do departamento de Educação Física da Universidade Federal de Sergipe, UFS

Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia, UFBA

(Brasil)

Ingrid Santos Modesto*

guinga_eletrika@hotmail.com

Camila da Cunha Nunes**

camiladacunhanunes@gmail.com

Fabio Zoboli***

zobolito@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este manuscrito tem como objetivo refletir sobre as relações de gênero na escola, o sexismo e a Educação Física na qual utilizamos da modalidade esportiva futebol como pano de fundo para o estabelecimento das relações tensivas.

          Unitermos: Educação Física escolar. Gênero. Práticas pedagógicas.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/

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As relações de gênero, a escola e a Educação Física

    A instituição escolar está impregnada de valores sociais mediados pelas diversas instancias da sociedade derivadas em ações que se localizam na formação e transformação da consciência social. Diante disso, é preciso pensar se a educação está voltada para a modificação ou para a conservação dos valores sociais vigentes na ordem.

    A escola como parte do sistema social pelo que nos parece esta fundamentada no modelo capitalista cujo percebemos a manifestação de valores sexistas em que o trabalho reprodutivo cabe às mulheres e o produtivo e intelectual, aos homens. A escola não diferentemente da ordem que a rege, se tornou um terreno fértil para a separação dos indivíduos, transformando-se em um espaço para as representações sociais das diferenças que são erigidas fora de seus muros e que por ela são reproduzidas.

    Como um mecanismo de reprodução da luta de classe, esta instituição corrobora com os ideários dominantes e com seus interesses, que prevalecem sobre os dominados, possuindo valores segregacionistas, de marginalização e exploração.

    Saviani (1999) nesta mesma linha de pensamento assevera que por ser fundamentada pelo modelo de produção capitalista a escola é dividia em classes e sofre a determinação do conflito de interesses que caracteriza a sociedade.

    Deste modo, elementos como rendimento, competição, seletividade, regras são alguns dos desígnios da classe dominante expressos pelo ambiente educacional e, por conseguinte nas aulas de Educação Física em que em um contexto de sociedade sinalizam as desigualdades sociais.

    A escola, como um espaço social de saberes formais e institucionalizados, é um importante lugar para a formação de meninos e meninas, homens e mulheres, tornando-se dessa forma um ambiente generificado. É nesse contexto que os significados e os sentidos são incorporados, visto que os desejos, o falar, o ouvir e o calar afloram, assim como os adestramentos, servindo como base para a compreensão das diferenças sexuais, as quais tiveram sua iniciação no seio familiar.

    Diante do exposto, podemos entender que a escola, como um aparelho ideológico do Estado, é responsável pela transmissão das normas e valores que culturalmente foram estereotipados, reproduzindo-se deste modo as desigualdades existentes entre os sexos e que contribuem para a construção de papéis sociais específicos.

    Como em outras instâncias sociais, a escola funciona como uma importante formadora da conduta social própria à sociedade, que garante a manutenção do modelo vigente, caracterizado pela sustentação das desigualdades de classe e da forma como é desenvolvida acaba sendo vista como um obstáculo para se erguer uma sociedade democrática e participativa.

    Percebe-se que a educação formal tende também a enquadrar as meninas em seus padrões de normalidade cultural, já que parece mais um mecanismo classificatório que determina e ordena hierarquicamente os espaços e papéis a serem seguidos socialmente, reforçando a dicotomia produzida fora dela.

    A Educação Física como componente curricular da Educação Básica está diretamente associada a estas questões veiculadas ao gênero que visualizamos até o momento. Apesar de suas propostas educacionais passarem por significativas modificações ao longo de sua história, percebemos que a práxis pedagógica desenvolvida no meio escolar é permeado pelos acontecimentos históricos originados no próprio seio da sociedade e da Educação Física e também pelas influências de suas cargas culturais enquanto seres sociais que os professores recebem no decorrer de sua existência.

    As condições naturais que se fomentam nas teorias exclusivamente biológicas, impossibilitaram a prática em conjunto de meninos e meninas, servindo como forte argumento dessa separação. Sayão (2004, p. 4) corrobora ao salientar que “[...] o que é mais comum no cenário cotidiano da escola é o congelamento dos corpos em tempos e espaços circunscritos culminado com a negação ao acesso de experiências de movimento que ampliem o repertorio cultural dos sujeitos”.

    O fato é que os discursos desses profissionais estão intimamente ligados aos preconceitos discriminatórios que fizeram com que as meninas somente executassem as tarefas que socialmente são destinadas para seus sexos. Assim, a Educação Física torna-se um terreno fértil que contribui para reforçar os valores e hábitos de acordo com o sexo e as práticas pedagógicas de seus profissionais baseada na educação segregacionista em detrimento da formação global dos indivíduos, apesar dos esforços de alguns em propor a participação em conjunto como uma “boa opção” de contornar tal situação.

    Deste modo, dentro do contexto histórico e social, nota-se que as edificações do preconceito de estereótipos ainda parecem inalteradas para as meninas ao considerá-las seres frágeis; tal característica ainda é muito presente, enquanto essa visão para os meninos é tida como inadmissível. Enfim, diante de tal assertiva, podemos dizer que meninos e meninas são treinados e também são vítimas do mecanismo controlador e tensionador antiético de dominação.

A mulher e o desporto

    A inserção feminina no contexto desportivo vem gerando significativas discussões no meio acadêmico e esportivo. É inegável que as mulheres vêm conquistando, ao longo da história esportiva, visibilidade em várias modalidades que tradicionalmente não faziam parte do mundo feminino. Esse panorama permite dizer que as transformações culturais e sociais abriram um leque de possibilidades, inclusos numa sociedade rica, sobre o conteúdo.

    Para que possamos entender como se deu esta guinada feminina neste mundo, precisamos entender como e quais foram as conquistas e barreiras enfrentadas em seu percurso histórico-desportivo até chegarmos ao nosso foco da pesquisa, que é a participação no futebol.

    A participação feminina ao longo de todo o contexto histórico desportivo se mostrou de forma tímida. É necessário que façamos um resgate histórico para podermos avaliar tais participações desde o início de suas manifestações corporais, e também avaliar suas marcas deixadas, as quais produziram efeitos na entrada e permanência de homens e mulheres nas diferentes práticas corporais e esportivas.

    A inserção feminina nos esportes, nas primeiras competições, no nascedouro dos Jogos Pan-Helênicos de Atenas, não era permitida nem mesmo de forma indireta, como espectadora. Tal fato causou inquietudes em algumas mulheres que queriam estar presentes e desejavam participar dos jogos, mesmo que para isso tivessem que burlar as regras vigentes na época, disfarçando-se para conseguirem assistir às competições, como o caso de Ferenice que se disfarçou de treinador para assistir a competição do filho (Diágoras) (OLIVEIRA, 2006).

    Os registros que se tem do início da participação das mulheres nos desportos e também como espectadoras datam do século XVIII, quando as mesmas participavam de campeonatos de bocha e arco e flecha nos Jogos Ingleses (1770). A inserção feminina foi permeada por várias barreiras tendo que se adequar a alguns costumes estabelecidos na época como, por exemplo, as vestimentas, que causavam desconforto possuindo várias camadas de saias, provocando sobrepeso e diminuindo o seu rendimento. A partir do século XIX, as mulheres começam a participar de jogos de boliche, críquete, bilhar, arco e flecha e alguns esportes praticados na neve (OLIVEIRA, CHEREM; TUBINO, 2008).

    A iniciação feminina nos esportes neste período se desenvolvia dentro das escolas de classe média, que permitia o acesso a diversas atividades físicas. Porém, devido à crença de que as competições femininas fora dos muros escolares eram indignas e salvaguardando alguns casos danosos, a alavancada das mulheres nos esportes se deu de modo inexpressivo (OLIVEIRA, 2006).

    Devido ao mito das condições biológicas das mulheres, que eram vistas como seres frágeis e incapazes fisicamente, foram impedidas de participarem dos jogos Olímpicos modernos, já que muitos idealizadores dos jogos, dentre eles o Barão de Coubertin, pensavam que a presença feminina vulgarizava este ambiente que é cheio de honras e conquistas (OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008).

    O Barão, porém, reconhecia o direito que as mulheres tinham em fazer o uso também das práticas esportivas, mas recomendava que estas fossem executadas longe dos olhares do público masculino, por questões antropológicas e culturais, uma vez que queriam reproduzir fidedignamente os valores e costumes vigentes na época dos primeiros jogos (OLIVEIRA; CHEREM; TUBINO, 2008).

    Aos poucos as mulheres foram sendo incluídas no programa Olímpico, participando de provas como o golfe e o tênis, sendo Charlotte Cooper a primeira ganhadora da medalha de ouro em uma Olimpíada. É através das análises da gradação e participação das mulheres em Jogos Olímpicos que podemos perceber o grau de envolvimento nas mais diversas modalidades esportivas. De uma participação quase que imperceptível em meados do século XVIII, foi se ampliando e ganhando significação ao longo de um século de participação feminina em Jogos Olímpicos (OLIVEIRA, 2006).

    A inserção feminina nos esportes no Brasil ocorreu de modo pacífico, consolidando-se em um processo lento de impregnação nas práticas de interação. É importante frisar que as mulheres que tinham acesso a essas práticas eram aquelas que pertenciam à elite. Em contrapartida, essa inserção se deu de modo hierárquico em condições diferentes se comparado aos homens, ou seja, os incentivos dados aos homens e às mulheres são distintos.

    As primeiras manifestações esportivas femininas em nosso país, segundo Goellner (2005), ganharam visibilidade nas primeiras décadas do século XX com o advento da modernidade das grandes cidades, que, além de proporcionar a urbanização trouxe com estas a educação do corpo, vista como essencial ao desenvolvimento, fortalecimento e crescimento da nação, importante aliada para o crescimento econômico.

    Até a metade do século XIX, a organização estrutural conservadora não permitia que as mulheres desenvolvessem atividades físicas e desportivas para não agredirem seus órgãos reprodutores, visto que as mulheres dessa época eram educadas apenas para exercerem suas funções de mãe e esposas dedicadas. Este foi o ponto de partida que indicavam as atividades físicas que se ajustavam ao desenvolvimento reprodutivo feminino.

    Com o passar dos anos, o discurso para inserir as práticas esportivas no cotidiano da mulher brasileira se modificou. Através dos pensamentos higienistas e eugenistas da época que ganham terreno e fazem com que seja desenvolvido e privilegiado o esporte feminino, uma vez que estes pensamentos pregavam o fortalecimento de seus corpos como meio de aperfeiçoarem seus papéis de reprodutoras, gerando assim uma raça mais forte. Entretanto, podemos verificar que estas liberações não permitiram que as mulheres se tornassem emancipadas, mas servindo para a distinção das funções executadas por cada sexo na sociedade, pois dela dependia para sua própria regeneração (MOURÃO, 2000).

    A educação feminina, portanto, era voltada para os ideários nacionalistas do referido período pautado em medidas profiláticas, buscavam o embranquecimento e o fortalecimento da raça através de um estilo de vida considerado higiênico e saudável.

    Na década de 1930, o esporte feminino ganha novos contornos, tendo na figura da nadadora Maria Lenk um dos maiores ícones. É nesse período que o esporte convida as mulheres a saírem das “sombras” para desfrutarem do ar, do sol e das águas, o que culminou na crescente participação e inserção das mesmas nas atividades físico-desportivas, fato que se tornou um marco.

    Todavia, a ampliação da participação feminina no âmbito esportivo não se deu sem a presença de conflituosas reações. Foram criados argumentos baseados no mito da fragilidade feminina, que as proibia de executar algumas práticas esportivas que não expressassem as suas feminilidades, como o futebol, o futebol de salão, futebol de praia, as lutas e o halterofilismo, por serem consideradas práticas violentas e não adequadas ao sexo feminino (GOELLNER, 2005).

    Apesar de sofrerem algumas proibições a certas atividades corporais e esportivas, as mulheres as aderiram, indo de encontro aos discursos de interdição.

    A participação das brasileiras nas mais variadas modalidades esportivas ganham significativas projeções, possibilitando assim a criação de grandes eventos de competições esportivas femininas, como o Jogo Feminino do Estado de São Paulo (1935) e os Jogos da Primavera (1949). Foi por meio destes que muitas garotas foram descobertas e lançadas como atletas no âmbito nacional e internacional, e fizeram parte de equipes estaduais e nacionais.

    As mulheres, por mais barreiras que tenham ultrapassado, ainda encontram muitas dificuldades para se fazerem visíveis não só como atletas, mas também como gestoras e comandantes. Se pensarmos a participação feminina em todas as instâncias esportivas com a masculina, podemos verificar que é consideravelmente menor.

    No entanto, apesar desse crescente aumento, não podemos considerar que houve uma equidade de oportunidades entre os sexos. Não é raro encontrarmos ainda hoje certo desequilíbrio no acesso às práticas esportivas entre meninas e meninos tanto no contexto escolar quanto no âmbito do esporte, visto que ainda existem barreiras que nutridas pela sociedade, criam contextos segregadores para a prática feminina de esportes.

    Vimos que a inserção das mulheres no mundo esportivo foi árdua e lenta, devido as barreiras impostas pelos preconceitos ainda encravados na mentalidade da sociedade machista e moralista, na qual homens e mulheres ocupam funções e papéis distintos, a fim de se tornarem visíveis.

A mulher e o futebol

    É irrefragável o amor que o futebol desperta. Trazido da Inglaterra no final do século XX, este esporte se tornou paixão nacional, fazendo derrocar outros esportes como remo e o turfe em termos de popularidade.

    Hoje, o futebol está intrinsecamente ligado à cultura brasileira, estando relacionado umbilicalmente, sendo segundo Ventura e Hirota (2007, p. 155) “uma das principais manifestações culturais brasileiras, constantemente atualizada e ressignificada pelos seus atores”.

    Como um fator de construção, esse esporte se destaca por ser aparentemente democrático, capaz de agregar em um mesmo espaço indivíduos tão diferentes e desconhecidos, porém unidos pela mesma paixão – vibrar e torcer em uma partida de futebol.

    Entretanto, o futebol não é tão democrático como aparenta ser, pois, desde sua origem, caracteriza-se como um objeto defendido e tomado como exclusividade pelo universo masculino. A participação das brasileiras no futebol, apesar da crescente ascensão, ainda acontece debaixo de discriminações relacionadas a sua inserção nesse esporte muito mais que a qualquer outro praticado pelas mulheres. Entender que o futebol é uma área reservada exclusivamente para os homens é partir dos princípios sociais que regem a construção dos papéis estabelecidos às mulheres, relacionando-as com o espaço de exclusão/inclusão no universo futebolístico.

    A expansão do futebol feminino no Brasil ocorreu a partir da década de 1980, quando a classe média adere a essa prática. Fato que originou o surgimento de vários times femininos e o fomento de alguns campeonatos que possibilitaram a visibilidade das mulheres no cenário esportivo nacional. Antes desta expansão do futebol feminino, as mulheres encontravam-se mais como um apetrecho de pano de fundo para o jogo dos homens vistas como acessório do futebol.

    Percebe-se que o talento/habilidade para o esporte era colocado em segundo plano. Para que o jogo das mulheres ganhasse força e atraísse público, este foi transformado em um empreendimento comercial, ou seja, corpo objeto, e, para tal, fazia-se necessário buscar outras competências femininas que pudessem conquistá-los e tornar o futebol feminino mais atrativo. Tais atrativos foram encontradas através do apelo à beleza das jogadoras e da erotização de seus corpos transmitindo, assim, mais uma forma de discriminação e preconceito para que a imagem do futebol tivesse um elo com a feminilidade (GOELLNER, 2005).

    A sociedade constantemente coloca em xeque a sexualidade das mulheres quando as veem praticar esportes que socialmente são estigmatizados como práticas masculinas. Percebemos o incômodo que elas causam quando demonstram algum talento, que carrega em si o estigma da imperfeição e do desvio.

    Independentemente de serem contraventoras ou não, o fato é que as mulheres invadiram as quatro linhas do campo e suas participações aumentaram nos clubes, nas escolas e nas áreas de lazer, se comparadas à décadas anteriores. Elas gritam, vibram por seus times, correm, driblam, fazem gols sensacionais e defendem o estandarte do time do qual fazem parte. Arbitram, fazem comentários, enfim, ocupam lugares até então reservados histórica e culturalmente para homens. Ao infringirem os determinantes impostos tanto para o uso de seus corpos como para a definição de seus comportamentos, as mulheres colocam em xeque a hegemonia masculina no contexto esportivo e enfrentam os preconceitos nele existentes.

Sapatilhas e/ou chuteiras: futebol das questões de gênero às práticas pedagógicas

    Vimos que a incorporação dos valores intrínsecos à nossa cultura ao longo dos tempos é um importante indicador social para a não aceitação das mulheres em certas instâncias cujo predomínio eminente se faz pelos homens. Podemos observar que o corpo expressa as estruturas sociais e através desses valores existe uma concepção de poder designado ao sexo masculino e ao feminino, já que desde pequenos carregam consigo as marcas da “normalidade” indicadas para cada sexo passadas para as futuras gerações.

    Dornelles e Molina Neto (2005) argumentam que ser feminino ou masculino engloba muito mais aspectos do que o simples fato de ser pertencente ao sexo feminino ou masculino são definições construídas dentro das relações sociais que se moldam no decorrer da vida e não findam apenas nas diferenças sexuais biológicas existentes.

    Os corpos que a cultura constrói e distingue carregam marcas das relações construídas socialmente. E a escola, ambiente que teoricamente destina-se à formação de indivíduos críticos e conscientes, é um desses espaços onde tais manifestações encontraram terreno propício para a sua reafirmação, sendo que a Educação Física é um elemento constitutivo das identificações corporais apresentadas sob os aspectos socializadores e fomentadora do uso do corpo como uma forma de linguagem.

    Dentre os vários conteúdos que essa disciplina pode abordar podemos destacar os esportes, pois estes ocupam uma posição de destaque na preferência dos docentes, e como tal podem contribuir para a formação de uma sociedade que valorize a igualdade entre os seres e abomine qualquer forma discriminatória. Todavia, o esporte que está posto na contemporaneidade se caracteriza justamente pelo distanciamento entre as diferenças, com elementos próprios. Apesar de homens e mulheres praticarem os mesmos esportes, estes ainda se destacam por possuírem características ligadas à imagem masculina, reproduzidas ou transmitidas nas aulas de Educação Física, portanto não deixaram de ser uma instituição social generificadora (ALTMANN; SOUSA, 1999). Tais assertivas ficam ainda mais evidentes em modalidades tipificadas como masculinas, como é o caso do futebol, ponto relevante deste trabalho.

    Sem dúvida, o futebol, como foi dito anteriormente, é a modalidade esportiva mais propagada no território brasileiro. Pode ser jogado com diferentes arranjos e mesmo assim se configurará como um jogo de futebol, gerando assim certo fascínio em quaisquer que sejam as classes sociais, raças, idades e gêneros.

    As mulheres não ficaram à mercê dessa realidade, já que o futebol feminino galgou espaço também dentro dos muros escolares, utilizando as aulas de Educação Física como um dos principais momentos da sua prática. Em contrapartida, podemos perceber que é neste momento que o mesmo é problematizado e encontra certas objeções para o fomento da prática

    É notório nas aulas de Educação Física o domínio dos meninos nessa modalidade em detrimento da participação das meninas, ou seja, há uma hierarquização entre homens e mulheres na encenação desta prática esportiva de modo a indicar os lugares ocupados por cada um.

    Não podemos desprezar a participação das meninas no esporte. Como em outros lugares sociais masculinizados, as mulheres vêm ganhando seu espaço buscando o rompimento das hierarquias de gênero. Porém, certas práticas impregnadas de princípios segregacionistas devem ser reavaliadas pelos professores de Educação Física de modo que estes possibilitem experiências motoras que contemplem a todos e explorem suas capacidades físicas fazendo derrocar, assim, os pensamentos históricos (re) utilizados nas suas aulas.

    Fazendo alusão as palavras Altmann e Sousa (1999, p. 56), podemos compreender o significado da exclusão nas aulas: “Não se pode concluir que as meninas são excluídas de jogos apenas por questões de gênero, pois o critério de exclusão não é o fato de elas serem mulheres, mas por serem consideradas mais fracas e menos habilidosas que seus colegas ou mesmo outras colegas”.

    Entretanto, considerar que somente as meninas são inábeis para as práticas esportivas ou que somente os meninos são hábeis é uma visão reducionista. Além disso, tais características podem se modificar, a depender da atividade realizada.

    No tocante à intervenção do docente na prática em conjunto, várias considerações devem ser feitas reconhecendo o papel fundamental no processo de formação social do professor.

    Os professores de Educação Física, através do uso de usas atribuições, colocam sobre seus alunos olhares de constante vigilância de suas condutas ou posturas físicas. Entretanto, essas mesmas expectativas são percebidas pelos estudantes entre si, uma vez que ocupam os papéis de vigilantes e vigiados, controlando e sendo controlados a todo instante como forma de conterem suas ações e comportamentos.

    A transformação da realidade discriminatória dos estereótipos sexuais deve passar pela escola e pela Educação Física, estimulada tanto individualmente quanto coletivamente pelos docentes, pra que se ergam reflexões neste terreno que é por excelência o lugar onde as desigualdades entre homens e mulheres acentuam-se.

    O entendimento do termo gênero como categoria relacional, histórica, deve ser o pontapé inicial da instituição escolar. Com isso, ao reconhecer essa categoria, é imprescindível fazer uma profunda reflexão coletiva, com a participação de toda a comunidade escolar, de sua realidade social a fim de quebrar paradigmas.

    É preciso refletir sobre os espaços onde o futebol e os esportes são de domínio masculino, para que as mulheres sejam aceitas e possam praticá-lo como são percebidos pelos homens; tais espaços devem ser colocados em questionamento e problematizados pelos professores e estes, por sua vez, carregados de argumentos, devem esclarecer as questões das relações interpessoais entre os sexos na sociedade, dando ênfase aos esportes e ao futebol.

    Enfim, a prática docente embasada na diferença dos sexos já iniciada em sua formação acadêmica por meio do ensino em disciplinas técnico-desportivas que categoricamente são generificantes deve ser colocada em xeque com urgência para que haja uma maior conscientização profissional, fomentando assim práticas pedagógicas mais democráticas que auxiliem na construção do pensamento crítico de seus alunos para que a discriminação aos grupos não dominantes seja destruída.

Referencias

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