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A construção da identidade profissional docente:

 implicações para a formação inicial em Educação Física

La construcción de la identidad profesional docente: implicancias para la formación inicial en Educación Física

 

Licenciada em Educação Física pela UNESP-Rio Claro

Especialista em Pedagogia do Esporte Escolar pela UNICAMP

Mestranda em Educação pela UNINOVE

Professora da Prefeitura Municipal de São Paulo

Cintia Cristina de Castro Mello

ci_camello@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A identidade docente é constituída por diferentes significados e representações que permeiam a formação do sujeito-professor. Assim, compreender o currículo como importante elemento da construção do ser professor é fundamental no processo de formação inicial. Este artigo tem por objetivo discutir os elementos constituintes da identidade docente do professor de Educação Física, considerando o currículo dos cursos de formação inicial um fator essencial na produção destas identidades.

          Unitermos: Identidade docente. Formação inicial. Currículo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 179, Abril de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    De acordo com Farias e Nascimento (2012) a preocupação de pesquisar a construção da identidade do profissional de Educação Física durante sua formação e atuação é um grande desafio devido aos poucos estudos que abordam esta temática. Para os autores a identidade do professor está associada com a profissionalização docente e com as relações que o professor estabelece com a profissão desde sua formação inicial, passando pelas suas experiências anteriores com a área, até a fase de maturidade na carreira.

    O conceito de identidade se reveste de diversos significados, porém todos apresentam uma idéia em comum, a identidade não é uma característica fixa dos sujeitos, mas um fenômeno entretecido por relações dinâmicas. Assim “as identidades são relacionais e múltiplas baseadas no reconhecimento por outros atores sociais e na diferenciação, assumindo a interação social um papel crucial neste processo” (BATISTA, PEREIRA, GRAÇA, 2012).

    A identidade articula os discursos e práticas que nos posicionam como sujeitos, e os processos que produzem a nossa subjetividade. Assim, ela se reconstrói pela experiência, pela interação, em um processo dinâmico de atribuição de significados, interpretações e narrativas.

    Hall (1997) ao tratar da centralidade da cultura na constituição das identidades afirma que a identidade emerge não apenas de um centro interior, mas do diálogo entre as representações que permeiam os discursos e pelas posições que assumimos como sujeitos frente a estes significados. Assim, nossas identidades não são estáveis, são deslocadas e sedimentadas por diferentes identificações, ou seja, a identidade não é única e particular, mas construída coletivamente nas práticas culturais e sociais. Portanto, podemos entender que

    (...) as identidades não são unificadas; que elas são, na modernidade tardia, cada vez mais fragmentadas e fraturadas; que elas não são, nunca, singulares, mas multiplamente construídas ao longo de discursos, práticas e posições que podem se cruzar ou ser antagônicos. As identidades estão sujeitas a uma historicização radical, estando constantemente em processo de mudança e transformação (HALL, 1997, p. 108).

    A partir deste conceito de identidade, entendemos que a constituição da identidade do sujeito-professor também resulta de um intenso processo de transformação e ressignificação dado pelos diversos mecanismos e discursos que regulam o seu fazer pedagógico. Dentre estes mecanismos encontramos, por exemplo, as políticas educacionais, os livros de divulgação científica, as mídias e os espaços de formação, inicial e contínua.

    Como apontam Garcia, Hypolito e Vieira (2005) a identidade docente é negociada entre essas múltiplas representações e de modo relevante pelo discurso educacional oficial, que organiza os sistemas escolares, seus objetivos e metas, bem como regula e definem o trabalho docente, determinando seus modos de ser e agir, e produzindo uma demanda por um tipo específico de identidade. No entanto, os professores negociam suas identidades em meio a outras variáveis como o histórico familiar e pessoal, condições de trabalho e pela sua própria prática profissional.

    Assim, a identidade profissional docente pode ser entendida como

    as posições de sujeito que são atribuídas, por diferentes discursos e agentes sociais, aos professores e às professoras no exercício de suas funções em contextos laborais concretos. Refere-se ainda ao conjunto das representações colocadas em circulação pelos discursos relativos aos modos de ser e agir dos professores e professoras no exercício de suas funções em instituições educacionais, mais ou menos complexas e burocráticas (GARCIA, HYPOLITO, VIEIRA, 2005, p.48).

O Currículo e a identidade docente

    Entretecendo o conceito de identidade docente ao debate acima, concebemos que o currículo disponibilizado durante a formação inicial dos professores constitui um dos fatores que implicam na construção de sua identidade, uma vez que neste espaço circulam discursos, códigos e representações sobre o ser professor, que o posiciona como sujeito e estabelece sua prática. Como afirma Silva (2007) a seleção e organização das experiências no currículo visam a produzir certos sujeitos, neste caso certos professores. Assim, o currículo é fruto de inúmeras lutas e nele entrecruzam-se práticas de significação, poder e identidade.

    A construção da identidade acontece pela/nas práticas culturais e sociais, por isso a maneira como o ser professor se representa e como é representado nos currículos de formação traz implicações para este processo, uma vez que interpela a construção desta identidade enquanto professor. Essa formação é construída por múltiplas vozes, múltiplos saberes e junto á eles múltiplos sentidos e significações, ou seja, por diferentes concepções do que é e de como ser professor.

    Sabemos que o saber do professor não advém apenas de suas experiências na formação, mas emerge de sua natureza social e plural, advindo de diferentes fontes de sua trajetória de vida pessoal e profissional. Tardif (2002) compreende quatro grandes categorias que compõe este conhecimento: os saberes provenientes da formação profissional que vem das concepções e reflexões das ciências da educação e são adquiridos durante o percurso formativo, os saberes disciplinares correspondem aos diversos campos de conhecimento e são integrados nas universidades, são saberes que constituem uma tradição cultural de uma área; os saberes curriculares correspondem à organização e sistematização de conteúdos, métodos e estratégias; e os saberes experienciais que nascem das experiências profissionais e são incorporadas à sua postura como professor; soma-se aqui os saberes adquiridos antes da formação que são os saberes pessoais ligados á família (e outros espaços) e á história de vida. Sacristán (1999) confirma esta idéia ao entender o ensino como um ofício que se apóia em saberes adquiridos pela experiência acumulada na prática social e coletiva, aí estão incluídas a própria vida escolar dos docentes, as vivências, e a formação pedagógica voltada para sua atuação profissional.

    No entanto, esses saberes não são neutros e ingênuos, pois ser professor não significa apenas dominar um conjunto de conhecimentos específicos e pedagógicos, mas também estar inserido num campo simbólico permeado por discursos acerca do ser docente e da escola, carregado de significados e representações sobre si, sobre suas funções, sobre sua profissão e papel social- certamente marcado pelo histórico da função docente e aqui também pela constituição da Educação Física como área de conhecimento e componente curricular, pela sua história de vida, e pelas suas condições e experiências concretas de trabalho (ROSA e CORRADI, 2007; GARCIA, HYPOLITO, VIEIRA, 2005).

    Portanto, os alunos das licenciaturas quando chegam aos cursos de formação inicial já possuem uma noção e uma representação sobre o que é e como ser professor de Educação Física, advindo de sua trajetória escolar como aluno e suas vivências anteriores com a própria área. No entanto, essas representações são somadas e reconstruídas pelas interações experimentadas durante o curso de formação, constituindo então sua identidade como futuro docente.

Considerações finais

    A partir desta problematização, fica evidente a importância da formação inicial na constituição do sujeito-professor, uma vez que as condições de formação dão sustentação teórico-prática e significação á identidade docente, juntamente com outros fatores que interagem nos processos de identificação dos professores com o seu trabalho. Assim, ressalta-se a necessidade de repensarmos nas possibilidades dos currículos de formação e sua contribuição na composição destas identidades docentes, colaborando para a compreensão de sua função social.

Referências bibliográficas

  • BATISTA, P.M.F; PEREIRA, A. L.; GRAÇA, A. B. S. A (re) configuração da identidade profissional no espaço formativo do estágio profissional. In: FARIAS, G. O.; NASCIMENTO, J. V. (orgs.) Construção da identidade profissional em Educação Física: da formação á intervenção. Florianópolis: UDESC, 2012. p. 81-111.

  • FARIAS, G. O.; NASCIMENTO, J. V. Construção da identidade profissional: metarmofoses na carreira docente em Educação Física. In: FARIAS, G. O.; NASCIMENTO, J. V. (orgs.) Construção da identidade profissional em Educação Física: da formação á intervenção. Florianópolis: UDESC, 2012. p. 61-79.

  • GARCIA, M. M. A., HYPOLITO, Á. M. e VIEIRA, J. S. As identidades docentes como fabricação da docência. Educação e Pesquisa, v.31, n.1, pp.45-56, jan-mar/2005.

  • HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 22, n.2, pp. 15-46, jul-dez/1997.

  • ROSA, M. I. P.; CORRADI, D. P. Cultura(s) e processos de identificação em currículo de formação docente: uma experiência no estágio das licenciaturas. Horizontes, v.25, n.1, p.47-54, jan/jun 2007.

  • SACRISTÁN, J.Gimeno. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

  • SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

  • TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

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