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Interdisciplinaridade: buscando sentidos
e significados dessa prática coletiva

La interdisciplinariedad: buscando sentidos y significados a esta práctica colectiva

 

Professor da Rede Pública Estadual de São Paulo

e da Rede Particular do Município de Americana

Integrante do Grupo de Estudos sobre Cotidiano Escolar da FE-Unicamp

Mestrando em Educação pela FE-Unicamp

Silvio César Cristovão
silviobocao1@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Desde que entrei para o quadro do magistério, em 2000, tento levantar a importância do trabalho colaborativo com projetos de integração entre as disciplinas, os quais pudessem envolver a participação de várias áreas explorando um único tema ou, até mesmo, envolvendo as diversas séries do ensino regular. Acredito que essa forma de trabalho, com vistas à interdisciplinaridade, poderia auxiliar na formação de um cidadão crítico, que já não se satisfaz apenas com o que vem do outro, mas que deseja fazer parte dessa construção de mundo. Muito se tem levantado sobre possíveis conceitos de interdisciplinaridade, dentre os quais se destacam Japiassu (1976), Pombo (2003) e Fazenda (2011). Ambos valorizam as articulações entre as disciplinas, integrando-as de forma que desenvolvam trabalhos continuados de cooperação dos professores envolvidos. Coletivo de autores (1992) também levanta a importância do trabalho interdisciplinar no sentido de que a visão de totalidade do aluno pode ser vislumbrada a partir do momento em que o conhecimento não seja tratado de forma compartimentalizada, afinal não deveriam as disciplinas ser trabalhadas isoladamente. Cabe, enfim, à equipe gestora e aos professores, traçar estratégias que auxiliem no desenvolvimento de trabalhos interdisciplinares, que se aproximem da linguagem, da cultura e necessidades dos alunos, vislumbrando um caminho menos ardiloso e mais produtivo em sentidos e significados a todos os envolvidos no processo de ensinoaprendizagem.

          Unitermos: Educação Física. Projetos. Interdisciplinaridade.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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    Sou professor em uma escola pública de Americana desde 2002, a qual possui uma realidade bastante distinta de outras escolas deste município, pois contempla uma clientela de médio poder aquisitivo (de acordo com questionário sócio-econômico preenchido pelos alunos em 2010), na qual a maioria dos alunos está bem amparada pela família, que está sempre presente em reuniões e acompanham de perto o desenvolvimento de filhos e filhas. Esta escola possui até lista de espera para todos os níveis de ensino, desde o 1º ano do Ensino Fundamental (crianças de seis anos) até o 3º ano do Ensino Médio. Mesmo assim, não deixamos de contar com velhos problemas que atingem a escola e a Educação em geral: estrutura física inadequada para incluir todos, salas lotadas, falta de professores, drogas, interesses distintos dos alunos, nem sempre ligados à Educação, entre tantos.

    Porém, mesmo com todas essas questões, sempre acreditei que algumas metodologias e novas formas de se ensinar pudessem auxiliar numa melhora significativa da qualidade de ensino que se presta em nosso país. Assim, desde que entrei para o quadro do magistério, em 2000, tento levantar a importância do trabalho colaborativo com projetos de integração entre as disciplinas, os quais pudessem envolver a participação de várias áreas explorando um único tema ou, até mesmo, envolvendo as diversas séries do ensino regular. Acredito que essa forma de trabalho, com vistas à interdisciplinaridade, poderia auxiliar na formação de um cidadão crítico, que já não se satisfaz apenas com o que vem do outro, mas que deseja fazer parte dessa construção de mundo.

    Assim, vale lembrar que muito se tem levantado sobre possíveis conceitos de interdisciplinaridade, começando por Japiassu (1976), ao sustentar que:

    A interdisciplinaridade exige uma reflexão profunda e inovadora sobre o conhecimento, que demonstra a insatisfação com o saber fragmentado. Caminhando paralelamente, temos a multidisciplinaridade como algo que se caracteriza por uma ação simultânea de uma gama de disciplinas em torno de uma temática comum. Essa atuação, no entanto, ainda é muito fragmentada, na medida em que não se explora a relação entre os conhecimentos disciplinares e não há nenhum tipo de cooperação entre as disciplinas. Neste sentido, a interdisciplinaridade propõe um avanço em relação ao ensino tradicional, com base na reflexão crítica sobre a própria estrutura do conhecimento, na intenção de superar o isolacionismo entre as disciplinas e no desejo de revitalizar o próprio papel dos professores na formação dos estudantes para o mundo.

    Enquanto isso, também encontramos em Pombo (1994) que:

    Os conceitos de pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, enquanto conceitos caracterizadores de diversificadas práticas de ensino devem ser entendidos como momentos de um mesmo contínuo: o processo progressivo de integração disciplinar (ou ensino integrado), isto é, de qualquer forma de ensino que estabeleça uma qualquer articulação entre duas ou mais disciplinas.

    A mesma autora sugere ainda que:

    Mais importante do que procurar estabelecer fronteiras rígidas entre estes conceitos e as práticas de ensino para que eles remetam, mais fecundo do que delimitar espaços de significação intransponíveis, será reconhecer a natureza contínua de um processo de crescente integração disciplinar, no qual a pluridisciplinaridade seria o polo mínimo da integração disciplinar, a transdisciplinaridade o polo máximo e a interdisciplinaridade o conjunto das múltiplas variações possíveis entre os dois extremos. (idem- ibidem)

    Nesse sentido, Pombo (1994) conclui que:

    A interdisciplinaridade implica, portanto, alguma reorganização do processo de ensino/aprendizagem e supõe um trabalho continuado de cooperação dos professores envolvidos. Conforme os casos e os níveis de integração pretendidos, ela pode traduzir-se num leque muito alargado de possibilidades: transposição de conceitos, terminologias, tipos de discurso e argumentação, cooperação metodológica e instrumental, transferência de conteúdos, problemas, resultados, exemplos aplicações, etc.

    Por fim, quando se refere à importância do trabalho interdisciplinar, encontramos no Coletivo de Autores (1992) que:

    A visão de totalidade do aluno se constrói à medida que ele faz uma síntese, no seu pensamento, da contribuição das diferentes ciências para a explicação da realidade. Por esse motivo, nessa perspectiva curricular, nenhuma disciplina se legitima no currículo de forma isolada. É o tratamento articulado do conhecimento sistematizado nas diferentes áreas que permite ao aluno constatar, interpretar, compreender e explicar a realidade social complexa, formulando uma síntese no seu pensamento à medida que vai se apropriando do conhecimento científico universal sistematizado pelas diferentes ciências ou áreas do conhecimento. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, pag.17)

    Dessa forma, creio que há que se buscar motivação para que o trabalho interdisciplinar aconteça efetivamente, apesar de que não é sempre que nós, professores, somos motivados a partilhar ou participar de algo com o outro, principalmente se isto não tiver um objetivo bem definido. Ou seja, quero dizer que, às vezes, é muito mais instigante quando alcançamos a satisfação pessoal, ou enfim, quando algo nos motiva.

    É possível que encontremos vários motivos que tentem explicar esse fato, desde a formação docente às condições de trabalho e, até mesmo, o material que é utilizado para transmissão de conteúdos, os quais serão cobrados em avaliações anuais1 para medir o aproveitamento dos alunos.

    Embora isso seja uma questão complexa, que demanda um estudo mais específico, vale lembrar um alerta feito por Freire (1996), ao afirmar que é preciso:

    Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições, um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho - a ele ensinar e não a de transferir conhecimento. (FREIRE, 1996, pag. 52)

    Assim, traçar estratégias que auxiliem no desenvolvimento de trabalhos interdisciplinares, que se aproximem da linguagem, da cultura e necessidades dos alunos pode ser um caminho menos ardiloso e mais produtivo em sentidos e significados, tanto para estudantes quanto para professores.

Nota

  1. SARESP (Sistema de Avaliação de Rendimento do Estado de São Paulo), SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), PROVA BRASIL, ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) são exemplos de avaliações de rendimento feitas anualmente para medir o rendimento de alunos do Ensino Fundamental e Médio.

Referências

  • COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

  • GUIMARAES, H., LEVY, T. e POMBO, O. A Interdisciplinaridade: Reflexão e Experiência. Lisboa: ed. Texto, 1ª edição 1993, 96 p. (2ª edição revista e aumentada, em 1994, 102 p.).

  • JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 220 p.

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