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Habilidades motoras utilizadas pelos jogadores de Boccia

Habilidades motoras utilizadas por los jugadores de Boccia

 

Mestre em Educação Física e Desporto
pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)

(Portugal)

Carla Lourenço

d1044@ubi.pt

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi identificar as habilidades motoras utilizadas, pelos jogadores de Boccia, e verificar as mais utilizadas em função da classe, experiência desportiva dos atletas e da eficácia dos lançamentos. A amostra incluiu 26 atletas federados, na modalidade de Boccia, enquadrados nas classes desportivas BC1, BC2 e BC4. Para registo das acções motoras foram utilizadas as checlists de Gallahue (1989). Os resultados deste estudo demonstraram que as habilidades motoras utilizadas pelos jogadores de Boccia são o lançar e rolar. O lançamento é a habilidade motora mais utilizada pelos atletas de Boccia, nomeadamente dos atletas da classe BC1. A habilidade motora rolar é mais eficaz, pois os atletas que fazem rolar a bola alcançam melhores resultados.

          Unitermos: Paralisia cerebral. Habilidades motoras. Boccia.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    São diversos os estudos que comprovam os benefícios da actividade física contribuindo positivamente na aptidão física, aumentando a flexibilidade, força e massa muscular e melhorando os níveis de resistência. Tende a aumentar a auto-estima, diminui a ansiedade, a depressão e contribui para o melhoramento das relações interpessoais e integração em grupo.

    Tendo em conta que todos apresentamos características diferentes e, de modo, a proporcionar a prática desportiva a indivíduos com limitações, surgem adaptações feitas a partir de algumas modalidades desportivas existentes, quer ao nível da competição, quer numa vertente lúdica, tornando possível, também, a sua prática a indivíduos com deficiência, para os quais o desporto pode ser um factor de extrema importância. É através do desporto que muitos deficientes se sentem integrados com sucesso e ganham motivação para as outras actividades, acreditando que possuem capacidades e que as podem desenvolver com sucesso.

    No âmbito dos indivíduos portadores de Paralisia Cerebral (PC) surgem diversas modalidades que podem ser praticadas por estes atletas. Esta patologia caracteriza-se como sendo uma desordem permanente e não imutável da postura e do movimento, devida a uma disfunção do cérebro antes que o seu crescimento e desenvolvimento estejam completos” (Cahuzac, 1985, citado por Muñoz, Blasco e Suárez, p. 293). A paralisia cerebral não tem cura, no entanto, pode ser alvo de tratamento de modo a que haja uma diminuição das limitações apresentadas pelo indivíduo. Esse tratamento deve ser feito o mais cedo possível, pois a falta de estimulação associada ao avanço da idade poderá agravar os problemas do indivíduo e limitá-lo ainda mais. Portanto, o objectivo dos tratamentos é tornar o indivíduo mais autónomo possível, dentro das suas limitações.

    Devido à diversidade de patologias associadas a esta deficiência e aos diferentes graus de funcionalidade de que são portadores, nem todos os indivíduos com PC podem praticar as mesmas modalidades. Existe um vasto leque de desportos de competição criados ou adaptados a pessoas com deficiência,

    A prática desportiva é uma forma que muitos deficientes têm de se sentirem integrados com sucesso, ganhando motivação para outras actividades, acreditando que possuem capacidades e que as podem desenvolver com sucesso.

    Para portadores de paralisia cerebral severa, cujo grau de funcionalidade é muito baixo surge o Boccia, que é um desporto que exige pouco esforço físico e com uma movimentação pouco reduzida ou nula, tendo como objectivo a projecção de bolas com o intuito de as aproximar do alvo (bola branca).

    É uma modalidade desportiva que contribui para a melhoria da auto-estima dos atletas, fazendo-os sentirem-se úteis e capazes. No estudo intitulado “Boccia Adaptado: factores motivacionais” é referido que os factores que motivam os atletas para a prática do Boccia referem-se à procura da superação dos seus limites individuais, possibilitando a indivíduos com um baixo grau de funcionalidade a procura do êxito, rendimento e auto-realização, ao mesmo tempo que contribui para o desenvolvimento das suas habilidades e capacidades, proporcionando uma melhor qualidade de vida (Lima, Oliveira & Nakada, 2006).

    De um modo geral, o Boccia contribui para o desenvolvimento do equilíbrio, para a melhoria da lateralidade e ajuda a manter ou aumentar as amplitudes articulares. É um jogo que estimula a inteligência e o raciocínio, visto ser um jogo de estratégia que pressupõe um conjunto de técnicas e tácticas.

    Actualmente, o Boccia de competição é, também, praticado por outros deficientes motores que reúnem condições para a sua prática. As classes desportivas que integram a amostra são BC1, BC2 e BC4. São incluídos na classe BC1 detentores de paralisia cerebral que necessitam de um auxiliar humano, para lhe ceder as bolas ou até mesmo ajudar a movimentar a cadeira de rodas. Na classe BC2 incluem-se indivíduos com PC, com maior grau de funcionalidade sendo totalmente autónomos em campo. BC4 é a classe que integra outros deficientes motores.

    Com este estudo pretendemos identificar as habilidades motoras utilizadas pelos atletas de Boccia e verificar as mais utilizadas em função da classe, experiência e eficácia dos lançamentos, de modo a cooperar com o trabalho dos atletas, técnicos, treinadores e professores, facilitando o processo ensino-aprendizagem desta modalidade.

2.     método

2.1.     Participantes

    O presente estudo é do tipo descritivo e nele participaram 26 atletas de Boccia, federados, sendo doze indivíduos incluídos na classe desportiva BC1 (n=12), nove indivíduos na BC2 (n=9) e cinco indivíduos na classe desportiva BC4 (n=5). Os atletas observados apresentam uma experiência desportiva no Boccia, situada entre os 3 e 24 anos e de ambos os sexos.

2.2.     Material e procedimentos

    Para captar as imagens foram utilizadas duas câmaras de vídeo analógicas fixas e colocadas em cima de um tripé. Estas foram acompanhadas por um foco de luz, cada uma, direccionados ao jogador.

    O registo das habilidades motoras utilizadas, foi realizada através do registo de todas as acções motoras executadas, pelo atleta, para cada ensaio observado. O registo foi feito, tendo como base as checlist de David Gallahue (1989), para as habilidades motoras respectivas à projecção de bola.

    Após realizada a captação de imagens, por intermédio de dois operadores de vídeo, estas foram cortadas e seleccionadas. Foi feita a observação pormenorizada de todas as acções utilizadas na execução da projecção, tendo em conta a checlist de Gallahue. Foram visualizados cinco ensaios, e registadas todas as acções motoras que o atleta utilizou.

    Como se trata de um estudo descritivo, os dados são apresentados através da frequência e percentagem das diferentes acções motoras utilizadas.

3.     Análise e discussão dos resultados

    A tabela 1 apresenta as habilidades motoras utilizadas em cada classe desportiva: BC1, BC2 e BC4.

Tabela 1. Total de atletas por classes desportivas

    Dos 26 atletas, distribuídos pelas três classes desportivas, que foram observados a maioria dos atletas utiliza o lançamento como forma de projectar a bola (n=15), os restantes rolam a bola (n=11).

    A utilização das diferentes habilidades varia consoante o grau de funcionalidade que os atletas possuem. Como os atletas da classe BC2 são mais funcionais têm mais facilidade em executar qualquer uma das habilidades motoras. Assim, os atletas tendem a escolher a habilidade motora que mais lhe convêm, em situação de jogo. Os atletas BC1 optam, maioritariamente, por lançar a bola, porque as suas limitações motoras dificultam a flexão do tronco à frente. Os atletas da classe BC4 rolam a bola, pois, atendendo ao baixo grau de funcionalidade que possuem, ao nível dos membros superiores, não lhes é permitido a elevação dos mesmos, acima da linha dos ombros.

    Na tabela 2 podemos observar as habilidades motoras utilizadas em função da experiência desportiva dos atletas.

Tabela 2. Habilidades motoras e experiência desportiva

    Quanto à experiência desportiva foram definidos três grupos: os atletas que têm até nove anos de prática, inclusive, que denominámos de menos experientes; um grupo cuja prática de Boccia varia entre 10 e 16 anos, que considerámos o grupo dos experientes; e os atletas com 17 anos ou mais, que designámos como o grupo muito experiente.

    Os atletas que apresentam menos experiência na modalidade optam por utilizar a habilidade motora lançar, sendo 78,6% pouco experientes e 57,1% experientes. Contudo, os atletas que se revelam mais experientes utilizam o rolar como forma projectar a bola.

    A tabela 3 mostra-nos as habilidades motoras utilizadas, tendo em conta a eficácia da habilidade.

Tabela 3. Habilidades motoras e eficácia

    O valor da eficácia surge da média dos cinco melhores resultados obtidos por cada atleta. Para avaliar a eficácia das habilidades foram designados dois grupos. Assim, os atletas que obtiveram entre 4cm e 36cm, inserem-se no grupo com maior nível de eficácia, e o grupo que se enquadra entre os 37cm e 69cm, foram considerados atletas com menor nível de eficácia.

    Verifica-se que 52,6% dos atletas que lançam e 47,4% dos atletas que rolam a bola se revelaram muito eficazes. Existe, uma maior, eficácia dos atletas que rolam a bola. Essa eficácia poderá estar associada ao facto da bola ser lançada mais perto do solo, sendo mais fácil controlar a trajectória, tendo em conta as alterações a nível do atrito, assim como o atleta mantêm o contacto visual entre a linha do braço de lançamento e a bola alvo.

    Na tabela 4 podemos observar a relação existente entre a classe e a experiência desportiva dos atletas.

Tabela 4. Classes e experiência desportiva

    É possível constatar que a maior parte dos atletas são pouco experientes, sendo a maior parte da classe BC1. O número de atletas com muita experiência é pouco expressivo.

    Os dados da tabela 5 mostram a eficácia da habilidade motora em função da classe desportiva do atleta.

Tabela 5. Classes desportivas e eficácia

    Os atletas revelam grande eficácia na habilidade motora que executam, apresentando os da classe BC1 e BC2 maior eficácia, 47,4% e 36,8%, respectivamente.

    Na tabela 6 podemos observar os dados que concernem à eficácia das habilidades e a experiência desportiva dos jogadores.

Tabela 6. Eficácia e experiência desportiva

    Os atletas que revelaram mais eficácia aquando da execução da habilidade apresentam pouca experiência no Boccia. A experiência desportiva não está relacionada com a eficácia. Podemos associar este facto às limitações motoras que os atletas possuem. Isto é, em muitos casos as limitações relacionadas à deficiência são de tal maneira elevadas que mesmo através do treino e da experiência não conseguem melhorar a habilidade que executam.

    Também, o avançar da idade e a consequente perda de capacidades físicas, assim como, o aumento das deformidades e diminuição das amplitudes articulares, podem justificar a diminuição da eficácia da habilidade nos atletas experientes.

4.     Conclusões

    Na amostra utilizada, o lançamento é a habilidade motora mais usada pelos atletas que praticam Boccia, sendo, também, a mais usada pelos atletas que pertencem à classe BC1. Por sua vez, nas classes BC2 e BC4 verifica-se um equilíbrio na utilização das diferentes habilidades.

    À medida que os anos de prática e a experiência na modalidade vão aumentando, verifica-se uma tendência para, a técnica utilizada, passar do lançamento para o rolar.

    A habilidade motora rolar revelou ser mais eficaz, pois os atletas que fazem rolar a bola alcançam melhores resultados.

    Em todas as classes os atletas alcançam bons resultados, no entanto, na classe BC1 regista-se uma eficácia mais elevada.

    Os atletas das classes BC1 e BC4 são, na sua maioria, pouco experientes. Na classe BC2 o grupo mais numeroso é experiente. São poucos os atletas, das três classes, que se revelam muito experientes.

    A eficácia da habilidade e experiência desportiva não estão relacionadas, pois, verificámos que os atletas muito eficazes apresentam pouca experiência na modalidade. O número de atletas que obtêm um elevado grau de eficácia, vai diminuindo à medida que vai aumentando a experiência.

Referências bibliográficas

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