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Habilidade e gênero na escola: uma abordagem a partir do futsal

Habilidad y género en la escuela: un abordaje a partir del futsal

 

*Professora de Educação Física. Pós-graduanda em Metodologia do Ensino

da Educação Física e Esportes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB

**Professor de Educação Física efetivo do Colégio Estadual João Pessoa

Pós-graduado em Atividade Física e Saúde, FTC. Pós-graduando em Metodologia do Ensino

 da Educação Física e Esportes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB

***Professora de Educação Física, pós-graduanda em Metodologia do Ensino da Educação 

Física e Esportes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB

Poliana Gomes Lisboa*

Antonio Francisco Reis Junior**

Maíra Antunes dos Santos Rodrigues***

junioreisant@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho é resultado da conclusão da disciplina Tirocínio Docente do curso de Especialização em Metodologia do Ensino da Educação Física e Esportes da UESB e tem por objetivo estabelecer uma aproximação entre os conteúdos ministrados e a prática docente em instituições de ensino da cidade de Jequié – BA no ano de 2012. Nossa vivência foi realizada no Colégio da Policia Militar Professor Magalhães Neto nas turmas do 9º ano vespertino. A idéia inicial foi levantar um problema freqüente que influenciasse o bom andamento das aulas de Educação Física Escolar. A partir daí encontrar possíveis soluções para enfrentar este problema. Assim, a problemática encontrada foi a desvalorização dos menos habilidosos e conseqüentemente exclusão destes, e ainda a diferença existente entre a prática esportiva de meninos e meninas. A modalidade trabalhada nas aulas foi o Futsal o que facilitou a ampliação desta discussão, uma vez que a modalidade é tida como exclusivamente masculina. Portanto, a estratégia utilizada foi a prática da modalidade de maneira a estimular a participação de todos. Utilizamos ainda o debate e a discussão da problemática com a turma para que os alunos participassem de todo processo e pudesse modificar suas condutas dentro e fora do ambiente escolar.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Gênero. Futsal.

 

          Relatório de conclusão da disciplina Tirocínio Docente da Especialização em Metodologia do Ensino da Educação Física e Esportes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB/2013.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    É inegável que a disciplina Educação Física possui uma importância considerável no desenvolvimento de um sujeito crítico, capaz de experimentar vivências corporais que se bem desenvolvidas refletirão positivamente na vida adulta. A partir destas vivências é possível estabelecer uma discussão a cerca de temas que ultrapassam os limites dos muros escolares. Partindo desta idéia que Educação Física pode contribuir para o avanço na resolução de certos problemas que surgem nas aulas e acabam por se perpetuar ao longo das atividades cotidianas, analisamos as aulas do 9º ano Vespertino do Colégio da Policia Militar Professor Magalhães Neto e identificamos a valorização dos habilidosos no momento do jogo, e conseqüentemente as mulheres são as excluídas deste momento, uma vez que estas são consideradas historicamente menos habilidosas que os homens como demonstra PACHECO (1998 pág. 15) “Um corpo delicado não poderia ser submetido a esforços intensos, de modo que o trabalho da força não lhe era indicado, sob pena de torna-lhe a aparência masculina.” A visão da mulher como sexo frágil sempre foi amplamente difundida na escola e fora dela e as atividades corporais e principalmente as esportivas lhe foram negadas por muito tempo como é apresentado no fragmento a seguir:

    Vejamos: Por muito tempo as atividades corporais e esportivas (a ginástica, os esportes e as lutas) não eram recomendadas às mulheres porque poderiam ser prejudiciais à natureza de seu sexo considerado como mais frágil em relação o masculino. Centradas em explicações biológicas, mais especificamente, na fragilidade dos órgãos reprodutivos e na necessidade de sua preservação para uma maternidade sadia, tais proibições conferiam diferentes lugares sociais para mulheres e para homens... (GOELLNER, 2005 pág. 47).

    Diante da importância de se discutir a questão de gênero como um fator de discriminação à participação das meninas nos esportes no contexto escolar é que surgiram inquietações: como se dá a relação entre meninas e meninos na prática de esporte nas aulas de educação física? As meninas são excluídas por serem menos habilidosas? Como é visto pelos alunos a relação entre habilidades e gênero nas práticas esportivas? Existe esporte de mulher e esporte de homem? A postura do professor interfere em atitudes discriminatórias?

    Nesse contexto, o Futsal aparece como uma modalidade que poderia ser facilmente aplicada no ambiente escolar, no entanto é nesta modalidade vastamente praticada no território nacional que surgem ou se agravam os conflitos de gênero.

    Assim, é notável a diferença na participação das aulas, quando o professor tenta trabalhar esse conteúdo os meninos tendem a participar efetivamente enquanto as meninas ficam em segundo plano só participando quando já possuem habilidade especifica para a modalidade.

    Buscando responder a estas e outras questões que foram surgindo o logo pra prática pedagógica é que se pautou o desenvolvimento da disciplina Tirocínio Docente. Buscamos para tal fim, elaborar atividades que buscassem minimizar esta problemática. Além disto, buscamos proporcionar aos alunos uma participação mais efetiva nas discussões e nas tomadas de decisão, principalmente no que diz respeito às posturas discriminatórias.

Metodologia

    Analisando historicamente como as práticas das modalidades esportivas vem sendo valorizada pela sociedade observamos que mesmo vivendo na sociedade moderna algumas atitudes de preconceitos ainda existem para com as mulheres no que diz respeito a vivência dos esportes, principalmente o futsal. Assim ao chegarem às escolas poucas vivências motoras são proporcionadas e com isto poucas habilidades para esta prática são adquiridas. Sabemos que existem exceções, mas ainda são poucas. Então quando os professores de Educação Física buscam trabalhar com o conhecimento futsal observam que os homens sempre participam das aulas e as meninas ficam sentadas em banco. É necessário modificar esta prática cotidiana, já que para muitas a escola será a sua única oportunidade de vivenciar o futsal, e nós como professores não podemos negar isto dos nossos alunos.

    Assim, este Tirocínio Docente foi distribuído:

Apresentação e discussão das aulas

    Na primeira aula planejada pelo grupo, dando continuação ao trabalho do professor titular da instituição que já havia realizado uma aula anterior, na qual foi introduzido o conteúdo Futsal fizemos uma retomada nos conhecimento adquirido e em seguida foi proposto uma prática com qual foi possível aos alunos escolher seu time ideal. A partir desta prática surgiu à discussão sobre Futsal e sociedade, como nossas atitudes muitas vezes geram ações discriminatórias, culminando numa produção textual.

    Na segunda aula, realizada em quadra o grupo do Tirocínio elaborou atividades que possuíam características da modalidade Futsal, mas com uma nova “cara”, um novo jeito de jogar que permitia a vivência mais democrática da prática, uma vez que eram necessárias outras habilidades que não só aquelas comumente trabalhadas. Os alunos perceberam que nas aulas de Educação Física o mais importante é vivenciar, tendo habilidade ou não.

    Na ultima aula tinha como proposta a execução de um jogo que permitisse a vivência das táticas de jogo, infelizmente por conta do mal tempo e do fechamento do ano letivo tivemos que modificar a aula para que nossa participação não fosse prejudicada. Aproveitamos a aula para abrir o debate com os alunos sobre as aulas anteriores enfatizando as questões de gênero e habilidade.

Conclusão

    Ao pensar as nossas aulas de Educação Física Escolar precisamos estar atentos não só as questões que dizem respeito ao esporte propriamente dito, ou as vivências corporais praticadas, mas precisamos ir além. Discutir e tentar minimizar os conflitos que surgem a partir das aulas e influenciam na vida dos nossos alunos fora da escola, também é necessário mudar certos conceitos, hábitos e posturas que vem sendo transmitido o longo do tempo como destaca DAOLIO (1995) em seu texto:

    Se começarmos a compreender que o corpo não é apenas determinado biologicamente, mas construído culturalmente em função de valores sociais, poderão concluir que ele (corpo) não está pronto e talvez nunca esteja. Se, por um lado, há um patrimônio biológico sempre apresentou diferenças entre homens e mulheres, por outro, há continua transformação no uso social desses corpos, uso esse que não precisa necessariamente gerar diferenças tão gritantes. (DAOLIO, 1995 pág. 17)

    É preciso então, ampliar os debates, possibilitar desta forma que nossos alunos entendam que as aulas de Educação Física não são apenas a representação dos esportes vistos fora do ambiente escolar. Na escola, todos devem ter a experiência de vivenciar as práticas esportivas juntos, sem a distinção de gênero.

Referências

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