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Aspectos latinos do esporte, lazer e saúde

Aspectos del deporte, la recreación y la salud en América Latina

 

*Bolsista Iniciação Acadêmica. Docente no IEFES/UFC

Universidade Federal do Ceará

(Brasil)

Francisca Kellyane Cunha Pereira*

Ricardo Hugo Gonzalez

kellyanefkcp@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A distribuição de renda mundial reflete diretamente no esporte, no lazer e na saúde da América Latina. Esta população recebe uma baixa porcentagem do desenvolvimento e dos benefícios globais. Por um lado, o esporte, que é um direito de todos os cidadãos e deve ser garantido pelo estado, mas não é isso que acontece freqüentemente. Por outro lado, o lazer é uma prática social construtora de pessoas pensantes, e quando introduzido no cenário latino são diversos os resultados, de acordo com cada país, e nem sempre positivos. Venezuela possui melhores condições para o lazer, o governo incentiva a população na preservação do seu patrimônio. Finalmente, a saúde, tendo em vista as questões de investimento, educacionais da população, taxas de mortalidade e natalidade, faixas etárias, entre outros pontos, percebe-se que varia as condições segundo cada nação. Chile brinda as melhores taxas nas variáveis Saúdes, da América Latina, enquanto o Brasil encontra-se com os piores índices.

          Unitermos: Esporte. Lazer. Saúde. América Latina.

 

Resumen

          La mala distribución de renta mundial se refleja directamente en el deporte, la recreación y la salud en América Latina. Esa población recibe un bajo porcentaje del desarrollo y de los beneficios mundiales. Por un lado, el deporte, que es un derecho de todos los ciudadanos y que debe ser garantizado por el Estado, pero no es eso lo que acontece frecuentemente. Por otro lado, la recreación, que es una practica social constructora de persona pensantes, y cuando se introduce en la escena latina son diversos los resultados, de acuerdo con cada país, y a veces no son positivos. Venezuela posee las mejores condiciones para la recreación; el gobierno incentiva a la población en la preservación de su patrimonio. Finalmente, la salud, teniendo en vista las cuestiones de inversiones educativas en la población, tasas de mortalidad y natalidad, franja etaria, entre otros puntos, percibimos que cambia las condiciones, según cada país. Chile brinda las mejores tasas en las variables Salud de la América Latina; por otro lado, Brasil se encuentra con los peores índices.

          Palabras clave: Deporte. Recreación. Salud. América Latina.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os aspectos sociais, históricos, culturais e econômicos do esporte na América Latina interferem diretamente na situação esportiva dos países subdesenvolvidos e tidos como de terceiro mundo. Dentre as 20 nações pertencentes à América Latina, observa-se como a situação econômica desses países influencia na qualidade do esporte para seus cidadãos. Ao que parece, não é positivamente que ocorre tal influência, afinal não é nenhuma surpresa a falta de apoio e incentivo ao esporte nos países latino-americanos. Grave erro por parte dos governos, já que o esporte une e promove interação entre povos e países, o que facilitaria as relações entre as nações. O esporte possui grande importância na vida das pessoas, com seus benefícios físicos, sociais e pedagógicos. Faz parte do estudo também, a questão do lazer, do tempo livre, diversão e entretenimento das pessoas. O lazer, visto como prática social completa e uma possibilidade de resistência, que faz surgir assim um cidadão capaz de criar novas formas de organização social e histórica. A forma de construção do lazer na visão sócio-político e histórica dos países integrantes da América Latina. E ainda o papel da recreação nas sociedades, os obstáculos vividos, as possibilidades futuras e os desafios superados. Por último trataremos da situação da saúde nos países latino-americanos, como os governos cuidam da saúde de seus habitantes, levando-se em conta os mais variados aspectos, como investimentos em saúde, o nível educacional da população, a quantidade de pessoas idosas, números de nascimentos e mortes, e também o nível econômico das pessoas, entre outros. As diversas situações dos serviços de saúde, que se distinguem entre os países.

Esporte

    Entende-se por América Latina os países americanos que foram colonizados por países latinos (assim chamados os europeus que possuíam língua derivada do Latim). Exclui-se assim Suriname, Guiana e o território americano de Belize, por possuírem colonização de países com língua germânica. Assim consideram-se apenas 20 países fazendo parte da América latina, são eles: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela (FARIA, 2008).

    Ressalta-se ainda que a América Latina seja a reunião de dois grupos de sociedades, conforme referências aos seus colonizadores e suas línguas: a língua espanhola, que reúne mais de vinte países, tanto no hemisfério norte (a própria Espanha) como no sul, cada um com suas peculiaridades; e a língua portuguesa, presente em países africanos, em Portugal e na América do Sul, apenas no Brasil, nesse último com vasta dimensão e diversidade cultural no seu interior.

    Os países latinos, todos subdesenvolvidos, representam 8,5% da população mundial. Por possuírem uma economia baseada no setor primário, o investimento e incentivo ao esporte ainda é baixo. Por exemplo, na Bolívia, que por ser um dos países mais pobres da América Latina, tem como reflexo no esporte um péssimo desempenho nas competições olímpicas, com apenas três medalhas em Pan e nenhuma em Olimpíadas. Abaixo vemos um gráfico que ilustra melhor a situação desses países.

Fonte: Human Development Reports, 2011

    O quadro relaciona o número de medalhas de ouro em Jogos olímpicos de Verão com o IDH dos países latinos. Percebe-se a direta interferência do índice de desenvolvimento humano, e o possível investimento do governo, com a atuação dos países no evento esportivo. Com relevância a Cuba, podemos ver um bom desempenho do país nos Jogos Olímpicos por conta dos altos investimentos da União Soviética em esporte no país. Porém com a dissolução da antiga União Soviética, houve uma queda significativa da qualidade dos atletas cubanos, mas os cubanos continuam sendo fortes concorrentes nos Jogos, pelo fato de ser um país, no qual a igualdade entre os cidadãos é primordial na constituição.

    Como principais benefícios do esporte na vida das pessoas destacam-se a maior aproximação e confraternização dos povos, divulgação de uma boa imagem externa dos países, além de motivação para futuros investimentos; no âmbito social, o esporte tem relevância no setor social por auxiliar na motivação da educação tradicional, maior interação das pessoas com o meio ambiente, função pedagógica no processo de formação do indivíduo; e ainda uma ajuda no fator de disciplina, respeito à hierarquia, solidariedade, e espírito de equipe (SANTOS, 1997).

    No território latino, vemos algumas organizações responsáveis pelo esporte. As duas principais organizações esportivas presentes na América Latina são a ODEPA – Organização Desportiva Pan-americana - e ODESUR – Organização Desportiva Sul-americana. A primeira é responsável pelos jogos pan-americanos e está sediada no México. A ODEPA teve início em oito de agosto de 1948, tendo hoje 42 países que fazem sua integração. O objetivo inicial foi o fortalecimento da união e amizade dos povos americanos, além de impulsionar o esporte e o espírito olímpico nos países latinos americanos (ODEPA).

    A ODESUR por sua vez, busca a integralização entre os diversos povos, raças e religiões. Com realização a cada quatro anos, os jogos sul-americanos tiveram início em novembro de 1978, em La Paz, Bolívia. Atualmente fazem parte da organização 15 países, presididos pelo brasileiro Carlos Arthur Nuzman. O Brasil sediou os jogos em 2002, na sua sétima edição (ODESUR).

O esporte no Brasil

    A história do esporte no Brasil pode ser dividida em três partes: a fase de implantação – com a primeira publicação sobre esporte: a tradução do livro Sports Athleticos, que falava sobre diversos esportes, em 1908. A fase da organização: com a criação da Confederação Brasileira de Desportos. E por último a fase de popularização: a criação do Conselho Nacional de Desportos. “Durante a organização da educação brasileira, disciplinas como a Educação Física não foram pensadas a partir da sociedade brasileira que se consolidava. Não se partiu do ponto de vista daqueles que habitavam o Brasil, isto é, da cultura que, numa mescla de séculos, caracterizava um tipo brasileiro, considerando as diferenças regionais. Pelo contrário, um modelo de educação física europeu foi transposto com todos os seus valores, diversos dos quais o Estado brasileiro abraçava.” (FREIRE, 2008).

    A situação atual esportiva no Brasil vem sofrendo diversas transformações por parte das empresas de marketing e das televisões segmentadas. O capitalismo pode e consegue a comercialização de qualquer produto, inclusive do esporte, sendo capaz de transformar o evento esportivo em algo extremamente lucrativo (SILVA, 2001). Tratado assim, o esporte leva a maioria das pessoas ao papel de simples consumidores passivos; além de estratificar o sistema esportivo, tornando-o desigual e injusto para com os desportistas. Com isso o apoio passou a ser supervisionado pelo Ministério da Educação (BREILH; MATIELLO JÚNIOR; CAPELA, 2010).

    O esporte nacional enfrenta, entretanto problemas como: falta de base, de planejamento e organização, escassez no apoio ao atleta, desmotivação nas escolas, instalações precárias e poucos eventos esportivos.

Lazer

    “O lazer se configura pelos momentos em que atendemos nossas vontades internas e comuns, momento de reconhecimento e desenvolvimento de nossas potencialidades, aprendemos o prazer de brincar, inventar, imaginar e compartilhar com o outro o melhor de nós mesmos.” (BRANDÃO, 2006). Não se deve reduzir o conceito de lazer a somente aquilo que o homem faz quando não está trabalhando ou exercendo suas obrigações, pois na verdade se configura como uma prática social completa. “Nos momentos de vida autêntica, o tempo não conta, a não ser para viver inteiramente a liberdade.” (MUNNÉ, 1995, p.137). O lazer é uma expressão do indivíduo que condicionada pela sociedade na qual vive torna-se transformadora ao homem. Representa um conjunto de experiências para a autorealização individual e coletiva. Trata-se da necessidade que se relaciona com o desejo, liberdade de eleição, incentivo e motivação do homem, para que assim tenha um impacto positivo no desenvolvimento da sociedade.

    Na Argentina o lazer é chamado de recreación, e nele se resumem todas as práticas de tempo livre; no Chile é animación socio cultural ou ocio, e por terem poucos estudos realizados sobre o assunto, o conceito é reduzido. Seguindo uma análise sócio-histórica, percebe-se que as práticas recreativas da sociedade e os modos de construção do conjunto de saberes produzido em determinado tempo mudou muito no decorrer do século XX até os dias atuais. Os mais diversos processos culturais e políticos modificaram o que entendemos atualmente por lazer (RIED, 2009).

    Por exemplo, na Argentina, em meados dos anos 40, o governo tomou a decisão de ampliar os direitos de cidadania, aumentando os direitos sociais e estabeleceu-se o sufrágio feminino. Assim classes sociais ascenderam com o aumento de salários, profundas transformações territoriais –com a migração do meio rural para o urbano-, além da classe média agora consumir bens de consumo inacessíveis até então. O resultado da redução da jornada de trabalho, férias remuneradas e pleno emprego fizeram com que o homem repensasse na apropriação do seu tempo livre. Não foi por acaso que a indústria de cinema da Argentina cresceu nesse período, assim como a prática do futebol (que se tornou o esporte nacional) e o turismo social, que foi o investimento em locais turísticos dentro do território argentino (SUARÉZ, 2009).

    Em contraponto a esse desenvolvimento do lazer na Argentina, vemos países como o Chile que de início possuem poucos referentes teóricos, e os que publicam sobre o assunto são tidos como anedotas. Os principais programas de lazer no país são privados ou de caráter sócio-comunitário, e consideram o lazer como uma ferramenta humanista, um instrumento para obter o que querem. “As dificuldades são evidentes na hora de construir um termo que una o consenso para nossa idéia de lazer, mas por vez mostrando a especificidade de cada conceito. A esse respeito podemos marcar que no Chile existe a um nível popular, uma idéia preconcebida de que lazer é só para diversão, algo que não é sério, uma possibilidade de pausa no trabalho ou estudo, que, portanto não precisa ser estudado.” (RIED, 2009). O fato é que apesar do crescente melhoramento da economia chilena e uma diminuição dos índices de pobreza, a desigualdade social ainda é gritante, principalmente em relação ao lazer, tendo o país o pior índice em distribuição de renda da América Latina.

    As disparidades do lazer se estendem por todo o território latino, não só na Argentina e Chile. Na Colômbia, vemos um crescimento bastante significativo nos campos da fundamentação, prática e da política do lazer. Nota-se um posicionamento mais flexível por parte dos profissionais, baseado em questionamentos; também percebemos a defesa da relação ética e política do lazer no desenvolvimento do país por parte dos teóricos da área (OSORIO, 2009). Relevância também aos países como México, que possui uma instituição especializada no lazer desde 1968; em 1977 passou a ser uma instituição de ensino do lazer (AGUILAR, 2009, p.165). Por último, daremos destaque à Venezuela, que tem um governo que incentiva seus habitantes a participar e a preservar seu patrimônio cultural e artístico.

    As diversas formas de encarar o lazer nos mostram as boas formas do governo lidar com a população e incentivar o bom e saudável uso do tempo livre. Apesar das disparidades entre os países, observa-se uma maior freqüência a locais públicos, cinemas, teatros e a prática de esporte entre adultos, como ocorre na Europa e América do Norte (CARMAGO, 2010).

Saúde

    Nos países da América Latina encontram-se 8,5% da população mundial, no entanto é a parcela que menos recebe os benefícios do desenvolvimento pelo qual passou o mundo nos últimos anos (CEPAL, 2005). As mudanças da população influenciam diretamente na situação da saúde. De acordo com os números do programa PROFUTURO, de maio de 2008, o Brasil e a Venezuela são os países, dentre os analisados, que têm o maior aumento da população acima de 65 anos. Essa taxa indica um possível aumento de consumo, já que se trata das pessoas economicamente ativas. A população acima de 60 anos poderá crescer nos próximos 50 anos em praticamente todos os países analisados, com exceção da Colômbia.

    Importância também deve ser dada as taxas de natalidade e mortalidade. No Chile, temos as menores taxas dentre os países analisados, e com média inferior a da região. Enquanto na Venezuela, nos últimos 15 anos, houve um leve acréscimo na taxa de mortalidade (CEPAL, 2005). Já em relação à expectativa de vida vemos o Brasil abaixo da média da região, e de novo Chile com o melhor resultado, seguido da Argentina. Ainda que se espere para o Brasil um bom crescimento nos próximos 25 anos. Os fatores mais relevantes na redução das taxas são os elementos de infraestrutura (saneamento básico e serviço de água) e de educação (com maior acesso a instrução, mais bem informados sobre medidas de saúde as pessoas serão) (CEPAL, 2005).

    São levadas em consideração também taxas de analfabetismo, desemprego, situação de pobreza e indigência; além da renda per capita, e da população em atividade econômica.

    “Em resumo, o status atual de saúde da população latino-americana é o reflexo da interação e das mudanças de tamanho, composição, distribuição e comportamento da população; essa dinâmica continuará dependente de mudanças políticas, sociais, econômicas e comunitárias para alavancar o desenvolvimento da região.” (WRIGHT, 2008, p. 143).

    O Brasil possui a maior taxa de analfabetismo da América Latina (11,1%), enquanto a Argentina tem o menor, com apenas 2,8% da população. A má distribuição de renda acaba também por prejudicar a saúde, no momento em que impossibilita o acesso a saúde, pondo apenas nas áreas privilegiadas economicamente. A Venezuela é o país com menos desigualdade e o Brasil, o que possui a pior distribuição de renda (CEPAL, 2005).

    Um aspecto em que o Brasil apresenta pontos positivos é a relação do número de leitos e o de habitantes. Colômbia, Venezuela e México estão num patamar nitidamente inferior ao recomendado pela OMS (2,5 - 3 por 100.000 habitantes). O investimento, por sua vez, em saúde se dá em maior grau no México, e de forma menos significativa na Colômbia (CEPAL, 2005).

    Por último, os investimentos em saúde que demonstram que países como México, que possui pouco mais da metade da população brasileira e realiza o dobro de investimento em saúde pública do que o Brasil. Ou seja, o governo brasileiro precisa de mudanças urgentes de rumos, dobrando seus gastos com saúde, e ainda assim continuará muito atrás da Colômbia, por exemplo, que investe a maior parcela da arrecadação de impostos em saúde pública (PROFUTURO, 2008).

    Notamos assim, as várias disparidades em relação à saúde dos países analisados. Os principais problemas estão ligados aos fatores econômicos e limitações financeiras da população. A falta de qualidade e má distribuição do sistema de saúde é um fator muito relevante para a precariedade dos serviços prestados (PROFUTURO, 2008).

Conclusão

    O esporte é fonte de interação e paz entre povos e países vizinhos. É ainda por conta do esporte que crianças melhoram seus desempenhos nas escolas, são realizados alguns resgates sociais, melhora a qualidade de vida e respeito entre as pessoas. Enquanto o lazer é prática necessária e defendida pela Constituição, pois todos têm o direito de descanso e ao entretenimento. Concluímos assim que esporte e lazer são muito mais que atividades passivas, na verdade são fenômenos de interação social e cultural de vários povos. Governos de países emergentes – no caso os latinoamericanos - negligenciam tais fatores essenciais para a vida humana. Nações como o Chile, ainda têm muito que melhorar em relação ao lazer de seus habitantes. Por fim, a má qualidade da saúde é o reflexo da falta de distribuição das riquezas mundiais, já que na América Latina temos uma grande população sem acesso à saúde básica. O desafio de vários governantes para os próximos anos é justamente a inclusão da tecnologia no auxílio da saúde. Pretende-se com esse trabalho que os habitantes, latinos ou não, vejam seus direitos ao esporte, saúde e lazer; e cobrem de seus governos qualidade dos serviços prestados.

Referências

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