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A amplitude de movimento na articulação do tornozelo 

e correlação com uso de salto alto em mulheres universitárias

El rango de movimiento en la articulación del tobillo y la correlación con el uso de tacos altos en las mujeres universitarias

 

*Mestre em Educação Física-docente nos cursos

de educação física e fisioterapia (FESG / FAFICH - Goiatuba, GO)

**Acadêmicas do curso de fisioterapia (FESG / FAFICH - Goiatuba)

(Brasil)

Cezimar Correia Borges*

Daiane Quelen Mendes de Sousa**

Jessika Andrade Silva**

Glaucia Germana da Silva**

Maria Cardoso Pimenta**

cezimarborges@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A articulação do tornozelo constitui uma das articulações com maiores índices de comprometimento da função musculoesquelética tendo como origem destes problemas as lesões por entorse e as diminuições de amplitude de movimento (ADM) devido ao uso prolongado de calçados inadequados, sobretudo aqueles de salto alto. Neste sentido o propósito deste estudo foi avaliar a ADM do tornozelo em mulheres jovens universitárias da FAFICH-Goiatuba e verificar a correlação da freqüência do uso de salto alto com os níveis de mobilidade nesta articulação. Participaram como voluntárias do estudo 50 mulheres (20-30 anos) que se submeteram a avaliação da ADM por meio do teste de amplitude no movimento dorsiflexão e registro em graus com flexímetro pendular. Não houve diferença significativa (p< 0,05) nas médias de ADM do tornozelo entre mulheres que usam salto 2 e 3 vezes por semana, porém a diferença entre o uso 1 vez por semana com todas as outras freqüências (2 a 7 vezes) foi significativo. As ADM mais reduzidas foram observadas exatamente no grupo de mulheres que usam salto diariamente (7 vezes/semana), confirmando assim a tendência para o encurtamento das estruturas musculoesqueléticas da região posterior da perna decorrentes do uso contínuo de salto alto.

          Unitermos: Mobilidade articular. Encurtamento muscular. Salto alto.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 178, Marzo de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A medida da amplitude do movimento (ADM) constitui-se um importante parâmetro utilizado na avaliação e no acompanhamento de problemas articulares, musculares e posturais. A ADM varia de indivíduo para indivíduo de acordo com a idade, sexo, prática de atividade física, presença ou ausência de disfunção e o grau de força muscular quando o indivíduo é submetido à avaliação da ADM ativa (RASH, 2003).

    A articulação do tornozelo constitui uma das articulações com maiores índices de comprometimento da função musculoesquelética tendo como origem destes problemas as lesões por entorse e as diminuições de ADM devido ao uso prolongado de calçados inadequados, sobretudo aqueles de salto alto (OBERLAENDER et al. 2010;TEIXEIRA,1997).

    O tornozelo é a articulação que permite aliar a plasticidade do pé e a potência dos ossos da perna. Três ossos formam a articulação do tornozelo: tíbia (porção distal), fíbula (porção distal) e tálus (tróclea). O tálus que, por sua vez também compõe a estrutura do retropé (porção posterior do pé), se conecta à tíbia e fíbula, formando a articulação do tornozelo através de uma superfície situada em sua porção dorsal: a tróclea do tálus (CALAIS-GERMAN, 2002).

    Quando a porção anterior da tróclea é elevada, produz-se o movimento de dorsiflexão, e se a porção anterior da tróclea é “deprimida”, denomina-se o movimento de flexão plantar (CALAIS-GERMAN, 2002).

    O grupo muscular que tende a limitar o movimento de dorsiflexão (ação antagonista) é o tríceps sural, formado pelo músculo gastrocnêmio, juntamente com o sóleo e o plantar, sendo a inserção comum o tendão calcâneo (Aquiles) no osso calcâneo (PALASTANGA, 2000).

    Com ações motoras mais diretas, sete músculos passam posteriormente ao tornozelo e, portanto, podem servir como flexores plantares. A capacidade efetiva deles, entretanto, varia acentuadamente. O sóleo e o gastrocnêmio são responsáveis teoricamente por 93% do torque flexor plantar, enquanto os cinco músculos perimaleolares (tibial posterior, flexor longo dos dedos, flexor longo do hálux, fibular longo e fibular curto) proporcionam 7%. Isso significa que existem dois grupos funcionais distintos de flexores plantares: o tríceps sural e os músculos perimaleolares. Ao correr, saltar e andar, tais músculos fornecem uma quantidade considerável da força de propulsão (PERRY, 2005; PALASTANGA, 2000).

    Tem sido observada atualmente uma crescente redução da mobilidade fisiológica dos pés, causada possivelmente pelo uso de calçados inadequados a dinâmica da marcha e devido o sedentarismo. Entre crianças e jovens (sobretudo entre as mulheres), é possível observar aquelas que já apresentam considerável redução da amplitude de movimento nos pés, e até mesmo deformidades, que outrora ocorriam, em sua maioria, em idades mais avançadas (RIBEIRO e SILVA, 2007; ALBUQUERQUE e SILVA 2004).

    A marcha humana é dividida no geral em duas fases (apoio e balanço) sendo que na cinética natural da marcha, o calcanhar é a primeira estrutura do corpo a entrar em contato com o solo, portanto o primeiro a receber a força vertical gerada no contato, e assim transmiti-la para os demais segmentos, processo este que pode ser bastante alterado pelo uso de calçados com salto alto (VIANA e GREVE, 2006).

    Quanto mais o tornozelo situa-se em posição de flexão plantar (típica do efeito do calçado de salto alto), mais ativa a tensão muscular no grupo posterior da perna e conseqüentemente predispõe ao encurtamento desta região musculoesquelética, proporcionalmente ao tamanho do salto, segundo estudo eletromiográfico desenvolvido por Candotti et al. (2012).

    A interação da mobilidade dos pés e as forças envolvidas é um tema de grande abrangência não somente na presença da doença, mas na sua prevenção, onde o fisioterapeuta poderá atuar muitas vezes com uma ótima ferramenta de trabalho, a cinesioterapia. Para avaliação da medida de ADM articular destacam-se como os métodos e instrumentos mais utilizados o goniômetro, o eletrogoniômetro, o inclinômetro, e o flexímetro (RODRIGUES et al. 2003). Neste sentido, este trabalho buscou investigar a ADM do tornozelo utilizando um flexímetro pendular em mulheres universitárias e correlacionar a freqüência do uso de calçado de salto alto com níveis de mobilidade articular.

2.     Metodologia

    Participaram deste estudo de forma voluntária, 50 (cinquenta) mulheres saudáveis com idade entre 19 e 30 anos acadêmicas da FAFICH, Faculdade de Goiatuba, GO. A amplitude de movimento (ADM) foi avaliada no movimento de dorsiflexão do tornozelo (direito e esquerdo) utilizando um flexímetro pendular marca Sanny®. O equipamento deve ser preso na borda lateral do pé, joelho apoiado e flexionado, o avaliador posiciona o leitor na posição inicial (zero graus), estabiliza a perna e solicita que seja feita a dorsiflexão ativa completa por parte do avaliado, conforme ilustra a figura 1.

Figura 1. Posição inicial e posição final do teste angular de dorsiflexão

    Leighton (1987) classificou para o referido teste, cinco níveis a amplitude de movimento (em graus) de dorsiflexão do tornozelo para mulheres da seguinte forma:

    Os dados coletados foram registrados em ficha de controle na qual anotou-se ainda sobre informações referentes a freqüência semanal em que as voluntárias normalmente faziam uso de calçados com salto alto, ocupação diária, e ocorrência de dores musculares nas regiões de coluna e membros inferiores.

2.1.     Tratamento estatístico

    Os dados descritivos foram representados em média do total da amostra (N = 50), já a análise inferencial para comparação dos resultados foi desenvolvida por meio do teste t simples, sendo que adotou-se o nível de significância p ( α ≤ 0,05) para diferenças significativas. Para representação gráfica utilizou-se o programa Excel Office 2003 e os tratamentos inferenciais por meio do software de estatística SPSS 13.0 para Windows.

3.     Resultados e discussões

    O gráfico 1 e a tabela 1 apresentam as proporções (%) quanto à freqüência semanal de uso de calçados com salto alto. Nota-se que a maior parte (28%) das avaliadas fazem uso periódico (todos os dias da semana) deste tipo de calçado.

Gráfico 1. Distribuição percentual do nº de vezes semanais quanto ao uso de salto alto

    Com base nas maiores freqüências observadas (1, 2, 3 e 7 vezes por semana) de hábito do uso de calcado com salto alto, o gráfico 2 e tabela 2 ilustram os resultados obtidos na ADM do tornozelo, comparando-se as médias de ADM (em graus) apresentadas pelas voluntárias.

Tabela 2. ADM (graus) do tornozelo obtida nos grupos mais frequentes

 

Gráfico 2. Média dos ângulos obtidos na ADM tornozelo

(*) diferença significativa (p < 0,05) em relação à freqüência mínima de 1 vez por semana

    Conforme comparações entre as medias de ADM entre as mulheres segundo freqüência de uso do salto, verificou-se conforme hipótese inicial que a mobilidade do tornozelo é bastante comprometida quando do habito freqüente de salto, sobretudo com adeptas diárias desse tipo de calçado. Outro dado importante foi que todos os grupos de mulheres avaliadas apresentaram score médio de ADM considerada segundo Leighton (1987) de baixa amplitude (< 56 graus) o que sugere que alem de calcados inadequados, estas jovens apresentam pouca ADM por outros fatores adicionais como possivelmente a inexistência de atividades físicas ao menos no que tange exercícios de alongamentos dos membros inferiores. Há, portanto a indicação de encurtamento muscular da região posterior da perna em grande parte de mulheres com este perfil investigado.

    Coerentemente as mulheres que responderam usar calcados de salto alto com maior freqüência semanal foram as que mais indicaram sentir dores musculares na região lombar da coluna vertebral e também nas pernas.

4.     Considerações finais

    No presente estudo foi possível confirmar que existe uma relação direta entre o uso continuo de calçados com salto alto e a prevalência de baixa mobilidade articular do tornozelo. Como fatores determinantes, destacamos o encurtamento muscular, mais especificamente o grupo muscular tríceps sural, que é bastante solicitado durante a deambulação (marcha), porém prejudicado em sua função quando são utilizados calçados desta natureza.

    A marcha utiliza uma seqüência de repetições de movimentos dos membros para deslocar o corpo para frente enquanto, simultaneamente, mantêm a postura estável, combinando-se nas seguintes fases: contato inicial, resposta a carga, apoio médio, apoio terminal, pré-balanço, balanço inicial, balanço médio e balanço terminal (PERRY, 2005). Durante a marcha, o apoio do pé se divide em 60% para o antepé e 40% para o retropé (SMITH, 1997). Porém, esses valores se alteram quando é utilizado calçado de salto alto, pois ele reduz o papel do calcanhar na sustentação do corpo e o peso sustentado pelo antepé fica diretamente relacionado com a altura do calcanhar, havendo assim uma descarga maior de peso nesta região, devido o trabalho isométrico no movimento de flexão plantar do tornozelo.

    Além disso, outras alterações e incômodos podem ocorrer devido ao uso prolongado de calçados com salto alto como sobrecarga patelar, artrites, quedas, torções, lesões, calosidades e até aumento das chances de osteoporose (SNOW, 1992).

    Outro dado relevante e a diferença geral da ADM quando comparados a movimentação do pé direito com pé esquerdo, aspecto assimétrico típico da morfologia do aparelho locomotor humano.

    Sugerimos mais estudos e intervenções diretas com este tipo de população a fim de prevenir e tratar os problemas decorrentes deste hábito comum observado em mulheres jovens e até mesmo adolescentes.

Referências bibliográficas

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