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Biodisponibilidade de nutrientes em repositores 

hidroeletrolíticos utilizados por atletas de alta performance

La biodisponibilidad de nutrientes para los repositores electrolíticos utilizados por los atletas de alto rendimiento

 

*Graduado em Educação Física – Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP)

Especialização em Nutrição Multidisciplinar – Hospital das Clínicas da Faculdade 

de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP)

Mestrando em Ciências Biomédicas – Universidad de La Republica – (UdlaR - UY)

**Graduado em Educação Física – UNIFAE

Especialista em Treinamento Desportivo – UniFMU

Mestrado em Ciências da Motricidade Humana – (UCA - PY)

Marcus Vinícius de Almeida Campos*

mvacampos@yahoo.com.br

Henrique Miguel**

rick_ef@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O uso de repositores hidroeletrolíticos tem sido uma estratégia comum de atletas e praticantes de atividade física, a fim de repor as perdas hídricas e eletrolíticas decorrentes da prática de atividade física, ainda, muitos suplementos contém nutrientes extras, sob alegação de que os mesmos podem melhorar a performance do atleta, assim a fim de verificar possíveis interações entre os nutrientes contidos em suplementos esportivos, avaliamos o rótulo de 5 repositores hidroeletrolíticos existentes no mercado e verificamos possíveis interações. Os resultados indicaram que todos os suplementos avaliados continham na fórmula os nutrientes exigidos pela ANVISA para qualificar o mesmo como repositor hidroeletrolítico (carboidrato, sódio e cloreto), e em alguns casos nutrientes extras, sob alegação de melhora no desempenho. Com base nestes dados concluímos ser possível a existência de diversas interações em repositores hidroeletrolíticos, sendo sempre provocadas por minerais não essências ao propósito do produto; entretanto faz-se necessária a realização de trabalhos experimentais, a fim de verificar se os efeitos inibitórios e potencializadores descritos neste trabalho ocorrem de maneira significativa.

          Unitermos: Repositores hidroeletrolíticos. Nutrientes. Alta performance.

 

Abstract

          The use of electrolyte replacers has been a common strategy for athletes and physically active in order to replenish fluid losses and electrolyte resulting from physical activity, yet, many supplements contain extra nutrients, under the claim that they can improve the performance of the athlete, so in order to check for possible interactions between nutrients in sports supplements, we evaluate the label of 5 electrolyte replacers on the market and found possible interactions. The results indicated that all supplements evaluated in the formula contained nutrients required by ANVISA to qualify it as electrolyte replenisher (carbohydrate, sodium and chloride), and in some cases extra nutrients, under claim of improved performance. Based on these data we conclude that the existence of several possible interactions stockers electrolyte being always caused by mineral essences the purpose of the product, however it is necessary to carry out experimental studies in order to assess whether the inhibitory effects and effects potentiation described in this paper occur significantly.

          Keywords: Electrolyte replacers. Nutrients. High performance.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Buscando atender adequadamente suas necessidades nutricionais, e conseqüentemente melhorar a performance em competições e treinamentos, atletas tem recorrido cada vez mais ao uso de suplementos esportivos. Tais suplementos são produtos especialmente formulados para auxiliar os atletas a suprir suas necessidades nutricionais adicionais, visando seu uso, complementar a alimentação, não devendo os mesmos ser utilizados como substituto de refeições ou única fonte alimentar 1, 2.

    Os suplementos esportivos comercializados no Brasil são classificados pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de acordo com suas respectivas composição em: repositores hidroeletrolíticos, repositores energéticos, alimentos protéicos, alimentos compensadores e aminoácidos de cadeia ramificada 3.

    Os repositores hidroeletrolíticos, que são produtos formulados com o objetivo de reposição hídrica e eletrolítica decorrente da prática de atividade física, sendo amplamente utilizado tanto por atletas como praticantes de atividade física; é um produto que deve conter em sua formulação concentrações variada de sódio, cloreto e carboidrato e podendo opcionalmente, conter potássio, vitaminas e ou minerais. Além dos nutrientes exigidos pela ANVISA em sua fórmula, é comum alguns fabricantes, sustentados por trabalhos que demonstram uma necessidade aumentada de alguns micronutrientes por parte de atletas, adicionam tais micronutrientes as fórmulas de repositores, sob a alegação de que estes nutrientes ajudariam na melhora do desempenho tanto durante a atividade, como no período de recuperação de seus usuários 4, 5, 6.

    Entretanto, a simples presença de nutrientes na fórmula dos suplementos não garante sua utilização pelo organismo, pois interações entre os diversos nutrientes contidos em suplementos esportivos fazem com que a biodisponibilidade dos nutrientes, ou seja, a parte ingerida que tem o potencial de suprir as demandas fisiológicas em tecidos alvos; não corresponda, na maioria das vezes, à quantidade ingerida (COSTA; PELUZIO, 2008; COZZOLINO, 1997)7, 8.

    A biodisponibilidade dos constituintes do alimento é um processo complexo, que envolve a digestão, a captação intestinal e sua absorção, distribuição para os tecidos e sua utilização por eles 9, 10, 11.

    Vários aspectos devem ser considerados ao estudarmos a biodisponibilidade de nutrientes, sendo sugerido na Conferência Internacional de Biodisponibilidade em Wageningen, Holanda (1997) a utilização do termo SLAMANGHI para se referir a tais aspectos, representando cada uma das letras deste termo, um dos aspectos a serem considerados, como mostra o Quadro 1 12.

Quadro 1. Aspectos a serem considerados nos estudos sobre biodisponibilidade de minerais. Adaptado de Cozzolno, 2005

    Os fatores relacionados ao alimento, que influenciam a biodisponibilidade de vitaminas, são a forma química e o estado físico no qual as vitaminas se encontram na matriz do alimento, uma vez que as vitaminas que se encontram ligadas à matriz do alimento apresentam uma eficiência de digestão e absorção mais baixa. A composição da dieta do individuo também deve ser considerada, pois alguns componentes da própria refeição podem retardar ou aumentar a absorção da vitamina; do mesmo modo, outras substâncias ingeridas, como álcool e drogas, podem interferir nos mecanismos fisiológicos de absorção (JACKSON, 1997) 13.

    É bem documentada na literatura a influência de diversos fatores na biodisponibilidade de minerais, dentre tais fatores, é de se destacar aqueles que têm um papel durante a digestão, onde muitas interações intraluminais acontecem, tais como absorção de minerais por macronutrientes, ligação de minerais a outros componentes, incluindo, por exemplo, partículas de fibra, reduções e oxidações 14.

    A biodisponibilidade dos minerais também é influenciada pelas interações que ocorrem entre os mesmos; as interações entre minerais podem ocorrer de forma direta ou indireta. As interações diretas são geralmente fenômenos competitivos que ocorrem durante a absorção intestinal ou utilização tecidual, enquanto que as indiretas ocorrem quando um mineral está envolvido no metabolismo do outro, de modo que a deficiência de um acarreta num prejuízo de função do outro 8.

    Portanto, diante do crescente aumento da oferta de suplementos esportivos e da utilização dos mesmos por atletas, bem como a adição de vitaminas e minerais pelos fabricantes sob a alegação de melhoras no desempenho, torna-se cada vez mais importante a realização de estudos relacionados a biodisponibilidade dos nutrientes contidos em suas formulações e às interações entre os mesmos, a fim de se realizar correções referentes a quantidade e a presença de determinados nutrientes em uma mesma formulação, uma vez que a presença de múltiplos nutrientes em suplementos, faz com que os mesmos interajam entre si, estimulando ou prejudicando a absorção.

2.     Metodologia

    Este estudo exploratório buscou verificar, por meio de avaliação de rótulos, possíveis interações entre minerais e entre minerais e vitaminas, em 5 repositores hidroeletrolíticos existentes no mercado, de indústrias nacionais e internacionais, sendo que 4 encontravam-se prontos para consumo; em forma líquida, como preconizado pela ANVISA e 1 em pó.

    Após a verificação de possíveis desacordos dos mesmos com as portarias 222/98 e 32/98 da ANVISA; analisamos os micronutrientes existentes nas fórmulas, em que a literatura sustenta a possibilidade de interações, gerando uma alteração na biodisponibilidade, aumentando ou diminuindo sua absorção ou excreção; não sendo analisado neste estudo os micronutrientes cuja literatura não sustenta a existência de possíveis interações.

    Para analise, utilizamos a dosagem recomendada por cada fabricante, presente no rótulo do produto, não sendo considerados neste trabalho outros alimentos como leite e suco de fruta; que muitas vezes é sugerido pelas indústrias como forma de diversificar o consumo dos mesmos.

3.     Resultados e discussão

    Todos os suplementos avaliados continham os nutrientes exigidos pela ANVISA para qualificar o mesmo como repositor hidroeletrolítico (carboidrato, sódio e cloreto), sendo que na tabela abaixo, é possível verificar a quantidade de vitaminas e minerais presentes em cada suplemento, de acordo com a dosagem sugerida pelo fabricante no rótulo do mesmo.

Tabela 1. Micronutrientes presentes em cada repositor hidroeletrolítico

    Em relação ao repositor Sport Drink, observamos a possibilidade das seguintes interações:

  • Sódio / Potássio

  • Cobre / Zinco

  • Cobre / Ferro

  • Cobre / Molibdênio

  • Selênio / Vitamina C

    O zinco pode afetar a biodisponibilidade de cobre, pois ambos competem pela mesma proteína ligadora na mucosa intestinal, além de induzir a síntese de metalotioneína nas células da mucosa intestinal, causando aumento da retenção intracelular de cobre e conseqüente redução de transporte deste pelo plasma (COZZOLINO, 2009).

    Segundo Lukaski (2000), a quantidade de zinco que pode inibir a absorção de cobre em seres humanos é de 50mg, como neste suplemento observamos a presença de 60mg de zinco, é possível que esta esteja inibindo o cobre presente no mesmo.

    Em relação à interação entre cobre e ferro, Lind et. al. (2003), sugerem que ambos podem compartilhar o mesmo sistema de absorção, entretanto, em situações onde a razão Fe:Zn seja igual ou até mesmo de 2,5:1; alterações não foram encontradas em relação a absorção de ambos, sendo observada redução significativa de zinco, quando a razão molar foi 25:1.

    A possibilidade de redução na absorção de cobre, quando da ingestão de elevadas quantidades de molibdênio tem sido sugerida, sendo especulado que o mecanismo poderia seria a formação de um complexo de tiomolibdato com o cobre.

    Neste suplemento, também observamos a possibilidade de interação positiva entre nutrientes, tal interação pode ocorrer com o Selênio, uma vez que a Vitamina C; presente neste suplemento poderia facilitar a absorção de selênio, que tem sua absorção facilitada pelas Vitaminas A, B e C além de outros antioxidantes 18.

    A possibilidade de interação entre sódio e potássio foi observada não só no repositor Sport Drink, como também nos demais repositores hidroeletrolíticos, Powerade, I9, Gatorade e Marathon. Cozzolino (2009) relata que o potássio pode inibir a reabsorção de sódio no túbulo distal do rim.

    Algumas das interações negativas observadas, como a de Zinco com Cobre, Cobre com Molibdênio e Cobre com Ferro, estão relacionadas a minerais que a ANVISA não obriga a sua presença em repositores hidroeletrolíticos, entretanto a não biodisponibilidade destes metais poderiam atingir funções como a de antioxidante e a de componente do metabolismo energético, no caso do zinco e do cobre, a de componente do metabolismo energético por parte do ferro 19.

    Vale ressaltar ainda, que no caso dos minerais descritos acima, nenhum estaria afetando na biodisponibilidade de sódio e cloreto, minerais que são exigidos pela ANVISA em repositores hidroeletrolíticos.

    Assim, apesar da presença destes minerais não estarem afetando o propósito do suplemento, o “claim” do produto, proposto pelos fabricantes, muitas vezes estaria inadequado.

    Quanto a interação entre sódio e potássio, esta pode ser bastante prejudicial ao produto, uma vez que o sódio é um dos principais metais perdidos por atletas através da sudorese e que deveria ser reposto adequadamente. Assim, como o potássio não é excretado em quantidade significativa através do suor, a presença do mesmo não seria interessante, uma vez que não se faz necessário e acaba por prejudicar a absorção de sódio.

4.     Conclusão

    Com base nos resultados do estudo, podemos concluir que é possível a existência de diversas interações em repositores hidroeletrolíticos, sendo sempre provocadas por minerais não essências ao propósito do produto.

    Apesar de vários artigos abordarem o tema biodisponibilidade, poucos são os trabalhos realizados em humanos, o que dificulta a real análise dos efeitos destes micronutrientes juntos. Ainda, pressupõe-se que os suplementos não são utilizados isoladamente, portanto as refeições realizadas pelos indivíduos ao longo do dia e os efeitos combinados de todos acentuadores e inibidores poderão mascarar o efeito potencial inibitório destes nutrientes.

    Portanto, faz se necessária a realização de trabalhos experimentais, a fim de verificar se os efeitos inibitórios e pontencializadores descritos neste trabalho ocorrem de maneira significativa.

Referências bibliográficas

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  2. GOMES, M.R.; TIRAPEGUI, J. Relação de alguns suplementos nutricionais e o desempenho físico. Archivos Latinoamericanos de Nutrición. 50 (4): 317-329. 2000.

  3. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria nº 222, de 24 de março de 1998. Fixa a identidade e as características mínimas de qualidade a que deverão obedecer os alimentos para praticantes de atividade física.

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  15. COZZOLINO, S.M.F. Biodisponibilidade de Nutrientes. 3 ed. Baruerí, São Paulo: Manole, 2009.

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