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Educação Física em saúde mental: um breve 

relato de caso numa comunidade terapêutica

La Educación Física en salud mental: un breve relato de caso en una comunidad terapéutica

 

Graduado em Educação Física

Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais
(Brasil)

Fernando Teixeira dos Santos

fernandotexsan@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo se caracteriza como um breve relato de caso em uma comunidade terapêutica, onde realizamos entrevistas com os sujeitos da referida instituição, e também ministramos uma palestra, na qual levantamos discussões acerca da Educação Física em Saúde Mental. Esta vivência foi realizada para uma pesquisa maior, da qual se desenvolveu uma monografia de graduação. Diante disso, foi possível inferir que a comunidade terapêutica carece de profissionais de Educação Física, bem como de outros profissionais da área da Saúde, no sentido de que muitos pacientes chegam ao tratamento muito debilitados e se submetem a práticas corporais, sem o devido acompanhamento profissional, podendo haver lesões e até agravamento da saúde. Por outro lado, entendemos que pode haver certa dificuldade da instituição em se dispor destes profissionais entre sua equipe. Porém, fica o desafio dos profissionais em discutir possíveis intervenções neste meio, principalmente a pessoa que trabalha a Educação Física e que, muita das vezes sequer conhece esta possibilidade de atuação profissional.

          Unitermos: Transtornos mentais. Dependência química. Vivências.

 

Resumen

          Este artículo se caracteriza por ser reporte de un caso breve en una comunidad terapéutica, donde entrevistamos a los sujetos de esa institución, y también ministramos una conferencia, en la que hemos planteado debates de la Educación Física en la Salud Mental. Esta experiencia fue hecha para un proyecto de investigación más amplio, que ha desarrollado una graduación monografía. Por lo tanto, es posible inferir que la comunidad terapéutica carece de profesionales de la educación física, así como otros profesionales de la salud, en el sentido de que muchos pacientes vienen a tratamiento muy debilitada y se someten a las prácticas corporales, sin supervisión profesional adecuada y puede haber hasta agravación de lesiones y de la salud. Así mismo, entendemos que puede haber alguna dificultad en la institución conseguir a tener estos profesionales entre su personal. No obstante, sigue existiendo el reto para los profesionales para discutir posibles intervenciones en este entorno, especialmente la persona que trabaja la Educación Física y que muchas veces ni siquiera saben que esta posibilidad de actuación profesional.

          Palabras clave: Enfermedades mentales. Drogodependencia. Vivencias.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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    Este artigo é um breve relato de caso, vivenciado durante a coleta de dados para o desenvolvimento da monografia de curso de graduação intitulada “Os Desafios da Atividade Física na Saúde Mental e a Realidade do Município de Uberlândia”, apresentada em outubro de 2012 na Universidade Federal de Uberlândia (SANTOS, 2012).

    Diante disso, iremos relatar a vivência que tivemos no decorrer da pesquisa numa Comunidade Terapêutica – CT durante a coleta de dados. Vale ressaltar que a presente pesquisa se caracterizou como uma pesquisa etnográfica, sendo desenvolvida a partir do trabalho de campo em seu contexto social (MATTOS, 2001), com o objetivo de investigar o modo como profissionais das várias instituições que tratam de transtornos mentais compreendem os possíveis impactos de programas de atividades físicas no tratamento destes transtornos. Além do trabalho de campo, realizamos entrevistas com os diversos profissionais de Saúde Mental.

    As CTs foram criadas a partir do ano de 1979, mas é importante ressaltar que o modelo atual de CT tem uma grande intervenção e participação espiritual e religiosa com atendimento assistencial, tratando principalmente indivíduos dependentes químicos. Sabino e Cazenave (2005) afirmam que as CTs têm o intuito de dar uma resposta aos problemas oriundos do uso de álcool e outras drogas numa forma de tratamento em que o paciente é tratado como o principal protagonista de sua cura.

    É, portanto, um sistema bem estruturado, delimitado, com regras claras e afetos controlados, através de normas, horários e responsabilidades que são rigorosamente seguidos. Toda estrutura é para que o paciente se situe totalmente no tratamento. A meta deste tratamento está centrada na reinserção social.

    As CTs não se baseiam apenas nos resultados do tratamento, mas também nas consequências de uma reabilitação social envolvendo intervenção também em outros locais fora do espaço da CT (Pozas, 1996, apud GOULART e DURAES, 2010 p.168).

    As CTs, de acordo com Sabino e Cazenave (2005), trabalham basicamente em três linhas: religiosidade e apoio de ex-internos, científica (que podem envolver várias categorias profissionais e voluntários de diversas áreas); e mista (que envolve as duas áreas citadas anteriormente).

    Neste sentido, entendemos que há grandes possibilidades de se trabalhar a Educação Física nas CTs, visto que Goulart e Duraes (2010) afirmam a necessidade de se trabalhar de forma interdisciplinar a fim de respeitar a individualidade e integralidade do paciente. Com isso elementos da cultura corporal podem ser trabalhados por meio de atividades coletivas ou individuais, concomitante às escutas e oficinas terapêuticas das quais o indivíduo é submetido.

    Com isso, ao decorrer da realização dos trabalhos de campo e coleta de dados, estivemos num contexto no qual, por si só, promoveu a possibilidade de discussões que enaltecem a demanda de se estudar a Educação Física na perspectiva da Saúde Mental, pois, entendendo que as CTs atendem principalmente pacientes que tratam da dependência de álcool e drogas, e que este uso abusivo é, atualmente, um grave problema de saúde pública (RAUPP e MILNITISKY-SAPIRO, 2008), se torna relevante tais discussões.

    É evidente que à medida que os meios de comunicação se tornam mais globais, o acesso ao mundo das drogas, por consequência, se torna facilitado, envolvendo, portanto, várias questões inter-relacionadas e diferentes níveis de complexidade, sejam eles clínicos, teórico, social, ético e político promovendo um enorme desafio de lidar e intervir nesta realidade (RAUPP e MILNITISKY-SAPIRO, 2008).

    A partir do momento em que sabemos dos objetivos e metas das CTs, vale salientar que há uma grande crítica em relação ao tratamento, principalmente por serem instituições ligadas a grupos religiosos, como foi visto no universo de pesquisa de Sabino e Cazenave (2005) e Raupp e Milnitisky-Sapiro, (2008). Porém, entendo que mesmo com essa crítica, a Educação Física ainda tem o seu papel e desafio para esta clientela; bem como para todo o contexto da Saúde Mental, conforme Wachs (2008) expõe em sua dissertação, tendo como sujeito de pesquisa para seu trabalho, usuários da Saúde Mental de Centros de Atenção Psicossocial - CAPS.

    Familiarizando-nos com esta realidade, durante a visita a uma CT, o diretor da instituição incumbiu-nos de dar uma palestra aos alunos acerca da Atividade Física e a Saúde Mental, neste caso, voltado para a dependência química. Diante disso, à medida que falávamos dos aspectos da Educação Física, diversidade humana e apresentávamos as metas e os resultados do que já havia sendo feito com pessoas com sofrimento psíquico do CAPS no projeto de Atividade Física e Saúde Mental – AFISAM, da Universidade Federal de Uberlândia – UFU (SANTOS, 2011), os alunos faziam-nos perguntas e surgiam várias discussões.

    Referimos os pacientes como “alunos”, por estes participarem de um programa de reinserção social e não puramente um tratamento clínico, conforme dito pelo profissional entrevistado, que expôs a sua opinião: “Os indivíduos que tratam aqui tem vários nomes: residentes, aluno, interno, mas é a mesma coisa”.

    Dentre as discussões que ocorreram na palestra, uma fala bastante interessante se baseou na necessidade de um fisioterapeuta e de equipes interdisciplinares num ambiente com pessoas adictas de substâncias psicoativas. Um aluno fez a seguinte colocação:

    “Aqui passa bastantes pessoas. Às vezes chega alguém de cadeira de rodas, então tem gente que entra aqui e não consegue fazer uma atividade física, o cara também precisa de uma fisioterapia, pois ele não anda. Se ele não anda, o cara vai andar um dia, pois ele anda na cadeira de rodas por causa das dificuldades que ele vem passando quando ele chega aqui. Então ele necessita de um trabalho com várias pessoas para atender a necessidade dele” (Depoente A).

    Nesta fala fica clara a situação de alguns usuários que chegam à internação muito debilitados e que não conseguem nem andar. Isso deixa evidente a necessidade de uma atenção completa ao indivíduo, desde uma escuta psicológica, passando por uma reabilitação física e, posteriormente, a manutenção da saúde por meio de práticas corporais, educativas, sociais, entre outros fatores.

    Durante esta nossa intervenção, nos apropriamos da crítica deste paciente no sentido de ver a demanda deste tipo de trabalho que, muita das vezes, sequer é conhecida pelas pessoas que passam pela universidade ou que trabalham na área da Educação Física ou outras áreas da Saúde. Isso mostra uma enorme possibilidade da Educação Física.

    Porém, esta possibilidade pode se esbarrar na própria gestão das CTs, que estão intimamente ligadas a instituições religiosas, além de serem administradas por ex-pacientes que encontraram a reinserção social e, muita das vezes, não tem o conhecimento teórico voltado à saúde:

    “Seria bom que a gente tivesse um fisioterapeuta, um assistente social que já tivemos, mas ela era voluntária; ou moças fazendo estágio da faculdade, e inclusive tem uma querendo voltar; já tivemos enfermeiras, não para dar remédios, mas para dar palestras” (Depoente B).

    Outra fala neste sentido também ficou evidente durante a nossa vivência, no qual logo após a palestra, alguém perguntou ao diretor da CT sobre a possiblidade de trabalharmos naquela instituição como professores de Educação Física, nem que fosse uma vez ao mês, e o diretor, sem hesitar respondeu:

    “É interessante ter pessoas da Educação Física nos ajudando, se não puder vir sempre, eles revezam, um dia na semana vem um, um dia na outra semana vem outro, mas uma vez ao mês não vale, tem que ser no mínimo uma vez por semana. Educação Física, na realidade, é igual ler a bíblia: quem lê uma vez ou outra, não faz efeito, pois temos que fazer constante” (Depoente diretor da CT).

    Outra questão está ligada à sistematização da Atividade Física:

    “O problema é que o aluno necessita de atividades físicas, e mais precisamente, monitoradas, é claro. Ele precisa de um alongamento, se não está sujeito a uma distensão muscular e grave” (Depoente diretor da CT).

    O entrevistado ainda expõe que as atividades diárias do projeto terapêutico envolvem práticas corporais e o profissional de Educação Física poderia ser apenas norteador dessas atividades, visto que não daria para ter um acompanhamento do profissional de forma diária e em todas as atividades terapêuticas. Um exemplo de uma atividade seria o serviço de capinar, no qual os alunos fazem com a perspectiva de se ter um ofício que os livram do ócio e do consequente – segundo o entrevistado – pensamento em voltar a aderir às drogas e/ou ao álcool.

    Além do mais, a presente instituição oferece alguns recursos para prática de atividades físicas. No local tem um grande espaço para caminhada e uma mini-academia. No entanto, os participantes da pesquisa relataram problemas de lesões devido ao mau uso e/ou uso exagerado destes equipamentos, provavelmente devido à falta de um profissional.

    Finalmente, entendendo que uma CT pode apresentar vários problemas em relação às questões de recursos humanos, ainda cabe aos profissionais o desafio de intervir neste meio, principalmente a pessoa que trabalha a Educação Física, visto que estes pacientes têm, devido ao uso abusivo de substâncias psicoativas, a saúde muito debilitada e que carece de atividades físicas. A própria fala dos pacientes demonstrou isso, evidenciando a necessidade de trazer tais discussões a fim de levar investigações que fundamentam a Educação Física em Saúde Mental, neste caso, com pacientes dependentes químicos.

Referências

  • GOULART, Maria Stella Brandão and DURAES, Flávio. A reforma e os hospitais psiquiátricos: histórias da desinstitucionalização. Psicol. Soc. [online]. 2010, vol.22, n.1, pp. 112-120.

  • MATTOS, C. L. G. A abordagem etnográfica na investigação científica. (p. 42-59) In: Revista INES-ESPAÇO, nº16, Jul./dez., p. 42-59, 2001.

  • RAUPP, Luciane Marques; MILNITISKY-SAPIRO, Clary. A "reeducação" de adolescentes em uma comunidade terapêutica: o tratamento da drogadição em uma instituição religiosa. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v. 24, n. 3, Sept. 2008.

  • SABINO, Nathalí Di Martino; CAZENAVE, Sílvia de Oliveira Santos. Comunidades terapêuticas como forma de tratamento para a dependência de substâncias psicoativas. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2005, vol.22, n.2, pp. 167-174.

  • SANTOS, Fernando Teixeira. Os Desafios da Atividade Física na Saúde Mental e a Realidade do Município de Uberlândia. 2012. 50 f. IN: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA. Monografia apresentada para obtenção do título de graduado em Educação Física, defendido na Faculdade de Educação Física da UFU: 2012. Uberlândia. Não publicado. 1 CD-ROM.

  • SANTOS, F. T.; SILVA, J. D. P.; FREITAS, P. S. Atividade Física e Saúde Mental – Projeto AFISAM. Em Extensão, Uberlândia, v. 10, n. 1, p. 146-153, jan./jun. 2011.

  • WACHS, F. Educação Física e Saúde Mental: Uma prática de cuidados emergentes em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). 2008. 145 f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano) – Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

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