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Aspectos técnicos e táticos do voleibol

Aspectos técnicos y tácticos del voleibol

 

Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano

Escola de Educação Física. Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(Brasil)

Prof. Dr. Guilherme Garcia Holderbaum

ghgarcia@ibest.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente artigo de revisão foi discutir questões relacionadas aos aspectos técnicos e táticos do voleibol, mais especificamente sobre os seus seis fundamentos básicos (saque, passe, levantamento, ataque, bloqueio e defesa) bem como acerca das principais características de cada posição do voleibol (levantador, líbero, oposto, centrais e ponteiros) e das suas ações táticas específicas, destacando o posicionamento dos principais autores do voleibol da atualidade.

          Unitermos: Voleibol. Técnica. Tática.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/

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    O voleibol pode ser considerado uma das modalidades esportivas mais complexas (SOUZA et al., 2006), pois exige de seus jogadores bons níveis de habilidade, precisão e regularidade (NOCE; SAMULSKI, 2002) associadas a características físicas específicas (SOUZA et al., 2006).

    Com relação ao contexto de jogo, o voleibol apresenta peculiaridades em relação aos outros esportes (ROCHA; BARBANTI, 2004). Ao contrário das outras modalidades coletivas, considerados como jogos de invasão ou territoriais, o voleibol é considerado um esporte de rede (GRAÇA; MESQUITA, 2007) uma vez que sua quadra é dividida em duas metades iguais separadas por uma rede. O fato de a bola viajar de uma metade a outra não podendo tocar o solo, pois resulta em pontos para o adversário, torna o jogo de voleibol um dos esportes mais difíceis de ser ensinado, pois exige movimentos precisos e altamente técnicos (ORTH, 2003).

    O voleibol vem evoluindo em todas as suas ações ofensivas e defensivas desde a sua criação em 1895 (RAMOS et al., 2004; OKASAKI et al., 2005). Esta evolução pode ser um reflexo do aumento do dinamismo no contexto de jogo (NOCE; SAMULSKI, 2002), uma vez que diversas mudanças ocorreram, não somente nas regras, mas também em termos técnicos e táticos do jogo (RAMOS et al., 2004).

    Na sua execução específica, o voleibol se manifesta com uma série de movimentos complexos e todos solicitados de forma rápida, portanto trata-se de um esporte no qual necessita-se aperfeiçoar as várias capacidades técnicas de forma satisfatória (MARQUES Jr., 2006).

    O voleibol é composto, na sua totalidade, de seis fundamentos básicos, que obedecem a uma seqüência lógica dentro do jogo: (1) saque, (2) passe, (3) levantamento, (4) ataque (5) bloqueio e (6) defesa (MARQUES Jr., 2006).

    O fundamento saque é aquele pelo qual se inicia a partida de voleibol bem como cada rally do jogo. Este pode ser executado de várias maneiras: por baixo, por cima, flutuante, flutuante em suspensão e viagem (ORTH, 1997, 2003; ORTH; PONTES, 2004). O saque adotado no presente estudo foi o saque por cima.

    O fundamento passe é considerado fundamental para o sucesso na organização do ataque (JOÃO et al., 2006). Este fundamento pode ser executado com cinco, quatro, três ou até mesmo dois atletas, isto depende da categoria e nível de habilidade individual dos atletas (ORTH, 1997, 2003; ORTH; PONTES, 2004).

    O fundamento levantamento é considerado o mais complexo do voleibol, pois este deixou de ser, há muito tempo, o simples gesto de erguer a bola na ponta. É desta ação que depende o ataque, logo, a pressão sobre o jogador que atua nesta posição, o levantador, é muito grande. Este jogador necessita ser dotado de extraordinária agilidade física e mental para consertar os passes ruins, acelerar as jogadas de ataque, fintar o bloqueio adversário, entre outros (ORTH, 1997, 2003; ORTH; PONTES, 2004; RAMOS et al., 2004; MATHIAS, 2009).

    O fundamento ataque é aquele pelo qual se encerra a participação ofensiva da equipe em determinado rally, ou seja, é o último contato da equipe com a bola antes desta passar para a quadra adversária. A ação do ataque, na maioria das vezes, culmina no ponto decisivo de uma partida e, até mesmo, de um campeonato (ORTH, 1997, 2003; ORTH; PONTES, 2004). Isto faz do atacante uma peça fundamental para equipe uma vez que este fundamento apresenta grande correlação com a vitória (CÉZAR; MESQUITA, 2006). No entanto, bons atacantes não são aqueles que atacam mais forte e sim, aqueles que melhor concluem as jogadas de ataque da sua equipe. Esta posição requer que o atacante consiga variar o seu ataque, usar as largadas, explorar o bloqueio adversário, etc. (ORTH, 1997, 2003; ORTH; PONTES, 2004).

    O fundamento bloqueio é um recurso defensivo do voleibol que apresenta duas finalidades distintas: (1) interceptar diretamente o ataque adversário e (2) impedir que o ataque adversário seja direcionado para uma determinada região da quadra, favorecendo assim, o posicionamento da defesa (ORTH, 1997, 2003; ORTH; PONTES, 2004).

    O fundamento defesa é considerado um fator diferencial entre o sucesso e o insucesso no jogo de voleibol (ROCHA; BARBANTI, 2004). Um bom desempenho neste fundamento, além de permitir a formação de contra-ataques bem como uma possível vantagem no placar da partida, também promove uma desestabilização emocional nos atacantes adversários. A sintonia ou entrosamento entre bloqueio e defesa define o sucesso na formação de contra-ataques. Isto significa que, para armar o sistema defensivo, é preciso que o bloqueio esteja bem posicionado para que a defesa possa se colocar e assim neutralizar as ações de ataque, sejam elas cortadas ou largadas. As variações de posicionamento do sistema defensivo como, por exemplo, bloqueio duplo, triplo, centro avançado ou recuado, também podem favorecer o sucesso da ação de defesa (ORTH, 1997, 2003; ORTH; PONTES, 2004).

    Além dos seis fundamentos, este esporte também apresenta três posições diferentes: líbero, levantador e atacante (RAMOS et al., 2004; ROCHA; BARBANTI, 2004; CÉZAR & MESQUITA, 2006; JOÃO et al., 2006; GRAÇA & MESQUITA, 2007).

    O líbero é o jogador responsável pela recepção do saque bem como pela defesa do ataque adversário. Este jogador não executa saques, quando chega a esta posição, ele sai da quadra e dá lugar, novamente, ao central para que este o faça. O líbero pode entrar e sair da quadra em qualquer momento e no lugar de qualquer jogador que esteja nas posições de defesa, pois atua nas posições 1, 6 e 5 sempre recebendo o saque adversário ou defendendo o ataque adversário. Em situações em que o levantador realiza uma defesa, o líbero pode, também, executar a ação de levantamento, de toque ou manchete se for atrás da linha de ataque ou apenas de manchete se for dentro da linha de ataque (JOÃO et al., 2006).

    O levantador é o jogador responsável pela avaliação, construção, distribuição e organização das jogadas de ataque (RAMOS et al., 2004; AFONSO et al., 2008). Esta ação é considerada por muitos como a mais importante e também a mais complexa do voleibol (ORTH, 1997; ORTH, 2003; ORTH; PONTES, 2004). O lançamento de bolas altas na ponta, tanto na posição dois quanto na posição quatro, que antigamente era considerado como ação de levantamento, no voleibol atual, concedeu lugar à ação de lançar bolas extremamente velozes e rasantes sobre o bordo superior da rede para as mesmas posições, o que dificulta muito a ação do bloqueio adversário. Outro fator de destaque na construção da ação de levantamento é a utilização de jogadas altamente velozes pelo meio com o jogador central (ou meio de rede). Estas são realizadas pela frente do levantador como as bolas de 1º tempo (em frete ao levantador) ou chutadas no meio (quando pela frente, mas afastadas do levantador); e também por trás do levantador como as bolas de 1º tempo atrás (quando a jogada é realizada exatamente atrás do levantador) ou china (quando a jogada e chutada atrás e um pouco afastada do levantador, mais comum no voleibol feminino). Estas combinações de jogadas pelo meio da rede tanto pela frente quanto por trás do levantador tem a função de segurar o jogador central adversário (responsável pelo bloqueio neste setor), pois uma vez que este se encontre preocupado ou mesmo atento a estas jogadas pelo centro da rede, levará mais tempo para se deslocar até as posições dois ou quatro para realizar o bloqueio. Cabe ao levantador escolher a jogada mais apropriada durante o andamento da partida. A versatilidade, ou seja, o repertório de jogadas deste jogador, além da capacidade de leitura das ações adversárias e a capacidade de fintar o bloqueio (ludibriar o adversário com o movimento do corpo) podem dificultar a marcação adversária tanto no bloqueio quanto na defesa (RAMOS et al., 2004; AFONSO 2008; ORTH, 1997, 2003; ORTH; PONTES, 2004).

    A ação de ataque é considerada hoje, como a principal característica do voleibol moderno (MATHIAS; GRECO, 2005). Esta ação é desempenhada pelo atacante a partir de três posições distintas: (1) o oposto (ou saída de rede), (2) o central (ou meio de rede), e (3) o ponta.

    O jogador oposto (ou saída) é aquele jogador cuja função consiste em atacar, predominantemente, bolas de média altura da posição dois (ou saída de rede) em sua passagem de rede (mais precisamente efetua um ataque na posição quatro e dois na posição dois, pois faz a passagem chamada “rede de três”, ou seja, três atacantes na rede) bem como da posição um na sua passagem de fundo (CÉZAR; MESQUITA, 2006). Costuma ter boa estatura e excelente impulso vertical. O oposto também é conhecido, popularmente, como “bola de segurança”, pois normalmente o levantador busca a jogada com este jogador nos momentos difíceis da partida em razão da sua potência de ataque. No rodízio, este jogador atua sempre em diagonal do levantador (por isso o nome oposto) e esta condição permitiu aos treinadores com o passar dos anos desenvolver uma intervenção tática, indispensável no voleibol atual: a inversão do 5X1. Esta inversão ocorre quando o jogador oposto chega à posição um, para executar o saque e o jogador levantador chega à posição quatro, iniciando sua passagem de rede, ou seja, rede de dois (dois atacantes e o levantador na zona de ataque). Neste momento, o treinador substitui o jogador oposto por um levantador reserva na posição um e substitui o jogador levantador por um oposto reserva na posição quatro. Isto acontece para aumentar o poder ofensivo da equipe pelo fato de ter três atacantes na zona de ataque e, também, para aumentar o poder defensivo uma vez que, normalmente, o jogador oposto apresenta maior estatura e melhor qualidade técnica na ação de bloqueio do que o levantador e, este, por sua vez, apresenta maior agilidade o que favorece a ação de defesa (RAMOS et al., 2004; AFONSO 2008; ORTH, 1997, 2003; ORTH; PONTES, 2004).

    O jogador central (ou meio de rede) é aquele cuja função consiste em atacar bolas de média e alta velocidade (1º e 2º tempos) na posição três em sua passagem de rede (AFONSO et al., 2008). Quando está no fundo deixa a quadra após o realizar o saque para dar lugar ao líbero, pois com o surgimento deste jogador em 1996 (e introduzido em 1998), o central passou a não participar mais das funções de defesa e recepção de saque em razão de sua elevada estatura o que o torna um jogador lento e pouco ágil para realizar os fundamentos de defesa. O central apresenta funções táticas muito importantes na armação do sistema defensivo, pois é a partir do seu posicionamento no bloqueio que a defesa se coloca para tentar recuperar a posse de bola do ataque adversário e contra atacar. No sistema ofensivo a disposição deste jogador para o ataque rápido pelo meio influencia diretamente a ação do bloqueador adversário fazendo com que este permaneça marcando o ataque pelo meio, deixando as pontas com marcação simples (AFONSO et al., 2008).

    Já o ponta (ou ponteiro) é o jogador cuja função consiste em atacar, predominantemente, bolas altas ou rápidas na posição quatro (ou entrada de rede), em sua passagem de rede, bem como na posição seis na passagem de fundo (GOUVEA; LOPES, 2008). De acordo com o rodízio (ou rotação) do voleibol, quando um dos jogadores ponteiros se encontra fazendo a passagem de rede e atacando na posição quatro, o outro se encontra fazendo a sua passagem de fundo e atacando pela posição seis. Este posicionamento faz com que os ponteiros participem ativamente da partida uma vez que os dois setores de ataque são amplamente utilizados no voleibol moderno. O ponteiro tem participação fundamental também no sistema defensivo, pois os dois em quadra juntamente com o líbero são responsáveis pela recepção do saque adversário, bem como, defesa e cobertura de largadas. Este jogador, quando está na passagem de rede também participa do sistema defensivo ora formando o bloqueio triplo, quando o adversário ataca pela posição quatro de sua quadra, ora realizando a cobertura de largadas neste mesmo setor. A posição de ponta no voleibol exige dos jogadores extrema velocidade para atacar bem como habilidade e recursos técnicos para explorar o bloqueio adversário (CASTRO; MESQUITA, 2008; ROCHA; BARBANTI, 2004).

    O ataque, segundo Mathias & Greco (2005) e Castro & Mesquita (2008), é o fundamento que apresenta a maior correlação com a vitória, pois para o jogador atacante cabe a função de definir o ponto final do set, da partida e até mesmo de um campeonato. Por outro lado, esta responsabilidade resulta no fato do atleta estar sempre sendo submetido a diversos tipos de pressão o que pode provocar uma queda no seu rendimento (NOCE; SAMULSKI, 2002).

    Com o passar dos anos pode-se perceber algumas mudanças no contexto do voleibol. Algumas delas relacionadas às tendências evolutivas desta modalidade, como por exemplo, a velocidade do ataque (AFONSO et al., 2008). Esta velocidade, não se restringe apenas às jogadas da posição três com o jogador central, também se estende aos jogadores de entrada e saída de rede. Com a aceleração do ataque tanto na posição três quanto nas posições dois e quatro, nota-se, também, uma crescente redução do ataque mais lento, ou seja, do ataque de bolas altas (também chamadas de terceiro tempo) (CÉZAR; MESQUITA 2006).

    Castro & Mesquita (2008), também destacam a evolução do voleibol com o passar dos anos e reforçam a idéia de que a organização ofensiva das equipes tem inovado suas ações. Estes autores ainda afirmam que, se houve tempos em que a ação de levantamento se limitava apenas a uma zona restrita, com pouca amplitude ofensiva, atualmente pode-se perceber uma organização ofensiva com espaços mais vastos e uma amplitude de manobras de ataque significativamente maior.

    O aumento da velocidade bem como a alternância e versatilidade do ataque são decorrentes dos investimentos realizados no setor defensivo do voleibol. A inserção de um jogador especializado em defesa aliado ao aumento da estatura e qualidade do bloqueio do voleibol atual, exige dos atacantes o uso de fintas e diferentes combinações de jogadas para ludibriar a defesa adversária (ROCHA; BARBANTI, 2004; JOÃO et al., 2006; CÉZAR; MESQUITA, 2006; AFONSO et al., 2008). Dessa forma, com o elevado nível de competitividade das equipes, os atacantes são obrigados a ter um alcance de ataque cada vez mais alto (maior impulsão vertical), maior força, potência, flexibilidade, velocidade, agilidade, precisão, além de resistência aeróbica e anaeróbica aláctica e um vasto repertório de jogadas para definir o ponto (CARVALHO et al., 2007).

    O pleno desenvolvimento de todas estas capacidades físicas e motoras somadas ao domínio técnico e principalmente a capacidade de adaptação às restrições situacionais do contexto permitirá aos jogadores de voleibol um bom rendimento na modalidade (CÉZAR; MESQUITA, 2006).

    Esta evolução vista no voleibol de hoje deve ser aplicada não somente ao treinamento de alto rendimento, mas também ao ensino da modalidade. Quando se ensina qualquer conteúdo na escola deve se transmitir o básico, o histórico ou clássico e as tendências da atualidade. Este contexto de constante renovação deve, também, ser aplicado à educação física, ao esporte em geral e principalmente ao voleibol, pois para que exista crescimento nos modelos de ensino é indispensável à constante renovação dos processos. O investimento na capacitação de profissionais que atuam no voleibol, tanto escolar quanto em categorias de base, no que se refere aos fundamentos técnicos e táticos bem como às modelos e/ou métodos de ensino para aperfeiçoar estes aspectos permitirão uma crescente renovação de jogadores e jogadoras mantendo o voleibol brasileiro no nível em que está hoje.

Referências

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